Vida E Existência


Tex ia juntando e puxando cada peça solta do buraco do gigante mecânico outrora controlado pelo derrotado feiticeiro Mindok, tendo alguma dificuldade devido ao pedaço do Punho de Quil-Mand-Dur que ficou preso. Retirar a peça era a parte com maior dificuldade, necessitando um auxílio de Toph e Gatlios para a tarefa.

"Acho que estou chegando perto, mas precisamos arrancar esta coisa pra funcionar. Toph, pode usar sua habilidade com metal?"

"No problem, xerife. Olhe e aprenda." A bandida cega puxou as placas como se fossem folhas de caderno, liberando espaço o suficiente pra remoção do pedaço do cetro.

"Perfeito. Deixe que eu faço o restante." O gargoyle agarrou firme o pedaço de metal e num solavanco, o jogou com toda força para trás, caindo bem na cabeça de Bobby, dando graças por ter alguma proteção na cabeça.

"Bobby, você tá bem?" Perguntou sua irmã.

"Sim, mana. De boa. Agora vejo como é bom usar capacete."

Sokka viu o pedaço do cetro e o pegou, estranhando o contrapeso de cor cinza na ponta. Era como duas pedras grudadas.

"Turma, alguém se recorda desta coisa no cetro? Deve ter ficado grudado após Mindok tê-lo pego."

"Vejo que não compreende muito de anatomia, Sokka. Isso aí, pode não acreditar, e um cérebro humano e pela cor cinza, está fossilizado." Explicou Presto, não escondendo sua repulsa àquele órgão exposto.

"Disse...um cérebro?" E no instante seguinte, o guerreiro da água caiu desmaiado, largando o pedaço do cetro com o cérebro, mas quando o órgão fossilizado caiu, se partiu em pedacinhos bem finos.

"Coitadinho. É evidente que nunca viu um órgão humano do lado externo. Esse cérebro devia ser de Mindok. Creio que quando o cetro foi destruído, toda a energia dele acabou vazando com a restante e do que soubemos, o cara tinha milhares de anos de vida." Observou a aranhoide loira.

"Disse tudo, Aranea. Muitos séculos são o bastante pra qualquer órgão calcificar, mesmo um protegido por grande magia." Falou Hank, verificando os restos do cérebro de Mindok.

"Seja como for, creio que algo pode ser salvo." Disse Johanna ao tomar o pedaço do Punho e tentar encaixá-lo na peça principal. "Ainda sinto um pouco do poder dele. Com algum trabalho, talvez possa consertá-lo. Levará tempo, mas vou me esforçar. Devo a vocês, crianças, por terem me salvado e me dado uma nova escolha."

"De nada, Johanna. Pode levar o tempo que desejar. Novos caminhos para casa sempre surgem todo dia. Isso é o que não falta." Comentou Suki.

"Faltar, não falta, Suki, o que falta é chance de usar o caminho e nisso quebramos vários records."

"Erik." Disse Diana, conhecendo bem o caráter do seu amigo. O cavaleiro só deu de ombros.

Tex já ia voltar pro conserto quando notou que as peças do robô iam se mexendo por conta própria, como se estivessem se reparando sozinhas. Descendo de cima dele, o xerife espacial de N'York ficou perto dos demais e em poucos minutos, o robô se auto-reparou, retomando sua configuração normal e o olho amarelo dava prova de ser ele de novo no comando. Ele se virou pros heróis.

"Vocês...você me ajudaram. Obrigado. Eu, o Sentinela, aprecio sua cooperação."

"Não tem de quê, grandão. Ficamos felizes de ajudar, e nos ver livres daquele feiticeiro que o usou de escravo." Duhson, o gargoyle veterano, disse num aceno.

"Mas temo que terem me ajudado torna um fardo pra mim minha próxima resolução."

"E qual resolução é essa?" Quis saber a acrobata.

"A eliminação dos seres impuros, formas de vida orgânicas. Devo eliminar os inferiores." Ele respondeu, levantando sua mão pronta pra atirar.

"Como é que é? Nos eliminar? É essa sua gratidão por tê-lo salvo daquele bruxo que o escravizou sabe-se lá quanto tempo?" Zuko não ocultava sua ira, se preparando para atirar com fogo e tudo.

Cada um ia se armando, desde os heróis com suas armas mágica e dominação elemental aos gargoyles empunhando espadas, lanças e maças, esperando o primeiro movimento do Sentinela, mas Aang levantou a mão em sinal de espera, indo na direção do robô.

"O que ele pensa que está fazendo?" Indagou Nellie. Katara veio sorrindo pra perto da amiga aranhoide.

"Pode confiar. Se alguém é capaz de resolver um confronto desses, é o Aang."

O dominador de ar aproximou-se do gigante de metal, mesmo sob a mira da mão dele.

"Espera. Eu não estou compreendendo. Se te salvamos, por que deseja nossa destruição?"

