Capítulo 10 - Amigos
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Sasuke
Eu caminhava a passos lentos pelo corredor quase vazio, indo em direção as salas de aula. Não havia assistido a aula de física, pois dei preferência a minha preguiça e ficar na cama um pouco mais. Havia ido dormir a madrugada, não que eu tivesse preambulando pela escola, pois era proibido depois do toque de recolher, mas havia perdido o sono. Achava pouco injusto a direção não dar uma festinha de comemoração pela vitória daquela rodada da intercolegial, levando a escola a um outro patamar para competir a final. E era graças a mim que o nosso time não sabia o que era perder por dois anos, e não querendo me gabar, eu era o melhor jogador e capitão daquela porra.
E por falar em jogo, a competição de ontem havia sido acirrada, aqueles idiotas do colégio Taka estavam preparados daquela vez e foi por isso que tivemos um pouco de trabalho para vencermos. Mas no final acabamos ganhando e eu tive o prazer de fazer o último gol e sentir o gosto da vitória vendo a cara de bosta do adversário. Não existia coisa melhor, principalmente a do vacilão do Akasuna.
Ainda me sentia pouco emputecido por aquela hora quando o vi conversando com a flor. Não sabia explicar o que eu senti exatamente naquele momento, a raiva era o único sentimento que identifiquei na hora, consumindo todo o meu corpo. Aquele cara era um vacilão do caralho, estudei com ele os dois últimos anos do fundamental antes de ele ser transferido para uma outra escola. E posso dizer que nunca nos damos bem, não vou alegar que sou algum tipo de santo, pois nunca fui. Sempre me envolvi com meninas desde cedo e nunca as iludi, deixando sempre claro que não me relacionava com ninguém. Não me achava um cara de uma garota só, me considero um cara de todas. Mas ainda assim sempre havia algumas iludidas que depois de uma trepada pensava que já era, a minha dona.
A raiva que eu sentia do Akasuna era que sempre pegava as minhas sobras e seu jeito todo galanteador barato difamava o meu jeito cafajeste. Enquanto ele era o principezinho eu era um babaca sem coração e algumas coisas a mais. Mas o fato que diferenciava nós dois por sermos tudo farinha do mesmo saco, era que ele não jogava limpo em suas relações. Sempre bancava o bom moço na frente delas só para levá-las para cama e quando não conseguia essa proeza difamava as minas, dizendo coisas que não haviam acontecido. Eu odiava esse tipo de gente e era por essa razão que havia ficado puto quando vi que a flor estava caindo na lábia daquele babaca. O jeito descontraído que ela conversava com ele não havia me agradado enquanto a mim ela tratava com repulsa.
Eu fiquei um bom tempo processando sua esculachada para comigo naquela hora. Sakura não gostava de mim e havia deixado isso claro com todas as letras, e isso meio que me deixou surpreso, mais do que deveria. Sentia um incômodo desconfortante com suas palavras duras cuspida na minha cara, aquilo ficou martelando em minha cabeça. Porra, eu não havia feito nada para ela me odiar daquele jeito, não ainda.
Eu lembrava perfeitamente de seus olhos verdes brilhando raivosos, ela não estava para brincadeira. Naquele momento a minha ficha havia caído e percebi que Sakura era diferente e nada igual a esses abutres, ela tinha seu amor próprio. Eu estava enganado por pensar que ela só estava se fazendo de rogada, mas aos poucos que a conhecia eu percebia que ela não era nada do que imaginava.
E esses pensamentos ficou martelando em minha mente até o momento quando Karin me agarrou no campo depois de nossa vitória e me beijou. Confesso que retribuiu com muito agrado, me atrevendo a passar minha mão em partes inadequadas, trazendo seu quadril de encontro ao meu. Naquele momento eu queria levar Karin para um lugar reservado e deixar rolar aquela putaria, pois eu queria desesperadamente arrancar aquela sensação incômoda em meu peito. E como se fosse uma espécie de maldição, quanto mais eu beijava Karin, mais a imagem da flor de cerejeira tomava conta de meus pensamentos, fazendo-me soltar Karin bruscamente e observar aquela ruiva pecaminosa me fitar confusa. E naquele momento eu queria que Karin fosse a Sakura
Mas que merda.
Abri meu armário para pegar o livro da próxima aula que seria daqui a alguns minutos e três garotas do segundo ano passaram correndo por mim, me cumprimentando com sorrisinhos maliciosos, apenas acenei para elas. Abutres. Eu comi todas as três antes de começar o outono.
- Oi, Sasuke.
Virei meu corpo para trás dando de cara com uma garota de cabelos escuros e longos, que sorria para mim, colocando uma mecha de seu cabelo para detrás de sua orelha.
- Oi... – tentei lembrar seu nome, fechei a porta do meu armário.
- Kim – ela respondeu para minha pequena amnésia. – Meu nome é Kim.
- Kim – sorri daquele jeito que sabia que deixava uma garota louca. – Então Kim, estou um pouco atrasado agora, tenho que entrar na sala.
- Ah, tudo bem... digo, eu só queria saber se você tem par para o baile.
Apenas arqueei as sobrancelhas com aquela abordagem, pois o baile seria a alguns meses. Aquela lá estava bem adiantada.
- Não pensei sobre isso ainda – respondi.
- Não?
- Para falar a verdade, gata, nem sei se eu vou. – E pisquei para ela, e a deixei para trás quando o sinal para a troca de matérias soou pelo corredor.
Tola.
Esperei ao lado da porta da minha sala se abrir e Kakashi sair por ela, me viu ali parado e arqueou as sobrancelhas daquele jeito calmo e sem importância.
- Acabou de perder um teste valendo dois pontos, senhor Uchiha.
Mas que porra, teste surpresa justo no dia que resolvo matar aula. Mas não seria uns pontinhos que iriam me abalar, já que não tinha problemas com minhas notas, sou muito bom em física.
- Fazer o que, não é? A vida segue.
Kakashi balançou a cabeça para os lados.
- Se fizer isso na prova, nem venha pedir uma segunda avaliação por que não terá.
