Capítulo 1 - Primeiro Olhar
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Sakura
A vida é cheia de surpresas, tanto boas quanto ruins, sempre nos pegando desprevenidos. Para mim, não foi diferente. Vivi por muito tempo numa família totalmente desequilibrada, e não tive o apoio emocional como alguém da minha idade com os pensamentos e caráter em formação teve. Não tive uma mãe amorosa ou um pai carinhoso, eu praticamente me criei sozinha, e agora eu me via sozinha... não exatamente sozinha, mas ainda estava processando os fatos desses últimos dias, mas parece que a ficha não havia caído.
Ainda não acreditava que eu estava em Tóquio, dentro de um Toyota vermelho que corria pela avenida cheia do bairro de Konoha, em direção ao maior e melhor internato do país. Uma semana havia se passado depois que minha tia Tsunade largou tudo para resolver a confusão que eu havia me metido, fui liberada pelo delegado no outro dia quando ela chegou depois de receber uma ligação da delegacia.
Tia Tsunade estava irritada, mas não comigo e sim por Kizashi, por ter manchado meu nome mais uma vez. Esses dias que ela passou em Osaka, ela resolveu a burocracia de minha guarda e senti-me aliviada por ela me levar consigo para outra cidade. Eu não teria mais que lidar com olhares tortos da sociedade em mim, apontando quem eu era de verdade. Eu tinha consciência de que eu estava atrapalhando toda a sua rotina profissional e pessoal, agora ela não estava mais sozinha, ela tinha uma intrusa. Pois era assim que eu me sentia naquele momento.
Mas também, não iria mais sentir falta daquela vida que eu deixei para trás, iria passar uma borracha e apagar tudo da minha mente e recomeçar tudo do zero.
— Está quieta - sua voz calma com aquele toque de autoridade que sempre passava despercebida por ela, quebrou o silêncio que havia se estalado no carro, me fazendo sair de meus devaneios depressivos.
Umedeci meus lábios, e cocei minha mão que estava em meu colo, sem tirar os olhos da paisagem de prédios que passavam pela janela ao meu lado.
— Eu só estou pensando - meu tom havia saído mais baixo do que o previsto.
— Se você estiver pensando mais uma vez que é um incômodo para mim, irei ficar redondamente chateada.
Dessa vez não pude evitar em não a fitar, ela mantinha sua atenção para frente, mas ousou me olhar rapidamente.
— Não estava pensando sobre isso. - Menti, e depois suspirei, olhando para frente. - Só estava pensando como será daqui para frente.
— Com certeza será muito melhor.
Sorri meio que forçado, voltando a fitar o trânsito que acabamos de pegar.
— Ainda estou tentando me acostumar com o seu novo visual - ela começou. - Não sei o que vocês jovens acham graça em colocar cores vibrantes nos cabelos.
— Não ficou tão ruim assim - mordi o lábio rapidamente. - Eu gostei. Vida nova, visual novo.
Ela sorriu.
— Mas ainda sim, eu gostava do seu loiro original.
Depois que chegamos em seu apartamento em Tóquio a dois dias, eu resolvi me dá uma repaginada geral. Tirei tudo o que me lembrava a minha vida de Osaka, começando pelo meu cabelo que era longo e loiro. Agora ele estava com um corte repicado que batia um pouco abaixo de meus ombros, e totalmente na cor rosa-claro, dando um leve contraste do meu loiro antigo quando eu ficava no sol. Eu havia ficado completamente irreconhecível em meu novo visual, talvez, lá no fundo, eu tivesse medo de que alguém me reconhecesse.
Dez minutos depois o Toyota entrou numa rua mais calma e muito bem cuidada com árvores dos dois lados, mas o que me chamou a atenção foi a enorme estrutura rica em detalhes se aproximando. O Toyota parou em frente a um portão de ferro, havia três seguranças vestidos de preto, e um deles falou algo no walkie talkie e logo o portão de ferro abriu, dando passagem para que o carro entrasse.
Não pude deixar de ficar maravilhada com o lugar, o terreno gramado e relevado era enorme, havia árvores, plantas, e bancos de madeira pintados de branco espalhados em vários pontos. O enorme prédio retangular era todo de tijolinhos da cor marrom, e algumas partes do prédio eram cobertas por plantas rasteiras, subindo.
— Esse lugar é enorme. - Meu tom saiu surpreso, meus olhos tentavam captar os mínimos detalhes de uma vez.
— Sim, e você passará a maior parte do seu tempo aqui dentro. Será a sua segunda casa.
Tia Tsunade deu a volta com o carro por aquela estradinha asfaltada até um espaço aberto que deduzi ser o estacionamento, e estacionou seu Toyota numa vaga mais afastada. Em seguida me fitou.
