Sua cabeça latejava e havia perdido as contas de quantas vezes havia se revirado na cama. Imaginou que o príncipe herdeiro carregou até lá.

Não se conteve e se levantou, buscando ar na janela aberta, inclinou-se nela sabendo o risco de ser vista por qualquer um, mas certamente a sua angustia era a sua maior preocupação até então.

A sua pele pálida aparentava reluzir, como um brilho de magia, seus cabelos pareciam estar preste a queimar em dourado, como se vagalume o rodeasse.

Ela estava cansada de todas as formas, até mesmo de arriscar a sua situação com Ben, demorou a perceber a lágrima que queria descer de qualquer forma, mas notou enquanto em fúria praguejou um até quanto.

Até quanto estaria a mercê de Benjamin? Até quanto teria que esperar por ele agir a regra de seu próprio país que foram feitas pelos seus pais.

Seu colar dado para Ben, reluzia como estrelas nos céus escuro. Como se ambos os brilhos se atraíssem.

Aquilo parecia queimar como raios solares, o que fez Mal se levantar, andar meio cambaleando e entrar no chuveiro na água fria.

Ignorando a pequena chuva do lado de fora e o frio que agora sentia pelas roupas molhadas.

Mal se sentiu péssima. Como se o tempo ruim tivesse saído da Ilha e a seguisse até Auradon. Como se ela realmente fosse o fruto podre que sua mãe sempre a fez acreditar.

Sempre suspeitou de seus poderes familiares, mas sua magia nunca se mostrou a esse ponto debaixo da barreira protetora, agora era como se tivesse um satélite apontado para ela, como Carlos falava que precisava de um para algumas de suas invenções funcionarem.

Duas vezes aquilo já aconteceu antes, a primeira vez aconteceu quando Mal fez 15 anos, lembrou-se do quão desesperada ficou e correu em direção ao castelo da Rainha Má, onde invadiram o quarto de Evie em busca de ajuda em algum feitiço.

Mal tentava se lembrar da citação, apoiou-se na pia, sem preocupação de estar molhando todo o banheiro. E fez o feitiço, por um momento se sentindo como a Rapunzel.

As batidas na porta fizeram Mal engolir em seco, a sensação de vidro cortando sua garganta por dentro foi real. Ela pronunciou um entre e nem teve total certeza se ele pode ouvir.

Benjamin a olhou, mas de inicio não viu nada de errado, seu cabelo voltou para a cor de ameixas secas e sua pele ao tom de neve. Mas ele se assustou por ela ter entrado com roupa e tudo em baixo do chuveiro, e principalmente pela tremedeira.

Ele não perguntou nada, mas viu o medo em seus olhos, viu a tristeza e não se importou de abraça-la ali. De todas as formas, ela não podia deixar que ele soubesse de seu parentesco com um deus, não podia deixar que ele soubesse que Hades, o deus do submundo, era o seu pai.

— Aqui em Auradon – Mal tremia de frio. — Não há barreira que bloqueia a Magia.

Ben se desfez do abraço por um curto prazo para pegar uma toalha e a envolver. A guiou até uma cadeira em seu closet e procurou algo para a garota vestir.

Ele a ofereceu se ajoelhando em sua frente, deixou a peça em sua coxa e segurou sua mão a encarando nos olhos.

— Eu te amo, estarei aqui não importa o que aconteça, independente de eu estar na Ilha ou em Auradon, eu apenas existo ao seu lado.

Mal o abraçou, deixando-se cair em seu ombro.

— Já aconteceu isso na Ilha? – Ben deslizou a ponta dos dedos no cabelo roxeado. — Digo, quando aconteceu o furo na barreira?

Houve um silêncio antes da confissão.

— Aconteceu na noite em que você foi embora...

Aquilo doeu... Aquela maldita lembrança. Por tudo isso, Benjamin culpava seus pais e seu país e principalmente o povo que haviam se tornado.

O relógio marcava por volta das 5h da manhã, quando os dois voltaram para a cama. Ben ainda tossia e ficou com um certo receio de a garota em seus braços adoecer também, foi egoísta ao ponto de não lembrar sobre o desbloqueio da magia, ele acariciava os cabelos roxos.