Kakashi era o melhor amigo do meu irmão Obito, estudaram juntos nesse colégio quando o diretor era o velho Hiruzen. Lembro que ele sempre ia os finais de semana lá para casa para jogar videogame com meu irmão e eu ainda guri batia na porta querendo entrar e eles não permitiam a entrada de crianças catarrentas, segundo eles para comigo. Então apesar de os anos terem se passado e ele passar de melhor amigo de meu irmão para meu professor, não havia perdido aquela intimidade que contribuía a conversas informais e descontraídas.
Sorri, despreocupadamente.
- Não sou tão idiota assim.
Ele apenas suspirou cansado e atravessou o portal, passando por mim.
- Parabéns por aquele gol.
- Valeu.
Entrei na sala e foi inevitável que os olhares pairassem sobre mim, apenas ignorei e fui para o meu lugar ao lado da flor. Ela me notou e revirou os olhos, ficando de pé, dando passagem para eu sentar no meu lugar no canto.
Eu abri um meio sorriso em agradecimento a ela, com aquele tom de segundas intensões, mas ela apenas me ignorou, voltando a sentar em sua cadeira e folheando as páginas de seu caderno. Por um segundo eu desviei minha atenção para meus amigos, eles me fitavam atentos. Voltei minha atenção para a flor enquanto abria minha mochila e tirava meu caderno para fora, sentindo o cheiro adocicado que vinha de seus cabelos que estavam soltos.
- Bom dia, flor de cerejeira.
Ela não me respondeu, continuando com seus olhos fixos em seu caderno. Sorri ainda mais e peguei uma mecha de seu cabelo, sentindo o quanto eles eram macios.
- Ei, flor...
Fui interrompido com um tapa em minha mão, fazendo soltar o seu cabelo, o cenho franzido enquanto me fitava.
- Você para! – Sua voz havia saído lenta e entredentes, parecia irritada.
- Você não respondeu o meu bom dia – e tentei ignorar o quanto aquele seu gesto e seu olhar atravessado havia me incomodado.
- Bom dia – ela respondeu curta e grossa, sem me olhar.
- Estamos evoluindo, e ficará melhor se você olhar para mim.
E ela olhou para mim, e não foi um olhar nada amigável, a boca crispada.
- Garoto, você não tem vergonha na cara não? Depois de tudo que eu te falei ontem, no mínimo era para você ficar uns três anos sem olhar na minha cara.
- Só estava tentando ser educado – respondi inocente.
Ela bufou, revirando os olhos.
- Fala sério.
E quando ela fez menção em voltar sua atenção para frente eu segurei o seu braço num reflexo.
- Espera!
Ela me olhou como se fosse me jogar pela janela, tirei minha mão de seu braço, agora tendo toda a sua atenção para mim.
- O que foi?
- Foi mal – eu agora não sorria mais, seus olhos verdes faziam algo ficar agitado dentro de mim. – Eu só queria falar sobre o trabalho que temos a fazer, para ser entregue essa semana.
Ela pareceu surpresa com aquele detalhe.
- O trabalho – murmurou, e aposto meu violão de que ela tinha se esquecido.
- Você esqueceu.
- Claro que não.
Esqueceu.
- Estava pensando em fazer esse trabalho hoje lá no meu quarto.
Ela franziu o cenho, assustada.
- No seu quarto? – E riu incrédula. – Impossível.
- Por que não?
- Por que não – retrucou, irritada agora. – Se você não percebeu, tem a biblioteca e vários outros lugares para fazer esse trabalho do que o seu quarto.
Que merda!
Como essa garota era cabeça dura, sabia que isso não seria fácil, eu tinha que tentar uma outra abordagem para convencê-la.
- Isso não vai rolar.
- Não? – E ergueu as sobrancelhas, meio que debochada agora. – Se você não percebeu, essa escola é enorme.
Neguei com a cabeça balançando para os lados.
- Vamos ser interrompidos. Você é nova por aqui, não conhece como é o esquema de fofocas, sem contar o jornal. – Agora vinha a minha cartada final. – Não vai querer a sua cara estampada na capa jornal com uma fofoca sobre você e eu outra vez, quer?
Sakura pareceu pensar por um momento, e pela sua cara eu sabia que estava conseguindo, só precisava de um empurrãozinho.
- Pensando por esse lado – murmurou, e me olhou desconfiada. – Que eu saiba a ala masculina é proibida para garotas.
- Ninguém dessa escola obedece essa regra estupida, se você entrar na ala masculina vai encontrar um monte de garotas por ali.
- Eu não sei – só mais um pouco. – Não acho correto fazer o trabalho no seu quarto que provavelmente você o use como um santuário de orgia.
- Assim você me ofende. Não sou tão canalha assim.
Como ela podia pensar aquelas coisas de mim? Poxa, eu sei que não sou um santo, mas uma coisa que nunca levava era garotas para o meu quarto, as putarias rolavam no quarto das meninas.
- Jura? – Seu tom era debochado.
- Olha, eu prometo que vou me comportar. – E recebi seu olhar desconfiado novamente. – É sério.
- Se você quer tanto fazer o trabalho em um quarto vamos fazer no meu então.
- Não vai dar.
E novamente o vinco estava no meio entre suas sobrancelhas.
- Por que não?
- É que... – cocei a cabeça, fazendo uma careta. – Na verdade metade das meninas ali me odeia agora, e eu estou... você sabe, sua tia não é minha fã e mais um deslize estarei cancelado.
Prendi a respiração, sentindo o olhar desconfiado de Sakura analisar todo o meu rosto.
- Tudo bem então.
- O quê? - Meus olhos arregalaram. Será que eu ouvi direito?
- Eu disse, tudo bem, Sasuke, vamos fazer o trabalho no seu quarto.
- Você vai mesmo? – Perguntei, não estava acreditando que a convenci.
- Vou – respondeu agora calma, e algo dentro de mim alertou-me para desconfiar. – As quinze horas está bom para você?
Sorri.
- Está ótimo.
