Capítulo 8 - Pequenos Conflitos

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Sasuke

Passar o final de semana dentro da escola sem os amigos e com uma redação com o tema Disciplina como forma de punição era quase pior do que enfrentar a fúria de meu pai. O domingo também não foi essas coisas, o tempo parecia parar quando as coisas estavam ruins. A única coisa que ainda me distraía era o meu violão que eu escondia debaixo da cama e que sendo praticamente o único aluno naquele quarto daquele corredor da ala masculina eu podia tocar meus acordes a vontade sem que ninguém pudesse escutar para gerar fofocas e cair nos ouvidos da direção, por ser proibido trazer instrumentos para o colégio. E treinar sozinho no campo alguns chutes até a rede do gol, foi bom para mim colocar minha cabeça no lugar, e distrair-me da solidão depressiva por estar naquele lugar sem ninguém para falar.

Eu odiava ficar sozinho.

Depois de ficar quase três horas treinando naquele final de tarde eu me dei por satisfeito. Arranquei a camiseta para secar o suor que escorria por meu rosto e minhas costas enquanto ofegava, cansado. Peguei a garrafa d'água que eu havia trazido e dei um generoso gole no gargalo, sentindo o líquido descer por minha garganta, saciando a minha sede. Joguei o restante na minha cabeça e sacudi meus cabelos já molhados de suor e água para os lados, respigando gotículas por toda parte.

Fitei o céu laranja daquele final de tarde de domingo, a respiração voltando ao normal. Meus olhos desviaram para os lados e foi aí que eu a vi. Desgraçada, estava longe do campo e andava tranquilamente olhando algo no celular. Apertei os olhos e comecei a andar em sua direção. Shion estava fugindo de mim desde o dia que ela mandou aqueles absurdos para a rádio me desmoralizando, eu a procurei por todos os cantos naquele dia, mas a vadia soube se esconder muito bem, até agora.

Como se percebesse a minha presença se aproximando, ela ergueu a cabeça para cima e me viu, seus olhos arregalaram e ela tomou impulso e correu, voltando todo o caminho percorrido antes.

- Shion, volta aqui! – Gritei e corri atrás dela, fui rápido o suficiente e logo consegui alcançá-la e agarrei o seu braço, a fazendo parar e virar para mim. – Está fugindo de mim?

Seus olhos violetas me fitavam assustados, e acabou sorrindo amarelo para mim.

- Oi, Sasuke, tudo bem?

- Tudo bem o caralho – e apertei mais a minha mão em seu braço. – Que merda foi aquela que você mandou dizer na rádio?

- Você está me machucando – ela reclamou, se contorcendo sob o meu aperto.

Soltei o seu braço, mas a encurralei numa parede próxima, meu corpo quase colado ao dela e minha mão direita espalmada na parede na direção de sua cabeça.

- Desde quando eu passei doença para você? – Minha voz saiu entredentes, eu estava muito puto, me segurava para não gritar na cara dela.

- Me desculpa – ela disse, sua respiração era acelerada, estava nervosa. – Eu agi por impulso da raiva, de você ter me usado e me descartado como se eu fosse um lixo – e agora sua voz ficou mais arrogante quando disse as últimas palavras.

- Nunca te prometi nada.

- Mas o que está feito está feito.

- Negativo – e aproximei mais o meu rosto do seu, fitando no fundo de seus olhos. – Você vai concertar essa merda.

Ela franziu o cenho.

- O quê?

- Isso mesmo que ouviu.

- Como eu vou fazer isso? – Ela aprecia incrédula. – A escola toda ouviu o que aquela garota disse na rádio.

- Foda-se – minha voz aumentou alguns décimos. – Você fez a merda, você agora concerta. Se não quem vai fazer a merda vai ser eu, e você não vai gostar do que eu vou fazer.

Qualquer tipo de arrogância que Shion pudesse impor a mim naquele momento havia sumido, e uma camada de medo era visível em seu rosto assustado com minha ameaça.

