Capítulo 7 - Arrependimento
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Sakura
Deboche.
Zombe.
Era isso que Shino havia me dito antes de entrar no ar com "Falo Por Que Posso". Eu não tinha ideia de como era exatamente aquela programação e a enrascada que eu estava me metendo. Confesso que fui inocente em acreditar que Shino era um cara legal, que havia me aceitado no grupo da rádio de boa, mas acabei descobrindo que ele era um tremendo filho da puta. "Falo Por Que Posso" era uma baderna, uma pólvora de fofocas e difamação e eu simplesmente havia sido o fósforo, explodindo tudo e espalhando consequências para todos os lados.
Não gostei de nenhum pouco ter apresentado aquele programa. Não gostei de nenhum pouco ter sido debochada enquanto difamava pessoas. Tentei conversar com Shino e me desligar do grupo, e foi aí que descobri a enrascada que havia me metido.
- Isso não está certo – eu o fitava, enquanto ele escolhia a próxima sequência de músicas que iria tocar. – Esse programa é praticamente uma difamação alheia.
- Fique tranquila, você não tem culpa de nada, apenas leu o que estava escrito. – Ele apontou para o papel de mensagens jogado sobre a mesa, nem olhava para mim. - Os culpados são os que mandaram, eles que resolvam.
- Como eu não tenho culpa, se eu li para todos o que estava escrito? – Eu estava incrédula com o descaramento daquele garoto. – Como eu irei olhar agora para as pessoas que falei mal?
- Você vai olhar com seus olhos, ué. – Ele foi irônico e franzi o cenho, não gostando nenhum pouco de sua resposta.
- Eu estou saindo do grupo.
E foi aí que seus olhos castanhos me fitaram com aquela calma irritante.
- Você não pode no momento em que mantei sua ficha para a secretaria.
- O quê? – Uni as sobrancelhas, incrédula. – Como assim?
- Estamos praticamente no meio do ano letivo, e as saídas de grupos são proibidas, a não ser que queira manchar seu histórico com uma bela advertência.
- Advertência eu vou tomar se eu continuar aqui falando mal dos outros.
Ele sorriu, e eu estava a um passo de socar na cara dele.
- Estou vendo que você é uma cagona.
- O quê? – Minha voz saiu dois graus mais alto.
- É o que você escutou – ele disse. – Está dando para trás só por que é a sobrinha da diretora. Agora vai se afugentar atrás da saia da titia?
- Você é um idiota.
- Eu sei – ele admitiu, nenhum pouco abalado com minha ofensa. – E também sei que não vai ser você e nem ninguém que vai me impedir de manter esse programa no ar. Eu batalhei muito para isso e você vai ficar no grupo e vai fazer o que fez hoje, por que você foi maravilhosa, recebi um monte de mensagens e a galera está pirando. Isso é demais!
- Eu vou embora – abri a porta daquela pequena sala, sem nenhuma vontade de olhar na cara sínica de Shino.
- Não esqueça da programação da tarde e da noite – ele gritou quando fechei a porta atrás de mim.
Eu estava encrencada e a minha consciência pesada não ajudava em nada. Aquele dia havia começado péssimo com a minha cara estampada naquele jornal idiota, dizendo coisas e supondo coisas ao meu respeito. E agora mais esse problema, falar mal das pessoas através de uma rádio não era nada legal e me sentia mal por isso, principalmente com o Sasuke. Tudo bem, eu não ia muito com a cara dele e ele me tirava do sério com suas investidas nojentas, mas dizer aquilo tudo dele e sem ter provas, ser porta voz do que a pessoa disse dele não me deixou nada feliz.
Surpreendi-me quando ele veio atrás de mim tirar satisfações, achei engraçado por ele não ter ido atrás da garota que mandou o recado e sim de mim. E novamente o peso subiu em minhas costas, eu estava errada, confesso, mas Sasuke tinha um dom especial de me tirar do sério e me irritar mais ainda do que estava irritada, me obrigando dizer coisas que não queria. Acabei jogando minha frustração em cima dele e ver seus olhos com um brilho de decepção. E mesmo tentada em me desculpar por ter sido uma vaca naquele momento, meu orgulho me impediu e minha consciência tentou me acalmar, dizendo que ele não era nenhum santo, ele merecia aquilo.
