Capítulo 12 - Bafafá
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Sasuke
Quando acordei naquela manhã, senti uma ansiedade assustadora para ver a flor. Não entendia o que estava acontecendo comigo, mas por alguns segundos a decepção tomava conta de mim por não está me reconhecendo mais. Sakura e eu éramos amigos, e eu fiquei com medo de aquela amizade que mal começou pudesse acabar por conta de más línguas e fofoqueiros de plantão daquele jornal escolar.
Mas para a minha surpresa e alívio interno, Sakura levou tudo aquilo de boa e o nosso começo de amizade ultrapassou aquela barreira.
O primeiro tempo de aula havia sido normal e arrisquei até umas brincadeirinhas com a flor na hora das explicações, ganhando uma cara feia dela. Mas sabia que não iria dar em nada por que éramos amigos.
Amigos.
Só não sabia que a coisa ficaria ruim na hora do intervalo. Não havia uma alma que não olhasse para mim e comentar o fato de eu ter uma amiga. Uma amiga que todos esperavam encontrar na minha cama, e por um momento eu senti vergonha da minha fama. Não que eu não tivesse a intenção de tê-la compartilhando comigo o mesmo colchão, mas... de alguma forma, eu queria que a nossa amizade desse certo.
Entrei no refeitório lotado com Naruto ao meu lado, e logo encontramos a nossa trupe de amigos sentados em nossa mesa. Pelo jeito eles deram preferência por passar o intervalo ali do que do lado de fora.
Entrei na fila e quando chegou a minha vez pedi uma fatia de pizza e um suco de tomates.
Nos aproximamos da galera, percebendo Neji sentado no meu lugar discutindo algo com sua irmã. Sentei-me no lugar vago que era da Sakura – pois sabia que naquela hora ela estava para começar a programação da rádio – ao lado da Ino. E nem preciso mencionar que o assunto ali era a notícia do jornal, dizendo um monte de baboseiras falsas, e as coisas que as pessoas estavam comentando. Para mim não me importava, pois estava acostumado de ser criticado por todos que levantavam falsas acusações contra mim.
Ino comentou que Sakura não estava tão satisfeita com tudo aquilo e previu que no final ela ficasse com raiva de mim. Confesso que aquele comentário da loira me irritou. Eu não tinha nada contra ela, até a achava legal, mas era desnecessário ela ter dito aquilo, pois eu havia conversado com a flor sobre os comentários antes de nós entrarmos na sala de aula.
Sakura entrou no ar com a programação, Falo Porque Posso, e depois de dar os recados sobre as provas e outras coisas a mais, ela começou com as fofocas do dia. Eu podia ouvir pelo tom de sua voz que ela não havia gostado do que as pessoas pensavam. Teve alguns que ela mesma comentou, saindo de seu roteiro.
Naruto riu debochado e me zoou e Gaara levantou-se da cadeira e saiu do refeitório todo boladinho. Reprimi a vontade de revirar os olhos e fui atrás dele. Procurei-o com os olhos pelo pátio e só encontrei algumas garotas que sorriam para mim, duas delas vieram correndo e ambas beijaram o meu rosto, uma de cada lado.
Sorri, balançando a cabeça e continuei o procurando, encontrei subindo as escadas.
- Gaara!
Ele parou no meio dos degraus e virou seu corpo para trás, me olhando com a cara fechada.
- O que você quer?
Subi alguns lances da escada e parei um degrau abaixo.
- Por que está bolado desse jeito?
- Você ainda pergunta? – Respondeu entredentes. – O que pensa que está fazendo, ficando amigo da Sakura? O que você pretende, Sasuke? Todo mundo está cansado de saber que você não tem amigas mulheres.
Franzi o cenho, não gostando de ele está me crucificando daquele jeito.
- Eu posso ter mudado de ideia nessa questão.
Ele soltou uma risada sarcástica.
- Você vai é foder as coisas para o meu lado, isso sim. – Ele cuspia aquelas coisas para mim. – Você sempre estraga tudo, seu imbecil!
Cruzei os braços e apertei os olhos, minha boca crispada.
- Eu juro que tentei, Gaara. De verdade, mas, sei lá... tem uma coisa nela... eu não consegui me controlar.
Eu havia sido honesto com ele e comigo mesmo. Eu não sei o que dava em mim quando a Sakura estava no meio, tudo fica uma porra de uma confusão na minha cabeça e acabo fazendo coisas que jamais pensei em fazer.
Gaara trincou o maxilar e me ameaçou, apontando o dedo para mim:
- Se você estiver de joguinhos para cima da garota e foder as coisas para mim, eu juro mano, vou matar você quando estiver dormindo.