- O que... você vai fazer?

- Você não vai querer saber. – E me afastei dela dando vários passos para trás, tomando minha rota na direção oposta da sua. – Têm até sexta-feira para você resolver essa bosta.

- E o que você quer que eu faça? – Sua voz saiu alta devido eu está um pouco longe dela, me afastando.

- Se vira. – E saí de seu campo de visão, indo para o meu quarto.

. . .

Acordei na segunda de manhã com Naruto adentrando o quarto daquele jeito espalhafatoso de sempre, esbarrando nas coisas e fazendo muito barulho. Era praticamente impossível dormir com aquele Dobe acordado.

- Acorda, Teme! – Sua voz alta doía meus tímpanos.

- Naruto, fala mais baixo – resmunguei, me remexendo nos lençóis e abrindo os olhos ainda enublados de sono. – Que horas são?

- Àquela hora que se você não se levantar da cama agora vai acabar perdendo a primeira aula.

Saquei, estava atrasado.

Pulei da cama e fui direto para o banheiro fazer minha higiene matinal e tomar um banho para despertar daquele sono e preguiça. Voltei para o quarto apenas enrolado com a toalha na cintura e fui procurar o uniforme no guarda-roupas.

- Nem vou perguntar como foi seu final de semana aqui trancado – comentou Naruto jogado na cama, ele já estava com o uniforme escolar e estava com a atenção toda voltada para o celular.

- Uma droga, caso queira saber – respondi colocando a cueca e a calça, afivelando o cinto em seguida.

- O meu foi ótimo, saí com a Hinatinha no domingo e foi bem divertido.

- Bom para você. - Coloquei a camisa branca de mangas curtas, a gravata preta e o suéter sem mangas por cima da camisa.

- Ei, Sasuke, você não tem vontade nenhuma de ter uma namorada não?

Virei meu corpo e fitei Naruto ainda deitado na cama, agora tinha abaixado o celular e seus olhos me fitavam.

- Não.

- E se caso fosse uma garota de cabelos cor-de-rosa? – Um sorriso malicioso estava em sua boca. – Você mudaria de ideia?

Não respondi, por que na verdade não sabia a resposta para aquela pergunta. O tópico Sakura era um assunto novo para mim, uma linha desconhecida que tinha receios de percorrer.

- Você não vai descer? – Desconversei, caminhando para saída, levando a mão a maçaneta.

- Já tomei café em casa, sairei daqui para ir a aula daqui a pouco.

Apenas dei de ombros e saí do quarto, ignorando o sorrisinho irritante e convencido de Naruto. O corredor estava bem movimentado diante do deserto do final de semana, alguns caras me cumprimentavam quando me viam e outros acenavam com a cabeça. Logo perto das escadas avistei Gaara com Ino, ambos já com os uniformes, sem deixar de lado o detalhe de uma mala de rodinhas ao lado da loira, indicava que ela estava chegando naquele momento, me aproximei deles.

Eu tinha que admitir que Gaara era um cara de sorte, não era sempre que achamos por aí uma garota que valesse a pena, e Ino era uma das poucas garotas que valia alguma coisa. Admito que até gosto da loira, ela não era que nem aquelas garotas frescas e chatas que tem por aqui. Ino era divertida e cabeça feita, fazia bem para o meu amigo, se bem que conheço Gaara diria que ele já esteja apaixonado por ela. Não tenho certeza se ele está de quatro por ela, mas talvez comendo na palma da mão da loira.

Senti o canto de minha boca ergue-se para cima num pequeno sorriso sarcástico, sabia a resposta para a pergunta de Naruto e a resposta também era não. Relacionamento não foi feito para mim, não consigo me imaginar preso a alguma garota e comendo na palma da mão dela. Mesmo essa garota sendo Sakura.

Parei em frente ao casal, atrapalhando o momento íntimo deles se abraçando.

- Olá, Ino.

Ela se separou de Gaara e me fitou com seus olhos azuis, sorrindo amigável para mim.