– Ok. Agora, fique quieto e não me perturbe, o professor acabou de chegar.
Ela voltou sua atenção para frente ao mesmo tempo que o vacilão do Ibiki entrava na sala, mandando todos se calar. Sakura escrevia no caderno o que o professor passava no quadro, e nenhuma vez olhou para mim e nem questionou.
Aquilo havia sido fácil demais.
. . .
Eu estava arrumando a bagunça que estava no meu quarto, parecia um chiqueiro de porcos do que um quarto. Eu não era uma pessoa bagunceira, geralmente sou bem organizado, mas quando se tem um Naruto como colega de quarto era praticamente a mesma coisa do que dividir o espaço com uma criança de dois anos. Naruto era extremamente desorganizado, deixava tudo jogado pelo chão. No começo eu só faltava ter um treco de tanto que reclamava com aquele idiota, mas agora depois de dois anos dividindo o mesmo ambiente que ele, acabei me deixando ser relaxado e contribuía para aquela bagunça.
Arrumei as duas camas e agora estava com um saco de lixo catando um monte de papel de salgadinho, copo de suco, garrafinhas de água, latinhas de refrigerante e uma caixa vazia de pizza debaixo da cama do Naruto. E não podia deixar de mencionar a quantidade de roupas sujas pelo chão, cuecas e meias jogadas em cima do computador e minha roupa suja do jogo de ontem enrolada num canto perto da porta do banheiro. Eu ainda estava impressionado por ainda não ter dado bicho dentro daquele quarto, pois a situação estava foda.
Estava passando o pano por cima da mesa de estudos – aquilo estava podre de poeira e gorduroso com réstia de comida – quando Naruto entrou no quarto.
- Eita – ele disse, parando no portal, observando todo o quarto com os olhos arregalados. – Acho que entrei no quarto errado.
Sorri, sem me virar para ele, só de pensar que a Sakura estaria daqui a pouco aqui me deixava animado.
- O que você fez aqui? – Ele perguntou agora adentrando o quarto e fechando a porta.
- Arrumando essa bagunça.
- Não sei para quê gastar o seu tempo com isso se vai sujar tudo de novo – e se jogou em sua cama que eu havia arrumado.
Virei meu corpo para aquele folgado que estava largadão em cima da cama, e qualquer vestígio de humor que eu sentia havia ido para o espaço com aquele idiota.
- Que merda, Naruto, está bagunçando a cama que eu arrumei, seu idiota!
- Que estresse, cara, não sei por que perdeu seu tempo arrumando isso.
- Por que a flor vai vir aqui fazer o trabalho de história, imbecil – franzi o cenho.
- Flor? – Perguntou, com a expressão confusa.
Bufei irritado, revirando os olhos.
- A Sakura, cabeção – expliquei. – Ela vai vir aqui para fazermos o trabalho juntos.
- Ah – e depois riu colocando a mão na nuca. – Eu havia me esquecido desse trabalho – e depois fez uma careta. – Acho que tenho que falar com o Gaara.
Revirei os olhos e voltei para a mesa de estudos, colocando os objetos que eu havia tirado no lugar.
- Acho que o Gaara não vai ficar muito satisfeito quando souber que está de chamego com a melhor amiga da namorada dele.
- Ele me abordou na segunda e disse para eu ficar longe da Sakura – respondi.
- Mano, na moral, eu até posso entender o Gaara, você sempre fode com os relacionamentos dele.
E desta vez me virei para ele.
- Como se você nunca tivesse ferrado também.
Naruto era como a eu antes de ele começar a namorar a Hinata, um verdadeiro filho da puta. Gaara que era diferente, sempre gostou de ter relacionamentos sérios e passava meses na fossa quando eu ou Naruto ferrava com suas relações, engraçando com as amiguinhas de sua mina.
- Mas isso são águas passadas – disse Naruto. – Agora eu sou fiel a uma mulher só.
Eu suspirei, encostando-me na mesa de estudos e fitei o chão.
- Eu tentei – murmurei e fechei os olhos. – Eu juro que tentei ficar longe dela, mas eu não sei, é mais forte do que eu. – Abri os olhos, e vi que ele me observava. – A ansiedade que sinto para estar perto dela é mais forte do que eu. Talvez isso passe quando eu ficar com ela.
Era isso que eu esperava.
- E se não passar?
- Isso tem que passar, e vai passar – meu tom saiu convicto.
Naruto apenas riu, balançando a cabeça para os lados.
- Você está sentindo a mesma coisa que eu senti antes de ficar com a Hinata...
- Para! – Franzi as sobrancelhas.
- E quer saber de uma coisa? Isso não vai passar.
- O que sinto pela Sakura é só atração física.
- Se fosse só atração física não estaria aí arrumando o quarto e apelidando a garota de flor.
Revirei os olhos.
- Tsc.
- Mas mesmo assim, não concordo com o que você quer fazer com a garota – e depois ficou sério, e se pondo de pé. – A Sakura é gente fina, ela não merece isso.
- Não se meta nos meus assuntos – franzi as sobrancelhas, desencostando-me da mesa. – Nunca me meti nos seus e muito menos nos do Gaara.
- Tudo bem – ele levantou as mãos para cima, se dando por vencido. – Eu só dei minha opinião.
- Não preciso dela.
- Ok – e caminhou para fora do quarto. – Vou atrás do Gaara fazer o trabalho – e abriu a porta. – Oi Sakura.
E naquele momento senti meu corpo travar e meu coração falhar uma batida quando ouvi o nome da flor. Uma onda de felicidade havia me atingido em cheio, mas eu tinha que me controlar.
- Oi, Naruto – sua voz era amigável, diferente do tom que ela usava comigo.
Deixei o pano que estava na minha mão num cantinho e virei meu corpo para frente e meus olhos pousaram em Sakura e fiquei surpreso com que vi. Eu senti uma vontade enorme de gargalhar, mas contive aquele desejo desesperadamente e nossos olhares se encontraram.
