25
Escuridão num verde intenso
Frutos caem, o amor morre e o tempo passa; Tu és alimentada com fôlego eterno, e ainda viva após uma infinita mudança, e renovada após os beijos da morte; De abatimentos reacendeu e recuperou-se, de prazeres inférteis e impuros, coisas monstruosas e infrutíferas, uma lívida e venenosa rainha.
- Algernon Charles Swinnurne "Dolores".
Enquanto caminhavam atrás dos outros, Mal pensou no que havia dito a Evie: que tudo que havia acometido na Fortaleza Proibida tinha sido um teste.
Carlos encarou as gárgulas, e Jay, a Caverna das Maravilhas. Evie, o espelho, Ben também teve a Caverna cristalina, Allison e Harry também devem terem tido algo do tipo pessoal.
E eu?
O que vai acontecer comigo?
Será que o perigo estava esperando por ela na forma de um desafio especial, atrás da próxima porta do castelo?
Ou seja que faz mais o tipo da minha mãe me ignorar? Me deixar sozinha, como se eu não fosse digna de nenhum tipo de teste?
Ela fechou os olhos, a imagem de um par de olhos castanhos veio em mente, os cabelos castanhos caído sobre a testa de um rosto inteiramente feliz, sorridente, um ar inocente, Dylan...
Naquele momento, quase podia ouvir a voz de sua mãe.
O que há para testar, Mal? Você não é como eu. É fraca, como seu pai. Você não merece nem mesmo o nome que tem.
Mal abriu os olhos.
Ben a olhava, sussurrou uma pergunta e Mal afirmou com a cabeça que estava bem.
De qualquer forma, tudo seguia igual no lugar onde eles estavam.
O lar de Malévola. Seu covil.
Mal estava no território de sua mãe agora e não sabia se era bem-vinda. Mas sabia que qualquer coisa que acontecesse dali em diante seria sobre elas duas, com ou sem teste. Com ou sem busca.
Com ou sem Olho de Dragão.
Mal não conseguia se livrar da sensação de que algo ou alguém a estava observando. Ela vinha se sentindo assim desde que tinha saído de casa naquela manhã, e a presença era ainda mais forte na Fortaleza. Mas, sempre que olhava para trás, não havia nada. Talvez fosse só uma paranoia. Talvez fosse só Diablo. Talvez fosse só uma lembrança...
Depois de deixar o salão do espelho, Mal e os outros seguiram por um corredor decorado com flâmulas rodas e douradas, além de lindas tapeçarias que representavam os reinos ao redor. Mas era difícil diferenciar um do outro, principalmente porque havia muito pó. Conforme avançavam, seus passos deixavam marcas nas pedras cobertas de poeira, como se estivessem caminhando sobre a neve.
Mesmo assim, eles continuaram.
Os corredores dobravam é retorciam, e às vezes o chão não parecia plano. As paredes se curvavam para os lados, e eles se sentiam como se estivessem em um sonho ou numa casa maluca de parque de diversões, ou mesmo num lugar que simplesmente não era real.
Um conto de fadas que se tornava realidade.
Um castelo, mas do tipo que povoa pesadelos.
Cada parede e cada rocha tinha tons cinzentos e negros, com um brilho fraco e esverdeado às vezes se infiltrado pelos buracos aqui e ali.
A casa da minha mãe, Mal pensou sempre que via a luz verde em algum canto.
O efeito era excruciante para os seis jovens, até para Mal
Especialmente para ela.
Os vitrais quebrados eram a única fonte de cor. O vidro antigo estava quase que totalmente partido ou trincado, e várias partes da janelas tinham desmoronado, espalhando cacos pelo chão. Mal e os outros precisavam pisar com cuidado para não escorregar. O longo corredor de janelas deu lugar a um outro corredor, maior e mais alto, e não demorou muito para a filha da Malévola perceber que estavam chegando a um lugar importante, uma grande câmara, quem sabe até o próprio coração do castelo.
Ela andava em direção à sua sina, como Evie tinha dito. Seu destino... era o que aquilo representava.
Mal podia sentir aquele impulso já família e conduzindo-a para alto desconhecido, algo que talvez só pertencesse a ela.
Estava bem na frente dela, zumbindo e vibrando, desde o primeiro momento em que ela pisou na Floresta Obscura. Aquilo a puxava, acenando-lhe é até mesmo zombando dela.
Venha, disse.
Rápido.
Por aqui.
Era mesmo o destino chamando por ela, no fim das contas?
Ou era só mais um fracasso à espera na sala do trono? Mais uma confirmação de que ela nunca seria como sua mãe, não importava o quanto tentasse?
