Mal tinha que admitir, ela estava exausta também. Isso ficou claro quando ela adormeceu durante o caminho para casa, e nem ficou constrangida por dormir no ombro de Allison.
...
Quando Mal chegou ao Castelo de Barganha, esperava que sua mãe lhe desse uma enorme bronca por ter falhado na busca. Ela abriu a porta devagar e entrou o mais silenciosamente que pôde, mantendo os olhos no chão.
Não adiantou nada. Malévola estava em seu trono.
— A boa filha à casa torna – disse ela. Sua voz parecia diferente.
— Mãe, tenho algo a... – Mal parou.
E observou.
E observou mais um pouco, em dez variedades diferentes de choque.
Pois ela deu de cara com o longo cetro negro, o globo verde na ponta, na mão direita de sua mãe.
O Olho de Dragão.
— Isso é...? – Ela engoliu em seco.
Malévola assentiu.
— Sim, é o Olho de Dragão. E, sim, você falhou comigo. Conduto, felizmente, nem todos os meus servos são inúteis como você.
Mal fingiu não ter ouvido a palavra servo.
— Mas como?
Malévola riu.
— Criança tola, o que sabe sobre buscas?
— Mas nós o encontramos na Fortaleza Proibida! Eu acabei de tocá-lo, há poucas horas! – disse Mal. — Estava em sua sala do trono. Suspenso no ar. Onde você conseguia ver, do lugar onde seu trono estava.
Sua mãe a encarou. Mal não tinha certeza, mas era possível, por um milionésimo de segundo, que Malévola estivesse só um porquinho impressionada.
— Eu toquei o cetro, e essa coisa me deixou inconsciente.
— Você o tocou? Não diga – disse Malévola. — Bem, bom trabalho. É tão mole quanto seu pai.
Mal ficou nervosa.
— Eu não entendo.
— Você tocou o Olho de Dragão? Em vez de fazer os outros o trocarem? Que fraqueza. Eu não queria ouvir a novidade quando soube. – Malévola bateu o cetro no chão próximo a seus pés. — Quantas vezes, Mal? Quantas vezes mais vai me envergonhar?
Ela revirou os olhos.
— Mandei Diablo atrás de você para pegar o Olho para mim. Ele deve ter tirado de você enquanto estava dormindo por causa da maldição. – Ela balançou a cabeça. — Eu sabia que você não ia conseguir fazer o que precisava ser feito, e eu não podia correr nenhum risco. Parece que eu estava certa. De novo.
Diablo grasnou com orgulho.
Mal fingiu que Jay não havia a alertado sobre Diablo e que ela não se sentia como se estivesse sido perseguida pelo corvo durante a busca.
Mal queria desistir. Não importava o quanto tentasse ou o que fizesse, ela nunca impressionaria sua mãe.
Até mesmo agora, sua mãe só tinha olhos para o Olho de Dragão.
— O único problema é que está quebrado – disse Malévola, franzindo o cenho. — Veja o Olho, está morto. – Por um momento, ela soou como a mesma mocinha nervosa que havia amaldiçoado um bebê por causa de um convite para uma festa. Mal se lembrava muito bem, e encarou a mãe com novos olhos.
— Bem, a barreira ainda está lá – disse Mal, finalmente. — E mantém a magia fora. — A barreira fora desativada por um momento, mas não haveria mais magia na ilha tão cedo.
— Talvez. Ou quem sabe você quebrou o Olho de Dragão ao tocá-lo – acusou Malévola. — Você só me decepciona.
Mal estava na cama, após um banho gelado, vestia suas roupas de couro, ainda na indecisão de sair ou ficar, tirou o pingente azul do bolso, seus pensamentos novamente estavam acelerados na questão daquele objeto. Que tipo de artefato teria haver com seu pai? Qual foi o tipo de magia que aquela grande árvore fornecia? Ou melhor, qual a razão dele estar tentando manter conexão, justamente após a revelação de Allison...
Mal colocou aquilo de volta no bolso e virou, ficou pensando até se permitir dormir.
Mal voltou a sonhar novamente com o príncipe no lago encantado, só que dessa vez, não foi o grito de sua mãe que a acordou a fazendo cair da cama, mas sim um certo movimento...
Mal abriu os olhos, e segurou fortemente o pulso de Malévola, que puxava o amuleto. A visão de Mal ainda embaçada, começou a focar, os olhos de sua mãe passaram do verde para o vermelho, apesar da de cabelo púrpura estar extremamente cansada, sua mão segurava fortemente o pulso de sua mãe.
Enquanto isso, na Loja de Quinquilharias, um irritado Jafar estava interrogando Jafar, que havia voltado para casa de mãos vazias.
— Está me dizendo que encontrou o Olho de Dragão, é isso? Então onde ele está?
