"Um brinde à liberdade
Algo que nunca poderão nos tirar
Não importa o que digam".
— Hamilton.
O grandioso salão de festa estava todo decorado em dourado e flores vermelhas. Sem dúvidas aquele era o mais sofisticado e glamouroso baile que a realeza já teve desde o dia da maldição da feiticeira.
O preto também se destacava ali entre o dourado e vermelho, aquele baile seria conhecido pelo exagero, as plumas chamativas indicava aquilo.
O Príncipe Benjamin vestia um terno azul âmbar familiar, com detalhes em preto e adornos prateados. Sem gravata. Reforçado como um uniforme militar, sobretudo, mil vezes mais formal; digno da realeza. O azul brilhante e deslumbrante do traje reage involuntariamente à luz, assumindo uma tonalidade mais amarelada e mais escura sob as fontes de luzes branca, como uma aura de um verdadeiro futuro rei. As calças, simples, negras como petróleo; o cinto com o símbolo da família real, o rosto da besta que o herdeiro carrega em seu anel. Medalhas, o suficiente para afundar um barco, brilhavam em seu peito. Uma capa, pesada e longa, dividida entre o azul-escuro e o preto em adornos igualmente prateados nas costas. E uma espada de prata meramente cerimonial na cintura.
No fim das escadas, um pouco longe das câmeras fotográficas, a princesa Audrey o observava de maneira apaixonada, o amigo, que a olhava profundamente, descia as escadas admirando-a.
Ela usava um vestido claro, formal e cintilante como ouro branco. Justo o suficiente. Não tinha camadas, feito propositalmente para destacar as curvas da princesa; como recompensa, a cauda era longa e extensa. As mangas longas esvoaçantes e soltas, ocasionalmente rastejando para trás, vez ou outra, sutilmente para revelar a visão dos braços bronzeados da moça. Rosas, flores de fato, pareciam circundar a base do vestido até a cintura, onde eram substituídas por uma eclosão de adornos, fagulhas de rosa e dourado.
Um caro e delicado colar de safira rosa em volta do pescoço elegante, sobre a gola alta do vestido. Sua máscara facial feita para brilhar à luz que a atingia; as lantejoulas pareciam rugir de orgulho. Sua base estendida, fixada em uma pequena haste dourada; uma pena rosa-avermelhada despontando da extremidade esquerda, misturando-se e contrastando com o penteado de cabelos escuros da princesa.
E ao seu lado, por mais que não fosse o seu acompanhante, estava o descendente da Cinderela.
Chad Charming.
Enquanto o blazer era branco, claro como o dia, a parte interior era negra, escura como a noite. Um contraste ardente. Os botões acinzentados brilhantes, a rosa branca em seu peito encantadora. Chamas negras envolviam as bainhas e punhos da roupa, alcançando a altura dos quadris. As ombreiras, escarlates como sangue, amarradas com fios, cordões dourados que caíam sobre os ombros, unindo-se para chegar à gravata vermelha que se iniciava com um pingente de ouro no brasão da família Charming. Suas pernas bem torneadas escondidas sob a calça branca, as botas cinza subindo até a panturrilha; quase alcançando o joelho. A capa se arrastava pelo chão como um riacho dançante em branco, amarelo e dourado. A espada folheada a ouro em sua cintura tão ornamental quanto a bengala cravejada de joias que ele insistia em carregar nas mãos.
Em seu rosto, a máscara branca e cinza envolvia um terço de seu rosto como uma luz fraca; os cachos loiros de seu cabelo brilhante se mesclando com as verdadeiras joias que a adornavam. A máscara em si era uma fortuna, um luxo. O traje completo magnificamente galante.
Chad Charming buscava a sua atenção ali, ele sendo o foco da câmera era a sua meta para aquele baile. Era óbvio que ele imaginou que o foco seria para o príncipe Benjamin, já que a festa era sobre ele e direcionado para ele. Mas nada que um toque que moda e luxo a mais pudesse chamar a atenção e fazer o próprio brilhar ainda mais em frente aos jornalistas.
Assim que Ben chegou até Audrey, ficando em frente a ela e por sua vez segurando sua mão de maneira delicada. Lonnie chegou ao lado dela.
O qípáo era elegante. Vermelho como sangue, escarlate vivo. Bastante justo, destacando as curvas da guerreira Lonnie, que usava o traje de cultura de seu país como um escudo vivo. Os ramos dourados, misturando-se com uns poucos prateados e amarelos, circundavam a vestimenta, subindo e se espalhando até o colarinho apertado ao último ponto em seu pescoço; isso não parecia incomodá-la em nada. Elegante e prático. Mangas alcançando os cotovelos, onde os cordões cor-de-ouro caíam em forma cascata. A máscara em seu rosto era do mesmo tom, os mesmos adornos; suas laterais se estendiam até que elas alcançassem os broches de ouro firmes em seu cabelo. Ela cintilava, ardia na cultura oriental como uma musa chinesa.
