Capítulo 6 - Magoado

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Sasuke

Era inexplicável a facilidade que a Sakura me fazia sentir como se eu fosse um imbecil. Para ser sincero, era para eu já ter caído fora de tentar algo com aquela garota, mas meu ego se feria toda vez que ela me rejeitava. Agora era uma questão de honra. Sua negação só me dava mais vontade de tê-la, mais curiosidade de saber o que tanto ela atraía em mim. E eu sabia que não era só por que ela me ignorava, era outra coisa... será que era seus olhos verde-esmeralda? Ou será que era seus cabelos cor-de-rosa que me lembrava as flores de cerejeira?

Virei-me na minha cama, sem vontade de ir as aulas e sentir aquele desconforto no estômago quando ficava perto da flor. Não tinha a mínima ideia o que era aquilo, principalmente aquele suor irritante na palma de minha mão. Será que eu estava adquirindo algum tipo de doença?

Suspirei, ficando agora de barriga para cima, fitei o teto.

Mas antes que minha mente se prendesse em novos devaneios a porta do quarto foi aberta bruscamente.

- Porra, Sasuke, tu tá deitado ainda? – Fitei o escandaloso do meu melhor amigo que adentrava, já vestido com o uniforme. – Você vai se atrasar para a aula ficando aí, nem tomar café vai dar tempo mais, o refeitório está lotado.

Não respondi, apenas me levantei preguiçosamente da cama e num bom reflexo segurei um rolo de papel, parecia jornal, que Naruto jogou para mim.

- O que é isso?

- Olhe.

Desenrolei o jornal e logo na frente estava a foto da Sakura estampada, havia uma minha num quadradinho ao lado e a seguinte legenda em letras grandes:

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PARECE QUE A SOBRINHA DA DIRETORA QUE ALÉM DE BONITA GANHOU UM FÃ CLUBE, E NO TOPO DA LISTA ESTÁ O MAIOR PEGADOR DA ESCOLA.

SERÁ QUE O CAPITÃO DO TIME GANHA ESSA? QUE VENHA AS APOSTAS.

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- Que porra é essa? – Olhei para Naruto enquanto amassava o jornal e o jogava no chão.

- Essa porra – ele apontou para a bola de papel no chão -, é que você está fodido se a diretora souber que tu tá de chamego para cima da sobrinha dela.

- Merda – murmurei, puto com aqueles fofoqueiros do jornal. Bando de abutres que nunca me deixava em paz.

- O que tu vai fazer, brow? – Naruto quis saber, enquanto ia até a sua cama ao lado da minha e pegava sua mochila em cima dela.

- Vou fazer aquilo que eu sempre faço – e segui em direção ao banheiro.

- O quê?

Olhei para ele antes de fechar a porta do banheiro.

- Vou contar com a minha sorte.

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Quando entrei na sala pensando que o professor estivesse lá, percebi que ainda estava no horário, pois a mesa estava vazia. Karin piscou para mim enquanto eu passava, apenas retribuí com aquele meu sorriso discreto que eu sabia que a deixava louca, e segui meu rumo. Todos os meus amigos já estavam na sala, até a flor de cerejeira, ela estava sentada em seu lugar, a cara era séria enquanto mexia no celular. Sentei em meu canto, e a ouvi resmungar baixinho. Eu havia resolvido deixá-la quieta, mas algo gritava em meu interior para que ela prestasse atenção em mim. E por mais que eu tentasse ignorar aquele detalhe irritante, a minha língua coçava e eu acabei soltando:

- Você viu o jornal?

Ela simplesmente bufou, jogando o celular dentro da mochila e tirando o caderno para fora.

- Eu não tenho nada a ver com isso, flor.

Eu sabia que eu não tinha culpa por aquele jornal, mas senti àquela urgência de me explicar.

Sakura virou seu rosto para mim, e seus olhos verdes me metralhavam com a sua fúria.

- Será que você pode simplesmente fingir que eu não existo? – Sua voz saiu entredentes.

- Isso é impossível...

Ela me interrompeu, pegando suas coisas em cima da mesa e a mochila para em seguida se levantar, fazendo barulho com a cadeira, caminhando em direção a mesa de Ino e Hinata.

- Hinata, você pode trocar de lugar comigo? Pelo menos por hoje?

O quê?

- Claro, Sakura.

