A manhã chegou, fria e nebulosa, a Ilha se dizia ser o que realmente era, dor e angústia, pelo menos eram essas sensações que permaneciam nos corações de cada jovem dali que se permitiram se aventurar pela própria, chegando até mesmo na parte da Fortaleza Proibida onde qualquer ser normal ou mágico estava extremamente proibido de cruzar tal área.

O castelo em ruínas onde o príncipe vivia, o mesmo foi acordado, não por um despertador, mas, sim, por uma certa angústia dentro de si, talvez um momento breve de insônia. Ele sentiu uma forte tristeza ao notar que Mal não estava mais lá. Ben a chamou, mas não obteve resposta. Engoliu em seco, e ao se levantar da cama, caminhou até a janela.

O dia da sua partida havia chegado, em questão de horas. Ele preferiu fazer a sua bagagem naquele dia mesmo, porque aí seria a dor numa tacada só.

Aos poucos, o guarda-roupa ia ficando vazio, as roupas haviam sido dobradas e guardadas na mala.

Entre as últimas peças restantes, Benjamin encontrou o moletom que Mal usara no dia da chuva, e seu coração apertou mais. Ele encostou na cama, sentindo no chão frio, abraçou aquela peça e chorou, como nunca havia chorado, a dor de "perder" o seu grande amor, o risco de nunca mais vê-la. Era mais doloroso do que aparentava ser. Ele não sabia se ia aguentar aquilo.

Ainda no chão, com as lágrimas afogando-o, sujando sua camisa, avistou uma roupa diferente ali na poltrona próxima.

Ele ficou de joelho e assim foi até o móvel, a jaqueta de couro da Mal parecia brilhar em seus olhos, embaixo dela havia uma folha dobrada com um colar enrolado, uma pedra reluzente em azul parecia hipnotizar o jovem príncipe.

Ele tentou secar suas lágrimas por mais que parecesse ser impossível. Ele tomou a carta em mãos, tirou a gargantilha e abriu o papel.

Ben,

Desculpe por não ser tão forte como imagina, mas é melhor assim. Comigo aí, sua partida seria mais dolorosa, sei que não conseguiria vê-lo partir desta forma, sabendo que jamais irei vê-lo pessoalmente, eu te amo e sei que você sabe disso. Posso não ser a garota que sua terra sempre sonhou para você, mas saiba que sempre serei sua princesa/rainha da Ilha dos Perdidos.

Espero que guarde em suas memórias e em seu coração os nossos maravilhosos e últimos momentos.

Eu te amo, com amor,

Mal.

Aquela carta o destruiu, de tal forma que se ele estivesse vivendo um conto, o autor não encontraria palavras e sentimentos próprios para descrever o que ele estava sentindo. Com a pouca força que restaram, ele tirou da última gaveta uma carta, a deixou sobre a cama por cima do moletom dele, a fita azul e roxa prendia o anel na carta. Aquilo era para Mal, e se um dia voltasse ali, significaria que eles ainda estavam com um destino futuro juntos.

O garoto tomou um banho com água gelada, vestiu seu terno azul real e arrumou o cabelo em frente ao espelho.

Patético, pensou. Sua imagem estava patética e o deixando desconfortável. Mas era isso o resumo de Auradon.

Se o príncipe tivesse desejado qualquer outra coisa, ele teria recebido da forma mais bela e luxuosa pelos seus pais e pelo seu país. Mas quando se envolvia o nome da Ilha, qualquer um ignorava ou temia. Suas malas já estavam prontas, colocadas de maneira por ordem de tamanho em frente à pequena escadaria daquele castelo, ele se aproximou da porta, segurando firme o material de apoio que fazia ela abrir. Tantas memórias, tantas lendas... Benjamin estava odiando fazer aquilo, estava sendo como Dylan na mente de Mal e ele sabia disso. Por mais que Ben tenha sido diferente, sabia que uma chama maior e mais quente havia entre os dois. Como dois imãs se atraindo um para o outro, que por maior que fosse a distância, havia uma energia ali que os puxava para mais perto.

