Chad Encantado não estava exatamente feliz por ter sido acordado em plena madrugada de uma quarta-feira e ainda resmungava a respeito enquanto o motorista dirigia o conversível real pela estrada costeira de Auradon. Mas parou de reclamar quando percebeu a tensão no melhor amigo ao seu lado.

— Sério, por que estamos indo primeiro para Charmington? Minha mãe vai pirar quando chegarmos lá. Você sabe que ela gosta de deixar tudo limpo e brilhante quando tem uma visita real – disse Chad.

— Já falamos – Ben se pronunciou – Se Cinderela e Encantado assinarem, será bem mais fácil de convencer os outros reis e rainhas a fazerem o mesmo.

Chad sorriu, convencido.

— Tudo bem – disse Chad, recostando-se no banco. – Mas vamos para o caminha mais rápido para chegar lá. – Ben segurou o riso, sabia o quão Chad no fundo amava estrada e adorava guiar o caminho, por mais que o motorista soubesse perfeitamente todos. – Continue nesta faixa e depois entre para o Porto de Bela. Então vamos pelas vias secundárias até o Recanto Majestoso.

Ben observou o sorriso do motorista seguindo as orientações, satisfeito em ver que o príncipe Charming havia parado de reclamar do horário.

— Ei, cara – Ben começou. — E se... a maioria não aprovar? – Ben sabia que todos não aprovariam, mas se a maioria negasse?

Chad suspirou.

– Bom, a última palavra ainda será sua – Ben o olhou indignado – Não me olhe dessa maneira – resmungou o Encantado. – Sabe que estou falando a verdade, se a maioria não aprovar, ainda vai ter pelo menos alguém que vai, isso já é o bastante para "considerar" – ele fez aspas com os dedos.

Ben respirou fundo.

– Não tinha pensado por esse lado – ele encarou a paisagem pela janela – Talvez você tenha razão.

— Eu tenho o quê? – Chad sorriu e colocou a mão na orelha para ouvir melhor, Ben sabia que ele tinha ouvido, e muito bem.

Ben relaxou um pouco, satisfeito que pelo menos alguém pudesse concordar com ele em sua decisão. Por mais pretensioso que fosse, Chad não era um completo imbecil.

— Como eles são, de verdade? – Chad se virou o encarando, Ben o encarou de volta. – Os filhos dos vilões — havia sinceridade na pergunta do amigo, e receio no fundo de seus olhos.

— Normais, como nós.

Chad não segurou o riso.

— Somos normais?

Ben se lembrou da foto polaroid que carregava consigo, tirou da carteira e mostrou a Chad. Era uma do aniversário da Mal...

Chad pegou a foto com cuidado e ficou um momento em silêncio olhando.

Ben os apresentou aos poucos.

– O de cabelo comprido é o Jay, filho do Jafar, o baixo ao seu lado é Carlos, filho da Cruela, a de azul é a Evie, filha da Rainha Má, ao seu lado está Allison, não sei de quem ela é parente, e Harry, de James Hook e Lady Tremaine – Chad arregalou os olhos surpreso pelo casal de vilões pais do garoto. – E essa, de cabelos roxos, é a Mal – Chad entregou a foto a Ben.

— Pelo menos ela é bonita – deu de ombro. – Vai chamar todos?

— Está aí a questão, duvido que chamar seis adolescentes de uma vez ajude a aceitarem, decidi chamar só os quatros, por mais que Harry tenha sido meu primeiro amigo na Ilha.

Chad ergueu as sobrancelhas.

– Então que bom que não vem – Ben o encarou sério, mas continuou.

— Allison vive brigando com Evie, então achei melhor numa próxima junto com Harry, e soube o que ela fez... só deixa pra lá, ainda dói um pouco.

Eles chegaram ao Castelo Encantando ao meio— dia. Chad entrou em casa chamando pelos pais, mas disseram que eles tinham saído para resolver assuntos relacionados ao reino e demorariam a voltar.

Ou seja, eles teriam que se reunir com o seu avô, e em relação aos vilões, ele não era muito tolerante...

— Então querem que eu assine em nome do reino a aprovação dos jovens vilões?

— Dos descendentes dos vilões – Ben o corrigiu.

— E você concorda com ele, meu neto? – O avô olhou de maneira suave para Chad.

Chad encarou Ben e Ben o encarou de volta, Chad respirou fundo, Ben iria entrar em uma dívida eterna com ele.

— Ben foi na ilha e conheceu os descendentes que iriam vir, são pessoas diferentes de seus pais, eles não vão causar problemas como os seus pais fizeram – Chad respirou fundo. – Agora não parece, mas vai ser importante no futuro, essa chance para a nova geração.