"É o que preciso fazer. Quando fui criado, concluí que formas de vida orgânicas são impuras, são imperfeitas. Devo dar fim nelas para trazer a purificação à existência."

"Purificação à existência? Diz, todo o universo? Cada planeta e mundo existente?"

"Afirmativo."

"Por acaso, lhe ocorreu na sua cabeça o quão vasto e grande é o universo?"

"Pela minha fonte de dados atual, sincronizada a minha observação a cada canto do espaço a qual já passei, concluo que o universo é extremamente enorme."

"Exato, e repleto das mais variadas formas de vida, das mais primitivas às mais inteligentes. Se dá conta que se prosseguir com essa sua missão, irá levar uma eternidade pra terminá-la? E mais, eu bem duvido que haverá quem não vai concordar com sua filosofia e tentará revidar, e não posso garantir que você poderá sobreviver."

"Eu preciso purificar a existência e só conseguirei isso eliminando as criaturas inferiores e impuras." Sentinela já ia partir pro ataque, mas Aang não saiu do lugar.

"Mas e depois? Caso tenha sucesso em erradicar cada ser orgânico do universo e reste só você, o que irá fazer após ficar sozinho?"

"O que farei? Ficar sozinho?" O Sentinela ponderou o argumento ouvido, se mantendo quieto por instantes até falar de novo. "Eu...não considerei tal conclusão."

"Por acaso, você possui conhecimentos ou recursos para criar outros como você? Acha que conseguiria tal feito? Somente para apaziguar a solidão que enfrentará ao se tornar o último ser pensante do universo inteiro? Até mesmo uma máquina pensante pode ser acometida pela solidão e desolação."

"Eu...nunca entrei em debate nessa questão. Não sei se poderia criar outros como eu. Meu receio seja que...não."

"Vê então? Não digo que todos os seres existentes sejam de boa índole ou que sempre farão algo por alguém, pois há os que seguem o caminho oposto, mas há muitos outros com boas atitudes, fazem o bem por quererem fazê-lo e que valorizam a vida. A vida é algo precioso, seja ela orgânica ou no seu caso...como é o termo? Ah, mecânica. Tirando nossa existência física, biológica ou artificial, cada um de nós tem sua vida, mas temos também a escolha de como usá-la. Não vou e nem quero impedir você de seguir com seus planos, mas está certo de que esse caminho está correto? Será que o motivo de querer essa purificação se encontra de você se ver como...diferente?"

"Diferente, você diz? Bem, afirmo que esse termo tem lógica. Sim, sou diferente, me vejo como algo superior por ser construído de tecnologia avançada e deve ser por tal razão que busco purificar a existência. Entretanto, do modo como fala, dá a entender que também se vê diferente dos da sua espécie."

"Para muitos meios, de alguma maneira sou. Sou o Avatar, a reencarnação de um ser cujo poder vai além do imaginado e é minha obrigação aprender os 4 elementos para trazer equilíbrio ao mundo, garantindo a paz e a harmonia. Sendo um monge do ar, uma vez que o Avatar volta na ordem determinada: água, terra, fogo e ar, eu teria como me desapegar do material e alcançar a total iluminação e liberdade, mas como o Avatar, não há como eu fazê-lo. Me recordo de quando contaram que eu era o Avatar, de repente, os jovens monges com quem eu me divertia passaram a me tratar de outra forma, não vendo mais sentido competirem comigo, pensando que com tal poder, me veria em vantagem contra eles, mas jamais faria isso. E como se não bastasse, os monges queria me mandar para outro templo do ar onde eu seria melhor disciplinado e isso acarretaria em me separar de meu amigo Gyatso, que foi como meu pai. Por tais motivos, resolvi fugir e terminei preso num iceberg onde fiquei por 100 anos até ser encontrado por Katara e Sokka. Como vê, eu sei muito bem o que significa não ser como a maioria. Admita, você também sente algo similar. Se se nota como diferente, apenas por ser uma máquina dotada de livre escolha e capacidade de pensar por si próprio, então percebe que digo a verdade."

O Sentinela permaneceu em silêncio, processando cada afirmação e palavra que tinha escutado de Aang, se encontrando num estado similar ao de meditação, sem um som sequer a produzir. Cada um ali presente apenas ficava no aguardo, sem ter como afirmar se haveria uma luta ou não. Aang não tirava os olhos do gigante, somente ficando lá na espera de algum estímulo dele. Por fim, o robô voltou seu olho para o dominador do ar e desceu a mão, mas aberta como que querendo cumprimentá-lo. Aang aceitou o gesto.

"Estou vendo que achou uma resposta, acertei?" Ele perguntou confiante.