Ela parou diante de uma porta dupla que tinha o dobro da altura de um homem adulto.
— É isso. É aqui.
Mal olhou para Carlos, e ele assentiu, erguendo a caixa. Ela notou que ele tinha desligado a máquina já fazia algum tempo. — A gente não precisa mais dela – disse ele, encarando a garota.
Jay concordou e sorriu. Até Allison pegou a mão de Mal, apertando mais uma vez antes de soltar.
Ela respirou fundo. Sentiu um frio na espinha, e seus braços ficaram arrepiados.
— Essa era a sala do trono de Malévola. Tenho certeza agora. Posso sentir. – Ela olhou para eles. — Parece loucura?
Eles balançaram a cabeça. Não.
Ela escancarou as portas de uma vez, de peito aberto para enfrentar o que fosse.
A escuridão e o poder. A sombra a luz. Tetos tão altos quanto o céu, negros como fumaça. Vitrais que ocupavam paredes inteiras, através dos quais Malévola manipulava o mundo todo.
— Oh. – Disse Evie, de modo involuntário.
Allison olhava cada detalhe atenta, assim como Ben que não sabia ao certo se encarava a construção daquela sala ou para onde Mal caminhava.
Carlos parecia querer fugir, mas não o fez.
Os olhos de Jay percorreram o salão, como se ele estivesse sondando o que poderia roubar.
Mas Mal sentia como se estivesse sozinha com os fantasmas.
Um fantasma em particular.
Era daqui que sua mãe emanava sua fúria e seu comando, de onde ela tinha saído e atravessado o teto como uma grande bola de fogo verde para amaldiçoar o reino inteiro. O cerne da Escuridão.
Eles adentraram a sala, e Mal ia à frente. Ben a seguia, Allison, Harry, Evie, Carlos e Jay se alinharam como soldados atrás dela, como se estivessem em formação.
As rochas negras sob seus pés eram brilhantes e escorregadinhas, e a sala tinha uma aura de malevolência profunda. Mal podia sentir. Todos eles podiam.
Aquele tinha sido um lar triste, raivoso e infeliz. Até mesmo agora a dor daquele tempo queimava em Mal até os ossos.
Ela se arrepiou.
Havia um lugar vazio no meio do salão, onde costumava ficar o trono de sua mãe. Ele se situava sobre uma espécie de plataforma, flanqueada por duas escadarias circulares. A sala era redonda e circulada por colunas.
Um grande arco se lançava sobre o local onde o trono ficava, guardando um espaço vazio. A tapeçaria púrpura rasgada e carcomida adornava as paredes.
— Não tem mais nada – disse Mal, ajoelhando-se no local onde o trono estaria. — Tudo se foi.
— Você está bem? – perguntou Ben, que esfregava as mãos nervosamente para aquecê-las.
Mal encolheu os ombro.
— É que... – ela vacilou, sem conseguir encontrar palavras para descrever o que sentia. Ela tinha ouvido as histórias de sua mãe, mas não estava tão certa de que fossem reais.
Não até agora.
— É – disse o filho do Jafar. — Eu sei. – Jay fitou o chão, e Carlos percebeu que ele devia ter sentido a mesma coisa na Caverna das Maravilhas. Carlos sabia que Jafar e Iago falavam disso o tempo todo, era difícil imaginar, conhecer um mundo diferente do que aquele que eles conheciam na ilha. Bem, havia sido difícil.
Agora tudo era diferente.
Jay suspeitou.
— É tudo real, não é?
— Acho que sim – Ben concordou. — Cada página de cada história.
Até a maldição, pensou ela, pela primeira vez em horas.
A maldição.
Alguém tem que tocar.
...e dormir por mil anos...
— Então, onde está? – perguntou Carlos, olhando em volta do salão frio de pedras.
— Tem que estar aqui, em algum lugar – disse Harry, observando todo o ambiente.
— Talvez seja melhor a gente se dividir – disse Jay, com um brilho no olhar.
— Pense – disse Mal. – Minha mãe nunca estava sem ele. Ela segurava o cetro até quando estava sentada no trono. – A garota voltou ao local onde o trono ficava. — Aqui.
— Então onde estaria agora? – perguntou Carlos.
— Não em um lugar onde qualquer pessoa pudesse tocar – disse Evie. — Pergunte à minha mãe se a deixaria você chegar perto da coleção de preciosidades Miss Mais Bela de todas...
Mal ficou perplexa ao ouvir a palavra tocar.
A maldição estava esperando por todos eles, ou ao menos um deles, junto com o Olho de Dragão.