Admito que fiquei sem reação, apenas olhava Hinata pegar suas coisas e se levantar para em seguida vir até o lugar de Sakura e ela sentar em seu lugar ao lado de Ino. Meus olhos desviaram para meus dois amigos que sentavam a duas cadeiras mais atrás. Gaara com as sobrancelhas erguidas apenas disse sem emitir som; Se Fudeu, e em seguida sorriu. Naruto franziu o cenho pela sua namorada estar sentada ao meu lado, mas ele sabia que eu não era fura olho.

- Espero que não se incomode por eu ser sua parceira hoje.

Desviei meu olhar para a garota sentada ao meu lado, ao mesmo tempo que o professor de matemática entrava e seguia para sua mesa.

- Claro que você não me incomoda, Hinata.

E eu não havia mentido, Hinata era uma garota bacana, eu gostava dela. Acho que lá no fundo eu estava feliz pelo meu amigo ter encontrado alguém legal.

- Eu posso te dar um concelho? – Ela perguntou de repente, depois de alguns minutos em silêncio.

Ergui meus olhos do caderno para ela.

- Não força mais a barra com a Sakura não. Ela está bem irritada com esse lance do jornal, e pode acabar sobrando para você.

- Valeu.

Hinata apenas sorriu comprimido, voltando a escrever o que o professor passava no quadro. Minha atenção foi novamente para meu amigo que mantinha seus olhos em mim com o cenho ainda franzido. Apenas sorri, arqueando a sobrancelha e ele revirou os olhos voltando sua atenção para frente.

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Posso dizer que às aulas haviam sido um tédio, minha atenção desviava vez ou outra e focava na flor sentada na outra fileira a três carteiras a frente da minha. Quando o sinal do intervalo soou, ela foi a primeira a sair da sala, e por um momento eu pensei que ela quisesse se manter o mais longe possível de mim, ao ponto de não esperar as suas amigas.

Desci para o intervalo com meus parças, e com Neji, mas no meio do caminho um membro do grêmio o abordou e ele ficou para trás. A cantina estava lotada, como sempre, e depois de mais de cinco minutos numa fila eu fiz o meu pedido. Gaara queria passar o intervalo com a namorada e Naruto não pensou duas vezes em concordar, só me restando segui-los e me juntar a trupe de casal, na esperança de que quando encontrar a Sakura ela estivesse menos puta comigo. E eu era inocente desta vez. Mas ela não estava lá, só Ino e Hinata sentadas em nossa mesa particular do lado de fora.

Depois do mela-mela dos meus amigos apaixonadinho, mimando suas namoradas e me deixado de lado segurando vela com meu copo de suco de tomate, eu resolvi ceder a minha curiosidade e perguntei sobre a garota que estava me deixando obcecado:

- Cadê a flor?

- Você quis dizer a Sakura, suponho? - Questionou Ino olhando para mim com as sobrancelhas erguidas. E como não respondi seu tom de ironia ela continuou: – Ela conseguiu entrar no grupo da rádio, e a qualquer momento ela deve entrar no ar.

- Hm. – Foi tudo o que respondi, dando um gole do meu suco.

Radio, é? Interessante.

- Sasuke – chamou Ino -, vou te dar só um toque, deixe a Sakura em paz. É sério.

- Eu não tenho nada a ver com o lance do jornal.

- Pode não ter nada a ver, mas você vive atormentando ela por aí. Vai por mim, eu a conheço mais do que ninguém e posso te garantir que você não faz o tipo dela.

Eu já estava começando a ficar irritado com todos querendo me dizer o que fazer. Primeiro Naruto, depois Hinata e agora a Ino? Num fode, eu sei tomar as minhas próprias decisões, não precisava que alguém viesse me dar conselhos. E como um bom mestre de disfarce que eu era, coloquei minha melhor cara, ocultando minha irritação. Ergui minhas sobrancelhas enquanto sentia o canto de minha boca ergue-se para cima e provoquei a Yamanaka de propósito.

- Fique você sabendo, loira – aproximei meu rosto para sua direção -, eu faço o tipo de todas. – Peguei uma mecha de seu cabelo solto, enquanto via o seu cenho franzir. Levei um tapa na minha mão e um empurrão de Gaara.

- Cara, eu vou acabar com você se ficar flertando com a minha garota.

Ergui meus olhos para ele e sorri convencido.

- Relaxa mano, não sou fura olho.

- Espero que não – ameaçou voltando a se ajeitar ao lado de sua namorada.

- Não sabia que a Sakura tinha entrado na rádio – comentou Naruto aleatoriamente, tentando diminuir o clima intenso que havia ficado ali.

