Capítulo 14 - Cavalheiro

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Sasuke

Que saco!

Mais outro final de semana preso nessa escola, curtindo a solidão como companhia e tocando músicas melancólicas em meu violão. E para piorar aquela minha onda de tedio solitário, o sábado estava passando na velocidade de uma lesma como se fosse para me deixar mais irritado. Enquanto todo mundo estava se divertindo no final de semana, eu estava trancado mais outro final de semana nessa droga de colégio.

Tsc.

Eu não tinha mais nada para fazer no momento. Já havia treinado chutes no gramado, mexido na internet, me irritado com Naruto por telefone, dormido pacas a tarde toda, estudado um pouco para a prova de segunda e até compus metade de uma música antes de jantar.

Agora estava jogado em minha cama, sem fazer nada enquanto fitava o teto, a mente estava longe, possivelmente nos meus amigos se divertindo na nova boate. Eu daria tudo para estar me divertindo também, ainda mais depois de saber que a flor estaria lá. E só o pensamento naquela garota me fazia sentir diferente e... estranho. Mano, eu não me sentia eu mesmo quando estava perto dela... quer dizer, eu não tinha cem por cento do controle de minhas ações, eu agia como um idiota ao mesmo tempo que o meu coração botava para disparar nas batidas, me deixando terrivelmente nervoso.

Sakura Haruno era uma bruxa maldita que havia me enfeitiçado e me surpreendia em várias maneiras diferentes, me deixando sem ação de meus atos. E isso me deixava meio que bolado, por que era impossível prever o que ela estava prestes a fazer. E por não saber exatamente seu próximo passo, me deixava ansioso e desesperado para escapar do colégio – e isso não seria a primeira vez – para ir atrás dela. Mas para a minha desgraça, a maldita demônia da diretora – que infelizmente era sua tia querida – havia redobrado a segurança do colégio e ficando de plantão esse final de semana.

Tsunade-Tetuda – como meu querido irmão a chamava - me odiava com todas as forças e ela não media esforços para não esconder aquele sentimento por mim. E a prova disso era eu aqui num sábado à noite trancado no quarto do colégio.

Suspirei pesadamente e olhei as horas no celular, faltava pouco para as onze e meia da noite, e eu não tinha um pingo de sono, depois de uma tarde quase toda dormindo. E como eu era praticamente o único aluno naquele colégio – tirando o fato de Shion está na mesma situação que eu – não achava problema perambular um pouco pelos arredores do colégio. E com isso em mente me levantei da cama e vesti uma calça de moletom que estava jogada na cadeira e uma camiseta de mangas saindo logo em seguida do quarto.

Como hoje era final de semana, as regras do toque de recolher eram menos rígidas, e agradeci por isso, estava me sentindo um prisioneiro.

Caminhei com passos preguiçosos pelos corredores vazios e pouco iluminados e logo já me via fora do prédio, sentindo a friagem da noite bater em minha pele. Meu rosto se contorceu numa pequena careta por não ter pego um casaco, mas não voltaria para o quarto.

Fui para frente do colégio, e era visível os caras da segurança fazendo guarda no portão de ferro. Escolhi um banco de madeira qualquer que havia naqueles gramados e me deitei com um dos braços dobrados atrás da minha cabeça e outro pousado em minha barriga enquanto observava o céu limpo e cheio de estrelas, minha mente foi longe.

Perdi a noção de quanto tempo fiquei ali com minha mente divagando em devaneios, e a calmaria daquela noite acabou me fazendo tirar um pequeno cochilo. Abri meus olhos subitamente ao som do motor de carro e passos no chão na passarela de concreto. Me levantei rapidamente, ficando sentado no banco, imaginando que fosse a diretora que vinha a minha direção para me fuder, mas para a minha surpresa era Sakura.

Prendi a respiração, não acreditando no que meus olhos enxergavam. Estava pouco escuro, mas dava para distinguir seu perfil andando em direção ao prédio distraidamente enquanto pulava mancando para tirar os sapatos dos pés.