— Pronta? - Um sorriso discreto estava em seus lábios pintados de vermelho.
— Acho que estou um pouco nervosa - confessei, fitando minhas mãos. - A última vez que mudei de escola foi quando eu estava na segunda série. É estranho tudo isso, sabe.
Senti sua mão em meu ombro, atraindo minha atenção para seu rosto.
— Não precisa ficar nervosa - sorriu. - Além do mais, sua amiga Ino também estuda aqui.
Sorri comprimido.
— Acho que isso é um ponto positivo, não é?
— Vamos parar com conversas e andar logo, pois fiquei tempo demais longe desse lugar para que esses alunos transformem isso num circo de horrores.
Soltei uma risada anasalada, abrindo a porta ao meu lado e saindo do carro, assim como minha tia, que além de ser minha tia, era a diretora do internato Konoha High School. Ela abriu o porta-malas do carro, tirando a minha mala preta de rodinhas e sua bolsa com alguns pertences seus que ela usaria por uma semana.
Voltamos todo o caminho que percorremos com o carro a pé, até a estrada do prédio. Levantei minha mala pesada, subindo com dificuldade os degraus baixos da escada até passar pela porta de entrada do colégio. Não pude conter minha cara de surpresa com o salão amplo e largo, era tudo muito grande e diferente da minha antiga escola.
Tia Tsunade me guiava por aquele salão, estava um pouco a minha frente, e eu a seguia por aqueles corredores vazios até chegar em frente a uma escadaria, onde uma mulher descia com passos apressados até nós. Minha tia parou antes mesmo de colocar o pé no primeiro degrau, e parei ao seu lado, observando a mulher terminar de descer as escadas, parecia agitada.
— Shizune?
A mulher de cabelos pretos com um corte Chanel de ponta parou a nossa frente e sorriu meio que aliviada.
— Senhora Tsunade, que bom que voltou.
— Aconteceu algo em minha ausência? - Minha tia perguntou, naquele tom sério que fazia qualquer um correr para longe.
A tal Shizune pareceu hesitar, desviando seu olhar por um segundo para mim e depois voltar a focar em minha tia que estava com uma expressão fechada. Aproximou-se mais dela e sussurrou algo que eu não pude escutar, mas pela expressão que minha tia fazia, parecia ser algo sério.
— Como é que é? - A voz de tia Tsunade soou alta e irritada, fazendo tanto eu quanto Shizune dar um passo para trás. - Mas será possível que eu não posso tirar uns dias para resolver meus problemas que essa escola já vira um cambalacho? Aonde você estava Shizune, que não viu uma coisa dessas?
— Senhora Tsunade, se acalme. - Ela levantou as mãos para cima. - A senhora sabe que esses alunos são fogo, não tem como olhar todos ao mesmo tempo, isso é praticamente impossível.
Minha tia fechou os olhos e suspirou, tentando de alguma forma procurar paciência. Não tinha a mínima ideia do que possa ter acontecido, mas parece que era algo muito sério.
— Quem foi às pestes dessa vez? - Ela voltou a perguntar, abrindo os olhos caramelados e fitando Shizune.
— Shion Mitsuki, e Sasuke Uchiha, senhora.
A expressão do rosto da minha tia pareceu mais irritada, seu cenho estava completamente franzido.
— Esse moleque novamente? Mas será possível, ele não dá uma trégua sequer? Cada semana é um problema diferente. Oh raça miserável são esses Uchiha, quando penso que me livro de um, outro aparece para atormentar a minha vida.
— Senhora Tsunade, acalme-se, assim sua pressão vai subir...
— Cala a boca, Shizune! - A voz alta e autoritária de minha tia a interrompeu, fazendo-a se encolher toda, temerosa. - Leve a Sakura até o seu dormitório e em seguida procure essas duas pestes, quero ambos na minha sala imediatamente.
— Sim, senhora. - Ela balançava a cabeça para cima e para baixo várias vezes, totalmente nervosa.
Os olhos de minha tia focaram em mim.
— Passe na minha sala ainda hoje que explicarei as burocracias do colégio, tudo bem?
Apenas assenti com a cabeça, vendo o humor dela mudar da água para o vinho.
Ela voltou a olhar para Shizune.
— Eu quero isso para ontem.
— Sim senhora. Sim Senhora - em seguida me fitou, meio que atrapalhada. - V-Vamos?
Assenti novamente com a cabeça e a segui pelo corredor, deixando minha tia para trás que agora subia as escadas. Segui Shizune que andava um pouco a minha frente, agora eu podia perceber seu perfil. Ela era alta, usava um conjunto de terninho preto, blazer e saia que baita em seus joelhos, e sapatos preto de salto nos pés.