- Ela entrou ontem – respondeu Hinata -, depois que falou com Shino. Ela pegou três horários todos os dias.

- Legal – Naruto sorriu.

- Espera – disse Gaara, como se lembrasse de algo -, se ela vai entrar no ar daqui a pouco, então "Falo Porque Posso" vai voltar?

- Parece que sim – respondeu Ino, apertando os olhos para mim.

- Mas esse programa não está cancelado pela diretora?

– Foi o que a Sakura me disse – e ela deu de ombros, voltando sua atenção para ele.

E de repente a música do Shawn Mendes parou de tocar e a voz animada de Sakura soou pelas pequenas caixas de som espalhadas pela escola:

"OLÁ, GALERA DO KHS, AQUI QUEM FALA É SAKURA HARUNO E ESTAMOS COMECANDO UM FALO PORQUE POSSO. AGRADEÇO DESDE JÁ AO SHINO POR ME DAR ESSA CHANCE DE ESTÁ AQUI APRESENTANDO HOJE A VOLTA DESSE PROGRAMA QUE EU SEI QUE VOCÊS ADORAM. E BORA COM AS NOTÍCIAS DE HOJE..."

Foi inevitável evitar o pequeno sorriso que aparecia no canto de minha boca depois de ouvir a voz animada da flor, como se não estivesse irritada mais cedo com as fofocas do jornal.

- Gente eu não acredito que é a Sakura! - Disse Tenten aparecendo de repente com Sai ao seu lado. – E ainda por cima com o Falo Porque Posso.

- Eu dei a ideia para ela, raxa – disse Sai, sentando num dos lugares vagos que haviam ali assim como a louca da Tenten.

- Gente, fiquem quietos, ela está falando – interrompeu Ino e eles calaram a boca.

"...COMECANDO COM O RECADO DO GRÊMIO, A PARTIR DA SEMANA QUE VEM ABRE AS VOTAÇÕES PARA O TEMA DO BAILE DE PRIMAVERA. ENTÃO ABRAM A IMAGINAÇÃO E ESCREVA UM TEMA QUE VOCÊS DESEJAM E DEPOSITE NA URNA QUE FICARÁ NO FINAL DO CORREDOR DAS SALAS DE AULA. LEMBRANDO QUE O TEMA SORTEADO SERÁ ANUCIADO PELO PRÓPRIO GRÊMIO..."

- Não está muito cedo para decidir o tema do baile? – Disse Sai. – Tipo, é daqui a dois meses e meio.

- Eu vou votar no tema baile a fantasia, quero ir de Mulher Gato – disse a louca da Tenten.

Apenas revirei os olhos e fui mexer no celular, ignorando as brigas idiotas daqueles dois. Respondi duas mensagens do cuzão do Itachi, uma de Shisui e três de Karin me chamando para uma conversinha particular no quarto dela mais tarde. A voz de Sakura ainda se fazia presente quando dava recados de alunos para alunos, o deboche comia solto em sua voz. E ela tomou completamente minha atenção quando deu seu último recado.

"...E PARA FECHAR O NOSSO PROGRAMA DE HOJE, O ÚLTIMO RECADO DE SHION DO SEGUNDO ANO PARA SASUKE DO TERCEIRO ANO. ABRE ASPAS, SASUKE, VOCÊ É TÃO CRETINO QUANTO UM CACHORRO, E EU DEVERIA TER SIDO UMA IDIOTA POR TER FICADO COM VOCÊ NAQUELE DIA, POIS NÃO ESTARIA AGORA SOFRENDO DE HERPES, FECHA ASPAS."

Eu travei.

Todo mundo olhou para mim.

Eu levei alguns segundos para processar e reagir. Herpes? HERPES? Desde quando eu tenho herpes? Eu posso ser tudo, um canalha filho da puta, mas uma coisa eu tinha certeza, eu estava limpo. Sempre usei preservativo e nunca transei sem, e agora vem aquela vadia me difamar assim? Se ela está com herpes, de mim que não foi, isso eu tenho certeza.

"É PESSOAL, QUEM MANDA FICAR COM QUALQUER UM. MAS ENFIM, FICO POR AQUI COM MAIS UM FALO PORQUE POSSO, E NOS VEMOS AMANHÃ NESSE MESMO HORÁRIO. BYYYE! "

- Sasuke você tem herpes? – Perguntou Naruto com os olhos arregalados.

- Claro que não, seu idiota! – Ralhei com o cenho franzido. - Isso é uma mentira da Shion.