No mesmo instante eu me pus de pé e fui até ela como se eu fosse um cachorro abanando o rabo para o dono depois de horas sem o ver. Juro que não consegui controlar aquele impulso, mas minhas ações tempestuosas eram mais forte do que eu, e odiei o fato de aquela garota me deixar como um submisso.

- Sakura!

Ela parou subitamente e com os dois sapatos em mãos virou seu rosto para mim.

- Sasuke?

Aproximei mais e puta merda, quase tive um infarto. Meus passos ficaram presos no chão enquanto meus olhos incrédulos passavam por todo o seu perfil contribuindo para as batidas loucas do meu coração. Aquela garota estava de matar naquele vestido colado no corpo detalhando suas curvas e suas pernas, a maquiagem pesada e os cabelos mais lisos que o normal de um jeito que nunca a vi a deixava de um jeito bem sensual.

Engoli a seco, sentindo um pequeno desconforto no meio de minhas pernas. Sakura havia me excitado só de olhar para ela e não quis imaginar o quanto ela havia deixado os caras da boate na mesma situação que eu estava. Como eu queria aquela garota de todas as formas debaixo de mim, minha mente depravada imaginava muitas formas sujas que podíamos fazer debaixo dos lençóis.

Eu precisei do meu mais alto controle para não mandar um foda-se e agarra-la, para começar uma putaria incrivelmente devassa, pelo menos uma parte do que eu imaginava.

Controle-se, Sasuke, disse para mim mesmo quando fitei seu rosto e me perdendo ao mesmo tempo na imensidão verdes que eram seus olhos como duas pedras de jade. Minha boca secou quando o vento da noite batia em seus cabelos lançando seu cheiro de baunilha até mim. Eu gosto de baunilha, era bom e suave.

Ela levou a mão desocupada até os cabelos, tentando conter o embarace dos fios que se bagunçavam para frente de seu rosto.

- O que... o que faz aqui? – Odiei-me por ter gaguejado como um CDF virgem.

Que caralhos estava acontecendo comigo afinal? Era só uma garota bonita e gostosa que eu estava doido para comer.

Sakura era só uma garota!

Mas que droga de sentimento era esse como se fosse uma obrigação minha protegê-la de todos os abutres que existiam do mundo? Eu a queria para mim e isso estava tão claro como água, mas ao mesmo tempo a minha consciência ungida dizia que não, e aquilo estava me consumindo como um ácido que coroe aos poucos.

- Eu... vim estudar sossegada para a prova de segunda.

Prestei mais atenção nos gestos da flor. Ela estava agitada e o fato de ela ter hesitado no começo e dito o resto da frase rápido demais e sem olhar para mim, dizia que alguma merda havia acontecido.

- Aconteceu alguma coisa, flor? – Perguntei, e no mesmo instante todos os meus pensamentos devassos haviam sumido, dando lugar a um sentimento de preocupação, o cenho franzido.

Sakura mordeu o lábio e balançou a cabeça para os lados, negando. Ela não olhava para mim e sim os seus pés descalços no chão.

Aconteceu alguma coisa.

- Está vindo da balada? – Tentei uma outra abordagem, já que ela não se abriria comigo e não queria que o nosso assunto morresse. Era até engraçado, eu Sasuke Uchiha puxando assunto quando na verdade eram as outras pessoas que puxavam assunto comigo.

- Sim – e finalmente seus olhos verdes me enxergam. E sorriu de lado. – Você perdeu os vexames de Sai e Tenten.

- Aqueles dois faz qualquer um passar vergonha.

- O que faz acordado há essa hora, e ainda perambulando pelo pátio?

Sorri de lado e cruzei os braços.

- Estou sem sono, dormi a tarde inteira.

Ela sorriu mordendo o lábio enquanto balançava a cabeça para os lados. E porra, nunca tive tanta vontade de beijar a boca daquela garota como estava naquele momento.

- Agora eu só quero é dormir e esquecer tudo – e suspirou cansada, fazendo uma careta. – Amanhã será um dia daqueles, estudar para física não vai ser nada fácil.

E de repente eu podia sentir uma porta iluminada se abrir para mim.

- Você está tendo dificuldade em física?

Sakura olhou para mim, o rosto ainda franzido numa careta.

- Se eu tenho dificuldade? Sou péssima em física, praticamente uma burra. Não sei nada.