- Oi, Sasuke, como vai? – Ela respondeu amigável como sempre e voltou sua atenção a Gaara. – Amor, tenho que ir agora.

Em seguida deu um selinho nele antes de se afastar da gente, puxando sua mala de rodinhas para o lado feminino dos quartos. Meus olhos pousaram em Gaara e o idiota estava com um sorriso besta na cara, observando a namorada se afastar.

- Você está mesmo apaixonado por ela, cara? – Perguntei, com um pouco de deboche em minha voz.

Gaara me olhou com a cara fechada, sabia que eu estava debochando dele.

- Isso não é da sua conta, babaca.

Eu sorri comprimindo os lábios e resolvi provocá-lo um pouquinho enquanto descíamos as escadas.

- A Ino não tem uma irmã para me apresentar não?

- Ino é filha única.

Ri balançando a cabeça para os lados e chegamos no andar das salas de aula, mas viramos para o lado oposto que levava mais outro lance de escadas para chegar lá no térreo aonde ficava o refeitório.

- Vejo que está de quarto por essa garota – concluí. – Admite, vejo isso na sua cara.

- A Ino é uma garota incrível – em seguida me fitou sério, apertando os olhos. – E a Sakura é a melhor amiga dela, então aconselho que fique longe dela.

- Como é? – Ergui as sobrancelhas com aquele pedido, não acreditando naquele absurdo.

- É isso que você ouviu, deixa a Sakura em paz. Aliás, não se intrometa com nenhuma das amigas de Ino e isso também vale para o Sai.

- Sai? Está me estranhando, cara?

Gaara ficou maluco? Bom, eu posso até compreender sua linha de raciocínio, pois eu havia meio que "estragado" seus relacionamentos anteriores devido as "melhores amigas" de suas namoradas. Mas eu não tinha exatamente cem por cento de culpa, pois não era culpa minha que as amiguinhas de suas namoradas praticamente se jogavam em cima de mim, e como não sou de ferro eu simplesmente ia na onda das minas. E aí as meninas criam fantasias em suas cabeças e quando percebem a realidade caem de pau na namorada de Gaara, obrigando a mina do meu amigo terminar com ele só para não ver mais a minha cara. Vê se isso tinha algum cabimento? E Gaara que era uma besta ficava meses na fossa e me culpando por seu relacionamento fracassado, que para mim se a garota gostasse realmente dele, não iria largá-lo por causa de um capricho de uma amiga desgostosa.

- É sério, mano – ele parou, me fazendo parar também -, você é meu melhor amigo e a Sakura é a melhor amiga da Ino. Se você mexer com a garota vai acabar fodendo para o meu lado. Não quero ficar longe da Ino, estou realmente gostando dela.

- Relaxa, brow, não acho que a Ino seja daquelas que vai terminar com você por uma besteira – e sorri. – E a garota também sabe se cuidar, não acho que ela precise de uma babá.

Gaara suspirou cansado.

- Promete que vai deixar a Sakura em paz?

Ergui minhas sobrancelhas com a sua súplica. Gaara estava realmente amarradão na Ino para me pedir aquilo.

- Eu não prometo nada.

. . .

Nesses dias que conhecia Sakura Haruno eu pude perceber duas coisas nela: A primeira, era que ela não falava comigo. A segunda, era que quando falava ela era meio que uma megera comigo, e isso eu tinha quase cem por cento de certeza de que havia sido consequências de fofocas alheias me difamando, como sempre. Mas de alguma forma essa sua indiferença para comigo me deixava mais ansioso, sei lá... eu meio que curtia isso nela. Ela mantinha uma espécie de muralha para afastar os imbecis como eu, mas aquilo só me deixava mais determinado. Não que eu estivesse apaixonado, longe disso, pois Sasuke Uchiha nunca se apaixona. O que eu sentia por ela era só uma simples atração física, por que, porra, a garota era bonita pra caralho e só um idiota que não perceberia isso.