E com isso eu fui terminar o intervalo com Ino e meus novos amigos. Eles me parabenizaram pela estreia, e vi que todos estavam incrédulos e chocados com a notícia do Sasuke ter herpes, e como ele havia ficado transtornado com isso. E novamente me senti mal, mas fiz de tudo para ocultar aquele detalhe.
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O resto do dia passou devagar, e as aulas acabaram. Sasuke não me atormentou mais, e para falar a verdade, eu havia fingido que não havia o percebido quando passava por perto dele. Almocei com Ino e Hinata no refeitório e tirei minhas dúvidas sobre o que Shino havia me dito sobre sair de um grupo no meio do ano letivo, e tive a dolorosa confirmação de que ele estava certo. Estava privada de sair do grupo, pois eu não queria uma advertência em meu histórico escolar, eu queria entrar numa boa universidade de medicina e mudar de vez o rumo da minha vida. Não queria que nada me impedisse de realizar meu sonho de ser médica.
Então tive que engolir Shino e voltar a rádio para as programações da tarde e da noite e para a minha surpresa, foi tudo muito tranquilo e confesso que eu até gostei, nada comparado com o a baixaria da programação da manhã que eu iria continuar fazendo até um milagre acontecer e a direção cancelar a programação novamente.
Quando o final de semana chegou eu agradeci, aliviada por aquela minha primeira semana na escola nova e num estado novo ter acabado. Iria me refugiar em meu novo quarto e passar o final de semana assistindo seriados, navegar na internet e assistir músicas... apesar que Ino estava naquele momento arquitetado uma saída ao shopping.
Estávamos no estacionamento, eu, Ino, Hinata e seu irmão Neji, esses últimos estavam esperando a irmã mais nova, Hanabi do sétimo ano. Tenten já tinha ido para casa de carona com Sai, Naruto não havia aparecido ainda, e Gaara também já tinha ido embora. Ino esperava sua mãe que iria vir buscá-la e eu estava esperando a minha tia Tsunade que terminava de organizar algumas coisas para o inspetor de plantão ficar de olho nos alunos que ficariam na escola.
- Vamos, Sakura, vai ser legal – dizia Ino, tentando destruir meu final de semana sedentário. – Aí você poderá conhecer a cidade... Hinata, me ajuda a convencer essa garota que o nosso passeio vai ser legal.
- Me tira dessa Ino, vou para casa dos meus avós a tarde – ela disse mexendo em seu celular. – Jantar de família amanhã.
- Será que se eu fingir que estou doente, o papai e a mamãe vão me deixar em casa? – Perguntou Neji, fazendo uma careta para sua irmã.
Era impressionante a semelhança que um tinha com o outro, o formato dos olhos e cor, o nariz arrebitado, e apesar das formas masculinas de Neji, o formato do rosto era muito parecido com o da Hinata, e ambos eram muito bonitos com expressões delicadas.
- Óbvio que não – Hinata disse, fitando o irmão. – Ainda mais você que tem uma saúde de ferro.
- Odeio reuniões familiares – ele resmungou desgostoso. – E essa Hanabi que não chega, vou atrás dela, tenho certeza que alguma mosca varejeira a está rondando.
Hinata apenas revirou os olhos, suspirando cansada enquanto Neji se afastava, indo atrás de sua irmã mais nova.
- E então, Sakura? – Ino voltou-se para mim, seus olhos azuis me fitando em uma suplica.
- Amanhã – eu disse. – Hoje quero passar o dia todo dormindo, e esquecer o estresse dessa semana. – Juro que amanhã serei toda sua.
Ela apontou o dedo para mim.
- Eu vou cobrar, hein?
Apenas sorri, e na mesma hora minha tia apareceu, os braços abarrotados de pastas e as chaves na mão.
- Vamos? – Ela me chamou, passando por mim e as meninas em direção ao seu carro.