Meu sorriso se alargou e ela franziu o cenho quando me viu ridiculamente feliz. Mas não estava feliz por sua desgraça acadêmica, mas sim por eu ser bom em física. E não era para me gabar, sou bom em todas as matérias.

- Posso te ensinar amanhã – propus inocentemente, e ela franziu mais o cenho.

- Me ensinar?

- Uhum. Sou bom em física – gabei-me. – Para falar a verdade sou bom em todas as matérias.

Sakura soltou uma risada sarcástica revirando os olhos.

- Já te disseram que você é muito convencido?

Sorri mais animado.

- Apenas sou um bom professor, flor.

Eu não podia acreditar que iria ensinar aquela flor de cerejeira, o que significava ficar mais tempo perto dela.

Sakura me olhou desconfiada, parecia pensar um pouco.

- E aí, aceita? – Insisti e apontei o dedo para ela. – Olha, não se dispensa um professor bonito e estudioso como eu.

Ela ergueu as sobrancelhas para cima, incrédulas.

- Sinceramente, o seu ego inflado é irritante, sabia? – E gargalhei com gosto. – Ok, aceito a sua ajuda.

Estava tão animado que beijaria o Sai se ele estivesse aqui naquele momento... Espera! Não, retiro o que disse. Do jeito que aquele viado engazelado era doido, era bem capaz de ele ficar me assediando pelo resto dos meus dias acadêmicos. Mas eu estava feliz pra caramba.

- Flor, irei fazer você gabaritar física.

- Tudo bem – e deu dois tapinhas em meu ombro. – Agora vou para o meu quarto e amanhã nos falamos. Boa noite.

E passou por mim, caminhando para dentro do colégio escuro.

- Boa noite.

Fiquei algum tempo parado como um panaca, olhando até ela sumir na escuridão. Não estava acreditando como o meu final de semana solitário podia ter mudado em apenas alguns minutos para melhor. Acho que eu era um filho de uma boa mãe sortudo.

Olhei para o céu estrelado e apenas agradeci:

- Obrigado senhor.

O sorriso era visível em meu rosto quando caminhei para dentro do colégio, ansioso por amanhã. Acho que ficar trancado na escola não era tão ruim assim.

. . .

Dei graças a Deus quando o céu havia clareado naquela manhã de domingo. Demorei para dormir à noite, rolando de um lado para outro na cama. A ansiedade corroía-me por inteiro por saber que passaria aquele dia ao lado da flor. Imaginei todas as cenas de como ensinaria física a ela e por recompensa vê-la encantada com meus dons acadêmicos. Ao mesmo tempo ficava chateado comigo mesmo por agir como um bobo por causa de uma simples garota, e aquilo me irritava.

Peguei no sono sem ao menos perceber.

Eram mais de nove da manhã quando acordei. Fiz minha higiene matinal e voltei ao quarto para vestir um jeans escuro, uma camiseta preta de mangas compridas e Converse preto nos pés.

Quando saí do quarto fui direto para o refeitório. O lugar estava vazio como ontem a não ser pela senhorinha da cantina e a Shion sentada nos fundos com uma cara de tédio enquanto tomava seu café da manhã.

Fiz o que sempre fazia todas as manhãs, peguei um copo de suco de tomate e um pedaço generoso de empadão. Fui para o meu lugar e comi tranquilamente, sentindo minhas costas queimarem com os olhos de uma certa loira traidora que estava a umas duas mesas atrás de mim. Apenas ignorei aquele pequeno detalhe incomodo e fiquei na minha.

Subi para o meu quarto apenas para pegar o livro e o caderno de química antes de marchar para o dormitório feminino. Olhei as horas no celular e marcava dez horas. Acho que a Sakura deveria estar acordada.

Parei de frente a sua porta, observando a plaquinha de metal com seu nome escrito abaixo do nome da namorada do Naruto. Dei umas batidas na porta e esperei pacientemente. Sakura apareceu na porta com os cabelos bagunçados, o rosto marcado com dobras de lençol. E apesar de sua cara amassada de sono, ela estava linda. Desci meus olhos em seu perfil, o pijama era uma blusa branca com estampas e um short curto e amarelo que deixava suas belas pernas a mostras. E posso dizer que demorei mais do que devia meus olhos em suas coxas e só desviei ao som de sua voz que havia soado com um misto de irritação:

- Sasuke!

