Olá Pergaminhos, mais um capítulo da minha fanfic Aquele que Voltou.
Néia é perseguida e decisões precisam ser tomadas.
Com vocês
Aquele que Voltou
Capítulo 79: Fantasmas
- Ela está perdida.
- Eu sei.
- Esses humanos se perdem muito fácil.
- Eu sei.
- Sem sol ou estrelas eles não sabem para onde ir.
- Eu sei.
- E se ela não achar o caminho?
- É para isso que estamos aqui.
- Ela está vindo.
- Eu sei.
- Vamos acenar para ela.
- Eu sei.
Conversavam as duas criaturas quase etéreas quando viram a reação da pessoa que se aproximava.
- O queeee ela está fazeeeeenndoooo? - disse uma delas com o canto dos lábios, fazendo até mesmo o que parecia ser um biquinho.
- Ela está se afastando de nós. - respondeu a outra por entre os dentes mal abrindo a própria boca.
- Então o que vamos fazeeeer?
- Vamos tentar de novo.
Assim partiram as Frost Virgins, levadas pelos ventos gélidos através da floresta, ultrapassando a cavaleira e tomando uma nova posição.
- Ela está chegando.
- Então sorria e acene, apenas sorria e acene.
Novamente uma reação inesperada.
- Agora ela mudou completamente de direção.
- Eu sei.
- Se ela seguir nessa direção por mais alguns dias vai encontrar aquele exército que a gente não quer que ela encontre.
- Eu sei.
- Por queeeeê?
- Talvez porque ela ache que somos espíritos das neves tentando atraí-la para devorar seu calor. - disse ao ver Néia desaparecer entre as árvores.
- A gente faria isso, se não tivéssemos outras ordens.
- Ela não sabe disso e nem deve saber.
- Entãããão.
- Mudança de tática - disse a Frost Virgin se tornando novamente vento gelado.
Néia cavalgava pela floresta desesperadamente.
- Três dias! Três dias de viagem e já estou perdida, maldita tempestade de neve, agora os fantasmas da floresta estão me perseguindo, será que tudo está contra mim?!
Desde a fuga de Kalinsha que Néia não descansou, por três dias e duas noites seguiu sem parar, para isso ela já havia gasto quase todas as poções de recuperação que carregava, a neve esgotava seu cavalo muito rapidamente, enquanto ela mesma apesar do cansaço mental ainda se mantinha sem usar poções, afinal ela tinha anéis de fortificação, recuperação, sustento e um colar de proteção contra as intempéries, então ela ainda estava bem.
O cavalo então parou abruptamente, quase jogando Néia na neve.
Em sua frente estavam os fantasmas, agora rosnando com dentes à mostra e unhas como lâminas saindo de seus dedos, pareciam vampiras feitas de gelo.
Néia esporeou seu cavalo até que ele saísse dali, subindo um morro com forte inclinação. Sua melhor chance era mudar novamente de direção e tentar descer, pois o caminho seria muito mais fácil, mas toda vez que ela tentava algo, os fantasmas quase a pegavam, forçando apenas uma opção de fuga: subir.
O cavalo de Néia estava ficando cansado novamente, ela precisava forçar o animal senão aquelas criaturas a pegariam e sua missão terminaria definitivamente.
- Será que alguma das minhas flechas faria algum efeito? Talvez as de fogo.
A arqueira puxou seu arco, enfiou a mão dentro da Aljava das Mil Mortes e tirou instintivamente uma flecha de fogo. Puxou a corda e disparou na criatura à sua frente.
A flecha simplesmente passou pelo fantasma. Ela tentou novamente e fez com que a flecha explodisse antes de atingir o alvo. Mais uma vez, a criatura apenas se afastou do alcance da pequena explosão, e nem se mostrou interessada em consumir o calor do fogo.
- Então essas coisas querem a mim, que maldita sorte a minha - reclamou Néia.