— Mas ela ia querer vê-lo, é claro. E sem ter que sair do trono. – disse Jay. Mal concordou. Eles tinham visto como Jafar andava pela cozinha, sem tirar o olho de suas moedas.
— O que seria... – Mal começou a girar levemente à sua volta. Ela podia imaginar sua mãe sentada ali, agarrada ao cetro, sentindo-se poderosa e cruel governando seus domínios.
Ela balançou a cabeça.
Minha mãe não teria problema nenhum em amaldiçoar todas as pessoas desta sala por 10.000 anos, imagine então uma só.
— Ali! Vejam! – gritou Allison, avistando um bastão negro e longo com um globo verde e turvo na ponta, encostado na parede do outro lado.
Assim como eles previram, ele estava exatamente na linha de visão do trono perdido, pairando dentro de um feixe de luz mágica a três metros do chão. Fora do alcance de intrusos. E, sim, onde não podia ser tocado.
É claro.
Lá estava ele.
Está mesmo aqui. A arma mais poderosa da Escuridão.
O Mal vive realmente.
— Está bem aqui! – Allie era quem estava mais perto, e tentava pegá-lo, impacientemente.
Ela ergueu a mão o mais alto que podia, esticando os dedos. Nesse momento, o Olha de Dragão começou a descer, como se algo dentro de Mal estivesse ordenando que ele fosse libertado da luz que o prendia.
Allison sorriu.
— Estou quase conseguindo...
Mal anteviu a mão de Allison agarrando o objeto, quase que em câmera lenta. O cetro brilhava, como se estivesse atraindo Allison.
Mal ficou meio tonta, com a vista embaçada. Tudo que ela via eram os dedos de Allison e o Olho de Dragão enfeitiçado bem a seus alcance.
A filha de Malévola tinha que decidir em um segundo: ela deixaria Allison tocar o cetro e ser condenada a dormir um sono tão profundo quanto a morte por mil anos?
Ou ela a salvaria?
Impediria?
Faria algo... bom?
Trairia sua própria mãe, desistindo do sonho de ser mais do que uma decepção, uma fracassada?
Será que ela se contentaria em ser apenas Mal para o resto de sua vida?
Nunca Malévola?
Ela ficou paralisada, incapaz de decidir.
— Não! – O príncipe gritou assim que se lembrou da lenda da maldição. — O Cetro está amaldiçoado!
Mal agiu, correu em direção a Allie.
O que aconteceu? O que ela estava fazendo? Por que não podia se conter?
Mas já era tarde, assim que os dedos de Allison tocaram o cetro, segurando-o, a mão de Mal agarrou o artefato mágico.
— O quê? – perguntou Allison, chocada, as duas seguravam o cetro, pouco antes de uma voz familiar fugir de dentro do Olho de Dragão.
— QUEM ACORDAR O DRAGÃO SERÁ AMALDIÇOADO A DORMIR POR MIL ANOS!
A voz de Malévola vinha do cetro, ecoando e reverberando pelo salão.
Sua mãe realmente tinha deixando uma marca. O que restava de seu poder crepitava pelas paredes do lugar, que tinha voltado à vida por causa de um momento acidental. Poder latente até agora, quando tinha outra vez vítimas para torturar.
Os dedos de Allison segurou o cetro.
No mesmo instante que Mal agarrou o bastão e então...
As duas desabaram no chão, adormecidas.
Mal piscou algumas vezes. Ela podia ver a si mesma deitada no chão da sala do trono ao lado de Allie, o cabelo púrpura espalhado como uma mancha sob sua cabeça.
Seus companheiros se amontoavam nervosamente a seu redor e ao de Allison.
Sentiu e viu Ben acomodá-la em seu colo.
Então eu estou dormindo? Ou estou acordada? Ou será que estou sonhando?
Pois Mal sabia que estava vendo coisas estranhas. Estava em um palácio, ao lado do bom Rei Estevão e de sua rainha. Havia também um bebê em um berço.
Eles estavam felizes. Ela podia notar em suas faces iluminadas e na forma como admirava a criança. Não desgrudavam os olhos dela.
É como um ímã, Mal pensou. Sei como é essa atração.
Uma multidão, composta de cortesãos, empregados e convidados elegantes, estava reunida em uma linda sala do trono. Havia duas fadas boas voando sobre o berço, suas varinhas desenhando belos lampejos no ar. Era tudo tão lindo que ela já estava enjoada.
Mal nunca tinha visto nada daquilo, não tão perto assim. Nem mesmo nem um tedioso livro de histórias.
O que é isso?