E hoje não era diferente, ela parecia iluminar a sala de aula enquanto atravessava a porta, mostrando aquele sorriso lindo que a deixava mais encantadora, rindo de algo que Sai dizia. Eu não queria, mas não consegui controlar as batidas do meu coração, ele estava mais acelerado que o normal e aumentava as batidas conforme ela se aproximava, alheia a minha presença e minha atenção sobre ela.

E que porra de frio na barriga era aquele que eu sentia?

- Sai você é muito hilário – a voz de Sakura soou risonha, se aproximando ainda mais de seu lugar ao meu lado.

Eu tinha certeza que essa minha fobia por ela só passaria quando a levasse para cama.

- Sou muito mais do que isso, amooor – Sai gritou do outro lado da sala, jogando suas coisas sobre a mesa.

Ela apenas riu mais e parou na nossa mesa, jogando sua mochila em cima e puxando a cadeira para trás e sentou-se ao meu lado.

Fazia dois dias que eu não a via e eu me sentia excepcionalmente agitado agora com a sua presença e o seu cheio invadindo as minhas narinas.

- Bom dia, flor de cerejeira.

Fui cauteloso em minha abordagem, por mais que eu gostasse de vê-la irritada e ficar com as bochechas vermelhas e a boca franzida, eu tinha que abaixar minha bola. Se era para conquistá-la, eu tinha que evitar que ela ficasse sempre zangada comigo.

- Bom dia – ela me respondeu, curta e seca.

Comprimi os lábios, segurando um sorriso que queria escapar por eu ter conseguido avançar um pouquinho, mesmo que esse avanço fosse só 0, 000, 01%, mas era alguma coisa.

- Seu final de semana foi bom, flor?

E desta vez Sakura parou o que estava fazendo e me olhou pela primeira vez, seus olhos verdes fitando os meus.

- Você pode por favor parar de me chamar desse jeito? – Seu tom era calmo e frio, não demonstrava nenhum sentimento para mim.

Fiquei sem saber o que responder, se acatava com a sua ordem ou a provocava, a segunda opção era tentadora, e me segurava naquele momento, mas a voz de Ino a chamando tirou sua atenção de mim:

- Sakura – Ino a chamava com a mão, Sai estava sentado em sua mesa e Tenten se aproximava sambando, parando ao lado de Sai. – Vem aqui um minuto.

Sakura não hesitou em se levantar e ir para perto da amiga, Naruto e Gaara estavam sem seus lugares, mas atentos ao que iria sair da boca da loira.

- Sasuke só não te convido por que essa semana você vai passar na escola. – Ino disse me fitando de seu lugar. – Então gente, abriu uma boate nova na cidade e estava pensado em marcarmos para irmos lá esse final de semana, que tal?

Suspirei, revirando os olhos colocando meu cotovelo em cima da mesa e minha cabeça apoiado na palma da mão, virando minha atenção para a paisagem do outro lado da janela. Mais outro final de semana trancado aqui enquanto todos se divertem.

Droga de vida.

- Eu já ouvi falar dessa boate, é a The Night – disse Sai num tom de voz para a escola toda ouvir. – É do amigo do primo do tio do amigo do meu primo.

- Eu topo, estou doida para encher a cara e ficar doidona e fazer um strip-tease – a voz de Tenten soou seguida de suas gargalhadas diante da merda que ela havia dito.

Revirei os olhos novamente, tentando achar uma lógica que me levou a ir para cama com aquela louca. Minha pior experiência.

- Fala sério – escutei Gaara dizer. – Eu também topo, amor.

Mais amor gratuito.

Também pude ouvir a voz de Naruto, Sai e Hinata concordando em ir, e por último foi a Sakura.

- Bom, eu só tenho que avisar a minha tia...

- Você pode dormir lá em casa e nós podemos ir juntas - disse Ino.

- Ok.

- Uma pena que o Sasuke não vai, não queria ser você, brow – disse Naruto, debochado.

Apenas levantei o dedo do meio para ele.