Ela acessou os passos e virou sua cabeça para trás e me fitou, abrindo um sorriso simpático nos lábios em seguida.
— Ah, prazer, sou Shizune.
Ela ergueu sua mão para mim e a apertei, sorrindo comprimido.
— Sakura Haruno.
— Eu sei, querida, fui eu que cuidei da sua matrícula.
— Ah.
Ela voltou sua atenção para frente.
— Sou a coordenadora e secretária pessoal da diretora Tsunade. - Ela disse, pareando seus passos comigo. - Você já deve está ciente que só sairá nos finais de semana, né?
— Sim.
Ela assentiu com a cabeça e me olhou rapidamente.
— Esse lado que estamos indo fica os dormitórios, aquela escada aonde a diretora subiu, fica a secretaria, a sala dos professores, a detenção, e a diretoria. É proibido os alunos ficarem ali em cima, a não ser se forem chamados. - Apenas concordei com a cabeça. - Do outro lado fica as salas de aulas, a biblioteca e o auditório... vou colocar um aluno para ficar encarregado de mostrar toda a escola para você.
— Tudo bem.
Subimos os lances de escadas, e novamente tive pouco de dificuldade em subir com aquela mala pesada.
— Esse lado aqui - ela apontou para o lado direito do corredor, depois quando chegamos lá em cima - é a ala aonde fica o dormitório masculino, é totalmente proibido a presença de garotas ali, assim como é proibido à presença de garotos no dormitório feminino.
— Entendi - disse, prestando atenção no que ela falava.
Viramos para o corredor do lado esquerdo.
— Essa ala é a feminina, você terá uma colega de quarto. - Shizune voltou a explicar. - Seu uniforme, assim como os livros que usará, já está no quarto.
Assenti novamente, concordando, enquanto virávamos alguns corredores até pararmos em frente a uma porta de madeira. Havia duas plaquinhas retangulares de metal, uma embaixo da outra com os seguintes nomes: HINATA HYUUGA / SAKURA HARUNO
— Esse é o seu quarto, irá dividi-lo com a senhorita Hyuuga.
— Tudo bem.
Quando levei minha mão na maçaneta, um som de porta se abrindo soou atrás de nós e logo a voz de Shizune soou, atraindo toda a minha atenção:
— Senhorita Yamanaka.
Meu coração deu um salto quando escutei aquele nome, e automaticamente virei meu corpo para trás, encontrando minha melhor amiga ali, de frente para mim. Seu rosto que estava confuso fitando Shizune, agora deu lugar a um surpreso quando seus olhos focaram em mim, assim quando me reconheceu.
— Ino.
— Sakura!?
Não consegui evitar o sorriso que se abria em meu rosto quando eu não acreditava que a minha melhor amiga, quase que irmã, estava ali.
Ela veio até mim com passos corridos e nos abraçamos forte.
— Ai meu Deus, eu não acredito que você está aqui, Sakura!
— Nem eu - sorri, tentando reprimir algumas lágrimas que queriam cair.
Havia um ano que não nos víamos, a saudade era enorme. Ino era como se fosse a minha irmã mais velha, ela era o meu porto seguro, o meu colo. Quando ela foi embora com a sua família para Tóquio, eu me vi sozinha e sem chão. Talvez a falta de sua ausência para me dar conselhos, me fez acreditar em Kizashi e me colocar em confusão.
— Como você veio parar aqui? - Nos separamos e ela me fitou com os olhos arregalados. - Meu Deus, você está quase irreconhecível, pintou o cabelo. Você é louca?
Sorri, mordendo o lábio rapidamente.
— Muitas coisas aconteceram, e agora estou sob a tutela da minha tia.
— A Tsunade?
Assenti com a cabeça.
— Meninas - a voz de Shizune que estava ali de telespectadora chamou a nossa atenção.
— Ah, Shizune, o que você queria me dizer? - Perguntou Ino, agora ao meu lado.
— Bom, já que vocês se conhecem, você poderia ficar encarregada de mostrar a escola para a Sakura?
— Claro, será um prazer - o sorriso de Ino se abriu, totalmente animado.
— Que bom - Shizune me fitou. - Vá depois a diretoria ainda hoje pegar o seu horário de aula, a sua chave do armário, e ficar por dentro das regras da escola.
— Tudo bem, irei sim - sorri, concordando novamente.
Ela sorriu.
— Seja bem-vinda a Konoha High School.
— Obrigada, Shizune.
Ela assentiu com a cabeça e deu as costas, se afastando com passos apressados por aqueles corredores até sumir de meu campo de visão. Votei minha atenção para a minha amiga que voltou a me abraçar apertado.