"Correto. Ponderei bastante nas questões apresentadas e vejo que existe lógica e sensatez nelas. Como disse, a existência é vasta e o conceito de vida é bem impreciso do que já observei, me apercebendo que não é justo eliminar os que são diferentes de nós. E está certo em outro ponto: ficar sozinho não seria um modo bom de vivenciar meu papel no universo, mesmo para uma máquina avançada como eu. A vida é importante, sim, não interessa se ela é orgânica ou mecânica. Todos devem ter direito à ela, embora eu talvez precise pensar mais em como aceitar esse conceito. O que você costuma fazer quando necessita pensar ou ponderar?"

"Bem, eu me retiro pra algum lugar isolado e silencioso e entro em meditação, buscando dentro de mim algo que ilumine minha mente e traga uma conclusão às questões que me assolam o cérebro."

"Hmmm, um bom meio de rever minhas ações e buscar novas alternativas. Eu lhe sou grato, Aang, por abrir minha mente eletrônica e me dar algo a que pensar. Vou me retirar do Reino e procurar algum lugar sossegado, isolado e quieto para buscar minhas respostas e planejar o futuro. Talvez um dia nos reencontremos e até lá, boa sorte e obrigado a você e aos seus amigos por terem me libertado. Perdão por qualquer coisa, e Adeus." E dando um aceno final, o gigante Sentinela decolou e voou por entre as nuvens, desaparecendo além do céu azul iluminado pelos 4 astros-reis, ganhando acesso ao espaço sideral e sumindo em meio às inúmeras estrelas.

"Lá se foi ele." Disse o cavaleiro, focando aa tenção ao céu. "Caramba, esquecemos de perguntar de onde ele veio. Se fosse próximo da Terra, quem sabe ele nos desse uma carona."

"Sei não. Não me parece que ele lide com serviço de taxi espacial." Comentou Sheila.

"De toda forma, tomara que ele encontre uma caminho na vida e de preferência, um não muito destrutivo." Citou Suki.

"Crianças." Aproximou-se Tex, vindo sua filha ao lado dele. "Mais uma vez, lhes sou grato por terem salvado minha Nei. Juro que não sei o que faria se a perdesse, e sinto muito por não terem tido a chance de voltarem para sua casa."

"Não se preocupe, Tex. Haverá mais oportunidades de voltarmos. Mais cedo ou tarde, ele virá." Disse Hank ao cumprimentar o xerife de pele roxa.

"Contudo, acho que merecem uma recompensa. Vamos voltar pra cidade que daremos uma grande festa."

"Legal. Se tem festa, tô dentro."

"E Sokka não é o único. Estou louca por uma boa refeição."

"Faço minha a sua ideia, Toph." Concordou a Aranhoide de cabelo azul.

"O que diz, Hank? Acha que temos tempo pra uma festa?" Quis saber Aang e o ranger só deu de ombros sorrindo, dando a querer dizer um sim. O grupo logo se animou e os gargoyles entraram na animação.


Nei se distanciou do pai e tomou a mão de Johanna, até agora quieta e parada. "Você vai vir morar com a gente?"

"E-Eu? Quer que eu...vá morar em sua cidade?"

"Eu quero, sim. Você é uma bruxa, mas vejo que é uma bruxa boazinha. Papai, Gatlios. Ela pode morar em N'York com a gente?"

O xerife e o líder gargoyle se puseram a pensar por instantes, notando ser uma séria escolha. Por fim, os dois vieram pra perto da bruxa redimida e esboçando um semblante alegre, lhe deram a mão em amizade. Johanna viu ter entendido, apesar de um pouco abismada.

"Está falando sério? Me deixariam morar em sua cidade, embora eu..."

"Não há necessidade de explicação ou de desculpas. As ações falam por si. Você ficou contra suas companheiras bruxas ao notar as ações erradas delas e quis nos ajudar, arriscando sua vida. Se alguém sabe o significado de redenção e querer consertar os erros do passado, acredite, meu bem, este sou eu." Tex disse simpaticamente para a bruxa da fumaça. Pela sua expressão, Gatlios era de acordo com aquilo.

"Obrigada, muito obrigada. Prometo dar o melhor de mim em ajudar a cidade. Se precisam de médica ou curandeira, conheço muito meios de cura e receitas de remédios e antídotos. Sou grata a todos, inclusive você, queridinha." Johanna se abaixou perante Nei, ganhando um aconchegante abraço da menina de longas orelhas. Foi uma comoção geral. Uni veio pra perto e deu um afago na redimida bruxa.

"Muito comovente, pessoal, mas me recordo de um certo xerife nos convidando pra uma festa. Não estou certo, Tex?" Perguntou Zuko, tendo afastado a raiva que o tinha acometido minutos antes.

Com todos de acordo, deram meia-volta a caminho de N'York, encerrando o dia e dando uma última olhada pro alto, buscando avistar algum sinal do robô gigante que haviam encontrado e rogando que achasse um lugar onde pudesse viver em paz.

Continua...