As criaturas agora estavam em seu encalço, estando logo atrás. Néia não conseguia uma boa posição para disparar. Se tentasse algo, perderia tempo o suficiente para os fantasmas a alcançarem, então só podia correr e correr.
De repente, uma luz surgiu por entre as árvores. Elas estavam cada vez mais espaçadas, e então a floresta acabou, só havia um campo aberto para fugir. Néia escutou o lamento dos fantasmas e, quando se virou, viu duas criaturas na borda da floresta fazendo gestos ameaçadores.
- Elas não podem sair, graças aos ossos do Supremo, estão presas ao seu território.
As Frost Virgins ficaram rosnando e mostrando suas garras de forma ridícula até que a arqueira se afastasse à distância.
- Pronto, agora ela está na direção certa.
- Eu sei.
- E agora?
- Vamos segui-la.
- Mas e se formos vistas?
- Seremos apenas dois fantasmas da neve perseguindo alguém.
- Mas e se tentarem nos pegar?
- A gente se desfaz em neve.
- Eu não quero me desfazer em neve.
- O que deveríamos fazer então?
- Acho que se algo acontecer, deveríamos lutar até nosso fim com um grito de vitória "POR AINZ OOAL GOWN!"
- E anunciar para todo mundo que trabalhamos para o Rei Feiticeiro.
- Ah é! Esqueci, então... se desfazer em neve.
- Isso.
- Que chato.
- Vamos, precisamos acompanhá-la. Ficaremos invisíveis; o cavalo é mais sensível ao invisível. Podemos usar seus instintos para forçar a direção mais rápida e segura.
- Mas não estamos burlando as regras? Ninguém do Reino Feiticeiro deveria estar aqui, até os Demônios das Sombras foram retirados por precaução.
- Como fomos invocadas aqui, então somos nascidas no Reino Santo, tecnicamente somos cidadãs.
- Tecnicamente?
- Tecnicamente.
- Eu não quero ser tecnicamente uma cidadã do Reino Santo, quero ser uma cidadã do Reino Feiticeiro.
- Você nem conhece o lugar.
- Nossa senhora conhece, e ela fez parecer o melhor lugar do mundo.
- Você é ingênua e não sabe nada do mundo.
- Eu literalmente nasci ontem... e você também.
- Talvez quando terminarmos aqui, nossa senhora nos leve junto.
- Você conseguiu falar com a mestra?
- Não desde que saímos, algo bloqueia nossas mensagens.
- Então vamos continuar fazendo o que nos foi mandado, proteger Néia Baraja.
- Eu sei.
Enquanto isso, Néia continuava sua jornada, seu cavalo já resfolegando. Estava na hora de dar outra poção.
- Três dias, ainda levará mais dez se eu precisar parar e descansar durante o dia e a cada noite, dez dias e não restará nada da capital. A arqueira não sabia o que fazer e olhava para suas mãos de forma frustrada.
...
Uma semana após a fuga de Kalinsha.
- ATACAR! ATACAR! NÃO DEIXEM QUE SE RECUPEREM! - ordenava um capitão do exército do Reino Santo do Sul. Apesar de suas tropas serem as últimas da linha de combate, ele tentava fazer parecer que estavam em plena luta.
Foi quando uma criatura surgiu, derrubando tudo em seu caminho e pisoteando os soldados. A neve que caía dificultava a visão da criatura, então os homens não podiam discernir o que era; seu guincho parecia o de um animal agonizante, sua forma a de uma monstruosidade, maior que um cavalo, com uma enorme corcova.
Ela avançava sobre os soldados mais atrasados.
- DETENHAM A CRIATURA! ARQUEIROS! ATIREM! ATIREM! ATIREM!
O capitão que gritava, assim como os soldados a sua volta, foram derrubados por uma lufada de vento e o vulto da criatura cresceu e se abriu, então saltou para o céu e saiu voando.
- Pelos Quatro! Que tipo de monstro estão jogando sobre nós?! - choramingou o capitão.