- Então diz para todo mundo agora, bofe, pois estão todos te olhando. – Disse Sai, me fazendo olhar para os lados só para constar todos olhando para mim e cochichando.

E aquilo era um prato cheio para aquele maldito jornal, pois vi dois membros da edição de fofoca olhando para mim enquanto anotava no caderninho que eles andavam.

Merda!

- Se a Shion tinha intenção de te fuder, ela conseguiu. – Gaara e seus comentários desnecessários.

Não quis ficar ali e escutar os comentários dos meus amigos e ser o centro das atenções daqueles abutres carniceiros e fui embora para dentro da escola, ignorando os chamados de Naruto.

Todos me olhavam. Todos cochichavam. Todos riam de mim. E mesmo parecendo que eu pouco estava me fudendo para todos, eu me senti de alguma forma humilhado por aquela situação. Aquele dia estava me saindo o pior dia de todos. Tudo estava dando errado para mim, parecia que eu estava num pesadelo. Era por uma dessas que a diretora havia proibido aquele programa, e que de alguma forma haviam conseguido colocá-lo no ar novamente.

Fui atrás da última pessoa que tinha culpa, mas que de certa forma tinha culpa, pois havia trazido a público uma difamação contra mim. Esperei atrás de um pilar no final do corredor que dava para a sala da rádio. Eu a vi saindo de dentro da sala da rádio e a abordei quando ela estava bem próxima do pilar:

- Por que você disse aquilo de mim?

Sakura tomou um susto com a minha abordagem enquanto saía detrás do pilar, ficando a sua frente.

- O que faz aqui? – Perguntou na defensiva, franzindo o cenho.

- Responda – minha voz era séria. – Por que você disse aquilo de mim?

Sakura pareceu recuperada do susto e cruzou os braços.

- Eu só disse aquilo o que estava escrito para dizer. – Respondeu, ignorando minha expressão fechada. - A propósito, você deveria ir atrás da pessoa que está te caluniando, não a mim.

Cínica, era sua expressão para comigo.

- Mas você foi a porta voz, tem a sua parcela de culpa.

- Eu só segui o roteiro. – Respondeu, sem um pingo de arrependimento. - Agora se me der licença, eu vou aproveitar o intervalo.

Ela tentou passar por mim, mas fui rápido e segurei seu braço, fazendo-a olhar para mim com as sobrancelhas franzidas.

- Você está gostando disso, não é? – Questionei, olhando no fundo dos olhos dela, e ignorando o fato do meu peito está acelerado.

- Gostando do quê?

- Gostando de falar mal de mim pela rádio. Eu percebi seu tom debochado quando se referiu a mim.

Sakura apertou os olhos e puxou seu braço do meu aperto.

- Você quer que eu seja honesta? – Perguntou, sua voz soando arrogante. – Eu gostei sim. Você merece isso por ser um canalha convencido.

E por mais que minha expressão de paisagem dissesse o contrário, eu me senti meio que magoado com a sua declaração. Eu admito que gosto de irritá-la toda vez que a vejo, gosto quando ela me olha com as sobrancelhas franzidas, mas eu nunca fiz nada que pudesse prejudicá-la.

- Você está sendo injusta comigo, flor. Você está se vingando por causa do jornal, mas saiba que eu não tenho nada a ver com isso.

- Mas você fica me provocando o tempo todo, fica no meu pé, as pessoas acabam imaginando que estou te dando confiança.

- Não pensei que você fosse o tipo de pessoa que liga para o que as pessoas dizem.

- E eu não ligo. – Garantiu. - Mas é incômodo ter a cara estampada no jornal, alegando coisas que não existem. Na mesma probabilidade de eu sempre ser metralhada toda vez que eu passo pelo seu Estepe e ter a sensação de que a qualquer momento irei ficar sem a minha cabeça.

Franzi o cenho, confuso com o que ela acabara de falar.

- Estepe? Do que você está falando?

Ela pareceu ter falado demais, pois seus olhos arregalaram de repente, e suas bochechas ficaram levemente vermelhas.

- Esquece. – Virou seu rosto para o lado. - Só me deixe em paz.

Eu fitava detalhadamente qualquer movimento que ela fazia, tentando achar uma lógica por eu me sentir estranho perto dela.

- Eu não tenho herpes. – Minha voz soou depois de alguns segundos em silêncio.

Sakura voltou seus olhos verdes para mim, frios e sem nenhuma empatia para com a minha pessoa.

- Isso não é da minha conta.

E passou por mim, batendo o seu ombro propositalmente contra o meu braço.