Cap. VI – Lidando com a novidade
Aquela segunda-feira, primeiro dia de House no hospital após receber a noticia, foi no mínimo esquisito. Era o mesmo lugar, mas parecia tão diferente. Em sua mente brotavam pensamentos contraditórios: 'Quando todos souberem que eu engravidei a reitora... queria ver a cara de cada um desse hospital'. 'Olha lá o aleijado com um bebê no colo, é o que todos vão pensar'. 'O velho resolveu ser pai, pobre criatura'. 'Por outro lado: Todos vão saber que eu fiz sexo quente e gozei dentro de Lisa Cuddy... Isso não é pra qualquer um'.
"Ei...". Wilson chamou a atenção dele interrompendo seus pensamentos conflituosos.
"Ei".
"Como foi o seu domingo?".
"Tirando o fato de que o meu melhor amigo me expulsou da casa dele quando eu estava com problemas...".
"Eu não te expulsei... eu tinha uma distração".
"Amigos antes de mulheres!".
"Como está Cuddy?". Wilson o ignorou.
"Tão bem quanto eu, ela resolveu ignorar a gestação".
"O quê?".
"Vamos agir como se nada estivesse acontecendo dentro daquele útero povoado".
"Isso é insano!".
"Talvez por isso funcione".
"Você concordou com isso?".
"Eu não tenho muita escolha".
"É claro que você tem. Você é o pai!".
"Shhhhhhh... Ninguém pode saber disso, muito menos Cuddy pode imaginar que você sabe".
"Desculpe". Wilson abaixou a voz.
"Eu vou falar com Nolan hoje à noite".
"Bom! Isso é bom!".
"Eu estou perturbado, Wilson".
"É normal... Você soube disso outro dia, não é algo planejado... Mas você vai gostar da ideia daqui a algum tempo".
"Daqui a dezoito anos? Se é que eu estarei vivo até lá...".
"Então se trata disso? Você acha que vai morrer logo?".
"Olha o meu histórico! Não é como se meu fígado fosse o de um jovem de vinte anos".
"Você não pode prever tudo. Existem jovens de vinte anos que se tornam pai e morrer no ano seguinte vitima de um acidente, ou de uma doença".
"Por isso eu digo: Não tenha filhos!".
De repente o time de House entrou interrompendo a conversa.
"Wilson, uma mulher está te procurando...". Chase chegou rindo. "E por mulher eu quero dizer... uma fruta bem madura".
House arregalou os olhos e Wilson corou.
"Deve ser uma paciente".
"Ou alguém do curso de porcelanas...".
Wilson olhou pra ele irritado. "Ou talvez alguém que eu tenha engravidado".
House entendeu o recado. "Ok, jogo baixo".
Chase olhou para Taub. "Você engravidou aquela mulher?".
"NÃO!". Wilson e House responderam ao mesmo tempo.
Wilson saiu rapidamente.
"Droga!". House reclamou pois ele sabia que não seria pareô para segui-lo. "Você!". Ele apontou para Masters. "Vá e descubra tudo sobre ela".
"Eu tenho mais o que fazer". A jovem respondeu desinteressada.
"Por isso te chamam de chata!". House disse.
"Ninguém me chama de chata".
Chase e Taub coraram.
"Vocês me chamam de chata?". Ela perguntou magoada.
"NÃO!". Os dois responderam ao mesmo tempo.
"Você!", House apontou para Chase e não precisou falar duas vezes, Chase correu para perseguir Wilson.
O dia de Cuddy começou com enjoo ainda em casa. House dormia então ela tentou ser discreta, mas ele percebeu. Assim que chegou ao hospital ela comeu um café da manhã reforçado, ela estava tentando se alimentar melhor. E logo a reitora se perdeu na correria insana do dia a dia e nem viu o dia passar, ela foi almoçar depois das duas da tarde.
"Ei, como está Rachel?".
"Oi Janine, Rachel está ótima". Janine era a chefa do departamento de radiologia. Ela acompanhava Cuddy no almoço eventualmente. Ambas gostavam da companhia uma da outra. "E como está Brian?".
"Brian está terrível como um garoto de nove anos".