Ele perdeu o equilíbrio por um instante, quase caindo, segurava o choro, já havia chorado muito, seus olhos estavam meio avermelhados pela ação da tristeza. Logo, o mesmo sentimento se tornou raiva. Mas ele tinha seus motivos, afinal, teria realmente agido da melhor forma seus pais com os vilões?

— Ben... – Seu nome veio de Evie, da melhor forma que a garota conseguiu pronunciar. De maneira suave e delicada, com um toque de emoção e saudade, a herdeira da Rainha Má o chamou. Ele suspirou longamente e tentou buscar toda força necessária para aquele ato, então se virou.

Estava ali, a princesa de cabelos azuis, o garoto do gancho, seus cabelos negros caídos sobre a testa, perfeitamente arrumado dando indícios de uma forte relação com Tremaine. O filho de Cruella com as cores em sua veste caracterizada pela mãe e o leal garoto de cabelos longos. Allison estava um pouco longe dali, escondida e quase afogada naquele capuz negro, os braços cruzados abaixo do seio revelava que algo estava a incomodando. Mas nada de Mal... Nada da Rainha dali...

— Fico feliz que tenham vindo – sua voz falhou a cada palavra dita, por pouco não se engasgou, mas sofreu com o peso delas.

Suas palavras saiam tropeçando, quase trêmulas, mas eram compreendidas e abraçadas com aquela razão que ele estava vivendo.

Novamente, a garota de cabelo azul deu o primeiro passo ali, o ato involuntário chegou a assustá-lo, mas ele retribuiu o abraço, deixando seu rosto se afundar naquele cabelo da cor da noite. Ele suspirou antes dela se afastar.

Carlos praticamente deu um salto com tais palavras, perguntou de Mal. Na noite anterior, eles sabiam que a garota estava com ele, mas a ida involuntária para longe justo naquele dia, eles não imaginavam.

Benjamin conversou com cada um ali, recordações desde a sua chegada foram lembradas naquele círculo de conversa. Allison era a que mais estava calada, ele compreendia, Allie não era tão distante de Mal.

O relógio de ouro em seu pulso parecia correr com os ponteiros, ele pareceu entrar em pânico, um medo do qual fazia seu coração bater como um terremoto dentro de si. Mesmo ali, com aquele frio de inverno, ele aparentava querer suar, tudo isso pelo anseio de não ir, de querer ficar ali e não poder.

Em menos de dez minutos, o carro chegou, a limousine preta com bandeirinhas reais de Auradon na frente, tais bandeiras davam permissão para estacionar em qualquer lugar. O motorista desceu do carro, mas Benjamin fez sinal de que estaria tudo bem e que ele poderia colocar as malas no porta-malas sozinho.

Allison quebrou totalmente o gelo e aquele momento parecia ser um pesadelo.

— Não quer esperar um tempo? – ela parecia ter um receio dentro de si. — Só para ver se a Mal vem... – Ela falou o nome da de cabelos púrpura baixinho.

Benjamin se aquietou. Ele sentia sua respiração forte, como se estivesse em um cômodo vazio. Ele confirmou com a cabeça. Naquele momento, aquela ideia lhe tirou todo o vocabulário.

O príncipe foi até a janela ao lado do motorista. Ele poderia esperar 15 minutos para zarpar.

Ele fechou os olhos e respirou fundo. Ele teria 15 minutos naquele mar do qual as ondas eram tão fortes que o impedia de nadar, a sensação de quase estar se afogando era desesperador.

Longe do carro, os descendentes da ilha e de Auradon estavam sentados numa singela conversa amigável, da qual tranquilizou bem o príncipe, o fez novamente se sentir parte dali, numa pequena confissão, pequenos depoimentos em breve sussurros para apenas eles ouvirem.

Agora já faltavam cinco minutos e nada de Mal. Ben não falou sobre, mas doía como uma ferida aberta, e ninguém falou sobre, por que imaginavam a dor. Benjamin começou a se despedir, um forte abraço e palavras de carinho em cada um deles.

Ben, sorrindo, abriu a porta, deu uma última olhada nos seus amigos, uma última olhada naquele castelo e em cada detalhe da Ilha, suspirou e entrou.