Eles decidiram que seria melhor ela voltar novamente ao anoitecer, pela sua saúde em relação a magia, Ben realmente sentia culpado, mas prometeu tornar as próximas horas boas com a garota.

Quando eles acordaram novamente, o sol estava radiante. Já prontos, desceram para tomar o café-da-manhã e encontraram Audrey e Layla a sua espera.

Usaram a refeição do dia para se conhecerem melhor, por mais que a mais tagarela fosse a filha da Branca de Neve que respondia as próprias perguntas feita para filha da Malévola. Audrey estava inquieta e Mal percebera isso, Benjamin apenas observava as garotas, forçando um pouco a comida a descer.

Ele se sentia bem ao lado de Mal, mas sabia que momentos com ela, jamais parecia ser para sempre.

O até então novo quarteto de Auradon passaram o dia inteiro juntos, com jogos de tabuleiros, cartas, conversas com chá e pizza. Até que novamente outra partida veio. Audrey e Layla se despediram antes e foram embora.

Mal estava aguardando o carro na sala de estar do castelo.

— Benjamin... precisamos conversar – Mal falava sério e Ben notou realmente que aquilo seria um xeque-mate. — Você precisa fazer o que é melhor para o seu reino – Mal estava com uma expressão fria, nenhum indício de choro ou arrependimento.

— Uma única chance, Mal – era a vez dele de chorar como nunca — Me deixe tentar-

— Ben! Da mesma forma que é difícil para você, também é para mim. Você é o próximo rei de Auradon, precisa ver o que é melhor para o seu povo.

Ele não estava entendendo aonde ela queria chegar. Até o nome pronunciado que o pegou de surpresa.

— Audrey. Ela é boa, criada na corte e destinada a ser uma rainha, ela te ama intensamente e você parece não perceber ou é burro suficiente por deixar uma garota assim de lado – a voz saiu fria, e nada indicava algum vacilo na frase, Mal estava com a expressão neutra.

— Acho que está afetada pela magia – ele falou sério, mas não olhou nos olhos verdes da garota. — O filho do Jack Frost irá fazer uma festa em poucos dias. Irei mandar um convite para você.

— E se eu não aparecer, saberá minha decisão e minha resposta.

— E se isso acontecer – ele encarou seus olhos enquanto ela se levantava — Seguirei com Audrey.

A buzina foi ouvida e Mal saiu, sem se despedir ou sem sequer ter visto a lágrima cair dos olhos de Ben.

Quando o jovem príncipe subiu para o quarto, como um dia seu pai passou nos corredores do castelo em fúria, certamente se ele tivesse nascido com poderes, certamente estaria como a própria besta que seu pai já foram um dia.

Ele bateu a porta do quarto violentamente, até que sua fúria se tornou como um tsunami, o anel, o anel de fera que ele a tinha dado como um compromisso, como prova daquele amor até então impossível, aquele pequeno objeto significava muito mais do que apenas a relação deles no momento, Ben não se importava com nada além do amor que ele sentia por Mal. Ele a amava de maneira incondicional, amava mais do que assim mesmo, já tinha comprometido muitas coisas e colocava todas em risco, não iria perder Mal, pegou o anel e em um rugido o jogou pela janela.

O anel pousou como uma estrela cadente em chamas na grama, mas foram pegas por mãos familiares.

Benjamin explodiu no quarto, destruindo tudo que encontrava e quebrando tudo que podia.

Foi como se a besta tivesse incorporado em si, como se nada mais importasse.

Quando ele desabou com os joelhos no chão, seu pulso pingava com o vidro de um quadro quebrado, ele observava o sangue quando mãos carinhosas apoiaram em seus ombros, ele reconheceu o toque e com a voz rouca ele sussurrou:

— Ela foi embora... ela me deixou.

Era perto da meia noite quando Benjamin vagava pelo seu jardim real. Não queria dormir, sabia que se pegasse no sono, ela viria, como uma deusa ou como uma maldição.

Ele sabia esperar, aguardar, mas não sabia até quando ela iria aguentar. Queria saber sobre Allison, mas por nada ela era encontrada, queria falar com Harry, mas ele não respondia.

Ben estava ficando limitado em suas ações e talvez até mesmo fora de si.