Cuddy riu. A ideia de ter um garotinho de repente encheu seu coração, mas ela tratou de não pensar nisso. "Que bom, é ótimo quando estão saudáveis e bagunceiros".
"Verdade, reclamamos da bagunça, mas nos arrependemos quando eles estão doentes".
"Nem me fale...".
"Alias, você está ótima! Com um ar diferente".
Cuddy corou. "Eu?".
"Sim. Parece que está iluminada".
"Impressão sua". Cuddy tentou disfarçar.
"Eu não sei o que é, mas continue! Está te fazendo muito bem!".
De repente Wilson apareceu tentando se esquivar e derrubou a bandeja de uma enfermeira perto de Cuddy. "Desculpe, desculpe...".
"Wilson?". Cuddy estranhou.
Wilson estava suado e corado. "Cuddy!".
"O que está acontecendo?".
"Eu... Eu estou de passagem".
"Achei!". Era Chase falando alto do outro lado do refeitório.
"Desculpe, Cuddy... Tenho que ir!". E Wilson correu para fora do local com Chase atrás dele.
"Uau! Doutor Wilson está aprendendo com o seu namorado". Janine falou divertida.
"Eu posso apostar que tem um enorme dedo de House nisso". Cuddy disse pensativa. "Aliás, eu vou descobrir isso agora!". E ela se levantou.
No caminho até o escritório de House ela sentiu-se tonta, mas após alguns segundos escorada na parede, a tontura passou. Cuddy respirou fundo e seguiu seu caminho. Quando chegou, avistou House sozinho então resolveu entrar.
"Algo me diz que a confusão no refeitório tem a ver com você".
"Olá raio de sol! Não sei sobre o que você está falando".
"Wilson suando e afoito fugindo de Chase".
"Ah... isso...".
Cuddy sentou-se. "House, aqui é um hospital e não um pátio de escola".
"Culpe Wilson dessa vez".
"Eu tenho medo de saber o que houve".
"Wilson tem feito aulas de porcelana".
"Cerâmica!".
"Não, pintura de porcelana".
"E o que isso tem a ver?".
"Além do fato disso ser muito gay, ele está pegando a professora. E por pegar eu quero dizer: colocá-la na sua cama e...".
"Eu entendi". Cuddy o interrompeu. "Mas também não entendo a relação com o pega-pega do refeitório".
"O fato, cara Cuddy, é que a mulher veio atrás dele".
"A única pessoa que vi atrás dele foi Chase".
"Porque ele está escondendo ela de nós".
"Cuddy continuou olhando pra ele sem entender.
"Ele a escondeu em algum lugar desse hospital e está fugindo".
"Ele escondeu uma professora de pintura em porcelana no meu hospital?".
"Exatamente!".
"E os médicos estão brincando de esconde-esconde aqui?".
"Não exatamente".
"Trate de resolver isso e parar com essa confusão no hospital".
"Diga a Wilson!".
"Eu digo pra você! Pare com isso!". E ela se levantou. "Já!".
Ele bufou. "Só porque sou o seu namorado não quer dizer...".
"Já!". E ela saiu.
"Eu não a encontrei".
"Ela deve ser extremamente velha e feia para Wilson ficar tão desesperado". House disse.
"Ou ela é linda e Wilson não quer que a vejamos". Taub falou.
"Por que ele faria isso?". House perguntou.
"Talvez por medo de mim". Chase disse.
"Você se acha demais mesmo". House o desmereceu.
"Ei... nós temos um paciente!". Masters chamou a atenção deles.
"Chase está cada dia mais convencido de que consegue qualquer mulher". Taub complementou. "E homens...".
"Homens não!". Chase contestou.
"Temos um paciente!". Foreman chamou a atenção deles.
"A chata e o frustrado". House disse.
"Eu não sou chata!". Masters contestou.
"Conseguiram encontrar a professora?". Cuddy perguntou assim que House entrou em casa naquela noite.
"Você não permitiu que a caçada continuasse".
"Que bom que me ouviu e parou com aquela insanidade".
House se jogou no sofá. "Você foi estraga prazer".
"No hospital não é lugar pra caça as bruxas".