Sakura usava um pijama xadrez uns dois números maiores do que ela usava e chinelos nos pés. Os cabelos estavam presos em um coque alto e bagunçado, seu rosto sem nenhum grama de maquiagem, totalmente natural.
Ela abriu um sorriso cínico e me cumprimentou num tom simpático totalmente falso.
- Olá, Sasuke.
Eu apenas continuei parado, observando todo o seu perfil e o curvar de sua boca para cima. Então era isso que ela estava planejando? Se fazendo de baranga para que eu possivelmente perdesse o interesse? Meu Deus, aquela garota era demais! Era primeira vez que uma garota ficava feia de propósito para eu perder o interesse, mas aquele planinho havia ido por água abaixo, pois ela não tinha ideia o quão bonita ela era sem aquela maquiagem. Era a primeira vez que a vejo assim, e confesso que aquilo só me deixou mais fascinado, eu a queria desesperadamente agora.
Podia senti os cantos de minha boca se erguerem para cima num largo sorriso e me aproximei dela.
- Você está incrível, flor, adorei o seu pijama.
E o sorriso que estava em seus lábios rosados naturalmente desapareceu, e uma expressão incrédula se formou em seu rosto. Eu quis gargalhar, mas me contive. Por mais que ela tente ficar feia era impossível, pois ela tinha uma beleza natural incrível, e estava mais convicto agora em conquistá-la.
Aquela garota ainda iria ser minha.
Naruto apenas soltou uma risada, olhando de mim para flor enquanto balançava a cabeça para os lados.
- Vocês dois são bem engraçados.
Sakura desviou seus olhos verdes como uma pedra esmeralda para Naruto que acenava e saía do quarto nos deixando sozinhos. Ela bufou e eu me senti de alguma forma nervoso por estar sozinho no quarto com ela. Eu tinha que controlar o meu impulso para não agarra-la, mas estava difícil.
Maldito hormônios masculinos.
Sakura adentrou um pouco mais o quarto e fechou a porta e depois olhou para mim, eu estava de frente para ela.
- Vamos logo começar esse trabalho para terminarmos logo. – Ela disse, quebrando aquele silêncio.
Dei três passos para sua frente.
- É tão ruim assim ficar no mesmo ambiente que eu?
- Eu só quero terminar isso logo – e deu dois passos para trás. – Você está ultrapassando o meu espaço pessoal.
Umedeci meus lábios com a ponta da minha língua, meus olhos fitando os seus verdes e brilhantes.
- Eu não mordo, flor.
Dei mais outro passo para sua frente e ela de mais outro para trás, percebendo agora a porta nas suas costas. Sorri malicioso e percebi que ela estava na defensiva mais uma vez.
- Você disse que iria se comportar – e travou meus passos com sua mão espalmada em meu peito, o cenho franzido agora. – Não está cumprindo o que prometeu.
- Só um pouquinho – murmurei manhoso, espalmando minha mão na porta ao lado de sua cabeça.
Ela franziu mais as sobrancelhas.
- É sério, Sasuke!
E seu braço que estava esticado com sua mão espalmada em meu peito dobrou quando dei mais outro passo, a encurralando de vez entre a porta e o meu corpo. E essa foi a última visão que eu tive, pois o que aconteceu a seguir foi rápido demais para eu poder conseguir processar. Um segundo eu estava a encurralando e no outro segundo era eu que estava encurralado, e não era no sentido excitante e sim no sentido desconfortável. Eu estava com o corpo e a cara sendo esmagados contra a porta, enquanto Sakura estava atrás de mim imobilizando meu braço nas minhas costas e sua outra mão em minha cabeça, me empurrando ainda mais contra a porta, amassando a minha cara.
Como?
Sem eu ao menos perceber, Sakura havia usado um golpe de lutador para cima de mim como se fosse brincadeira de criança, me pegando de surpresa e totalmente desprevenido. Eu me sentia pouco desorientado devido a pancada na cabeça, e por um momento enxerguei embaçado e meu coração estava acelerado com aquela adrenalina. Como aquela garota com uma estatura baixa e pouco peso - praticamente frágil - tinha aquilo tudo de força para imobilizar um cara como eu?
Quem era aquela garota afinal?
- Você vai parar com a palhaçada agora ou vou ter que usar a força para você entender que eu não quero nada com você? – Sua voz era baixa e fria e bem ameaçadora.
Minha respiração era ofegante, tentei me soltar de sua imobilização, mas não consegui.
- T-tá, sem brin... brincadeiras – eu disse com dificuldade, já que minha cara estava imprensado contra a porta e sua mão machucando o lado do meu rosto.
Sakura deu mais um empurrão forte contra a porta, e não consegui segurar um gemido de dor escapar por minha boca. Ela me soltou e se afastou vários passos para trás. Virei meu corpo para frente, as costas contra a porta e fitei aquela garota baixinha pouco assustado.
Caralho!
Meu coração estava batendo desenfreado e meu corpo estava trêmulo. Sakura estava me saindo uma caixinha de surpresas, quando mais a conhecia, mais eu me impressionava com que ela deixava escapar. Eu nunca sabia qual era o seu próximo passo, tentava desvendar, mas ela sempre acabava me surpreendendo, como que aconteceu agora.
Abri minha boca para dizer algo, mas acabei fechando novamente, não conseguia emitir nenhum som.
Eu estava chocado.
Ela ergueu os olhos para mim, o cenho franzido e depois suspirou, fechando os olhos, passando a mão em seu rosto. Ela parecia agitada, enquanto respirava rápido. E quando ela voltou a me olhar novamente, os seus olhos estavam indicando arrependimento.
- Olha... me desculpe... Droga! – Praguejou baixinho e se aproximou de mim, sua atenção agora num ponto em meu rosto. – Você está sangrando!
Sua última frase me despertou de meu transe e comecei a reagir. Levei minha mão a ardência em minha sobrancelha e depois fitei meus dedos manchados de sangue.
- Eu estou sangrando!
Sakura se aproximou mais e observou mais de perto meu machucando, praguejou baixinho antes de agarrar meu braço e me puxar até minha cama, obrigando-me a sentar. Eu simplesmente deixei ser guiado por ela sem dizer uma única palavra, observando com detalhe sua próxima reação e sentindo aquele frio no meu estômago se intensificar.