Seu avô resmungou como um velho rabugento.

– Se está feliz com isso e ficara bem com a convivência – Ben sorriu, sabia o peso da assinatura que seria para outros também assinarem. – Você que irar ser o futuro rei, o que acontecerá com as decisões do Principe Ben, caberá a você também, meu neto.

Chad sorriu.

– Obrigado, vô – agradeceu assim que o termo foi assinado.

— Muito obrigado pela confiança – Ben agradeceu.

— Um conselho, meu jovem, saibam que o que esses descendentes causarem, você será o culpado – eles não souberam se era uma ameaça ou um conselho mesmo.

— E aonde vamos? – Chad perguntou enquanto entrava no conversível.

— Vamos ver Aurora e Philip, Audrey já deve estar lá, e depois vamos ver Branca de Neve e—

— Bem, sei que quer conseguir as assinaturas pessoalmente, mas não vai dar pra visitar todos os reinos em um dia – Chad colocava o cinto de segurança.

— Não vamos em todos, vamos no mais próximos. Por exemplo, desta vez não vamos na Terra do Nunca – Ben relembrou.

Chad fechou a cara.

– Um dos Meninos Perdidos continua furioso porque roubei sua fantasia de urso da última vez que joguei contra eles. E tocou no assunto de novo na partida recente. Não é minha culpa se ele não pegou a pele de volta. – A turma de bagunceiros se importava muito com peles de urso, raposa, coelho e guaxinim.

— Mas foi por sua culpa que alguém encontrou a fantasia e a transformou em tapete – cutucou Ben.

Chad suspirou.

– Nesse ponto você tem razão.

Ambos sabiam que aquela conversa seria difícil.

Assim que entraram no castelo, dirigiram— se para a sala de reuniões onde todos estavam esperando. Audrey, seus pais e seus avós e a expressões de todos não eram nada agradáveis.

O olhar de Audrey ao se dirigir para Ben indicava que havia tentado de tudo.

Os dois príncipes se sentaram um do lado do outro, ambos estavam na dúvida se deveriam se tratarem em formal ou informal.

Foi a Rainha Leah que quebrou o silêncio.

– Se ninguém começar, eu começo. Ben, a minha neta me contou os detalhes sobre sua autoproclamação, e não concordamos com ela.

Chad empurrou a pasta de papéis para ela, e Ben iniciou o falatório.

— Não pode aparentar muita coisa agora, mas se nós dermos uma chance para a nova geração—

— Uma chance do que, Ben? De nos destruir?

— Mamãe – foi a voz da Aurora.

— Você lembra, não lembra? – dirigiu— se ao marido, e logo para a filha. – Os feitiços, as batalhas, o dragão – ela olhou para Ben.

— Entendo o lado de vocês, de todos, mas—

— O que você acha que os pais deles o ensinam? – foi a voz de Estevão – Honestidade? Bondade? Ben, não seja tão ingênuo.

— Os descendentes que virão, Ben os conheceu, por isso mesmo começaremos com apenas alguns deles somente.

— Você conviveu com eles? — foi o Rei Philip a perguntar desta vez. Ben confirmou com a cabeça.

— Pensei que tivesse convivido apenas com os camponeses – Aurora aparentou ter ficado aflita.

— Não somente convivi com alguns, mas estudei na escola deles, fiz amizade com alguns.

— E quais descendentes viriam? – Aurora segurou na mão do marido.

O trio da realeza engoliu em seco, foi Audrey que teve coragem de falar.

— Cruela, Jafar, Rainha Má e...

— Malévola – foi Ben que finalizou.

— Não, definitivamente não – Rainha Leah quis finalizar a reunião.

— Rainha Leah – ele levantou junto dela.

— Ben, não colocarei a vida de minha filha em perigo novamente, não da minha família, não de Audrey. Você lembra? – se dirigiu a Audrey – As maçãs envenenadas, os feitiços, tudo, Ben – Rainha Leah voltou a se sentar a pedido do marido, Ben repetiu o gesto. – Como dar uma chance a nova geração se eles vão repetir a mesma história dos pais?

— É complicado... – Aurora se dispôs a falar.

— Da mesma forma que a pequenos vilões aqui em Auradon, também a gente inocente na Ilha – Chad relaxou os ombros – Eles não escolheram nascer filhos de seus pais, nenhum de nós escolhemos, então por que não ajudarmos a fazer o bem?

— No vilarejo e nos povoados há vários cartazes do rei espalhando bondade – Audrey continuou.

— E na Ilha pedindo para que os cidadãos sejam bons – Ben sussurrou, recordando-se. – Só uma chance que pedimos.