— Meu Deus, nem acredito que você está aqui. - Falei, fechando meus olhos. - Senti tanta a sua falta, Ino.
— Eu sei, também senti muita a sua falta. - Ela me fitou com lágrimas nos olhos, os lábios tremendo. - Acho que vou chorar.
A empurrei no ombro levemente, dando um passo para trás.
— Não chora sua boba, senão eu choro também.
— Somos duas manteigas. - Ela disse, me fazendo sorrir, passando a mão nos olhos e tirando alguns vestígios de lágrimas. - Mas me conta; o que aconteceu com o seu cabelo? Você está rebelde agora?
— Quase que isso - sorri. - Quis dar uma mudada e deixar à antiga Sakura em Osaka.
— Você está tão abatida.
— Aconteceram muitas coisas... - me interrompi - as de sempre, mas agora Kizashi vai passar um bom tempo refrescando a memória na cadeia.
Os olhos de Ino arregalaram.
— O Kizashi está preso?
Balancei minha cabeça para cima e para baixo.
— Minha nossa, o que ele aprontou dessa vez... ahn, vamos entrar, acho que aqui não é um bom lugar para falar essas coisas. - Ela disse quando vimos uma garota se aproximando no corredor.
— Vamos - levei minha mão à maçaneta e a abri e entramos juntas.
O quarto não era muito grande, mas também não era muito pequeno, era do tamanho padrão para que coubessem duas pessoas. As paredes eram pintadas de amarelo-creme, havia duas camas de solteiros com colchas iguais cor-de-rosa com detalhes em vermelho, e uma mesinha com duas gavetas que ficava entre ambas.
Dois criados mudos estavam em cada lado da cama, com um abajur em cima. Um guarda-roupas grande e branco estava na parede onde ficava a porta de saída, e ao lado uma mesinha de estudos com uma cadeira giratória de rodinhas também cor-de-rosa. Na parede onde ficava as camas havia outra porta que eu deduzi ser o banheiro, e na outra parede ao lado ficava uma janela com cortinas rosa-claro com estampas de florzinha. Era bem aconchegante.
— Bem-vinda ao lar. - Disse Ino com um tom humorístico. - Aquela cama ali é a sua.
Ela apontou para a segunda cama que ficava perto da janela e a porta que deveria ser o banheiro.
— Acho que é meio óbvio, já que tem um uniforme dobrado e uma pilha de livros em cima. - Me aproximei da minha possível cama, deixando minha mala ao lado.
— Que menina esperta.
Tirei meu casaco branco e joguei na cama para em seguida me sentar nela, sentindo a maciez do colchão de espuma. Ino sentou-se ao meu lado, empurrando os livros para um canto mais afastado.
— Me diz, minha colega de quarto não é nenhuma chata não, né? - Perguntei, virando o meu corpo de frente para ela e dobrando a minha perna esquerda em cima do colchão.
— Hinata? - Sorriu. - Hinata é a criatura mais fofa e dócil que eu já vi em toda a minha vida. Se eu fosse compará-la com algum doce, eu diria que ela ficaria com o cargo de Cupcake. Sério, você vai amá-la.
— Tive sorte nesse quesito então, eu acho.
— Relaxa, você vai adorá-la. - Ela olhou para os lados. - Acho que ela deve estar na biblioteca, já que as olimpíadas de matemática estão chegando.
— Hm.
Ela voltou a me fitar com os seus olhos azuis, passando a mão no seu cabelo preso num rabo de cavalo.
— Agora me conta tudo o que aconteceu, sabe, tem um bom tempo que você não entra nas redes sociais, e muito menos falou comigo pelo telefone. Fiquei chateada, sabia?
— Desculpe, mas depois que você foi embora muitas coisas aconteceram.
Contei tudo a ela, do fato de eu ter me sentido sozinha depois que ela foi embora, até a noite que resolvi dar mais um voto de confiança em Kizashi, que havia me colocado em encrenca e acabando na cadeia. Acho que levei uma hora até relatar todos os fatos, e nem foi com todos os detalhes.
— Estou passada. - Ela murmurou, fitando algo no chão. - Kizashi é um animal, ainda bem que ele vai apodrecer na cadeia. - Ela me fitou. - E você, como se sente?
— Péssima... mas eu estou relevando, o pior era se eu continuasse em Osaka, acho que eu enlouqueceria como a minha mãe...
— Não diga isso! — Ela me interrompeu, agarrando meu braço com a uma expressão zangada. - Não se compare com aquela mulher, que a única coisa que preste que ela fez foi te colocar ao mundo, pois mãe ela nunca foi. Minha mãe é mais mãe sua do que ela.
— Eu sei disso - sussurrei, abaixando a minha cabeça.