A criatura voava em direção à cidade. Seu voo era tão alto que mesmo sem a neve, ninguém podia ver o que era. Quando passou por cima das muralhas, o tempo se abriu. Ainda era inverno, mas não havia a nevasca castigando tudo como do lado de fora da cidade.
Ela voou diretamente para a Torre Negra e, quando lá chegou, depositou sua preciosa carga: um cavalo muito cansado e uma humana debilitada.
- NÉIA! VOCÊ ESTÁ BEM? - gritou Rali'ah.
A humana não respondia. Seu corpo estava pálido, gelado e quebradiço. Seu nariz era negro assim como suas orelhas e mãos, seus lábios quase não existiam de tão retraídos, congelados e quebrados que estavam, deixando seus dentes à mostra.
- Onde estão seus presentes? - questionou a dragoa para si mesma.
Foi quando viu algo preso na crina do cavalo. Eram os anéis de Néia e seu colar. Ela havia posto todas as suas proteções no animal e se sustentou apenas com um resto de poção e cobertores.
- Sua louca - disse golpeando com sua cauda as mochilas presas ao animal. Seu conteúdo se espalhou pelo chão e não restava nenhuma poção de cura. Talvez houvesse alguma poção de Nazarick guardada a sete chaves no quarto de Néia, mas não havia tempo para procurar. A arqueira estava a poucos segundos de morrer.
Rali'ah tomou uma decisão arriscada, sua única opção. Então ela se concentrou e recitou um feitiço que sua mãe havia lhe ensinado na língua dos dragões. O corpo de Néia brilhou e depois disso, a jovem dragoa soprou o rosto de Néia.
Uma névoa fina saiu de seu hálito e entrou pela boca de Néia. Então o corpo da arqueira sofreu uma convulsão.
- ÃÃÃÃÃÃÃRRRHHHHH! - ela puxou o ar, recuperando o fôlego. - *Onde estou?* - sussurrou Néia. Sua voz era apenas um fio, pois seus pulmões até agora estavam congelados.
- Você está em casa.
- *Rali'ah! Estou em Horbuns! Consegui, cheguei a tempo?*
- A cidade está caindo, os portões estão cedendo, acabou.
- *Não, ainda há esperança* - ela gemeu, agora se soltando das garras da dragoa e se arrastou até a muralha.
Sua pele parecia porcelana rachada e estalava a cada movimento. Ao chegar ao parapeito, Néia se forçou sobre ele e arrancou sua viseira, junto com parte de sua pele, pois estava grudada em seu rosto. Seus olhos claros agora eram brancos, cegos pelo frio, mas ainda assim ela parecia olhar para a cidade.
Néia concentrou suas forças e sussurrou ao vento.
- *Lutem... lutem... lutem... protejam a cidade... protejam suas famílias...*
A voz mal podia ser ouvida, mas a magia contida na força de vontade de Néia levou as palavras a cada ouvido das pessoas na cidade de Horbuns.
- *...Lutem... protejam suas casas... protejam seus filhos...*
Mães pegaram cutelos e pais se armaram com machados e foices.
- *...Lutem por vocês... por mim... pelo Deus da Justiça... lutem...*
As pessoas saíram de suas casas como uma convicção que brilhava em seus olhos, foram em direção aos portões que caiam. Quando chegaram lá, entraram em luta diretamente com o exército do sul. O efeito nos Nazarins e soldados de Horbuns foi maior. Tal era sua fúria para expulsar os invasores que lutavam com quatro ou cinco inimigos por vez como berserkers.
Enquanto Rali'ah carregava Néia para o quarto abaixo, a evangelista ainda sussurrava suas palavras de poder.
- .*..Lutem... lutem... lutem...*
...
Nota do autor
A magia de dragão que Rali'ah usou em Néia permitiu ela compartilhar parte de sua própria força vital, através de sua respiração.
Vi isso em um filme antigo e gostei, também pode ser compartilhado com sangue e carne, onde cada um tem uma ligação mais forte.