House riu.
"Eu não quis dizer que ela era uma bruxa...".
"Ah você disse...".
"Não foi isso...", mas Cuddy riu. Ele riu. Eles caíram na gargalhada.
"O que é engraçado?". Rachel se aproximou curiosa.
"Tio Jimmy namora uma bruxa feia e velha".
A menina arregalou os olhos curiosa. "Por quê?".
"Porque ele quer comer a maça dela".
"House!". Cuddy chamou a atenção dele.
"Bruxas têm maça?".
"Sim, envenenadas". House complementou.
O problema é que Rachel ficou tão assustada com a ideia de receber uma maça envenenada de uma bruxa, que não os deixou dormir naquela noite.
Antes de voltar pra casa, House havia ido até Nolan para sua sessão semanal.
"Fiquei curioso quando você pediu pra adiantarmos a sessão".
"Curioso ou preocupado?".
Nolan sorriu, "um pouco dos dois".
"Ótimo que eu ainda inspire inseguranças".
"Você sabe que a escada é longa".
"Por isso prefiro elevadores".
Nolan riu. "Mas me diga, o que houve".
"Algo... terrível!". House falou dramático.
"E o que pode ser isso?".
House respirou fundo. "Cuddy está grávida".
Nolan não escondeu um sorriso.
"Não é engraçado".
"Eu não disse que era, só me surpreendeu".
"Então somos dois". Ele respondeu resignado.
"Como isso aconteceu?".
"Não te contaram? Quando você faz sexo...".
"Você me entendeu". Nolan o cortou.
"Cuddy mudou o método anticoncepcional para DIU, isso há alguns meses. Aparentemente estava bem posicionado, nada errado... Então foi Deus quem mandou esse bebê". House exagerou no melodrama da última parte.
"Métodos anticoncepcionais tem um percentual de falha".
"Sim doutor Nolan, eles têm".
"E como você recebeu a noticia?".
House contou sobre Cuddy chorando no chuveiro, a percepção de que algo estava acontecendo, seu receio de que ela terminaria tudo e depois a descoberta da verdade.
"E você agiu de forma madura. Estou impressionado!".
"Não se impressione tanto porque estou surtando agora".
"Natural...".
"Natural? Nada é natural aqui. Eu sou um viciado de cinquenta anos sendo o papai sonho?".
"A paternidade e maternidade não tem nada de sonho. As pessoas tendem a romantizar essas funções. A paternidade é vivenciada diariamente, tem suas dificuldades e alegrias".
"Quando me inscrevi para essa aula de autoajuda?".
"Você é mais sarcástico quando está inseguro".
"Novamente uma estrelinha dourada pra você".
"Sei que você está enxergando todo o potencial de problema e complexidade que isso pode trazer para sua vida".
"Que já não é simples, eu tenho uma perna ruim e dor constante. Pensei que Rachel seria a criança em minha vida, e estava me acostumando a isso".
"E a vida veio e trouxe novidades".
"Como sempre...". Ele respondeu irritado.
"Novidades nem sempre são ruins".
"Um bebê para um homem manco e velho...".
"Um bebê pode ser a oportunidade de você nascer outra vez simbolicamente".
"Oh não... Não me venha com a frase 'você vai renascer em seu filho ou filha'". House falou com uma voz debochada e dramatica.
"Já que você mapeou tudo de ruim que pode acontecer, me diga então... O que vai acontecer?".
Ele respirou fundo. "Cuddy está insegura agora, com medo de abortar involuntariamente, mas logo ela vai perceber que não acontecerá isso e vai se apegar a esse feto. Vai amá-lo, comprar roupinhas, falar com a família e amigos. Tenho certeza de que ela ficará linda grávida e talvez eu também me esqueça das reservas todas e me deixe encantar, isso será um terrível engano. A realidade chegará como uma tempestade quando esse ser nascer e ela se lembrar de que eu não sou material para pai. Nada pode acabar bem".
"Ok, já que você mapeou tudo o que acontecerá, por que você está aqui? Por que quis antecipar a sua sessão?".
Ele ficou calado.
"Talvez porque saiba que podemos trabalhar para que as coisas não sejam assim". Nolan continuou.