O herdeiro não sabe por quando tempo andou, mas se deu numa parte escura, um bosque talvez e ele se sentou ali, de frente para a escuridão e cobiçando a herdeira da ilha

No norte do país, o celular de Audrey vibrou, despertando a garota que tinha sono leve.

Jake: Estamos pensando em ir no parque da cidade amanhã, você topa?

Pode contar comigo.

Jake: Se quiser levar alguém...

Certo...

Audrey sorriu e não teve problema em encontrar o número que queria.

Boa noite. – mordeu o canto do lábio, esperando.

Boa noite, princesa.

A mensagem de Áster fez os olhos da filha de Aurora terem o contorno dourado.

Estamos marcando de ir a um parque de diversões amanhã, queria que você fosse...

*risos* Nos encontraremos aonde?

O gritinho final foi inevitável por parte da filha de Aurora.

Os portões dourados pareciam ter algum tipo de magia que o predominava e o atraía. A placava avisava o horário de abertura, o cheiro de pipoca doce e salgada predominava com o açúcar do algodão doce.

O volume dos brinquedos em movimento começava a ser ouvido e o grupo de adolescentes já tinha comprado os ingressos e dividido entre si.

As atrações eram quase incontáveis para alguns e impossível para outros, visto que não eram fixas, mas nessa temporada havia uma imensa lona na cor tradicional, vermelha e branca, do circo.

Havia murmúrio em relação ao desejo por ir nas atrações de terror, outros comentava dos trapezistas e uns preferiam os mais energéticos e repleto de adrenalina.

Benjamin parecia ter perdido o interesse.

Quando os portões abriram, o príncipe herdeiro parou, observando a placa acima que continha o nome do circo, as vezes parecia refletir em um roxo brilhante, outras vezes em um verde esmeralda, mas a placa sempre fora dourada.

Audrey parou na abertura, olhando-o, e foi até ele.

— É doloroso, não é? – Ela sussurrou olhando para onde ele olhava. Ele a olhou e ela fixou o seu olhar no dele. Os cor de mel pareciam beijar os castanhos. — Ficar longe de quem se ama. – Ela deu um meio sorriso triste, e antes que ele pudesse dizer algo, Áster a chamou. E novamente os castanhos pareceram ganhar vida.

O grupo foi dividido e cada um foi para a atração que queria. Dylan desafiou Ben para o tiro ao alvo e ao lado de Jane acertava as torres de copos com Layla.

Lonnie e Doug sumiram com a filha da guerreira o puxando para a atração de terror.

Chad e Jake simplesmente saíram pelo parque, e Audrey e Áster foram na queda livre.

A dupla de garotos chegou onde Ben e Dylan aparentavam estar brigando.

— Vocês viram as meninas? – A pergunta veio do filho de Cinderela.

Todos deram de ombros.

— Elas devem estar no circo – Jane apontou com uma pelúcia de um dálmata em suas mãos — Já vai começar.

— Deveríamos ir para tentar tirar essa cara de morto do nosso querido amigo – Jake apertou os ombros de Benjamin.

— Um lanche antes? – Lonnie apareceu com Doug.

— Vocês gastaram todas as fichas aqui? – O filho de Dunga apontou.

— É o Ben que não sabe perder – apontou Dylan.

Ben franziu o cenho.

— Eu praticamente ganhei de você!

— Começou a briga novamente – Layla revirou os olhos.

A noite estava começando a esfriar, Áster e Audrey pegaram algodão doce antes do espetáculo circense.

— Queria que a vida fosse como os nossos momentos – Audrey confessou.

— Quem sabe um dia... – disse a mais velha, pegando uma bola de algodão da amiga.

Audrey riu e entrou com Áster na lona de circo, onde a temperatura parecia ser mais quente.

O espetáculo foi incrível em todos os sentidos, repleto de luzes e movimentos, Audrey podia jurar que algo como o pó mágico de sininho sobrevoou sua cabeça.

Ben havia sentado ao seu lado, parecia agitado no banco quando decidiu falar.

— Posso te fazer um pedido? – Ele murmurou com um pouco de receio.

Audrey o olhou de relance e sorriu.

— Gostaria de me acompanhar na festa do Jake? – Ele sorriu.

Ela pareceu paralisar.

— E quanto a Mal? – sua voz quase não saiu.

Ben baixou a cabeça e negou.

— Não há espaço para uma garota da Ilha em minha vida.