O professor Yamato entrou na sala mandando todos se sentarem e logo o lugar ao meu lado foi ocupado por Sakura. Não mexi mais com ela, estava bolado o suficiente para deixá-la mais irritada comigo.

Saco.

As aulas se passaram tediosas e com muitas matérias novas e revisões para as provas que estavam chegando. E depois de três aulas o sinal do intervalo tocou e é quase inevitável não se sentir feliz por aquele tempo de pausa depois de uma seção de aulas maçantes. Sakura foi uma das primeiras a sair da sala, os passos rápidos, deveria ir para a rádio apresentar aquele programa não tão legal assim na minha opinião. Arrumei minhas coisas e peguei minha folha da redação caminhando para fora da sala.

- Aonde vai, Sasuke? – Naruto perguntou depois de me ver tomando um rumo totalmente diferente do dele.

- Vou levar isso aqui na secretaria – e mostrei a folha que estava na minha mão.

- Hm.

Entreguei a minha redação na secretaria e quando estava descendo as escadas o meu telefone toca, era Itachi.

- Fala aí, cuzão.

- E aí.

- Sobreviveu o final de semana trancado na escola?

Revirei os olhos e virei um corredor.

- Foi uma droga, mas estou bem. E o pai e o vovô?

- Estão bem – ele respondeu. – Papai perguntou de você e o vovô está orgulhoso por você ser um aluno aplicado por sacrificar seu final de semana para se dedicar ao time da escola.

- Você não falou nada não, né?

- Claro que não, tá maluco. Ah, o Shisui foi lá em casa ontem e o Obito ligou.

- E aí? – Perguntei, fazia um bom tempo que não víamos Obito, o primogênito dos irmãos Uchiha.

Parei perto de uma coluna de sustentamento, apoiando minhas costas e meu pé na parede, fitando algo invisível no chão e escutando meu irmão mais velho do outro lado da linha e a voz de Sakura soando pelas caixinhas de som espalhadas pelo pátio, começando seu programa de fofocas.

- Ele disse que tem umas folgas acumuladas e vai tirar tudo junto para vir para Tóquio passar uns dias aqui. – Sua voz saiu animada. – O clã Uchiha vai está todo unido, irmãozinho.

- Legal, mas ele disse quando vai vir?

- Não, ele disse que está atarefado com um caso aí. Parece que prenderam um peixe pequeno que trabalha na organização de lutas de rua ilegais e tráfico de drogas, algo assim. Acho que não tem dia definido.

- Hm.

- Sasuke!

Ergui meus olhos e vi Naruto correndo até mim e parando a minha frente com as mãos no joelho, respirando ofegante.

- Acabei de ouvir a voz do Naruto – Itachi comentou do outro lado da linha.

- Ele acabou de chegar – respondi, revirando os olhos. – Vou desligar.

- Já é.

- O que foi? – Perguntei, fitando-o se endireitando a postura.

- O técnico Guy está nos chamando no campo. A congregação adiantou o nosso jogo para amanhã.

- O quê? – E me desencostei da parede. – Essas porras são loucos?

- Não sei, mano, mas temos que ir até o campo agora.

Segui Naruto até o campo, e não pude deixar de notar alguns alunos nos fitando e cochichando. Povo fofoqueiro. Chegamos no campo de futebol e encontramos todo o time reunido e o técnico gritando algumas coisas que não consegui compreender devido à distância. Ao lado junto das arquibancadas estavam as líderes de torcida reunidas numa roda. Aproximei mais do grupo chamando atenção do técnico, que me fitava com o cenho franzido.

- Aonde você estava, Sasuke?

- No colégio.

- Isso não importa agora – disse, dando uma olhada em sua prancheta. – Estão todos aqui? – Perguntou e nós respondemos.

Ele estava como sempre, vestido com sua calça comprida de táctel azul-marinho, uma camiseta branca por debaixo do casaco do time que era azul e vermelho com o brasão de nosso time entalhado atrás das costas. Usava o seu boné de treinador e seu apito prateado em volta do pescoço pendurado um cordão de prata.