— Bela roupa – elogiou Chad, fazendo uma Lonnie confusa o encarar. — Que foi? – Ele se fingiu de desentendido ou ele realmente era lerdo a aquele ponto?
Jane chegou sorridente e saltitante.
Com um vestido simples, mas adequado para a realeza. A combinação perfeita de azul-marinho e branco, claro e transparente. Longo o suficiente, a bainha tocando e arrastando-se pelo chão, mas sem cauda. Isso não ofuscava seu brilho. Literalmente. O colo do traje parecia brilhar, cintilar com as lantejoulas como uma estrela. As mangas compridas, esvoaçantes e transparentes revelavam a pele clara. Sem joias caras, sem adornos luxuosos. O item mais caro da peça era o colar azul claro envolto em ouro branco que ela usava no pescoço; combinava bem com a escolha de maquiagem básica.
A máscara era delicada, toda elaborada em um material branco como flocos de neve em uma vidraça no inverno. Sua tonalidade e forma, pouco exageradas, eram o suficiente para trazer um brilho aos olhos claros. Jane parecia estranhamente confortável e confiante.
— Cadê a Layla? – Lonnie perguntou.
Jane franziu o cenho.
— Achei que ela estivesse com você.
— Não tenho certeza se é ela, mas – Audrey indicou com dois dedos indicadores para a porta de entrada principal, onde era notável Branca de Neve e seu rei sendo acompanhados por aquela que eles tinha a suspeita de ser a amiga.
— Fecha a boca, Chad, vai sujar o chão – a chinesa o provocou em deboche.
Mas nem ele e nem ninguém dali ousou desviar o olhar da garota.
O vestido dela era-tomara-que-caía, longo e extenso, resplandecente com veludo preto como breu e brocados de prata visíveis. Repleto de camadas aqui e ali; cada um em uma tonalidade diferente de preto. Ora um tom mais claro, ora mais escuro. Às vezes mediano, quase cinzento ou azulado como o céu ao luar, dependendo da posição do arranjo de luz. Os acabamentos prateados e cinzas pareciam lâminas afiadas e cortantes, não meros detalhes. Realmente luxuosa. A seda felpuda cobria a extensão de seus ombros, igualmente âmbar preto, igualmente cara. Anéis e pulseiras nos punhos e dedos, tudo brilhante e folheado a prata. Pedras valiosas incolores pendiam de seus brincos, as mesmas pedras que formavam o anel em volta de seu pescoço.
A máscara, tão escura que quase parecia azulada, se estendia das sobrancelhas à boca em sua face, terminando-se em uma elegante pena escura que flutuava levemente com a brisa. A combinação escura parecia, em forte contraste, involuntariamente envolta em uma aura brilhante, levemente clara e detalhada, vista apenas de perto, em vermelho. Uma mistura curiosa.
Ela caminhou em direção aos amigos da maneira mais glamourosa que conseguiu seguir.
— Ben! – abraçou de maneira apertada o melhor amigo. Ele retribuiu na mesma intensidade.
— Você está maravilhosa – elogiou.
— Obrigada, eu sei disso – brincou, mas falando sério, sorriu provocando-o na brincadeira.
— Achei que por um momento Chad ou Jake ia assumir a coroa.
Chad se manifestou rapidamente.
— Ele jamais vai tocar na minha coroa! – ameaçou.
— Ou, gente, eu ainda tô aqui, sabia? – Ben soltou a voz, tentando fazer os mesmos o enxergarem ali. Audrey riu.
— E, queridos, Audrey que reina depois do Ben. – Lonnie ditou abraçando a amiga pela cintura e fazendo Jane concordar.
— E vamos de assassinato aos descendentes – Dylan apareceu ali, abraçando Lonnie por trás.
O tom de azul ardósia escuro em sua veste parecia se misturar com o preto. As fachas castanho-avermelhadas caíam de cada lado, medianas, com botões dourados. Os punhos das mangas escuras e escarlates, dobrados e fechados em abotoaduras brilhantes, revelavam parte da camisa branca leitosa abaixo. Os adornos iam até o pescoço, abotoados até o último botão e além da lapela, passando dos detalhes flamejantes aos mais delicados; quase como asas. Tampouco usava a cobra que chamavam de gravata em volta do pescoço. A parte de trás do blazer era mais longa, comprida do que a frente, caindo por suas costas até os joelhos. A abertura frontal revelava calças cinzentas bem passadas e teimosamente apertadas. As botas, confortáveis e engraxadas, se estendiam até aos joelhos. Um lenço, bastante simples em relação ao traje — que lembrava um luxuoso uniforme militar — estava enrolado em seu pescoço como um cachecol, em uma tonalidade entre o azul e o preto. A máscara em seu rosto era semelhante em tom, deixando seus olhos, vigilantes e curiosos, expostos.