Minha mãe Mebuki era um péssimo exemplo de mãe, uma péssima progenitora... acho que talvez, lá no fundo, eu me sentisse pouco culpada por ela ter ficado daquele jeito. Mas minha tia Tsunade disse que Mebuki tinha um gênio ruim desde criança. A família de Ino que praticamente me criou, acho que se não fosse por eles eu não seria um terço da pessoa que eu era hoje.
— Mas vai dar tudo certo agora. - Ela começou. - Você está aqui, Tsunade tem a sua guarda agora, e a gente se encontrou novamente.
Ergui meu olhar e a fitei, abrindo um sorriso cansado.
— Eu te amo, Ino, e você sabe disso, né?
Ela sorriu.
— Eu sei, querida.
Suspirei, fechando os olhos e balançando a cabeça para os lados.
— Chega! Vamos enterrar esse assunto depressivo. - Abri os olhos. - Estou com uma vida nova, numa casa nova, cidade nova, e numa escola nova.
— Não se esqueça do cabelo novo. - Disse Ino com o dedo indicador apontado para cima.
Gargalhamos em seguida, descontraindo o clima pesado que havia se estalado no local.
— Sim, o cabelo é o mais importante.
— Ficou legal, o rosa combinou com você.
— Valeu - sorri. - E você, dona Ino, quais são as novidades?
Seu rosto mudou completamente e um sorriso bobo apareceu em seus lábios, seguido de um suspiro totalmente apaixonado.
— Ai, amiga, eu estou namorando.
— Sério? - Perguntei com a voz pouco surpresa, enquanto via seus olhos brilhando e coraçõezinhos imaginários saindo deles.
Ela assentiu, mordendo o lábio e sorrindo mais, agora empolgada.
— Quem é o felizardo dessa vez?
— Ele é lindo, alto, perfeito, carinhoso e ruivo.
— Ruivo? - Franzi levemente as sobrancelhas. - Ino você detesta pessoas ruivas.
Ela me fitou ainda sorrindo.
— Mas agora eu amo pessoas ruivas... quer dizer, só o meu ruivo.
— E o papo de se casar com um negão de dois metros que você dizia?
Seu rosto se contorceu numa careta e seus olhos me fuzilaram.
— Sua vaca, foi você que declarou isso para mim e não eu.
Não consegui segurar outra gargalhada, tombando minha cabeça para trás. Agora eu sentia o tamanho da falta que Ino fez para mim, as nossas briguinhas infantis e as zoações uma com a outra.
— Você é muito palhaça, sabia? - Sua voz saiu irônica.
Ri mais.
— Não consegui evitar, Ino.
— Eu não achei graça - seu rosto estava sério.
Recompus-me, levantando as minhas mãos para cima.
— Mas continua os seus relatos, prometo que não vou mais zoar.
— Bom - ela voltou a sorrir apaixonada -, ele é perfeito, tão carinhoso, tão lindo, tão perfeito...
— Você já repetiu a palavra perfeito três vezes - a interrompi.
— Mas ele é perfeito - revirei os olhos e ela continuou: - O seu nome é Gaara e ele faz parte do jornal da escola, estamos juntos a dois e maravilhosos meses.
— Fico feliz por você, Ino, de verdade.
— Obrigada - seus olhos faziam ruguinhas enquanto sorria. - Mas tem muitos garotos bonitos aqui, e como você é novata, vão cair um monte para cima de você.
Balancei minha cabeça para os lados.
— Nem pensar, não quero saber de namorado. Chega de problemas, chega de confusão. Quero um tempo só para mim...
Fui interrompida quando a porta do quarto foi aberta e por ela passou uma garota baixinha de cabelos pretos e longos e de franjinha. Estava com o uniforme da escola, a saia plissada preta, a camisa branca de mangas aberta na frente, o lenço preto preso num broche com formato redondo, meias três quarto e sapatos de boneca nos pés.
Sua atenção logo se focou em nós e seu rosto tomou uma expressão surpresa, enquanto fechava a porta e aproximava.
— Ah, oi - ela disse baixinho, aproximando-se com as mãos ocupadas de livros, os depositando em cima de sua cama.
— Oi.
— Hinata, onde você estava? - Perguntou Ino, fazendo os olhos azuis cinzentos da minha colega de quarto focar nela.
— Estava na biblioteca estudando. - Ela respondeu com a voz doce e calma, voltando sua atenção para mim. - Você deve ser a aluna nova, né?
— Sim - me pus de pé. - Sou Sakura Haruno.
— Sou Hinata Hyuuga - ela sorriu. - Seu nome é lindo, sabia que ele é derivado de uma flor que só floresce a primavera? O seu cabelo cor-de-rosa fez um belo de um contraste com o seu rosto, e faz jus do seu nome. Você é linda.