— Uma chance é o bastante para destruir tudo – Rainha Leah não estava disposta a negociar.

— O meu avô assinou – continuou Chad, causando surpresa nos demais. Bom, o avô não havia perguntado quais dos descendentes, talvez, se soubesse, a história poderia mudar, mas, é claro, eles não precisavam saber desse detalhe. – O reino futuramente estará em nossas mãos, nós decidiremos o futuro porque futuramente iremos governá— lo, deixe— nos mostrar como nossas ideias podem ser boas para o futuro, começando por agora.

Aurora puxou a folha da pasta. Causando choque na mão.

— Se assinarmos... promete que nada de ruim nos acontecera... – perguntou Aurora – Principalmente com Audrey? – destacou.

Ben sorriu.

– Eu prometo, em nome da coroa.

Aurora suspirou com os olhos fechados, e quando voltou a abrir, assinou o papel e deslizou para o marido fazer. Ele logo entregou para Ben.

— Obrigado pela confiança – Ben agradeceu. Se virou para a Rainha Leah, mesmo ela não assinando, Ben esperava que no futuro ela mudasse de ideia. – Vai ver que tudo ficara bem – sorriu.

O horário estava próximo da reunião com o conselho, estava o trio da realeza no carro, a caminho da reunião que mudaria a vida de todos, sendo positiva ou negativa.

Se Ben achou que a sua primeira reunião foi caótica, nada era comparado com essa.

Ele não sabia o que fazer, não queria explodir novamente, Chad até tentou falar, mas não o deixavam também, então os dois fizeram o que faziam de melhor, deixar na mão de Audrey, a corte poderia escolher ignorar os jovens príncipes, mas jamais ignorariam a princesa Audrey.

Nenhum dali poderia negar, nem mesmo Ben, que Audrey falava como uma verdadeira Rainha que foi criada e ensinada a ser.

Com paciência, doçura e sabedoria, conseguiu explicar de formas diferentes para cada um, para que entendesse melhor, destacando pontos e destacando que os pais assinaram como o avô de Chad.

Explicou sobre como Ben podia se certificar que tudo sairia bem e que conhecia os descendentes, a princesa falava de uma forma que nem mesmo Ben em toda sua vida seria capaz, Audrey de fato nasceu para governar aquela corte como qualquer pessoa existente ali.

A reunião durou horas e horas, mas, no fim, prometeram decidir entre eles e enviar uma carta com sua resposta para Ben.

O trio agradeceu a presença para todos e assim que os cidadãos unidos saíram, os três despencaram na cadeira.

Respirando fundo e de olhos fechados, mal notaram Lumière entrando na sala, enchendo os copos dágua de cada um novamente, até sussurrou perguntando se gostariam que Madame Samovare preparasse algum chá.

— Estive falando com meu pai sobre futuramente substituir a corte, gostaria que fazerem parte como os representantes do Norte?

Chad abriu os olhos.

– Sério?

Ben abriu e se sentou na cadeira corretamente.

– Quero pessoas novas no conselho, para caminhar junto da evolução, pessoas próximas do povo, poderíamos dividir bem as funções para podemos ouvir todos e cuidarmos dos nossos reinos ainda.

— Eu aceitaria.

Os dois olharam para Audrey que ainda estava em silêncio e de olhos fechados, respirando fundo.

— Audrey? – Chad a chamou.

— Tudo bem por mim – concordou a princesa. – Mas juro que se largarem a corte novamente para eu sozinha resolver, faço a própria irem contra vocês dois – sorriu de maneira astuta e abriu os olhos encarando a dupla.

Aquele sorriso de alguma forma lembrou o de Mal – pensava Ben – de sua Mal...

— Querem dormir aqui hoje? – perguntou Ben.

— Obrigada, mas hoje vou voltar para o colégio, exausto o suficiente para que se eu não dormir na escola, eu com toda certeza não vou ir às aulas no período da manhã – ele se levantou – Você fica, Audrey? — ela fez um sinal de joinha com o dedo. – Boa noite para vocês então, e Ben, vou usar seu motorista.

— A vontade – Ben sorriu.

Assim que Charming saiu da sala, Ben se virou para a Audrey.

– Sala de cinema ou quer dormir?

— Dormir – disse, sorrindo.

— Então vamos, que amanhã será um dia muito longo.

Audrey bufou.

– Mais que hoje, impossível – a princesa já estava quase caindo da cadeira, isso fez Ben sorrir.

Talvez Ben amasse Audrey mais do que gostaria, esperava do fundo do coração estar fazendo a coisa certa.

Era uma vez um príncipe de coração partido.

Era uma vez, um príncipe encantado destemido.

Era uma vez, uma chance para os descendentes dos vilões.