— Desapareceu! – disse Jay. — Em um minuto ele estava lá, no outro tinha evaporado.
— Sei. E isso não teve nada a ver com uma tal boa ação de uma certa filha do mal para com uma outra filha do mal?
Jay paralisou.
— Como é que é?
As palavras boa e ação eram petrificantes, principalmente na Ilha, ainda mais quando vinham na boca de seu pai.
— Você acha que os duendes sabem guardar segredos, garoto? A novidade está em todo lugar.
— Eu juro. Foi isso que aconteceu. Eu juro por todo o ouro do... – Jay ficou estático. Ele não conseguia pensar em nada para dizer no momento.
Mas, para ser sincero, pela primeira vez na vida, ele não se importava.
— Você só me decepciona – bufou Jafar.
Jay revirou os olhos e saiu. Não que Jafar se importasse com aquilo, então os de cabelos compridos preferiu arrumar um outro canto para dormir, pelo menos naquela noite precisava descansar.
No Salão do Inferno, Carlos estava levando uma bronca depois que Cruela enfim descobriu suas peles em desordem no closet.
— Quem esteve aqui? Parece que um animal selvagem ficou preso com minhas peles! Que imbecil faria uma coisa dessas?
— Selvagem? – Carlos estremeceu. Ele sabia que não adiantava nem tentar não com o closet daquele jeito.
Ela respondeu com um grito, e foi estrondoso. Até mesmo no tom característico de sua mãe, uma oitava estridente.
— Desculpe, mãe – soluçou Carlos. — Não vai acontecer de novo! Eu sei o quanto ama seus casacos de pele. – As palavras eram quase um murmúrio. Ele ainda podia ver os rostos das gárgulas da ponte caçoando dele.
Cruela resmungou.
— Você só me decepciona.
Carlos estava deitado em sua cama, perfeitamente arrumado, os cabelos penteados e roupas limpas na tonalidade preta e branco com detalhes vermelho, afinal, aquelas cores era a marca de sua família. Ele pensava em sua máquina, tanto tempo gasto nela, tantas emoções por ter funcionado e agora ela provavelmente estaria na boca de um grande peixe imerso de águas profundas. Mas talvez ele estaria feliz pelo tempo gasto com os amigos, apesar dos perigos, ele havia se sentido acolhido entre eles, principalmente quando Mal arriscou indo primeiro na ponte das gárgulas.
No Castelo do Outro Lado, a Rainha Má lamentava o estado do cabelo de Evie.
— Parece um ninho de ratos! O que aconteceu? Você está horrível.
— Desculpe, mãe, nós encontramos um... é... bem... vamos apenas dizer que não consegui achar um espelho.
Eu encontrei um, pensou ela. Só que ele não era do tipo que você ia querer ver.
Não diante da premissa de ser a mais bela de todas.
— Apenas me garanta que esses rumores que andei ouvindo não são verdadeiros – disse sua mãe. — Toda essa conversa de boa ação e virtude. – A rainha pareceu murchar. — Os duendes estão dizendo coisas horrenda sobre vocês.
— Você sabe que os duendes são criaturas horríveis, mãe. — Evie desviou o olhar. Ela não sabia o que dizer. Para ser sincera, não sabia nem o que pensar. Os últimos dias tinham sido bem estranhos.
Não totalmente ruins, mas estranhos.
A Rainha Má suspirou.
— Você se esqueceu de replicar o blush de novo. Ah, querida, às vezes você só me decepciona.
Evie murmurou um sinal de desconforto.
— E o que aconteceu com você e o príncipe? Espero que tenha se esquecido daquele outro engomado, você sabe, ele é filho de Hook, o que ele pode proporcionar para você?
Naquele momento Evie desejou ser surda, pelo menos por poucas horas para não ouvir as reclamações impertinentes de sua mãe. A de cabelo azul só desejava deitar em sua cama e ter uma boa noite de sono.
Enquanto isso, umas quadras dali, Ben e Allison se encontrava no sofá do Castelo de Ruínas bebericando de algo doce, diferente das coisas que era enviadas para a Ilha.
— O que vai fazer quando tiver que partir? – A pergunta de Allison foi direta.
— Eu quero ficar aqui, com vocês.
— Com Mal – corrigiu a garota risonha.
— Mas o meu país precisa de mim, vocês de certa forma precisam de mim lá, sinto que posso tirar vocês daqui.
— Ben... sonhos são apenas sonhos. Você gostaria de viver com nós, eles, o povo Auradonianos, não.
— Eles pensam que vocês são como seus pais, eu quero mudar essa forma, talvez levar vocês para lá, prove que nem todos daqui são ruins. Allie, eu quero tentar, pelo menos, tem gente que nasceu em Auradon e foi mandado pra cá, da mesma forma que há pequenos vilões em Auradon, existe pequenos heróis aqui.
Allison riu.