— Prazer, príncipe Benjamin, sou Dylan. Dá Arábia, herdeiro mais velho de Aladim e Jasmine.
Dylan... O nome do garoto saiu em silêncio de seus lábios, mas o mero sinal de o reconhecer seu nome. O fez dar um sorriso carismático, típico da Ilha. Típico de Mal quando iria aprontar.
Talvez ele tivesse temendo confirmar ou não ser o que ele imaginava. Talvez aquela loucura o tivesse deixando-o ainda mais louco.
— Dylan... – ele notou o lenço que o descendente carregava em seu pescoço. O próprio viu o desenho daquela peça em um quadro rasgado naquele castelo. Um sinal de Mal talvez.
Um sinal para não desistir. E ele realmente levou aquilo a sério.
Dando o seu melhor sorriso, ele estendeu uma das mãos o cumprimento num forte aperto. Os dois disseram mil e uma coisa sobre a Ilha naquele simples sorriso de canto na hora do cumprimento.
— Infelizmente, a alergia dura pouco – ele indicou com a cabeça para a porta. Chad sorriu e foi até a mesma.
De longe, as meninas podiam ver, Jake Frost chegando no Hall de entrada.
O terno era impossível e incrivelmente branco como se o príncipe tivesse acabado de emergir de um monte de neve exposta e gélida. Calças e blazer combinados em tons claros e frios. Uma faixa azul oceano entrecortava o blazer na altura dos quadris, completando a volta em laço reto e envolto sob a guarnição prateada. Um _V_ em lateral estampado no peito, igualmente azulado, corta o blazer até o elo dos botões que subiam até a garganta; como um gradiente. As ombreiras, no mesmo tom e com detalhes semelhantes. Sobre eles, o pelo outrora pertencente a um urso polar caía sobre seus ombros, estendendo-se até que a base se dissolvia em uma maravilhosa capa que deslizava pelo chão como uma hábil serpente; a parte interna, também azul. Os sapatos, por outro lado, eram pretos como a graxa vívida, contrastando com os cabelos e as roupas brancas do príncipe.
A máscara em sua face surgia em um tom médio de azul, envolta por flocos de neve esbranquiçados. Ela destacava com orgulho o rosto esculpido do herdeiro como nas mãos de deuses gregorianos. Um rosto tão belo, para uma alma tão sórdida.
Audrey suspirou.
— Garota! Você é melhor que isso – Dylan sibilou.
Lonnie riu.
— Eu amo esse garoto! Vem, vamos dançar – disse o puxando, ele nem se importou de estar sendo guiado por ela, apenas aproveitou o momento.
— Ainda vai querer ir comigo, ou vai com ele? – Ben observou o garoto conversando com Chad.
— Ciúmes, Ben? – Audrey falou, ainda olhando para o rapaz.
Ben deu um risinho de canto.
— Sou comprometido.
— E eu livre – Audrey soltou, num sorriso desafiador. — Te concedo essa primeira dança, vossa alteza.
— Que nobre da sua parte, vossa alteza – Ele entrou na brincadeira. Novamente era como antes, como duas crianças brincando por entre os salões.
A princesa Audrey estava com a postura ereta movendo ritmicamente conforme a música, uma das mãos de Benjamin segurava a sua cintura, enquanto uma das mãos da garota abraçava suas costas, quase acariciando a nuca do rapaz. Já as suas mãos livres se tocavam num leve toque que os ajudava a guiar com os passos da dança.
Ele fechou os olhos por um instante, antes de rodopiar a garota de salão, seu vestido brilhou durante o giro aos flashes de luz se deitarem nele, logo eles se viam dançando lentamente, mesmo a música agora sendo agitada, eles estavam cercados por pessoas que os observavam atentamente, mas desta vez não deixou nenhum dos dois desconfortáveis.
Por fim, quando ela descansou o seu rosto no peito dele, ele a puxou para mais perto, envolvendo suas mãos na cintura dela, ele apoiou o queixo sobre a cabeça da princesa. E com a última melodia, a música chegou ao fim.
Ela ergueu o olhar, eles ficaram se olhando por um tempo, até que se separaram após uma reverência de ambas as partes, sendo acompanhado por uma troca de sorrisos e olhares adocicados.