Por que estou vendo isso?
E então uma grande bola de fogo esmeralda apareceu no meio do salão. Assim que ela se dispersou, Mal notou um rosto familiar.
Sua mãe.
Alta, bonita, altiva... e desprezada. Malévola estava com raiva. Mal podia sentir o calafrio correndo em sua própria espinha. Ela encarou sua mãe.
Malévola se dirigiu ao público em volta da família real.
— Ah, Mas que aglomeração brilhante. Realeza, nobreza, cortesãos e até a ralé. Eu realmente fiquei irritada por não ter sido convidada.
Do que sua mãe estava falando? E então Mal percebeu. Malévola não tinha sido convidada para o batizado de Aurora. Mal nunca soube que essa era a razão de sua mãe odiar festas e celebrações de qualquer tipo.
Mas ela sabia exatamente como sua mãe se sentia.
A dor.
A vergonha.
A raiva.
O desejo de vingança.
Mal tinha sentido exatamente a mesma coisa quando a Rainha Má fez a festa para Evie, havia tantos anos, e ela acabou ficando de fora.
Mal assistiu à cena de sua mãe amaldiçoado a princesa Aurora a dormir por 100 anos após espetar o dedo em uma roca de fiar. Era um bom feitiço, e Mal admirava a eficiência da mãe, seu poder, sua mera imponência. Um dedo espetado faria desabar toda uma casa real. Era um destino lindo e terrível. Bem arquitetado. Profundo.
Mal tinha orgulho de Malévola. Sempre tivera, e sempre teria. Malévola havia criado sua filha sozinha e tinha dado seu melhor. Porque não havia mais ninguém que o fizesse.
Mas sua mãe era feita para a maldade. Ela era boa nisso.
E naquele momento, pela primeira vez, Mal finalmente entendeu que não sentia apenas orgulho. Mas também pena. Talvez até compaixão.
Ela estava triste por sua mãe, e isso era algo novo. A multidão via um monstro, um terror, um demônio, uma bruxa amaldiçoado uma linda princesa. Mas Mal via apenas uma moça magoada e insegura, agindo com raiva.
Ela queria encontrar Malévola naquele estranho sonho e dizer que tudo ficaria bem. Não tinha muita certeza disso, mas de alguma forma elas tinham conseguido se virar até aqui, não é?
Vai ficar tudo bem, mãe.
Precisa dizer para ela.
Mas alguém tampou a sua boca e a puxou para trás impedindo-a se avançar.
Ao se virar viu que era Allison.
— Não caia nessa manipulação – sussurrou, como se alguém ali presente pudesse de alguma forma escutá-la. — Sei o que está pensando. – Assim as duas acabaram por se teletransportar para um lugar distante da onde presenciaram a cena.
Elas estavam numa floresta, verde e florida.
— Veja – apenas falou e tirou seu capuz junto com a jaqueta, revelando uma tatuagem de dragão duplo, ela reluzia em dourado como magia. — Agora olha o seu braço também.
Mal ainda perplexa tirou a jaqueta, revelando uma tatuagem de dragão duplo que também reluziu como magia.
Seus lábios formaram um como? Mas sua voz não saiu. Estava num completo choque.
— Eu sou sua irmã por parte de mãe.
— Não! – Disse Mal, fria.
— Eu tenho como provar – Allison não esperava que Mal aceitasse de fato. – Eu posso te mostrar!
Mal confirmou. Por um momento. Mal estremeceu, mas logo mantel postura.
Em um passe de mágica, Mal via a cena.
Malévola entregava Allison a uma bruxa em troca de algo, elas não podiam ouvir, somente ver.
Logo viu os olhos de Malévola brilharem num verde mais intenso e simplesmente saiu.
A cena cortou e foi até a morte da suposta mãe de Allison onde conseguiu contar a verdade para a "filha".
A visão sumiu assim que Mal ordenou que parasse.
— Quem é seu pai? – Mal perguntou de olhos fechados, controlando a raiva.
— Não sei... Provavelmente alguém sem importância... – disse baixinho, de maneira envergonhada.
— Assim como você – Mal trincou os dentes. — Você nunca será minha irmã, você não é digna do DNA de Malévola, por isso ela a trocou por algo mais útil.
— Mal...
— Mal!
A garota acordou, sentindo alguém beijá-la, e o tapa foi inevitável.
— Aí – gemeu o monarca pela dor causada pela filha de Malévola.
— Desculpe – soltou sem querer.
Mal ainda estava em choque, tremia e sentia seu coração bater de maneira descontrolada.