- Não sei o que estou fazendo, mas não estou fazendo isso que você está falando. E pare de ficar apontando o dedo para mim, caralho.
- Fique avisado, Sasuke – e abaixou o dedo, suas sobrancelhas franzidas -, não estou brincando. Eu vou sufocar você com um travesseiro... pior, matarei você engasgado com aqueles tomates nojentos.
- Ei! Olha como você fala dos meus tomates. Não sabe o que está perdendo por não experimentar aquelas delícias.
- Prefiro morrer de fome do que provar aquelas nojeiras – ele fez uma careta, mas ainda estava putinho. – Acho que nem os mendigos famintos teriam coragem de digerir aquela bomba.
- Você é um otário!
Ele me olhou com raiva, mas não me abalei e devolvi o mesmo olhar a altura.
- Está avisado, depois não venha reclamar.
- Já entendi – minha voz saiu entredentes, estava ficando irritado.
A sensação de estar fora da minha zona de conforto me deixava puto, ainda mais por ficar me explicando e aturando aquele cabeça de fósforo me ameaçando como se eu estivesse para cometer um crime contra a humanidade. Gaara quando estava afim de uma garota era um verdadeiro babaca, e quando estava apaixonado era insuportável.
- Você se lembra da Matsuri?
- Isso não tem nada a ver com a Matsuri – ele questionou, sem me dar brechas. – A Ino é diferente, e eu a amo.
- A ama com poucos meses namorando ela?
- Amo ela desde a primeira vez que a vi.
Revirei os olhos e balancei a cabeça para os lados. Eu odiava quando Gaara ficava assim, com borboletas sobrevoando em um mundinho de unicórnios. O bagulho era que ele sempre acaba com o coração partido, eu e Naruto tínhamos que ficar aturando sua onda de depre, socado dentro do quarto por meses seguidos. Mas eu sabia pelo pouco que conhecia a Ino que ela não era do tipo que largaria um cara por ninharia. Eu via o jeito que ela olhava para ele, e só um idiota para não perceber que a mina era afim do meu amigo.
Observando todo aquele cenário, eu tinha certeza que nenhuma garota me faria chorar pelos cantos numa depre de meses e caindo de bêbado como um cachorro de rua. Se a mina não ficasse comigo, era por que não valia a pena mesmo. Jamais iria me rebaixar e muito menos me rastejar perante a uma garota, pois no final todas elas eram iguais. Destruidoras de corações.
- Tsc. Você está falando um monte de merdas, Gaara.
- E como você sabe, babaca?
Ele estava coberto de razão, eu não sabia, pois nunca havia me apaixonado. Eu não me via caindo aos pés de ninguém, muito menos me ver tão mudado. Não tive resposta para sua pergunta e preferi me manter calado.
Gaara deu aquele assunto por encerrado e voltou a subir as escadas. Não éramos dados a mesma opinião, e ninguém iria me fazer mudar de ideia. Não vou acabar minha recente amizade com a flor de cerejeira por causa de uns e outros.
Voltei a descer os degraus que subi, sentindo meu sangue queimar de irritação. Gaara era um otário.
Voltei para o refeitório e sentei no meu lugar, percebendo que o único que havia saído dali além de mim e Gaara foi Neji. Sakura estava ali sentada no meu lugar que antes era ocupado por Neji.
- Oi, flor – cumprimentei, sentindo os olhos de meus amigos em nós.
Sakura apenas sorriu, mordendo um sanduíche integral.
- E o Gaara? – Ino perguntou com seus olhos super azuis focados em mim.
- Subiu, se corroendo por algo que nunca irá acontecer.
- Vou falar com ele – e se levantou com sua bandeja e foi embora.
Voltei minha atenção novamente para Sakura que mastigava com seus olhos em mim. E qualquer tipo e irritação havia evaporado com sua presença.
- Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou.
Suspirei cansado, ajeitando-me na cadeira e sorri para ela sem mostrar os dentes.
- Nada com que possa se preocupar.
E quando voltei minha atenção a minha bandeja, não havia nada a não ser um papel amassado e um copo vazio. Franzi o cenho olhando para Naruto, Hinata e Sakura, os únicos que restaram naquela mesa.
- Quem comeu o meu lanche?
Os três apenas me olharam de volta com uma cara de paisagem.
. . .
As aulas depois do intervalo estavam bastante chatas. Os professores estavam passando as revisões para as provas que consequentemente começavam semana que vem. A professora Anko tinha acabado de sair da sala e daqui a pouco era a aula do vacilão do Ibiki para dar a última aula daquele dia.