- Tchau, meninas – me despedi, seguindo minha tia.
- Tchau, Sakura – as duas disseram ao mesmo tempo.
Ajudei minha tia com suas pastas e não demorou para que atravessamos os portões de ferro daquela instituição de ensino. E depois de percorrer aquela rua calma com árvores de cada lado, entramos na primeira rodovia, e o trânsito foi impossível de escapar.
- Como achou da sua semana no colégio, gostou? – A voz de minha tia quebrou o silêncio que havia reinado desde a hora que entramos no carro.
- Foi bem cheia, e divertida ao mesmo tempo.
- Hm. – Sua atenção estava totalmente para frente. – Soube que entrou num grupo acadêmico.
- É.
Aquela era minha chance de me queixar sobre a droga de programação de rádio que eu estava fazendo, mas não quero dar razão para Shino me chamar de cagona que corre para se esconder atrás da saia da tia. Eu posso resolver isso sozinha, e lidar com o babaca do Shino e entrar num acordo que seja bom para mim e ele. Isso.
- Entrei no grupo da rádio, peguei três turnos no dia.
Ela ergueu seus olhos para mim por um momento.
- Não vai atrapalhar os estudos não?
- Não, são programações de uma hora e meia hora, coisa rápida.
- Que bom. – Pelo seu tom e sua expressão relaxada, ela não estava sabendo das últimas que a rádio proporcionava.
Depois de uma hora de engarrafamento nós duas finalmente chegamos ao prédio, e dei graças a Deus por isso, por que ficar uma hora em trânsito era uma droga, e olha que o apartamento aonde morávamos era só uns quinze minutos longe do colégio.
E antes que saíssemos do carro, o celular da minha tia tocou. Ela me mandou ir subindo enquanto atendia a ligação e pela sua cara feia que fazia parecia ser da escola.
Saí do carro com a minha mochila de coisas no ombro e fui andando pelo estacionamento até o elevador e quando virava o pilar de sustentação aonde ficava o elevador, meu corpo trombou com o de outra pessoa e quase fui ao chão se uma mão não tivesse segurado o meu braço.
- Caramba.
- Ah, me desculpe – disse enquanto me endireitava e olhava o garoto de cabelos ruivos e olhos castanhos a minha frente.
O veredito abriu um sorriso brincalhão enquanto me fitava.
- Nossa, se toda vez que vir a esse prédio e esbarrar com uma garota bonita como você eu estarei feito.
Sorri sem graça, erguendo as sobrancelhas diante de seu comentário.
- Você se machucou? – Ele perguntou, educado.
- Não.
E o sorriso se alargou em sua boca.
- Sou Sasori - e estendeu a mão para mim. – E você, como se chama?
- Sakura – e segurei sua mão por educação.
- Nome de flor para uma garota mais linda ainda.
Arqueei as sobrancelhas, puxando a minha mão da dele.
- O que quer, me elogiando desse jeito? – Era impossível não ficar desconfiada, mesmo o cara sendo bonito, apresentável e simpático, nunca se sabe.
- Querendo passar uma boa impressão.
Sorri novamente, segurando a vontade de revirar os olhos.
- Ok, agora tenho que ir – disse, apertando o botão para chamar o elevador, que estava no primeiro andar.
- Foi bom te conhecer, Sakura.
- Igualmente – respondi entrando no elevador que acabara de chegar.
Quando entrei no apartamento no sétimo andar fui direto para o meu quarto, deixando minha mochila no chão e me jogando de barriga em minha cama e ficando ali por algum tempo, tempo o suficiente para escutar minha tia entrando no apartamento resmungando algo que não consegui compreender.
Voltei a ficar de barriga para cima e peguei meu celular. Havia uma mensagem de Ino dizendo que já estava em casa e que amanhã eu não escapava do passeio. Fiquei algum tempo mexendo no facebook e fazendo alguns posts quando uma notificação no Instagram me chamou atenção. Não consegui segurar uma risada irônica quando vi que a notificação era uma solicitação de Sasuke. Era incrível como aquele garoto não tinha vergonha na cara.
Era só o que me faltava.
