Benjamin Florian sentiu a bile subir em sua garganta enquanto tomava a decisão que era, naquele momento, a mais importante de sua vida. Ele sentia sua vida desmoronar a cada respiração. Pelas suas lembranças passaram os fatos que o fizeram chegar até ali.
Ele se lembrava que tudo havia começado com a sua ida para a Ilha dos Perdidos e como confrontou seu pai para a autorização. Benjamin estava parado em frente a escrivaninha de seu quarto, com raiva e dor o corroendo, de um jeito que parecia impossível, de um jeito que nenhuma outra pessoa normal deveria sentir ou aguentar.
O garoto sabia que havia tentado o máximo possível esquecer a vida que passou na Ilha, poderia somente ter sido apenas um mês, mas era impossível voltar com sua vida passada, como um príncipe medíocre que fingi que a Ilha habitada de vilões nunca existiu.
Sentado em sua cadeira azul, ele riscava frases em um papel com o lápis de madeira amarelo. Ele procurava as melhores palavras para expressar o inexplicável, para justificar o injustificável. Um suspiro baixo saiu dos seus lábios quase sem cor. Ele sabia, sentia, que era a hora certa para aquilo.
O cansaço tomava conta de seus olhos, enquanto ele lembrava de Mal, quando ele chegou pela primeira na Ilha dos Perdidos no mesmo instante em que ele sabia, ele sabia lá no fundo, que ela era a garota de seus sonhos. Sabia das chances que existiam dela não gostar dele, porque ele era um príncipe, um herdeiro, um cargo e alguém terrível no ponto de vista dela. Os olhos poucos calorosos dela demonstrava isso.
A corte na verdade se transformou na comprovação de que o mundo era para ele, e sempre seria, seu inimigo, e as pessoas as facas usadas contra seu coração. O seu melhor amigo, por mais que aquele cargo seja forte demais para o charmoso príncipe Chad, conseguiu o que parecia impossível, apoiar o projeto.
Agora, as coisas que havia passado na Ilha, que nunca ousou contar para ninguém, nas mãos de Audrey. E a próxima e última facada poderia ser dela, a sensação ao pensar era tão profunda e horrorosa que ele reprimir com todas as forças aquelas lembranças.
O garoto parou para refletir sobre o que pensava e, olhando para a sua cama, agora ocupada pela herdeira de Aurora e Philip que dormia e aparentava estar tão em paz consigo mesma e com o mundo, que era praticamente impossível afirmar que sequer um dia ela tivesse tido algum pesadelo.
Um tremor subiu a espinha quando se lembrou que no próximo dia esse conforto seria também arrancado dela. Audrey seria seu braço direito contra a opinião e ideias negativas contra o conselho da corte real.
Benjamin se perguntava se a amiga acreditava que isso resultaria em algo bom. Para Doug, isso era mais que improvável, mas se sentiu desconcertado quando até mesmo Audrey pareceu contente com a situação. E foi nesse instante que Benjamin decidiu.
Ele decidiu que se não poderia viver junto de Mal na Ilha, pelo menos ele tentaria, nem que está ação lhe custasse a própria coroa e o título como insinuou Dylan.
Ele arriscaria, era necessário, sabia que estava cada vez mais sendo engolido pelo fogo odioso que o tomava e que provavelmente murcharia ainda mais em face aos rostos sorridentes de sua família perfeita, ao mesmo tempo em que machucaria cada vez mais quem atravessasse seu caminho. Benjamin pensou em como seu pai era egoísta, gritou com ele coisas que realmente doeram mais a si mesmo do que o que queria atingir, ainda naquela mesma noite confessou a Audrey que ela era mais merecedora daquela vida, de uma vida boa, mesmo que soasse tão superficial do que ele.
E por isso ele respirou fundo, secou as gotas de suor que se tornava vista em sua testa com as costas da mão direita, tirou a força que não existia mais em seu corpo, para então escrever as últimas palavras que conseguia para finalizar os convites reais da sua autoproclamação que o colocaria em definitivo na corte real como futuro rei, suas últimas palavras de verdade para tirar seu grande amor e seus amigos da nebulosa Ilha dos Perdidos.
Benjamin, naquela madrugada, finalizara os convites que seriam entregues pela manhã, o conselho aprovando ou não, a primeira e última palavra ainda seria dele.
Enquanto a gangue dos jovens vilões causava estrago pelas ruas da Ilha dos Perdidos, o Príncipe Ben olhava pela janela, de seu privilegiado ponto de vista do Castelo da Fera, perdido em seus pensamentos.