Sakura estava sentada ao meu lado e estava mais calada que antes do intervalo, copiando tudo que estava no quadro, sem olhar nenhuma vez para os lados ou para mim. O bafafá sobre a nossa amizade ecoava pelos corredores numa aglomeração danada. Ouvi murmúrios dos alunos dizendo que ela era o meu mais novo brinquedinho, e muitas meninas começavam a olhar torto para ela.
Eu não me importava com que os outros falavam sobre mim, eu sempre faço vista grossa para essas coisas. Mas observando Sakura quieta ao meu lado, despertou uma ponta de preocupação. Eu podia notar o quanto ela estava ficando incomodada com tudo aquilo e não queria que ela ficasse puta comigo, mesmo ela dizendo mais cedo que não acabaria nossa amizade por causa desses comentários. Mas eu tinha receios, principalmente depois quando voltamos do intervalo, eu sentia que ela estava diferente. Ela deveria estar arrependida por ser minha amiga.
Droga!
Não podia acreditar que as coisas estavam começando a desandar. Eu tinha que fazer algo, e rápido, antes que tudo piore e o concerto não tivesse mais jeito.
Aproximei um pouco o meu corpo para o lado, e foi inevitável não sentir o cheiro adocicado de seus cabelos cor-de-rosa que estavam prendidos em um rabo de cavalo bem alto.
- Ei, flor?
- O que foi, Sasuke – ela respondeu sem me olhar, enquanto respondia algumas perguntas do livro.
- Você está com raiva de mim?
- Por que você acha isso?
- Por você não está olhando para mim enquanto falo? – Questionei, incomodado com sua atitude.
Ela parou de escrever e endireitou sua coluna, erguendo sua atenção para mim. Fui banhado com aquela imensidão verdes que me fitavam e por um segundo eu prendi a respiração, hipnotizado por suas pedras de jade. E a forma como ela me olhava, comprovava que estava distante comigo.
- Está ficando paranoico, Sasuke – disse arqueando as sobrancelhas perfeitas.
- Claro que não – retruquei. – Você não está falando comigo direito depois que voltou do intervalo.
Que merda eu estava dizendo? Por que estava tão incomodado assim com o fato de ela está diferente comigo? Eu não deveria me importar com isso, pois ela é só uma garota. Mas de alguma forma eu me importo, e não conseguia controlar aquele fato, e isso estava para lá de bizarro. Acho que não estava em meu juízo perfeito hoje.
- Sasuke, eu estou estudando – sua voz soou calma e com uma pequena leveza de dureza. - Tenho que prestar atenção na aula, pois caso você não saiba, as provas são semana que vem.
Me senti um idiota por exigir explicações por seu estado de humor, como se estivéssemos algum tipo de relacionamento. Mas a questão era que toda vez que eu ficava perto dela, eu me sentia um babaca, pois agia como um imbecil de primeiro escalão.
- Foi mal, por ficar te amolando – e me endireitei na cadeira, desviando meu olhar para os meus cadernos abertos.
Sakura suspirou pesadamente, e mesmo não a olhando, eu podia sentir seus olhos em mim.
- Olha, não queria ser grossa com você – e voltei a fitá-la -, mas eu tenho dificuldades em algumas matérias. Se eu não prestar atenção nessas últimas aulas eu vou acabar me dando mal nas provas.
Surpresa era o que estava estampado em minha cara com a sua resposta, eu poderia ver sua sinceridade comigo, pois só agora eu podia notar depois de afastar as minhas nóias que ela estava mesmo prestando atenção nas aulas. Me senti um idiota mais uma vez. Ela não estava zangada comigo por causa dos boatos.
- Então você não está com raiva de mim? – Eu só queria ter a comprovação para acalmar tudo que estava agitado dentro de mim.
- Claro que não! – Ela estava incrédula agora. – Por que eu ficaria com raiva de você, criatura?
- Pelo bafafá que está rolando pelos corredores. Por aquelas coisas que foi obrigada a falar na rádio. Por você está andando comigo e seu nome rolar solto na boca do povo.
Eu podia dizer uma lista infinita de coisas que a pudesse fazer ficar zangada comigo, mas aquele era o essencial e bastava.
Ela desviou seus olhos para o meu lápis jogado na mesa.
- Bom, confesso que tudo isso é bem incomodante, irritante para falar a verdade – e voltou a me olhar novamente. – Não vou mentir e dizer que estou gostando dessa atenção toda sobre mim, pois não estou. Não sei se você entendeu o que disse mais cedo, mas nem você e nem nós temos culpa de tudo isso, e muito menos vou ficar com raiva de você por fofocas dos outros. Nós somos grandinhos o suficiente para lidar com isso, certo? Sabemos o que é verdade e o que é mentira, e o resto é só resto.