Era por volta das 11h quando o grupo deixou Áster e Audrey no palácio de Aurora e Philip.

Quando o carro seguiu rumo para outro palácio, Audrey falou.

— Ben me convidou para ir com ele na festa de Jake – comentou.

O silêncio permaneceu.

— Eu não aceitei.

O choque veio.

— Não?! – O espanto foi indescritível.

— Com o tempo... que estive longe dele, percebi que não preciso dele... eu... não o amo de verdade, acho que nunca amei de fato... – confessou. Os olhos de Audrey estavam cheios de lágrimas prestes a escorrer como uma cachoeira ou uma tempestade.

Áster segurou no rosto de Audrey. E beijou sua testa.

— O convite da "festa do pijama" ainda está valendo?

— Sempre – Audrey sorriu.

Durante a madrugada, elas conversariam sobre eles... sobre Audrey e... sobre Benjamin...

— VOCÊ FICOU MALUCO? – Dylan praticamente gritava. – Por qual razão não me avisou? – O empurrão foi mais forte do que Benjamin esperava.

— Calma, Dylan – Layla tentou ajudar.

— ELA ESTEVE AQUI! MAL ESTEVE AQUI! – seus olhos queriam chorar, mas a raiva o tomou. — E NEM TIVERAM A DESCENCIA DE ME AVISAR! – Ele gritou.

— De qualquer jeito é passado. – Ben disse, frio. — Mal não é para mim, não para um futuro rei-

O soco lhe acertou em cheio o rosto, fazendo um leve fio de sangue aparecer num pequeno corte.

Doug interviu.

— Relaxa, Doug – Dylan deu as costas e foi embora.

Layla encarava em choque o amigo.

— Que merda, Ben! O que você está fazendo?! – Lonnie lançou um olhar como se fosse possível transmitir laser e entrou no carro com Doug e Layla. Deixando Ben ali sozinho.

Não era a primeira vez que Mal era abraçada pela fria ventania da Ilha. Já não era a primeira vez que seu coração doía e sentia raiva por estar naquela situação, naquela maldita Ilha.

O pior de tudo – ou o melhor – era ter o coração desejando amar o herdeiro de Auradon, tons diferentes de azul e amarelo sempre invadia seus sonhos – sempre!

Mal certamente estava começando a ficar depressiva com isso e Evie notou novamente a mudança de humor da amiga.

— Maldito! – Mal praguejou.

O príncipe era a pior parte de tudo para a filha da Malévola, ele era filho do Rei Adam, o querido príncipe que foi amaldiçoado a virar uma fera e a doce camponesa Bela que teve um bom coração e quebrou a maldição.

Benjamin Florian era um príncipe-herdeiro, futuro rei daquele país e exemplo do que é a elite Auradoniana.

A melancolia a atingiu de uma forma indescritível.

Os olhos de Mal estavam vazios. Se um dia pensaram que nele existiram magia, agora tudo pareceu ser apenas um delírio.

Estava ela novamente na Ilha, sozinha, enquanto Benjamin seguia sua vida em Auradon. Mal ainda estava receosa sobre aceitar o convite para uma festa, estava triste e vazia, o seu lado bom gritava enquanto o lado ruim sempre parecia disposto a agir.

Medo.

Medo era o que ela vinha a sentir já tinha algum tempo. Desde a respiração funda e estresse vindo com o cansaço de tudo. Com uma rosa em tom de vermelho, ela recebera um convite real, Mal se lembrou do momento junto dele quando adoeceu e como tudo aquilo acabou, quando ela teve que partir, deixou algo claro sobre eles, se tudo aquilo ainda podia ser real. Mal imaginara uma outra história, com o fator principal que eles não viviam no mesmo mundo e deixou claro um possível término, prometeu por ele e ainda mais por ela em pensar no assunto, então foi de se surpreender quando o convite de uma festa real chegou acompanhado com uma rosa inteira, como se tivesse sido recém arrancado do jardim e os espinhos não tivesse sido uma preocupação para tirá-la do solo.

Mas, quando apertou forte as pequenas pétalas da flor, esmagando-a como sentia em seu coração, o espinho lhe furou os dedos, e pequenas gotas começaram a pingar, como se de fato tivesse sido amaldiçoada a aquilo.