Antes dele fechar a porta, ouviu seu nome, uma voz que o chamava. Ele sorriu e abriu novamente a porta. De início não avistou, até que a garota aparecesse totalmente em sua visão. Sentia a respiração dela tão ofegante como a sua naquele momento, uma corrida ainda mais rápida até os braços do rapaz.

Os dois se afastaram, foi como se suas costas tivessem sido deslocadas sem o toque do outro.

Mal segurou na mão de Ben, um toque reconfortante, mesmo com seus olhos banhados em lágrimas. Ela sorriu de canto, o que fez o dar um meio sorriso.

Nenhum deles tinha palavras ou o que gesticular, e ninguém ousou sequer quebrar o clima ou a troca de olhares que eles mantiveram.

Só havia a sensação e o pequeno barulho da respiração deles, que parecia estar de maneira frenética e doída, o coração de ambos batiam juntos.

A buzina da limousine tocou, indicando que estava na hora de ir.

— Eu- Eu não queria ir só – Sua voz quase não saiu — Vem comigo, Mal, podemos dar um jeito.

— Ben – Mal choramingou — Você tem um bom coração – Ela tocou de maneira suave o peito dele — E isso é o que eu mais amo em você – Ela levou uma de suas mãos para a nuca dele — Mas você sabe que isso não é possível. — Ela chorou. Sentiu raiva por estar naquela situação e não ser capaz de fazer algo para ajudar.

Ben aos poucos foi se afastando, como se aquilo fosse a sua despedida, Mal o segurou pelo pulso, o afastamento repentino e sem aviso a machucou. Com o olhar baixo, ele se levantou, faltou ar para isso, seu peito doeu como uma crise repentina. Ela o beijou, um último beijo, o eterno adeus de um para o outro.

E assim ela se afastou, deu as costas e caminhou até Allison, usando os braços da irmã como um bote, tentando fugir da tempestade no mar.

O príncipe fechou os olhos, não achava que aquilo iria doer tanto, não imaginava que seria pior que uma ferida aberta. Ele daria de tudo por Mal, inclusive a sua vida. Mas a dor ali sentido por ele e por Mal, não existem palavras para isso, para expressar a dor sentida.

Benjamin se virou e entrou na limousine, completamente sem ar, e fechou os olhos junto com a batida da porta.

— Podemos ir? – O motorista preferiu confirmar depois de toda aquela cena.

— Como se eu tivesse outra escolha – ele cuspiu as palavras ainda de olhos fechados. — Vamos logo – sibilou e abriu os olhos lacrimejando. Não ousou olhar pela janela, seu coração não aguentaria mais daquilo.

Mal chorava ali nos braços de Allison, sentia seu coração apertar cada vez mais, nem tinha mais ideia de como ainda respirava. Mal se soltou dos braços da irmã, tão rapidamente que a de cabelos escuros não conseguiu raciocinar. Ela ia até Mal, mas Evie a impediu. Pediu para deixar Mal ter o seu tempo sozinha.

Mal invadiu o castelo e subiu correndo a escadaria de maneira escandalosa, entrou no quarto que o monarca ocupava quase quebrando a porta. Deparou-se com certos itens conhecidos, então caiu de joelhos. Com os braços no colchão, pegou a blusa aos agarrões, as lágrimas não paravam de descer, e seu coração, de doer. Mesmo com a vista quase totalmente embaçada, ela viu a carta cair, um pequeno barulho do anel de fera atingir o chão. Mal se sentou ali, desfez o laço e tomou o anel para si. Soluçava quando decidiu abrir a carta.

Mas não conseguiu.

Não conseguiu ler, não teve coragem suficiente para isso, mas teve para rasgar a carta em pedaços. Jogando pelo quarto, fazendo pequenos pedaços de papel deslizarem pelo piso de madeira.

Ela colocou o anel de fera, próximo ao dedo que tinha o anel que ele lhe tinha dado de aniversário, na noite anterior. Seus olhos cansaram de chorar e dormiu ali mesmo, ainda com o coração dolorido, ferido pelo fim daquele conto.