- Tsc – e bufou, me olhando. - A culpa é sua por ficar agindo com a cabeça de baixo.
- Desculpe – murmurei, observando suas expressões mudar drasticamente de irritada para preocupada.
Sakura olhou para os lados, parecia procurar alguma coisa.
- Aonde tem alguma coisa para poder limpar esse sangue?
Ela estava preocupada comigo? Eu não sabia o que pensar, mas aquilo de alguma forma havia mexido comigo.
- Não precisa se preocupar com isso...
- Onde? – Ela me interrompeu, agora me fitando severa.
Tranquei.
- No armário do banheiro.
Em instantes ela deixou sua mochila ao lado de minha cama e saído do meu campo de visão e quando voltou para o quarto trazia uma garrafa de soro, algodão e Band-Aid depositando tudo ao meu lado na cama.
- É sério, não precisa fazer isso...
- Sasuke, dá para você calar a boca? – Ela reclamou enquanto molhava o algodão com soro para em seguida começar a limpar o sangue que escorria em meu rosto.
Eu não conseguia ignorar o fato de que ela estava muito próxima de mim, a sua perna no meio das minhas e a minha no meio das suas. Seu rosto estava muito perto e eu não parava de olhar para a sua boca, pensando em mil e uma coisas do que aquela boquinha poderia fazer em mim. Sakura parecia alheia aquele detalhe, concentrada em tratar com todo detalhe e delicadeza meu machucado, me senti um depravado.
- Ai.
- Desculpa.
- Não precisa se desculpar – declarei fazendo seu olhar descer para mim.
- Você me irrita de um jeito que acaba fazendo eu agir por impulso – e voltou sua atenção ao meu machucado. – Isso não podia ter acontecido.
- A culpa foi minha. Eu disse a você que iria me comportar, mas acabei me precipitando.
Ela afastou-se de mim e me olhou, séria.
- A culpa é realmente sua – direta e grossa. – Você acha que eu sou uma vadia que abre as pernas para qualquer um, não é?
- Eu nunca disse que você é uma vadia.
Levei minha mão ao machucado e senti o Band-Aid, nem percebi quando ela colocou.
- A sua atitude faz parecer que sim. – Não tive resposta para aquilo. – Vamos começar esse trabalho logo.
. . .
Posso dizer que não perturbei mais a Sakura e agi como um cordeirinho sossegado depois de minha burrada. Pedi desculpas novamente e ela como resposta quase me fez engolir um lápis se eu não parasse de me desculpar toda hora. E assim depois de algumas horas terminamos o trabalho de história, que apesar de Sakura ainda agir na defensiva comigo o assunto da matéria fluía entre a gente e percebi o quanto ela ficava surpresa toda vez quando eu demonstrava um pouco da minha inteligência. Mas mesmo assim não fazia ela abaixar o seu muro protetor e ainda estava bem acanhada comigo e eu não a culpava. Fui um idiota.
Ela estava arrumando suas coisas dentro da mochila, as horas haviam passado rápido e podia ver o céu começando a escurecer lá fora. Eu não queria que a Sakura fosse embora, queria mais tempo com ela, mas logo tive uma ideia.
- Você está com fome, flor? – Perguntei, observando suas costas enquanto ela fechava sua mochila.
- Não.
E na mesma hora o seu estômago roncou contradizendo a sua resposta negativa.
Eu ri e me aproximei, vendo suas bochechas ficarem vermelhas, agarrei sua mão e a puxei em direção a porta.
- Vamos, eu estou com fome e você também está.
- Sasuke, a minha mochila...
- Deixa aí, depois você pega – abri a porta e a puxei para o corredor que por um milagre estava vazio.
- Ei!
- Vamos logo antes que alguém nos vê aqui – e virei-me para ela. – Você não vai querer isso, vai?
Ela franziu as sobrancelhas e olhou para os lados.
- Dá para você soltar a minha mão?
Eu soltei, e juntos seguimos até o refeitório com ela bufando contragosto ao meu lado, mas apenas ignorei aquele detalhe. Eu sentia uma sensação diferente e totalmente irritante, de alguma forma me incomodava e me deixava bolado as vezes por não saber distinguir aquilo. Eu sabia que Sakura não era uma vadia como ela pensa que eu achava. A minha ignorância havia me proibido de enxergar a garota incrível que Sakura era, totalmente diferente das outras que eu me divertia.
E mesmo sendo essa garota incrível eu também havia percebido que ela estava escondendo algo. Ela havia me odiado assim que me viu, parecia que conhecia esse meu tipo de cara, chutava que alguém bem canalha havia a magoado. E só de pensar nisso me deixava bolado, mas eu não podia me precipitar, pois ela era só uma garota. E eu não quero ferrar com tudo.
Chegamos juntos ao refeitório praticamente vazio, pois havia poucos alunos ali, e os poucos estavam com suas butucas ligadas observando minha entrada com Sakura. Assim que pegamos o nosso lanche fomos para uma mesa vazia perto de alguns garotos do time. Os idiotas estavam cochichando e rindo de mim por eu estar com a Sakura, o lance do jornal havia atiçado a curiosidade de todos se eu pegava ou não a sobrinha da diretora.
Segurei o braço de Sakura que estava quase se sentando e a puxei para o mais longe deles, não queria que ela ficasse ouvido as piadinhas que eles estavam dizendo.
- Ei, por que você está me puxando desse jeito? – Ela estava irritada, tentando equilibrar as coisas na bandeja enquanto seu braço era puxado por mim.
- Aquela mesa ali é muito ruim, vai por mim é muito ruim. – Dei uma desculpa esfarrapada e ela não questionou mais e me seguiu.
Sentamos numa mesa mais afastada daqueles vacilões e as risadas altas deles indicavam que nós dois era o assunto comentado. E pela primeira vez eu me senti envergonhado por meu comportamento, mas quando vi a cara irritada de Sakura por termos mudado de lugar o meu humor animado voltou novamente.