Ela tirou sua jaqueta rapidamente. A tatuagem mágica está ali.
— O que é isso? – perguntou Evie, analisando o dragão duplo. Isso significava que não era fruto da sua cabeça.
Mal se levantou rapidamente e simplesmente correu por qualquer passagem que encontrou. Sentiu uma raiva fora do normal dominar seu corpo, sentia como se seu sangue estivesse fervendo. Mas mesmo assim não parou de correr, não podia, tudo parecia agir de maneira automática.
Mal chegou numa caverna, a maior que já tinha visto, era tão grande quanto aqueles estádios que mostrava no canal de Auradon quando havia jogos. Estalactites formavam um arco no teto acima deles, como estrelas num céu escuro. Havia ali uma árvore, protegida por um lago que circulava no chão ao seu redor.
Mal olhou mais uma vez para a árvore tóxica que estava no meio da pequena ilha cercada de água.
— Uma ilha dentro da ilha, e embaixo d'água.
Que tipo de magia é essa?
Mal estava à beira da água, e então uma pedra lisa e grande o suficiente para apoiar os pés apareceu. Prendeu a respiração e pulou em cima da pedra. Outra apareceu à sua frente.
Um caminho de pedras.
Mal foi para frente, tomando todo cuidado para não cair na água envenenada.
Chegou próxima da ilhota na qual se encontrava uma única árvore tóxica. Àquela distância, a casca da árvore, cheia de nós, parecia formar uma estampa de rostos carrancudos.
— Sinistro – sussurrou.
Logo chegou em terra firme.
De longe a árvore parecia pequena, mas de perto era mais alta que um edifício, com um tronco tão grande quanto uma casa. Ocupava quase a ilha toda.
— Acho que vou ter que subir – disse Mal, olhando nervosamente para a árvore ameaçadora.
A luz da lanterna piscava, mais fraca a cada minuto: as pilhas estavam perdendo a carga.
A herdeira da Malévola iniciou a escalada. Agarrou-se ao tronco mais próximo e começou a longa e lenta subida até o topo, onde se encontrava o fruto. Foi arranhada duas vezes pelos espinhos, mais ignorou os pequenos cortes nos pernas e braços.
Quando finalmente chegou ao topo da árvore, ficou atônita. Eram centenas de maçãs? Todas elas eram vermelhas como sangue e brilhantes como diamante e pareciam estarem envenenadas.
Uma maçã azul cristalina no meio de todas vermelhas.
Subiu e agarrou-se do ramo. Era linda, brilhante e perfeita. Mal ficou fascinada com a beleza dela. Parecia absolutamente deliciosa e estava pedindo para ser comida. Que Mal podia fazer? E se ela desse só uma pequena...
Mordida. Mal havia dado uma mordida na maçã. Era deliciosa, e por um momento, não se arrependeu.
Até que sentiu algo estranho em sua boca, e com as pontas do dedo, tirou um pequeno coração azul, era como um pingente, se atraiu imediato pelo objeto. Até que...
— PAI? – simplesmente congelou ao ver a imagem da figura paterna ali naquele pequeno pingente.
— MAL! – Ouviu o grito de Evie.
Mal conseguiu descer rapidamente por meio de um cipó.
Os amigos apareceram pela entrada da duna.
— Ainda bem que te encontramos – disse Carlos, ofegante. — A Fortaleza... – respirou fundo — Ela está desabando!
— Vamos! – gritou Jay.
Mal de maneira ágil chegou até eles andando de maneira cuidadosa pelas pedras.
Eles correram pelos labirinto, que estavam se fechando mais ainda, quase quebrando seus ossos. Tanto que chegou num momento que eles não conseguiram se mexer, não conseguiram ir a frente e nem voltar, mas de repente tudo se abriu, um verdadeiro penhasco da perdição. Dessa vez todos ficavam com medo, a dúvida era: até onde a magia da Fortaleza estava disposta a ir.
Eles caíram, Mal segurou na rocha ali embaixo, machucando a palma da mão, e tentou cumprir o arranhão para tentar estancar o sangue. Mal tentou subir de volta, mas esbarrou em Evie, que derrubou Allison sobre Carlos, que por sua vez tropeçou em Harry, que por um momento quase derrubou Ben sobre Jay.
Os jovens delinquentes se entreolharam. Não havia como subir, e se despencassem, cairiam no mar, onde não saberiam por onde subir para a terra firme.
Como se ouvisse seus pensamentos, a montanha começou a roncar e a tremer. O ruído era assustador. Lentamente foram subindo, por um foi como se toda aquela magia tivesse morrido.
