Apagando o seu nome, então, registro mais uma alma perdida, mais uma tarefa recusada, mais uma trilha não percorrida, mais sem triunfo do diabo e uma tristeza para os anjos, mais um erro para o homem, mais um insulto a Deus!

— Robert Browning, "The Lost Leader".

Assim que entraram pelo batente que parecia com a boca de pantera, como se estivesse passando por suas mandíbulas, direto para a garganta da fera.

Logo em seguida, tão de repente quanto o que havia acabado de acontecer, uma sala despencou como elevador quebrado.

Jay, Carlos e Alisson simplesmente rolaram por um buraco escuro cheio de teias de aranhas e havia um eco perturbador sem sentido algum.

Não era um calabouço, era uma caverna.

A queda deve fim em um lago quase congelado.

A caverna era fria, mas iluminada pela cor azul que os cristais pareciam refletir.

O grupo acabou por se dividir em dois, e enquanto Mal, Ben, Evie é Harry foram para um lado, Jay, Carlos e Allison foram para outro lado.

— Vejam – Allison gritou para Jay e Carlos. — É um símbolo de interrogação – Allie limpava o pó da pedra polida que completava a parede.

— Isso não é um símbolo de interrogação, é o símbolo do Jafar! – Jay gritou, tarde demais, a pedra afundou, e a parede se moveu empurrando eles para dentro, o corredor parecia esmagá-los.

Allison segurou no ombro de Jay à sua frente e na mão de Carlos que tentava de tudo para não quebrar a máquina. Eles "correram" para o único ponto luminoso antes que morressem sufocados.

Eles simplesmente caíram ao alcançar a luz. O esplendor dourado preencheu suas vestes, e antes que eles pudessem perceber o que estava acontecendo, a sala começou a ser coberta por areia.

Areia, areia por todo o lado... Eles estavam sendo soterrados por ela.

Allison deu um grito e começou a se debater. Carlos soltou a caixa e também começou a se debater, sentiu como algo puxando o para baixo, ele começou a chorar, não queria passar por tudo aquilo de novo. Só Jay ficou parado.

Uma caverna cheia de areia... e, pelo que Jay conseguia distinguir através das dunas que o circundavam... de tesouros.

Ele analisou as preciosidades que cintilavam entre as dunas. Montes e montes de moedas de ouro brilhavam à distância. Havia picos altíssimos de riquezas a se perder de vista. Havia coroas e diademas, cetros e cálices cravejados de jóias, esmeraldas do tamanho do seu punho, diamantes que brilhavam como estrelas, milhares de dobrões dourados e moedas de prata. Havia coisas maiores também: obeliscos, caixas, lâmpadas e urnas, uma máscara de faraó, um estandarte, um cálice e uma esfinge de ouro.

Carlos empurrou a areia e se sentou, usando uma nova coroa na cabeça, meio que por acidente.

— O que é isso? Onde estamos?

— Posso garantir que este lugar não faz parte do castelo da min- da Malévola – disse Allison com ironia, enquanto batia a areia e assoprava sua franja para que não caísse sobre os olhos. Ela se levantou, batendo mais areia da sua roupa de couro. — Mais resíduo do buraco na barreira.

Jay assentiu.

— Não tem outra explicação. – disse tirando um balde de ouro que tinha caído em sua cabeça.

Viu Carlos engolir em seco e "mergulhar" na areia, pegou sua caixa, acomodada sobre o que parecia ser um antigo sarcófago dourado. Ele soprou a areia da geringonça e checou a máquina novamente.

— Parece que ela voltou a funcionar – disse sorridente.

Enquanto isso, Jay estava enchendo todos os bolsos que tinha com a maior quantidade de coisas que conseguia carregar.

Eram seus sonhos se tornando realidade... o que ele sempre esperou... o paraíso na terra... o Grande Troféu da sua vida, e da vida de seu pai!

Era... era...

Naquele momento ele percebeu exatamente onde estavam.

— A Caverna das Maravilhas! – gritou Jay.

— Como é que é? – perguntou Allison.

— Este é o lugar onde meu pai encontrou a lâmpada.

— Ué, não foi o Aladdin que achou a lâmpada? – disse Carlos.

— Sim, mas quem mandou ele pra cá? – perguntou Jay de maneira retórica com um sorriso superior. — Se não fosse por Jafar, Aladdin nunca a teria encontrado. Ou seja, a lâmpada era do meu pai desde sempre. ‐ Ele parecia irritado. — Mas ninguém conta essa parte, não é? E meu pai disse que achava que podia haver outra coisa escondidas na névoa. Ele deve ter suspeitado de que isso estaria aqui também.

— Certo. Caverna das Maravilhas. Parece mais um porão de areia – disse Allison. — E o mais importante: como vamos sair daqui?

— Não vão sair – Uma voz soturna ecoou.

— Como é que é? – disse Allison.

— Eu não disse nada – avisou Jay, que agora ostentava um monte de correntes de ouro no pescoço e pulseiras no braço.

— Quem disse isso? – perguntou Carlos, nervoso.

Eles olhavam em volta. Parecia não haver mais ninguém.

— Certo. Não é nada. Agora vamos achar aquela porta – disse Allison.

— Não vão – disse a voz passante mais uma vez. — E ficarão presos aqui para sempre se não derem as repostas certas!

— Que ótimo – resmungou Jay.

— Isso é outro enigma? Essa fortaleza inteira está cheia de armadilhas, é isso? – reclamou Allie.