— Então quer dizer que nós somos os pequenos heróis?
— Eu tenho apenas dois dias aqui, no terceiro dia vão vim me buscar, eles esperam informações de certa maneira cruéis, mas não será isso que irão receber.
— Pode explicar melhor?
— Precisei arrumar mil e uma desculpas para vim pra cá.
— Ou seja, um informante – a garota de cabelos escuros revirou os olhos ajeitando a postura no sofá.
— Fiz anotações grandiosas sobre cada um, anotações que talvez não chegue nas mãos dos meus pais ou do cidadãos Unidos – Allison quase cuspiu o suco, mas conseguiu conter o riso. — Nisso também tirei fotos.
A garota cuspiu o líquido de sua boca.
— Oi? Quando?
— Em Dragon Hall, momentos nossos de descontração, durante a busca... – Ele intercalava o olhar entre ela e o chão sujo que ele mesmo teria que limpar depois.
— Posso ver?
— Não sei, não...
— Se me mostrar, te conto uma informação pessoal da Mal – duche.
— Tão impertinente, Allison – Ele sorriu negando com a cabeça — Vamos – disse se levantando — A câmera está no meu quarto.
Eles subiram a grande escadaria e o jovem aventureiro de Auradon lhe entregou o objeto um pouco desconhecido para a garota, mostrando as fotos e pequenos vídeos, bom, digamos apenas uma pasta.
— Incrível, e a outra? – se referiu a outra pasta.
— Pessoal...
— Você e a Mal já não são segredo pra mim – Ele ficou um pouco vermelho. — Ah, a informação dela aliás, um dia antes da sua partida é aniversário dela – disse se jogando na cama dele.
— Por que não me contou antes? – Ele foi até ela.
— Você não perguntou – riu.
— Talvez... – disse pensativo e foi até sua escrevinha. — Ainda há um momento inesquecível.
— Uma festa de aniversário? – ela caminhou até ele.
— A mais épica festa que o povo da Ilha já deve ter presenciado – disse ele listando certas coisas.
— Pode usar as fotos para algo, talvez um álbum ou uma decoração – disse ela lendo a lista por cima de seus ombros.
— Pronto! – disse ele após listar tudo que precisava — Só preciso ir até o Porto dos duendes.
— Acho que é meio perigoso você ficar perambulando pela Ilha depois das fofocas dos duendes.
Bem riu.
— Não como se não tivesse isso em Auradon, já estou acostumado com fofoca, até os tabloides com mentiras e invenções.
— De qualquer forma, melhor usar o meu método de transporte.
— Que seria? – Ele a olhou enquanto colocava o papel num envelope e selando ele.
— Vamos que te mostro – ela disse e ele caminhou até a poltrona pegando sua jaqueta e a vestindo.
— Pronto – Ele afirmou e ela foi até ele o abraçando, e num piscar de olhos ele já se encontravam no Porto dos duendes.
Ele a olhou boquiaberto
— Como? – sua voz quase não saiu.
— Não é só você que guarda um segredo – zombou enquanto ria. — Afinal, qual barco é o de informação? – Ele apontou com dois dedos o certo. E caminharam juntos até ele.
Mal estava sentada na sacada, distraída com os sons de risos e confusão lá embaixo. Então ouviu um chamado.
— Mal! – gritou Jay. — Desça aqui.
A garota correu para a rua.
— O que foi?
— Ah, nada, só estamos tentando fugir dos nossos pais e decepcioná-los de novo – disse Carlos.
— Você também, né? – brincou Mal. Ela se virou para Jay e Evie. — Todos vocês?
Os três assentiram.
— E os outros? – Mal perguntou.
— Harry está com Gancho – afirmou Jay. — Os outros eu não sei – deu de ombro.
— Podemos ir procurar eles e, aproveitamos o caminho para ir ao mercado – disse Evie. — Preciso de um novo cachecol.
— Eu posso arrumar um para você – disse Jay, erguendo uma das sobrancelhas. — Ah, Evie, aqui está – disse ele. — Acho que isto é seu.
— Meu colar! – disse a garota, colocando seu pingente de coração envenenado em volta do pescoço novamente, com um sorriso. — Obrigada, Jay.
— Eu encontrei por aí.
— No bolso dele – disse Mal, rindo.
Então, os quatro desce descendentes dos maiores vilões do mundo puseram-se a correr pelas ruas abarrotadas da Ilha dos Perdidos, causando confusão, roubando e saqueando juntos enquanto os cidadãos da Ilha tentavam se manter longe do grupo. Eles realmente era podres até o caroço, ruins por dentro.
Mal começou a se sentir melhor.
E de fato, enquanto riam e cantavam, Mal se perguntou se aquilo é que era felicidade.
Porque, apesar de os quatro jovens ainda não serem exatamente amigos, eles eram o mais próximo que havia disso.