Aquela não era a volta triunfante que Mal havia imaginado quando decidiu partir em sua busca pela Fortaleza Proibida e o Olho de Dragão.
Derrotada, a improvável turma de sete jovens começou a refazer sua trilha, procurando o caminho para ir embora. Eles tinham perdido tudo, como sempre. De acordo com qualquer padrão razoável, ou segundo os padrões infinitamente menos razoáveis de sua mãe, pensou Mal, eles eram um total e completo fracasso, cada um deles.
Especialmente ela.
Apesar disso, no momento que havia saído da sala do trono, Mal não pôde evitar sentir uma sensação de alívio ao deixar a escuridão para trás.
Entretanto, por mais estranho que pudesse parecer, a Fortaleza estava diferente agora, como se estivesse morta. Mal não sentia mais a mesma atração, a energia de antes.
— Você acha que o buraco na barreira se fechou? – Ela perguntou a Carlos. — Esse lugar está diferente.
— Talvez – disse ele. — Ou talvez a magia que ele despertou já tenha sido gasta.
Mal observou o céu. Ela sentia que não havia mais nenhuma magia na Ilha.
Ninguém disse uma palavra ao voltar para o salão onde, agora, o Espelho Mágico era apenas um espelho comum. Principalmente Evie, que evitou olhar.
Ninguém tampouco disse uma palavra ao passar pelo chão de mármore, evitando os ratinhos barulhentos e morcegos agitados, seguindo longe das rotas dos duendes, de labirintos sufocantes, da tapeçaria empoeirada e das galerias, até chegar à vasta área vazia que havia brevemente se transformado na Caverna das Maravilhas, cheia de areia.
Especialmente Jay que ainda apertou os passos barulhentos ao encontrar novamente a porta de madeira apodrecida que os havia conduzido até ali da primeira vez.
A caverna dos cristais ainda brilhavam, como se realmente toda magia tivesse nascido dali.
E Carlos parecia particularmente tenso e apressado ao cruzar os últimos corredores e salões de mármore escuro próximos à entrada principal. Ao passarem pela porta da frente da Fortaleza, a ponte das gárgulas mais uma vez os encarou.
Especialmente ele.
Carlos ia na frente. Assim que os outros se juntaram ao rapaz, observaram o precipício diante do qual ele estava paralisado. As profundezas da ravina abaixo eram... atordoantes. E o filho de Cruela perdera toda sua pressa no sopé da ponte.
— Está tudo bem – disse Evie, encorajando-o. — É só a gente fazer o que fez antes.
— Carlos. Vamos atravessar uma ponte idiota – Jay assentiu. — Nem é tão longa.
Era verdade. Do outro lado da ponte, eles poderiam seguir pelo caminho sinuoso que levava à floresta obscura de onde tinham vindo.
— Estamos praticamente a caminho de casa – concordou Mal, olhando para Carlos, que suspirou.
— Não sei. Vocês não acham que parece um pouco mais, sei lá, quebradiça? Depois de todos aqueles tremores que sentimos lá dentro? Não me parece o caminho mais seguro. – Ele fitou Mal.
Ninguém podia discordar.
O problema deles era que ninguém tinha vontade de pisar ali, depois do que tinha acontecido da última vez. Não depois dos enigmas. Embora eles tivessem se dado bem na ocasião anterior, após decifrarem os enigmas, não pensaram que teriam que voltar pelo mesmo caminho pelo qual vieram.
— Não sei se consigo de novo – disse Carlos, encarando os rostos das gárgulas de pedra. Ele estremeceu ao pensar que eles poderiam voltar à vida mais uma vez.
Mal não tinha imaginado muito além da cena na qual recuperava o cetro perdido de sua mãe e se tornava uma heroína. Sua mente fora meio displicente em relação ao detalhe posteriores. E, agora que todo o lance da redenção não existia mais, ela não tinha um plano B.
Mas ao olhar para Carlos, que estava ali parado e tremendo, provavelmente pensando em pontes caindo, casacos de pele voando e o amor verdadeiro de uma mulher que não era pelo seu filho, Mal descobriu um jeito.
Ela se colocou na frente dele.
— Não precisa fazer de novo – Ela deu mais um passo, e depois outro. — Quer dizer, não precisa ficar com todo o agito da ponte – disse ela, tentando soar convincente. — Agora é minha vez.
— O quê? – Carlos parecia confuso.
O vento ficou mais forte conforme Mal avançava, a garota fechou sua jaqueta e assim que chegou na metade da ponte, parou, mostrando que estava tudo bem atravessar.
Aos poucos todos iam andando pela ponte.