- A congregação de esportes estudantis adiantou o nosso jogo para amanhã no mesmo horário. – Ele começou, agora nos fitando. – Não vamos mais ter o tempo que tínhamos antes para treinar, então eu peço que assim que as aulas acabarem que todos vocês venham para o campo, por que o treinamento hoje será árduo e revisaremos o nosso esquema de jogo.

- Mas por que eles adiantaram o jogo? – Perguntei.

- Eles disseram que na quarta iram cobrir o jogo da escola do Leste.

- Mas o nosso jogo estava marcado desde a semana retrasada! – Exclamou Suigetsu, ao lado de Naruto. – Tem alguma coisa estranha nisso.

- Bom, eu não quero acusar ninguém sem provas, então peço que não levante falsas acusações, Hokuzi.

- Mas treinador, está na cara que tem dedo dos Taka – pronunciou Naruto. – Eles não admitem a derrota que sofreram ano passado e querem vingança.

- Uzumaki, todos aqui sabemos que eles não saíram satisfeitos no último jogo – disse o técnico. – O que temos que fazer agora não é chorar pelos cantos e sim nos esforçarmos o máximo e ganharmos esse jogo.

O técnico Guy falou mais algumas coisas e terminou quando o sinal do término do intervalo soou. Bom, se aqueles vacilões querem levar a vantagem, então eles vão ter uma surpresinha.

. . .

Mais tarde naquele dia depois de um treinamento intenso e de rever nossos passes para amanhã, eu estava jogado em minha cama, cansado, com sono e ansioso por amanhã. Ouvia a rádio do colégio pelo aplicativo que a escola disponibilizou no começo do ano, estava na programação da noite de Sakura, ela havia dito que estava substituindo alguém naquela noite.

Lembrei-me da falta que senti daquele final de semana sem vê-la, do jeito frio que ela me tratava e de minha frustração por ter me segurado para não provocá-la. E agora ali sozinho naquele quarto, ouvindo sua voz soar pelo meu celular eu resolvi ceder a meus caprichos e por que não provocá-la só um pouquinho.

Um pouquinho.

Esperei um pouco antes da música que estava tocando acabar e liguei para o telefone da rádio, estava chamando e eu me via ansioso até que...

- Alô?

Foi inevitável evitar o sorriso se abrir na minha boca quando ouvi sua voz animada do outro lado da linha.

- Alô.

- Com quem falo?

- Sasuke.

Uma pausa se formou a seguir e eu esperei pacientemente para ver seu próximo passo.

- Ah... Sasuke – sua voz não era tão animada quando estava a segundos atrás, mas ela estava simpática. - Qual a música que você deseja?

Eu tinha vontade de rir, tinha vontade de correr até aquela rádio e ver seu rosto vermelho e os foguinhos saindo de seus olhos.

- Eu quero escutar You're Crazy do Guns'n Roses – respondi, comprimindo meus lábios.

- Ok, providenciarei sua música em breve...

- Espera, espera – a interrompi, e fiquei sentado na minha cama -, eu queria dedicar essa música a alguém.

Outra pausa.

- Tudo bem... pode falar.

- Quero dedicar essa música a uma garota de cabelos diferenciados, que apesar de sua indiferença comigo, eu quero que ela saiba que eu não guardo rancor e que sou sempre dado a segundas chances.

Agora eu sorria aberto, imaginando sua reação, sabia que ela estaria puta comigo agora, e isso me animou. Me deu vontade até de comer.

- Ok – sua voz saiu entredentes, eu podia ouvir. – Em instantes sua música será tocada.

- Obrigado.

Desliguei e voltei a deitar na cama, rindo comigo mesmo e da minha infantilidade. Voltei para o App da rádio e dois minutos depois You're Crazy do Guns'n Roses saia pela caixinha de som do meu celular.

E não tinha nada melhor do que provocá-la.