— Nossa... obrigada - sorri, meio que sem jeito.
Céus como essa garota era fofa, e como Ino disse; um verdadeiro Cupcake.
— Essa Hinata com essas manias de saber os significados dos nomes. - Comentou Ino balançando a cabeça para os lados.
— Não acho mal algum nisso, Ino. - Ela disse e sorriu. - O meu nome mesmo significa Lugar ao Sol ou Em Direção ao Sol, Girassol. Um significado bem legal.
— Então, senhorita espertalhona, o meu nome significa o quê? - Ino perguntou, cruzando os braços e arqueando as sobrancelhas, de um jeito desafiador.
— Porco.
— O quê? - A voz de Ino aumentou dois décimos. - Você está de sacanagem comigo, né?
Abafei algumas risadas com a minha mão, mas eu estava falhando no processo.
— Estou falando sério. - Disse Hinata. - Ino é derivado do porco. Suíno, Ino, entende?
Era impossível agora reprimir as gargalhadas e agora eu ria tanto que minha barriga já doía.
— Ino porca, gostei. - Minha voz saiu meio que estranha devido às risadas.
— Não achei graça, Sakura Testa de Marquise. - Ralhou Ino, que agora me fuzilava mais uma vez com os olhos e os lábios crispados.
— Ei.
Escutamos as risadinhas de Hinata, atraindo a nossa atenção para ela.
— Hinata, alguma coisa deve estar errado - começou Ino. - Não é possível, meu nome é lindo. A porcaria que você ler deve está tudo errado.
— Admita Ino porquinha...
— Se você me chamar disso de novo, Sakura, nunca mais falo com você.
— Sério? - Perguntei com as sobrancelhas arqueadas.
— Claro que não. - Ela suspirou, fazendo biquinho. - Você às vezes é má, agora fiquei deprimida.
— Own, tadinha dela - a abracei meio que desajeitadamente.
— Vocês já se conheciam? - Perguntou Hinata nos fitando, enquanto se sentava em sua cama.
— Sim, a Sakura era aquela minha amiga de Osaka. - Respondeu Ino.
— Ah. - Hinata me olhou. - Está gostando daqui, Sakura?
— Bom, eu acabei de chegar não tem nem duas horas, mas o pouco que vi me causou boa impressão.
Não havia mentido diante dessa confissão, o colégio era enorme e parecia legal, e tirando a Ino que eu já conhecia desde que me entendo por gente, Hinata parecia ser uma boa pessoa.
Ino de repente se pôs de pé, atraindo a nossa atenção para ela.
— Por falar em impressão, eu tenho que fazer um tour pela escola com você, Sakura. Acho melhor irmos agora, já que a escola é grande... - ela puxou o celular que estava no bolso de sua calça e olhou o display. - São quase cinco horas da tarde, dá tempo de você conhecer algumas coisas.
Fiquei de pé também.
— Eu tenho que passar na diretoria antes.
— Nós passamos, lá - ela respondeu.
Apenas assenti com a cabeça.
— Tudo bem.
— Quer vir, Hinata? - Perguntou Ino para a garota que ainda estava sentada em sua cama nos fitando.
— Não vai dar - ela balançou a cabeça para os lados, negando -, vou tomar banho agora e comer algo no refeitório, estou morrendo de fome.
— Tudo bem. - Ino deu de ombro e me fitou. - Vamos?
— Ainda tenho que arrumar essas coisas, Ino. - Apontei para a minha mala ao lado da cama.
— Ah, deixa isso aí, quando chegar eu te ajudo a arrumar.
— Tá legal.
Resolvi deixar para arrumar as minhas coisas depois, e saímos do quarto, não sem antes de eu murmurar um tchau para Hinata que havia ficado.
Caminhamos pelos corredores enquanto Ino mostrava os lugares para mim, e as portas de possíveis inimigas e vadias da escola. Descemos os dois lances de escadas, mas ao contrário de antes quando subi, o local estava um pouco mais movimentado de alunos, e a maioria com olhares curiosos em mim. Era até meio que engraçado, coloquei uma cor diferente nos meus cabelos para acabar com a minha antiga imagem, mas agora eu estava chamando atenção por causa deles. Isso era uma droga, mas resolvi ignorar.
Terminamos de descer as escadas e demos de cara com uma garota com roupas normais e com dois coques na cabeça, ela parou a nossa frente, tomando folego, olhou para Ino e depois para mim.
— Tenten, o que foi? - Perguntou Ino.
— Você viu o Sai? - A voz da garota saiu meio que ofegante.
— Não, por quê?
O olhar da garota agora focou-se em mim.
— Quem é ela? - Perguntou, mudando o rumo da sua conversa.