Abri minha latinha de Coca-Cola e senti uma boca colar em minha bochecha, depositando um beijo estalado. Virei meu rosto para o lado vendo Samui, uma das amigas de Karin sorrindo para mim.
- Oi, Sasuke.
- Oi – retribui o sorriso e pisquei para ela vendo-a se afastar de mim em direção a saída do refeitório.
Voltei minha atenção para Sakura a minha frente e seu olhar de desprezo me pegou de surpresa. O jeito carinhoso que eu era tratado por aquela garota a tinha deixado irritada. Pensando bem, acho que eu a irritava sem ao menos perceber.
Droga, eu não tinha culpa se eu era o cara mais delicioso da escola e que todas as garotas morriam por mim. Eu merecia um desconto, não é?
- Você é bem popular com as garotas. – Ela comentou, desviando seus olhos para seu sanduíche, o desembrulhando.
Espera! Ela estava com ciúmes? Acho que não. Ou será a forma que eu tratava as garotas que seria broxante? Merda, essa garota estava fazendo minha cabeça girar em 360° graus, e pelo pouco que a conheço talvez seja a segunda opção.
Apoiei meus cotovelos sobre a mesa com os dedos das mãos entrelaçados sob minha boca, era uma forma que havia achado para ela não perceber o quando ela me afetava.
- Então, flor, me diz a verdade, por que me odeia tanto?
Ela deu uma mordida generosa no seu sanduíche e bebeu um pouco de seu suco antes de responder:
- Não é que eu te odeie, eu só não gosto de você.
Ai.
- Se você não gostasse de mim, não estaria aqui comigo no refeitório.
Ela revirou os olhos e o vínculo entre suas sobrancelhas suavizou e o seu corpo relaxou. A minha abordagem havia dado certo.
- Deixa de ser ridículo, você praticamente me arrastou até aqui, o que condiz que eu não queria está aqui com você. – E em seguida suspirou, tomando mais outro gole de seu suco. – Olha, eu não estou falando que você é uma pessoa ruim, eu só não gosto do jeito como você me trata pelo simples fato de eu ser a "carne nova".
Senti meus olhos arregalarem e o que tenha acontecido comigo eu não consegui me conter. Tentei segurar um riso, mas fracassei miseravelmente e soltei a gargalhada com a forma que ela se próprio denominou. Eu ri tanto como eu nunca tinha rido antes, e ri mais ainda por ela não me achar um babaca afinal de contas, só não gostava do jeito que eu a tratava. Podia sentir o alívio tomar conta do meu corpo e uma ponta de esperança surgir diante daquele entulho todo.
- Ai garota, assim eu não te aguento – e ri mais um pouco. – Nós precisamos ser amigos e não aceito um não como resposta.
Ela apenas deu de ombros.
- Não me importo de sermos amigos, só não gosto do fato de você querer me levar para cama a cada cinco minutos, isso é desconfortável.
- Está certo, eu não vou te levar para a minha cama – assenti com a cabeça, sorrindo. Estendi a mão para ela. – Amigos?
Ela olhou para a minha mão estendida e depois olhou para minha cara, com minha mudança súbita.
- Você não vai dar mais em cima de mim? – Ela perguntou apertando os olhos, desconfiada.
A minha mão que estava estendida se levantou para cima, em forma de juramento.
- Eu dou a minha palavra que a gente não vai transar, a menos que você queira.
Isso!
Ela ficou ainda me observando por um tempo para em seguida um sorriso se formar nos seus lábios e um mundo de possibilidades se abriu para mim. Minha cabeça estava em tempo de explodir e meu lado pilantra imaginando milhares de cenas eróticas que eu podia fazer com a flor. Mas como um lampejo, um lado novo meu que renascia, um lado regenerado, fazia aquelas cenas se dissiparem, trazendo um sentimento de delicadeza para não ferrar com aquela estranha amizade.
Estiquei novamente minha mão para ela e dessa vez ela apertou.
- Sendo assim então podemos ser amigos.
Aceito o desafio, baby. Retribui o sorriso.
- Então, flor, já que somos amigos, por que não me fala de você? – Perguntei animando dando um gole na minha Coca-Cola.
- Não tenho muito o que falar sobre mim.
- Como não? Sempre a coisas a serem descobertas – sorri. – Como por exemplo, aquele golpe que você me deu no meu quarto.
Ela pareceu desconfortável agora.
- Eu já te pedi desculpas.
- Eu sei, mas aonde aprendeu aquilo? – A minha curiosidade era tanta que aguçava a linha do meu raciocínio.
Sakura desviou seus olhos para o seu copo de suco.
- Eu... eu fiz aulas de autodefesa, qualquer um pode fazer aquilo.
Ela acreditava mesmo que eu engoliria aquela desculpa? O que tanto ela esconde afinal de contas?
- Aquilo não parecia ser um golpe de autodefesa, nenhuma garota normal faz isso que você fez.
Ela riu pouco nervosa e ergueu seus olhos verdes para mim, mudou de assunto.
- Então por que não me fala sobre você?
Garota espeta.
- Bom... sou o filho caçula de três irmãos...
- Você tem três irmãos? – Ela me interrompeu, surpresa com minha quantidade de irmãos.
Sorri e assenti com a cabeça.
- Obito é o mais velho, é policial e mora numa outra cidade, só vem para casa nos visitar de vez enquanto. Shisui é o segundo mais velho, ele trabalha na empresa com meu pai e meu avô, ele também não mora com a gente, mas está sempre nos finais de semana reunido com a família. E tem o Itachi, o terceiro mais velho, está cursando o segundo ano da faculdade de direito. Ele é o único que mora lá em casa, bem, tirando eu é claro que por conta da escola só apareço nos finais de semana.
- Deve ser legal ter irmãos e uma família grande.
- Mais ou menos. Nós brigávamos muito quando éramos pequenos e como eu era o menor era alvo de suas brincadeiras maldosas. Sou mais chegado ao Itachi dos meus três irmãos, acho que é pelo fato de sermos os mais novos que tenha nos unido mais, e por ele ser o mais besta de nós quatro.