O vento rugia e chicoteava todos eles, como se fosse arremessá-los para fora da ponte.
— Gente... – Ben chamou a atenção de todos num chamado extremamente baixo.
Quando os amigos se viraram para ele, viram Diablo parado sobre o ombro do monarca. O corvo saiu dali sobrevoando em volta dele, fazendo um certo barulho inconveniente, até que o barulho da ponte tomou conta da atenção deles.
E novamente a grande queda aconteceu com todos ali.
Eles gritaram, e as ondas gritaram de volta. Assim que mergulharam no mar, Carlos já entrou em pânico, se afundando ainda mais. A caixa atingiu o ferro que sustentava um pedaço da ponte destruída, quebrando em inúmeras partículas, Harry tentava salvar Carlos, mas nem ele mesmo sabia nadar, Mal se segurava em Ben, Allison conseguiu se segurar num fio que estava amarrado ao ferro da gente da antiga ponte, jogou para Jay que estava a segurar Evie.
Mas nada estava adiantando, a maré subia, ondas tão magnética que parecia que iriam quebrar seus ossos a qualquer momento.
Mal mesmo na água sentiu o talismã em seu bolso esquentar de uma maneira absurda e que começou a incomodar, o céu de fechou, uma neblina começou a tomar conta da visão. Eles já estavam cansados e quase cedendo ao mar. Mas ali próximo um grande navio se aproximava, por um momento eles achavam que poderia ser a balsa dos duendes, mas o símbolo indicava propriedade de James Hook, uma pequena corda de pesca foi jogada coloca ao navio para eles subirem, Ben com Mal foram próximo a Allison para o navio não baterem neles.
Carlos foi o primeiro a subir com a ajuda de Harry. Ele estava bastante fraco pelo desgaste do pânico, Jay e Evie subiram a seguir junto de Allison, Mal e Ben.
Os adolescentes já estavam no navio junto com o capitão Gancho e seus tripulantes. Autorizaram eles a ficar no dormitório até chegar a Bahia dos Piratas.
— O quê houve com o cetro? – Mal perguntou abraçada a Ben.
— Diablo o levou. – Jay disse enquanto acariciava os cabelos de Evie, que dormia em seus braços.
— E, aliás, você sabia que o cetro estava amaldiçoado e mesmo assim trouxe a gente junto? O que foi isso? — Allison lembrou.
Mal ficou em silêncio.
— Se eu ia tocar nele, então por que você foi tocar nele junto? Não era esse seu plano maligno desde o começo?
Mal se encolheu no abraço de Ben.
— Qual é? Eu não queria que você tocasse no cetro. Não era seu.
— Seja honesta. Você ia me amaldiçoar, não é? Ia me deixar tocar aquela coisa e eu ia tirar um cochilo de mil anos – Allie bufou.
Ben desviou o olhar. Jay limpou a garganta. Mal sabia que nenhum deles queria ter aquela conversa. Tinha certeza disso porque sentia o mesmo.
— Acho que esse era o plano. – Mal se encolheu ainda mais. Não precisa se explicar. Não para ela. Mas ela se deu conta, por mais estranho que pudesse aparecer, de que queria contar.
— Isso ainda é sobre...? Você sabe! – Harry a encarou — Vamos lá, abra o jogo.
...
Quando o navio chegou.
Eles tiveram dificuldade em se concentrar para achar a rua principal.
Mal não parecia tão durona, e estava preocupada.
Na prática, tinha acabado de tentar salvar a vida de alguém. Não é mesmo?
Que tipo de vilão da nova geração que se dê ao respeito faria algo do gênero?
O que havia acontecido em seu grande plano maligno?
Por que ela não tinha simplesmente deixado Allison cair no feitiço do cetro de Malévola? Isso não estava na descrição do trabalho?
E se minha mãe estiver certa?
E se Mal realmente fosse fraca como seu pai?
Ou, pior, tivesse uma propensão para o bem em algum lugar de seu coração negro?
Mal andava apreensiva atrás dos outros.
Não. Ser imune à maldição tinha provado que ela definitivamente não era como seu pai. Um dia ela também seria Malévola.
Ela tinha que ser.
Mas, mesmo sendo filha da Malévola, ela tinha fracassado.
Estava voltando para casa de mãos vazias.
Puxa, ela não queria estar por perto quando sua mãe descobrisse.
Enquanto eles tentavam achar o caminho certo, um certo barulho estranho ecoou pela escuridão ali, estavam já todos exausto para enfrentar qualquer coisa que pudesse vir da própria ilha notoriamente.