— Múltiplas defesas. Eu falei – disse Carlos — Alarme contra ladrões. Provavelmente para o Olho de Dragão, não acham?

— Caverna? Posso chamá-la de Caverna? – perguntou Allison.

— Boca das Maravilhas serve – disse a voz.

Allison fez uma careta.

— Que nome horrível. – Mas assentiu. — Muito bem, Boca, qual é a pergunta?

— É muito simples.

— Manda ver – disse Allison.

O vozeirão soltou uma risada. Em seguida, perguntou em tom sombrio:

— Qual é a regra de ouro?

— A regra de ouro? – perguntou Allie, coçando a cabeça. Ela se virou para o grupo. — Tem a ver com jóias? Jay?

Mas Jay estava ocupado demais, pegando todo o ouro que conseguia, e parecia nem ter ouvido a pergunta.

Carlos passou a recitar freneticamente todas as fórmulas matemáticas que conseguia lembrar.

— Logaritmos? Regra de três? Regras expressas em símbolos? Ordem de operações?

— Será que tem a ver com ser legal com todo mundo? – perguntou Allison, fazendo uma tentativa. — Faça com os outros o que gostaria que fizesse com você? Algumas bobagem escrita nos cartões se visita de Auradon?

Em resposta, a caverna começou a se encher de areia novamente. A Boca das Maravilhas não estava feliz, isso era evidente. A areia surgiu de todo lugar, enchendo a sala e os espaços entre as moedas, como água entrando em um navio que afundava. Eles sufocariam em breve se não respondesse à Boca corretamente.

— É a Caverna das Maravilhas, não a Fada Madrinha! – gritou Carlos. — Ela não se importa com gentileza! Essa não é a regra de ouro!

A caverna continuou a se encher de areia.

— Vamos, por aqui! – Allison tentou escalar as pilhas de moedas. Ela queria evitar a areia a areia chegando mais perto do teto, mas as moedas escorregavam toda vez que ela tentava subir, e no fim Allison acabou se afundando ainda mais no tesouro. Ela tentou de novo, e dessa vez Carlos a empurrou para trás, para que pudesse alcançar a estátua alta da esfinge.

Ela montou nas costas da criatura e estendeu o braço para puxar Carlos, mas a areia continuava a subir e prendeu a perna do garoto.

— Não consigo! – gritou Carlos.

— Você precisa! – Allison gritou de volta.

Mas Carlos tinha desaparecido sob a areia.

Jay não acreditou quando o viu afundar – Carlos...

— Vamos lá... – disse Jay, tateando a areia sobre ele. — Ele tem que estar aqui. Ajude-me a achá-lo.

— Eu não consigo encontrá-lo – disse Allison.

Carlos ressurgiu com um pulo, fazendo um barulhão e cuspindo moedas. Allison e Jay ficaram aliviados.

— Aqui – Allison ofereceu a mão a Carlos para puxá-lo para cima, mas a areia já estava em seu peito. — Vamos! – gritou ela. — Suba na esfinge!

— Não consigo – disse ele.

— O quê?

— Minha perna tá presa!

Jay subiu na esfinge e pegou um braço de Carlos, Allison agarrou o outro, mas não importava o que fizessem, Carlos não conseguia se mexer. Ele estava preso, e a areia continuava se acumulando sobre ele. Ela vinha das paredes e do chão, e Allison percebeu que também estava caindo do teto.

Allison agarrou novamente o braço de Carlos, mas, em vez de conseguir puxá-lo, ela acabou fazendo o garoto se desvencilhar de si, e então ela caiu sobre o monte crescente de areia, entre colares, pulseiras e coroas.

Mais uma vez a areia os cobria: primeiro os joelhos, depois os ombros...

Carlos tentou alcançá-la, e eles deram as mãos desesperados. A areia caía incessantemente.

A areia já estava no pescoço de Allison, e Carlos mal conseguia manter o queixo superfície.

— JAY! ONDE ESTÁ O JAY? – gritou Allison, olhando em volta e tossindo enquanto segurava Carlos pelo braço.

— JAY!

Ele estava caído numa duna. Havia areia em seu cabelo e em seus olhos. Ele também estava coberto de moedas de ouro. Ouro. Muito ouro. Nunca tinha visto tanto ouro na vida. Ele tinha todo o ouro do mundo. Ou era o que parecia.

Mas ele ia morrer enterrado no ouro...

A regra de ouro...

Qual é a regra de ouro?

Ora, ele sabia a resposta.

Ele quase podia ouvir seu pai sussurrar a resposta em seu ouvido.

Enquanto isso, Carlos tinha desaparecido sob a areia de novo, e Allison também estava prestes a ser soterrada.

A areia praticamente alcançara o teto. Logo não haverá por onde fugir, nenhum jeito de escapar da areia, nenhum ar na câmara. Eles estavam ficando sem tempo e sem espaço. Mas Jay sabia que podia salvá-los.

— QUEM TEM O OURO DITA AS REGRAS! ESSA É A REGRA DE OURO! – Bradou Jay triunfante, elevando o punho no ar.

Houve uma grande risada estrondosa, e a areia começou a descer pelos ralos, devagar. Logo, Jay, Allison e Carlos estavam parados dentro da fortaleza.

A Caverna das Maravilhas tinha desaparecido e, com ela, todo o tesouro.

— Ouro dos tolos – disse Jay, cabisbaixo, puxando o forro de seus bolsos vazios. — Tudinho.