Sakura sorria diante de meus relatos da minha família e gostei de saber que ela prestava atenção no que eu dizia.
- E a sua mãe?
E uma pontada me atingiu o estômago. Eu não tinha muitas lembranças de minha mãe, mas era estranho falar sobre ela. Eu evitava tocar nesse assunto, assim como todos os membros de minha família, era doloroso para todos.
- Ela morreu quando eu tinha cinco anos – minha voz saiu baixa.
E Sakura pareceu surpresa.
- Ah... me desculpe, eu não sabia.
Apenas sorri cansado.
- Não precisa se desculpar, faz muito tempo.
- Mas mesmo assim, você deve sentir muita falta dela.
E as risadas altas que soavam por todo o refeitório me fez olhar para o outro lado. Os imbecis estavam rindo de mim e eu tinha que me controlar para não ir lá e quebrar eles na porrada. Voltei minha atenção para Sakura, concentrando o máximo para que ela não percebesse.
- Não tenho muitas lembranças dela, eu era muito pequeno... – e parei de repente. – E você? Não me disse nada sobre você. O que te trouxe para esse colégio?
- Eu vim de Osaka que nem a Ino. – Eu podia sentir que ela media as palavras. – Vamos dizer que tive uns probleminhas aonde morava e consequentemente minha tia tem a minha tutela e vim morar aqui em Tóquio.
O que será que deve ter acontecido?
- E seus pais?
- Eles... a minha mãe não é um bom exemplo materno, vivia mais bêbada do que lúcida. Já o meu pai... é uma situação bastante complicada. Resumindo tudo, eu fui praticamente criada pelos pais da Ino.
- Você tem irmãos.
- Sou filha única.
E como imaginava, ela escondia algo e o jeito desconfortável que ela ficava quando tocava em sua vida em Osaka denunciava tudo.
E as risadas dos imbecis acabaram chamando sua atenção.
- Eles estão animados, não? – Comentou, desviando os olhos para mim.
Eu bufei, irritado com aqueles idiotas e o Kimimaru que estava no meio. Não suportava aquele babaca e a linha tênue de tolerância que existia entre nós estava a tempo de se romper.
Sakura desviou os olhos para eles novamente e franziu o cenho.
- Eles estão falando da gente?
- Esquece isso, flor.
- Me conta.
Neguei com a cabeça, não queria estragar aquele comecinho de amizade, e jogar fora todo o pregresso que tive.
- Sasuke! – Ela insistiu, seus olhos me fitando atentamente.
Apenas suspirei, e que se foda então.
- Eles estão rindo de eu está bancando o cavalheiro antes de...
- Antes de o quê?
Não consegui terminar a frase, e a forma como eu estava desconfortável com aquela situação fez sua ficha cair e seus olhos arregalarem e suas bochechas ficarem vermelhas de vergonha. Me encolhi esperando seu ataque de fúria para cima de mim, me xingando tudo quanto é nome.
- Ah... – e desviou os olhos para mesa. – Eu pensei que eles estavam debochando do meu pijama ridículo.
O quê?
- Não tem nada de errado com seu pijama – eu não estava entendendo mais nada.
Ela mordeu o lábio e desconversou, agora me olhando, as bochechas ainda rosadas.
- Onde nós estávamos?
- O seu sonho para o futuro? – Aceitei de bom grado sua troca de assunto. – O que quer ser quando crescer?
Ela relaxou na cadeira e deu uma outra mordida em seu sanduíche.
- Quero fazer medicina, sempre foi meu sonho.
- Tenho certeza que será uma ótima médica – e sorri abrindo a embalagem do meu sanduba. – Serei o seu paciente número um.
- Besta – e revirou os olhos, e sorriu contradizendo meus pensamentos que imaginava que ela iria ficar zangada. – E você, qual é os seus planos para o futuro?
- Minha opção era ser jogador profissional, entrar no time do Barcelona e ganhar o mundo – respondi depois que engoli o pedado de meu sanduíche. – Mas isso vai ter que ficar para uma outra vida.
- Por quê?
- Meu pai e meu avô querem que eu faça administração para cuidar dos negócios da família junto com Shisui. Já que nem Obito e nem Itachi seguiram os passos dos velhos, só o Shisui, agora cabe a mim ganhar esse posto.
- Isso é um pouco chato, alguém querer traçar o seu futuro e interromper seus sonhos.
- É – murmurei para mim mesmo.
Eu não tinha ideia de como era fácil conversar com a flor. Ela fazia os assuntos fluírem sem esforço algum, e me deixando a vontade para ser eu mesmo. Isso era tão... bom.
- Sasuke – ela chamou, me fazendo a olhar. – Eu queria te pedir desculpas por aquele dia na rádio.
- Esquece isso.
- Não, eu me arrependo muito de ter dito aquelas coisas, me desculpe, de verdade.
Apenas sorri, sentido algo estranho se aquecer dentro de mim.
- Isso já foi, e a culpa não é sua.
Ela retribuiu o sorriso, e estava bem relaxada depois que nos tornamos amigos. Eu não sabia aonde aquela história iria dar, mas uma coisa eu sabia, iria fazer de tudo para conservar aquela amizade.
. . .
Mais tarde naquele dia depois de Sakura ter voltado ao meu quarto para pegar sua mochila, eu fiquei mexendo no computador, e virei para trás vendo Naruto entrar no quarto com um sorriso na cara e isso queria dizer que estava com a Hinata.
- Você está com uma cara de babaca.
Ele me fitou com as sobrancelhas arqueadas, voltei minha atenção a tela do computador.
- Babaca? Você devia ter visto a sua cara de lesado quando a Sakura estava aqui. Mano, você até arrumou o quarto. O quarto! Pior era a Sakura que estava com uma cara de que se respirasse o mesmo ar que você pegaria uma doença.
Naruto jogou seus livros no chão e chutou para debaixo da cama e se jogou em cima dela em seguida.