Ino pôs uma mão em meu ombro e nos apresentou:
— Essa é a Sakura, a minha amiga de Osaka, ela chegou hoje na escola. Sakura, essa é a Tenten.
— Oi - sorri, tentando ser simpática, mas me surpreendi com um abraço de urso que Tenten havia me dado.
— Olá - ela se afastou um pouco de mim e sorriu abertamente. - Sou Tenten Mitsashi.
— Prazer, Tenten.
Seus olhos arregalaram e sua mão pegou uma mecha do meu cabelo.
— Caraca viado, seu cabelo é da hora, tipo, fodástico! Tipo, foda, fofoda, fofoda, foda, fofoda, fofoda, foda. - Em seguida gargalhou.
— Ah, obrigada. - Respondi, dando um passo automaticamente para trás.
Que doida.
— Você passou dos limites agora, Tenten, vai acabar assustando a Sakura. - Declarou Ino.
Ela parou de rir, revirou os olhos e me fitou, ignorando Ino.
— Eu também quero cabelo colorido - fez biquinho -, mas se eu pintar a minha mãe me deserda de casa, saco. - Bufou. - Mas também não tenho grana para ter cabelo bonito, sou pobre no meio desses ricos metidos a rei na barriga.
— Mas bem que você anda com esses ricos metidos com rei na barriga. - Ino disse agora cruzando os braços.
— Claro - ela pôs uma mão no peito -, eu tenho que garantir o meu lanche que vocês pagam para mim nos intervalos.
— Você é muito sínica, sabia?
— Ava. — Ela revirou os olhos. - Eu vou procurar o Sai, aconteceu um bafão aqui na escola e ele está por dentro de tudo.
— Que bafo? - Ino agora parecia interessada.
— Querida, só vou te passar a matéria quando souber dos mínimos detalhes, sabe que sou dessas.
Ino fez biquinho.
— Poxa, Tenten, nem um adiantamento?
Ela balançou a cabeça para os lados e sorriu.
— Claro que não, uma fofoca boa é aquela completa, não pela metade. Hashtag Fica a Dica.
Ino apenas revirou os olhos, descruzando os braços, e Tenten me fitou novamente.
— Sakura, foi bom te conhecer, e bem-vinda a esse antro de putaria e fofocas, tanto boas quanto diabólicas. - Ela pousou suas duas mãos em meus ombros e sua expressão agora é séria. - Espero de verdade que nos tornamos amigas para sempre, tipo, Best Friends Forever. Tá?
— Tá - murmurei, estava anestesiada com aquele acesso de doideira e maluquice, tudo numa pessoa só.
Ela sorriu abertamente.
— Vou procurar o Sai. Bye. - Ela se afastou, indo em direção aonde viemos.
— Nossa!
Ino sorriu, me fazendo fitá-la.
— Se prepare, a Tenten é só a ponta do iceberg que é essa escola.
— Acho que vou me preparar psicologicamente para isso então.
— Faça isso, amiga - ela deu risadinhas.
Continuamos a seguir nosso rumo, a primeira parada seria a secretaria. Subimos mais outro lance de escadas que minha tia havia subido algumas horas atrás e deparamos com outro corredor, esse agora era mais largo e com poucas portas.
— A diretoria é ali. - Ino apontou para uma porta de madeira que ficava no centro das outras portas. - Bom, eu vou te esperar lá nas escadas enquanto você resolve as suas coisas.
— Tá legal.
Ino sorriu antes de dar as costas e voltar o caminho, virando o outro corredor, sumindo de minhas vistas.
Segui aquele pedaço de corredor e logo estava de frente a uma porta de madeira com uma plaquinha de metal com o nome entalhado escrito: DIRETORIA. Levantei minha mão e dei três batidas na porta, e não demorou para que eu escutasse um Entre abafado.
Levei minha mão na maçaneta e a girei, abrindo aquela porta, revelando uma sala grande e ampla e no meio dela uma mesa retangular com a minha tia Tsunade sentada numa cabeira atrás dela.
Ela ergueu seu olhar e me fitou, suas sobrancelhas ergueram-se para cima, mas um pequeno e quase nulo sorriso se abriu no canto de sua boca.
— Sakura, entre.
Entrei na sala, fechando a porta atrás de mim. O frio do ar-condicionado que deveria estar no volume alto, fazia minha pele arrepiar-se. Aproximei-me mais, fitando todo o lugar que minha tia passava a maior parte de sua vida. As paredes eram da cor marfim, com móveis da cor escura e estantes abarrotadas de livros e fichários grossos ficava em algumas partes da parede. Havia dois sofás no canto e uma televisão na parede.