"Eu estou desesperado e a solução de Cuddy foi deixar acontecer. Fingir que nada está acontecendo. Mas eu olho pra ela e inevitavelmente eu tenho uma visão em raio-x de seu útero e de todas as coisas que estão acontecendo ali. Ela vomita quase todas as manhãs mas tenta disfarçar e esconder de mim. Sei que ela emagreceu já, mas está tentando não pular refeições e nunca perde uma vitamina".
"E vocês simplesmente não conversam sobre isso?".
"Isso foi... outro dia. É novidade".
"Não me surpreende você sentir-se assim. É uma novidade da qual vocês não falam a respeito".
"E o que você queria que falássemos? Qual será a cor do quarto do bebê?".
"Talvez disso... talvez de como você se sinta a respeito dessa gestação. De como ela se sinta".
"Se eu falar essas coisas ela vai simplesmente me largar".
"Ou não... Talvez a ajude a entendê-lo e a se abrir também e vocês dois juntos podessam trabalhar nisso".
"Você romantiza muito as coisas".
"E você só vê o lado negro".
"Eu sou Darth Vader!".
Nolan ficou o encarando. "Tente uma abordagem diferente".
"Eu sou seu pai?".
"Isso até que vem ao caso". Nolan tentou se divertir com a citação de House a Star War.
House riu pela primeira vez. "Eu estou tão ferrado".
"Há controvérsias!".
Naquela noite eles foram para cama. Cuddy se vestiu com uma lingerie sexy e ele sabia que ela queria sexo. Mas estava pensativo sobre sua sessão. Cuddy subiu na cama e se aproximou sedutora.
"Oi...".
"Oi".
"Você está sexy com esses óculos".
"Eu sou sempre sexy".
"Verdade". Ela o beijou, mas ele não aprofundou o beijo.
"Cuddy...".
"O que houve?". Não era normal House interromper qualquer momento de intimidade.
"Como você se sente sobre... isso...". Ele apontou para a barriga dela.
"Isso é um bebê. O seu bebê!". Ela falou irritada.
"Ok, desculpe. Como você se sente sobre o bebê?".
Cuddy saiu de cima dele e sentou-se na cama de frente para o namorado. "Eu não sei, é um misto de sentimentos. As vezes quero contar pra todos e gritar que estou grávida, as vezes o pânico toma conta de mim e parece que vou acordar a qualquer momento. E você?".
"Eu não sei... talvez me sinta um pouco... apavorado".
"Entendo".
"Sério?".
"Sim. Eu também estou meio que apavorada".
"Mas você já é mãe de Rachel, você já entende dessas coisas".
"É diferente... Essa é uma gestação e esse ser tem metade dos meus genes".
"Nem me diga... Imagina a metade dos meus?".
"Ele será um ser alienígena?". Cuddy perguntou bem humorada.
"Eu não sei, talvez alguém extremamente bonito e inteligente, mas esquisito?".
"Você está me chamando de esquisita?".
"Me refio a minha metade. A sua é a metade bonita".
Ela mordeu o lábio inferior. "Obrigada!". House sempre tinha uma forma diferente de tecer elogios.
"O que te apavora?". Ela quis saber.
"Tá brincando!".
"Por quê?".
"Como você não sabe disso? Eu sou um viciado, velho e manco. Sem contar que não tive o melhor modelo paterno".
"Acho que você está mais preparado para ser um pai do que os jovens. Você tem a experiência a seu favor".
"Experiência?".
"De vida".
"A lista do que não fazer!".
"Melhor do que os jovens que largam os filhos aos cuidados dos tabletes e celulares. Você é bom com Rachel, comigo... Estamos felizes, estamos juntos".
"Você percebeu que em nenhum momento cogitou que esse bebê não nascerá?".
Ela gemeu. "Isso me apavora. Eu não posso me apegar... ainda".
"Por isso você não quer falar a respeito?".
"Talvez... provavelmente".
"Somos dois velhos imaturos".
"Fale por você". Ela respondeu sorrindo.
"Vem aqui!".
E eles fizeram amor naquela noite.
Continua...