É fato que Adam tinha dito a ele que seria um bom Rei, mas secretamente Ben se perguntava se o pai estaria certo.
Para ser mais exato, ele se perguntava se realmente estava preocupado em ser um bom Rei.
Isso importava? Com o que ele se importaria? O que queria?
Preso, pensou Ben, observando a grande extensão do reino. É como me sinto.
Ele olhou para o céu, como se fosse achar as respostas ali. Estava tingido de azul, brilhante e claro como sempre, e ele podia ver até o horizonte, onde as fronteiras de Auradon se convergiam em nada além da neblina da costa e o mar azul.
Não.
Não é apenas nada.
Bem lembrou dos sonhos que teve com a Ilha, os momentos que viveu lá.
A Ilha dos Perdidos. Era como todos chamavam, inclusive seu pai.
Ele pensou de novo em como seria viver do jeito que eles viviam, da mesma forma que ele estava aprisionado em sua vida na realeza. Mas ele largaria tudo para ficar com Mal, e tinha total certeza disso.
Ela estava aprisionada, certo? Seu pai tentava fingir que a Ilha não era uma prisão, mas até Ben sabia que não era verdade. Ela e todos da Ilha estavam lá por ordem do rei.
Assim como Ben podia viver no castelo por ser filho do rei. E porque meu pai me ama, pensou Ben. E porque eu nasci para isso.
Era impossível parar de pensar.
Ele hesitou.
— Ai – disse Bem, assim que sentiu uma agulhadas novamente na axila.
— Desculpe, senhor. Perdão! – Lumière, que estava tirando as medidas do rapaz para as vestes da coroação, recuou.
— Não foi nada – disse Ben, que tinha o ar de um rei, que menos segundo Lumière, em seu elegante terno azul com ornamentos dourados. Era o mesmo usado pelo Rei Fera em sua própria coroação. — Foi culpa minha, eu me mexi.
— Sua mente está em outro lugar, senhor – disse Lumière, sabiamente. — Natural para um futuro rei de Auradon.
— Talvez – disse Bem.
Ben se lembrou como eles lidavam com o fato de viver à sombra da infância de seus pais.
Imagino que para eles seja algo bem parecido com isto, pensou, observando seu anel de Fera, igual ao de seu pai. Usando as vestes de seu pai, feitas pelo alfaiate de seu pai. Parando na janela do castelo... de seu pai.
Estamos todos presos. Estou tão preso quanto eles.
Quanto mais pensava nisso, mais Ben se convencia de que era verdade. Ele não tinha escolhido nascer príncipe e se tornar Rei, assim como eles não tinham escolhido seus pais. Eram prisioneiros de um crime que não tinham cometido.
Esse era o maior dos crimes, não?
Não é justo. Não é culpa nossa. Não podemos opinar em nossas vidas. Estamos vivendo um conto de fadas que outra pessoa escreveu.
Naquele momento, Ben entendeu por que os conselheiros queriam mais para suas vidas. Assim como eles, Ben queria mais do que aquilo.
Ele queria que as coisas mudassem em todo o reino de Auradon.
Tudo, ele pensou. Para todos.
Isso era possível? Por outro lado, como não seria? Como ele está continuar assim?
Ben refletiu mais uma vez.
Se ele ia se tornar o Rei, teria que ser ele mesmo, como havia dito sua mãe. E ele era diferente de seu pai. Isso era óbvio para todo mundo, até para Lumière, Ben governaria, mas ele faria isso de um jeito diferente.
Ele aprovaria leis e proclamações diferentes.
Seus pensamentos novamente migraram para a imagem da garota de cabelo púrpura e olhos verdes brilhantes.
E então teve um lampejo.
As batidas na porta soaram suave.
Quando houve permissão para entrar, Ben viu os tons de vermelho amadeirado invadir seu quarto. Horloge carregava uma carta com o símbolo do conselho em cera vermelha.
Estava mais do que na hora.
— Senhor! Aonde vai? – gritou Lumière, assim que o príncipe de repente saltou para longe das agulhas e linhas, arremessando acessórios de costura para todo lado.
Ele pegou a carta de Horloge, andou até a sua mesa, com um abridor de cartas conseguiu chegar até o conteúdo.
— Horloge, tente achar meus pais! Preciso dizer algo a eles, e mal posso esperar! – disse Ben — Temos uma notícia! – se virou sorrindo para Lumière.