Voltei meu foco para frente, especialmente para sua mesa com um computador e abarrotada de coisas.
— Sente-se - ela pediu e eu sentei, esperando para que ela começasse. - Shizune mostrou o seu quarto direitinho?
— Sim, ela foi bem simpática e hospitaleira, explicou algumas coisas também.
Ela assentiu, abrindo uma gaveta ao lado daquela mesa, tirando uma chave com um chaveiro de plástico e colocou em cima da mesa. Em seguida ela abriu um de seus fichários preto e tirou uma folha retangular pequena com coisas escritas e ergueu para mim, assim como a chave.
— Essa é a sua chave do armário, e a folha de horários das aulas. - Peguei a folha dos horários de aulas e a chave, percebendo meu nome escrito no chaveiro e do outro lado o emblema da escola. - Como você está entrando no meio do ano, as provas serão daqui a duas semanas.
— Tá - respondi, voltando a fitá-la.
— As aulas começam às oito da manhã e acabam às três da tarde, com um intervalo de meia hora, às dez da manhã, e outro de uma hora ao meio dia e meio, onde será servido o almoço. O café da manhã é às sete em ponto, e o jantar é às oito da noite, sendo que às cinco da tarde é servido o lanche.
Assenti com a cabeça, prestando atenção.
— Além das aulas, os alunos são obrigados a entrarem em algum grupo, existem vários... - ela tirou outra folha de papel e me entregou. - Essa é a lista dos grupos que temos, alguns não têm vagas, mas se você ver com alguns alunos você pode se encaixar em algum.
— Entendi - dei uma olhada na enorme lista de grupos.
— O toque de recolher é às onze da noite - voltei minha atenção para ela -, depois dessa hora se encontrarmos algum aluno andando por aí, vai levar uma advertência. Duas advertências é detenção por uma semana depois das aulas. Três advertências, um final de semana sem ir para casa. Cinco advertências, suspensão por uma semana. E dez advertências expulsão. É proibido vagar pelo dormitório alheio, assim como é proibido desrespeitar algum professor.
Eu apenas assentia com a cabeça alheia a rigidez do colégio. Ela continuou:
— Aqui eu não sou a sua tia e sim a diretora, a lei que vale para um, vale para todos. E mesmo que eu goste de você como uma filha, não vou hesitar em puni-la, caso você estiver errada e for merecedora.
— Sim tia, eu entendo.
— Você vai poder sair só os finais de semana, alguns você passará aqui, pois eu fico na escola devido alguns problemas e não quero te deixar sozinha. Eu trouxe você para poder cuidá-la, mas poderá sair esses dias que ficar aqui, mas me avise antes de sair.
— Entendi.
— Bom, é só isso. Espero de verdade que se adapte aqui - ela sorriu -, e seja bem-vinda a Konoha High School.
— Obrigada, tia... - soltei um sorriso abafado, me interrompendo. - Quer dizer, diretora Tsunade.
Ela assentiu.
— Pode ir.
Levantei-me da cadeira e caminhei em direção à saída. Quando levei minha mão na maçaneta, a senti girar ao mesmo tempo em que eu girava e logo a porta se abriu, revelando uma garota de cabelos loiros e olhos com um tom de violeta.
— Ah.
Dei um passo para o lado, dando passagem para aquela garota entrar. Não demorou para que a voz da minha tia soasse, totalmente irônica:
— Senhorita Mitsuki, era você mesma que eu esperava.
Saí da sala rapidamente e fechei a porta atrás de mim. Seja lá o que aquela garota aprontou, não queria estar por perto para ver a fúria da minha tia.
Voltei a andar naquele corredor vazio, olhando a lista de aulas que teria amanhã. Seria uma tediosa terça-feira com Matemática, Japonês, Química, Física, Artes e Biologia. Droga, três matérias que eu era um desastre.
Eu estava tão distraída e focada na droga que seria as minhas aulas amanhã que trombei com alguém. O impacto foi tão forte que me desequilibrei, e só esperei sentir o chão duro, mas para a minha surpresa, não veio, e sim um par de mãos seguraram os meus braços, voltando a me equilibrar, fazendo com que as folhas e a chave do meu armário caíssem no chão.
— Opa - uma voz rouca soou, atraindo minha atenção.
Meus olhos ergueram para cima, encontrando um par de olhos negros me fitando, um pouco meio que surpreso e curioso ao mesmo tempo. Seus cabelos eram negros e estavam molhados, assim como seu rosto.
Minha boca estava entreaberta quando eu fitava aquele garoto estupidamente lindo que agora erguia minimamente seu lábio esquerdo para cima.
— Oi - novamente sua voz rouca soou, totalmente encantadora e hipnotizante.
Deus, quem era aquele garoto afinal?