— Vocês não me assustam! Já vi coisa pior. Onde acham que eu cresci, em Auradon?
O vento agora estava uivando a seu redor. Ela deu outro passo, sinalizando para que os outros seis a acompanhassem.
— Você pirou? – Jay balançou a cabeça, posicionando-se ao lado dela.
— Pirou na batatinha – disse Evie, atrás de Carlos.
— Eu, louca? – Mal subiu a voz ainda mais. — Como não poderia? Vou para a escola em um cemitério e como bolinhos vencidos no café-da-manhã. Minha própria mãe me manda para lugares proibidos como este, por causa de uma ave velha e um bastão perdido – disse ela, zombando. — Vocês não podem fazer nada que seja pior do que eu já enfrento.
Mal projetou seu queixo, parecendo ainda mais teimosa. Um relâmpago reluziu no céu, perto deles.
Eles continuaram a andar.
Logo depois de sentir a poeira da montanha sob seus pés, Mal sentou no tronco de uma árvore que havia caído. Carlos e Evie, Harry, Allison e Ben fizeram o mesmo. Jay parou atrás, rindo.
Até perceber que não era o único que estava rindo.
— Hã, pessoal?
Mal olhou para cima. Eles estavam cercados por uma multidão dos duendes, não muito diferentes daqueles que os haviam perseguido pelas passagens da Fortaleza Proibida. Excerto que esses duendes em particular aparentavam ser de um tipo mais amigável.
— Garota – disse um deles.
— Corajosa – disse outro.
— Ajuda – disse um terceiro.
— Não tô entendendo nada – disse Evie. Mal e Carlos se levantaram. Jay deu um passo para trás.
Finalmente, um quarto duende soltou um suspiro.
— Acho que o que meus companheiros estão tentando dizer é que estamos muito impressionados com sua demonstração de força. Sua coragem. Sua perseverança. É meio difícil de encontrar por essas partes.
— Partes – repetiram os duendes.
— Ele fala nossa língua – disse Evie.
Mal olhou de um duende para outro.
— Hã, obrigada?
— Não tem de quê – disse o duende. As criaturas ao redor começaram a grunhir alegremente, embora Mal tinha pensado que podiam ser risadas também. Carlos parecia nervoso. Jay apenas grunhiu de volta.
O quarto duende suspirou de novo, encarando Mal.
— E se precisarem de nosso ajuda, ficaremos mais do que felizes em ajudá-los a alcançar seu destino.
Ele olhou para Mal. Mal olhou para ele de volta.
— Nosso destino?
De serpente ele ficou meio tenso.
— Parece que vocês estão bem longe de casa – disse ele, acrescentando rapidamente: — Não estou presumindo. É uma conclusão baseada no fato irrefutável de que nem você nem seus amigos se parecem remotamente com um duende.
Os duendes grunhiram em uso novamente.
Jay os observou.
— Vocês têm uns 60 centímetros. Como alguém como você vai conseguir levar alguém como a gente voltar para a cidade?
Evie o cutucou.
— Sem querer ser rude – disse Jay.
— Rude! – Cantarolaram lá duendes, ainda rindo e grunhido.
— Com certeza isso foi rude – murmurou Carlos.
— Ah, sim. Sozinhos, somos apenas meros duendes, talvez até um pouco brutos – sorriu os duende. — Juntos, somos um exército bem brutal. Sem mencionar o fato de que podemos empurrar uma carruagem.
— Empurrar! – os duendes de exaltaram.
Uma velha carruagem de ferro, do tipo que a Bela e a Fera usaram no passado, só que preta, desgastada e nada parecida com algo que o rei e a Rainha de Auradon fossem tocar, apareceu na frente deles.
Por volta de 40 duendes a conduziam de cada lado, lutando para conseguir pegar na carruagem.
— Por que vocês fariam isso? – disse Mal, assim que sete duendes abriram a porta quebrando com um baque. — Por que estão sendo tão gentis?
— Uma boa ação. Estamos ajudando uma colega de aventuras. Talvez ainda haja uma chance de sairmos desta ilha – disse o duende. — Nós enviamos mensagens para nossos parentes anões, pedindo anistia ao Rei Fera. Fomos amaldiçoados há muito tempo, sabe? Estamos cansados. Eu daria qualquer coisa por um bolinho de creme.
Ben sorriu segurando o riso de maneira involuntária.
— Groselha – disse um duende.
— Gotas de chocolate – disse outro.
Mal tinha que admitir, ela estava exausta também. Isso ficou claro quando ela adormeceu durante o caminho para casa, e nem ficou constrangida por dormir no ombro de Allison.