- Você acha? – Perguntei, girando a cadeira de rodinhas para fitá-lo.
Eu não sabia que a Sakura estava tão zangada assim. Eu tinha mandado bem com ela e não me pareceu nenhum pouco zangada depois que viramos amigos.
O imbecil do meu amigo soltou uma risada debochada.
- A Sakura te odeia, cara. Esquece esse lance.
- A Sakura não me odeia e eu mandei bem com ela em nosso "encontro".
Naruto franziu o cenho e se sentou na cama.
- Que encontro?
Sorri.
- Não foi exatamente um encontro, eu só lanchei com ela no refeitório.
- Brow, é sério, a Sakura é gente boa – alertou, ficando com a expressão séria. – Vai ser muito vacilo você ficar brincando com a garota desse jeito.
Revirei os olhos, como se ele fosse algum tipo de santo.
- Não estou brincando com ela.
Ele me olhou confuso agora.
- Como não?
- Eu e flor somos amigos agora – e sorri de lado.
- Amigos? – E pareceu descrente. – Amigos? Sério? Amigos?
Franzi o cenho.
- Você está me irritando agora. O que tem de mal eu ser amigo dela?
E como resposta Naruto começou a gargalhar. Ele ria tanto que seu corpo todo tremia até ele cair da cama, mas isso não acessou seu ataque e continuou gargalhando no chão, rolando seu corpo quase todo para debaixo da cama.
- Não sei qual é a graça.
- Cara... – e riu mais um pouco, se levantando. – Eu conheço você tempo demais para saber que você não tem amigas. Não nesse sentido de amizade, se é que você me entende.
- Idiota.
Esse imbecil acha que sou tão depravado assim para não poder nem ao menos ter uma amiga sem conter malícia no meio? Bom, havia uma pequena quase nula malícia no meio... tá, eu admito, existe muita malícia de minha parte. Eu a queria sem sombra de dúvidas, mas de alguma forma eu também tinha gostado de nossa amizade estranha. Não queria ferrar com tudo, muito mais agora que descobri que ela não me odiava como eu pensava que odiava.
Desliguei o computador e levantei-me da cadeira, ignorando aquele asno ainda rindo e fui até o meu guarda-roupas pegando uma cueca limpa, marchei até o banheiro. Tirei minhas roupas e entrei no box passando a cortina e abrindo o registro do chuveiro, deixando a água cair em meu corpo e meus pensamentos foram todos direcionados a garota marrenta e cabelos cor-de-rosa.
Sakura me surpreendia em todas as formas e isso me fascinava. Ela era diferente de todas as garotas que conheci, ela era simplesmente demais!
Fechei o registro da água e saí do box me secando com a toalha para logo em seguida vestir minha cueca e escovar meus dentes. Não havia descido para jantar, estava sem fome devido o lanche que tive no final da tarde. Meu reflexo no espelho mostrava o Band-Aid colado no final da minha sobrancelha. Toquei o curativo com meus dedos, lembrando-me do golpe que Sakura havia dado em mim. Fui pego totalmente desprevenido, pois nenhuma garota fazia aquilo que Sakura fez, dar um golpe de lutador num cara bem maior do que ela.
Quando voltei para o quarto encontrei Naruto mexendo no celular enquanto soltava risadinhas bobas. Apenas revirei os olhos e me joguei em minha cama, pronto para dormir. Ele desligou as luzes e voltou a se deitar na cama com o aparelho ainda em mãos, aposto que estava conversando com a namorada, típico dele.
Conforme o tempo passava eu revirava de um lado para outro na cama, torcendo para que o dia amanhecesse logo. Estava ansioso para ver Sakura e ver se ela ainda me trataria como um imbecil ou não. Revirei-me novamente sem conseguir dormir enquanto minha mente trabalhava sem parar, projetando imagens minha e da flor de cerejeira no refeitório.
Porra!
Irritado levantei-me da cama e fui ao banheiro, voltei minutos depois e me joguei novamente na cama, procurando uma posição mais confortável para dormir, mas sem sucesso.
- Mas que porra, Sasuke! – Naruto reclamou acendendo a luz do abajur ao lado de sua cama para me olhar irritado. – Para de ficar se mexendo toda hora nessa cama como se tivesse algum formigueiro aí. Eu quero dormir, caralho.
Bufei, ficando de barriga para cima.
- Tsc.
Sentei-me na cama sentindo minhas costas doloridas, passei as duas mãos por meu rosto, tentando elevar aquela irritação com aquelas imagens na cabeça.
- O que você têm? – Ele perguntou. – Não consegue dormir?
- Hm.
Naruto me olhava e depois começou a rir.
- Ai, ai, é assim que começa, cara.
Tirei a mão da cara e olhei para ele franzindo minhas sobrancelhas.
- Começa o quê?
- Ah, sabe como é, né? Foi assim que eu ficava antes de perceber que eu estava com meus quatro pneus arriados pela Hinata.
- Vai tomar no cú – ralhei, irritado com aquela teoria estupida daquele imbecil.
Eu não estava apaixonado. Isso nunca iria acontecer. Nem que o mundo chovesse foice ou as vacas voassem, por que eu sou Sasuke Uchiha e eu nunca me apaixono.
- Não precisa dessa agressividade toda não, brow. – Ele riu mais, estava zombando de mim e aquilo me deixou mais puto.
- Qual a parte do tomar no cú você não entendeu?
Eu estava com muita raiva agora.
Raiva de Naruto por me deixar irritado com suas piadas sem escrúpulos. Raiva desse sono que não chegava logo, me deixando com dor de cabeça. Raiva da flor por não sair da minha cabeça, aquilo parecia uma maldição. E raiva de mim mesmo por ser tão imbecil por ficar pensando bobagens tolas como meus dois amigos apaixonadinho por suas namoradas.
Joguei o resto do meu corpo para trás na cama e fiquei de costas para aquele dobe que desligou a luz do abajur, escurecendo todo o quarto. Aos poucos, meu corpo foi relaxando para que enfim eu pudesse pegar naquele maldito sono.