Senti como se tirasse uma enorme pedra em cima de meus ombros. A confissão da flor me deixou mais aliviado e surpreso por pensar tão diferente. Sakura era tão prática, tão enigmática. Mas uma vez eu estava surpreso com sua atitude e o sorriso que se formava em meu rosto me fazia sentir um otário.
- Que bom que não está com raiva de mim, flor.
Ela sorriu agora, balançando a cabeça para os lados.
- Só você mesmo, Sasuke – e deu tapinhas em meu ombro. – Agora me deixe estudar, ok?
E foi aí que o professor Ibiki entrou na sala, já mandando todos se calarem. Sakura se endireitou, voltando sua atenção para frente e eu apenas fiquei que nem um babaca com um sorriso no rosto
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Mais tarde naquele dia, estava com o uniforme do time enquanto ia para o campo treinar no final daquela tarde. O pátio estava pouco movimentado enquanto passava.
- Sasuke!
Parei e olhei para o lado vendo Karin vir em minha direção vestida com seu uniforme minúsculo de líder de torcida e os cabelos ruivos amarrados num rabo de cavalo.
- O que foi? – Perguntei olhando-a dos pés a cabeça, ela era realmente gostosa.
Ela sorriu com aquela boca pintada de batom vermelho.
- Sábado estou indo para a casa de praia do meu tio Minato com uma galera aí. – Ela mordeu o lábio e chegou mais perto de mim, seu dedo com a unha pintada de vermelho fazendo pequenos círculos em meu peito. - Voltaremos domingo à noite, e estou te convidando para ir com a gente.
- Não vai dar.
- Pense com carinho. Uma casa só para a galera, um quarto só para nós dois e um fim de semana inteiro. – Sua boca encostou em meu ouvido e sussurrou: – Nós podemos fazer muitas coisas interessantes.
Segurei seus ombros com minhas mãos e a afastei levemente seu corpo do meu. Um final de semana com Karin não era tão ruim assim, ela sabia se divertir como ninguém e se portar entre quatro paredes. Mas infelizmente eu não podia.
- Já falei que não posso. Estou preso dois finais de semana por aqui, foi mal.
- Own, mas isso nunca foi motivo para você dar suas escapadas – ela insistiu, um sorriso malicioso em seus lábios.
- Eu sei disso, mas estou numa corda bamba com a diretora – soltei seus ombros. – E desta vez com um enorme aperto no coração tenho que obedecer a peituda, se não estarei fodido.
Karin bufou, cruzando os braços e fazendo biquinho, contrariada.
- Fiquei sabendo da sua nova amizade com a garota nova – sua voz era azeda agora, a expressão se contorcendo numa careta.
Soltei uma risada sarcástica e cruzando os braços, encostando meu ombro numa pilastra ao lado.
- Imagino, a escola toda já sabe.
- O que planeja fazer, hein? – Ela quis saber, erguendo as sobrancelhas, as mãos agora nos quadris. – Você sabe mais do que ninguém que essa garota não é para você. Nem que você queira, ela não faz seu estilo.
Me irritei, e meu tom saiu no mais puro sarcasmo:
- E você faz?
Essa merda toda estava ficando uma droga. Parecia que todo mundo resolveu se meter na minha vida, alegando que minha amizade com Sakura era uma coisa errada, e aquilo era terrivelmente irritante.
Karin soltou uma risada debochada.
- Você simplesmente não presta Sasuke. Somo iguais, feitos um para o outro, pois não nos apegamos a ninguém. E essa garota não faz parte da turma. Ela é do tipo que espera o seu príncipe encantado a resgatar de sua vidinha monótona, e eu sei que você odeia essas coisas. E cá entre nós, a única coisa que você vai ganhar no final disso tudo é se estrepar com a diretora por mexer com a devota sobrinha dela.
- Você não sabe de nada. – Meu tom saiu entredentes, desencostando da pilastra, puto da vida com essa ruiva intrometida.
Quem ela pensa que é para sair por aí dizendo que me conhece? Pois ela não me conhece. Só por que trepamos de vez enquanto e compartilhamos algumas das vezes a mesma opinião não quer dizer que sejamos iguais. E muito menos ela tem aquela moral toda para dizer essas merdas para mim.
Resolvi ignorá-la e seguir meu rumo, mas ela agarrou meu braço, me fazendo olhá-la.
- Sabe de uma coisa? – Ela começou. – Que sua amizade com essa garota não vai dar em nada. Sabe por quê? Por que você não tem amigas, Sasuke. Suas amigas são aquelas que ficam de quatro na sua cama.
Puxei meu braço de seu poder e saí de lá antes que eu desse uma boa resposta para Karin. Estava puto por todos pensarem que eu não podia ter uma amiga mulher. Eu não era tão depravado assim ao ponto de comer uma garota em questão de segundos.
E isso era uma bosta.