Voltei minha atenção para seu rosto que estava zangado e corado. Será que ela havia percebido que eu tinha uma queda por pernas?

- Oi, flor – abri um sorriso amarelo. Como eu sou um idiota. – Esqueceu das nossas aulas?

- Não... – e percebi que mordia o canto da boca, pouco desconfortável. – Ahn... você pode me esperar um pouquinho.

- Claro.

Mas o que não esperava era que a diretora apareceria atrás dela, me fazendo dar um pulo para trás com o susto.

- O que está fazendo aqui na área feminina, senhor Uchiha? – Sua cara estava fechada enquanto me fitava com os olhos apertados.

- Senhora diretora...

Ela me interrompeu:

- Mas será possível que você não consegue ficar um segundo sem quebrar as regras do colégio?

- Eu...

- Tia, eu e o Sasuke combinamos de estudarmos para a prova de amanhã e ele veio só para me chamar.

- É isso! – Finalmente havia conseguido completar uma palavra sem ser interrompido. Ergui o caderno e o livro em minha mão para que ela visse. – Vamos estudar física.

- E pretende fazer aqui no quarto? – Ela questionou com a sobrancelha arqueada, o olhar sério de mim para flor e da flor para mim.

- Vamos para a biblioteca – respondi rapidamente, amaldiçoando-a internamente por ter estragado meus planos de estudar no quarto da Sakura.

- Eu só vou me trocar – disse Sakura adentrando o quarto, me deixando com aquela vaca leiteira.

- Eu espero aqui...

- Negativo – a diretora saiu do quarto e o fechando atrás de si. – Você vai esperar lá embaixo. – E gesticulou com a mão. – Vamos... circulando.

Suspirei derrotado, dando meia volta e voltando todo o caminho percorrido com aquele cão de guarda atrás de mim. E quando cheguei o andar das salas de aula a demônia peituda parou a minha frente, me fitando com a expressão séria.

- Espero que preste bem a atenção no que vou lhe dizer, a minha sobrinha não é que nem essas meninas que você fica pelos corredores se esfregando. Se eu souber que você anda aprontando para cima dela – e aproximou seu rosto do meu e as palavras saíram lentamente -, a cobra... vai... fumar.

- Eu não vou fazer nada com a Sakura – minha voz saiu seca, aquelas ameaças não me abalavam. – Apenas irei dividir a minha inteligência acadêmica com ela.

A demônia apertou os olhos e afastou o rosto, dois passos para trás.

- Você não me engana, conheço muito bem o seu tipo. Vou ficar de olho e espero que se comporte. Você me entendeu?

- Sim, senhora – murmurei entredentes.

Ela saiu do meu campo de visão, tomando um rumo entre os corredores que dava para a diretoria.

- Velha maldita.

Bufei, revirando os olhos, irritado.

Depois de alguns minutos Sakura desceu as escadas vestida com um short jeans, uma camiseta cinza por baixo de um casaco preto, e coturnos nos pés. Os cabelos estavam amarrados num coque no alto da cabeça e a mochila pendurada em seu ombro direito, não havia um grama de maquiagem no rosto. E posso dizer que babei com a visão privilegiada de suas pernas a mostras e toda a irritação de segundos atrás haviam desaparecido.

- Oi – disse assim quando ela parou a minha frente.

Ela apenas sorriu comprimindo os lábios.

- Oi. Ahn... você não se importa em me esperar mais um pouco enquanto como algo no refeitório?

- Claro que não, flor.

Acompanhei ela até o refeitório e depois de ter comido algo nós fomos para a biblioteca.

- A escola é tão estranha quando não tem ninguém – ela comentou quando subimos as escadas e o silêncio dos corredores era agoniante mesmo.

- Você não tem ideia.

- Ahn... – ela começou me fazendo olhar para ela – desculpe o jeito que a minha tia te tratou. Ela costuma ser bem protetora comigo.

- Liga não, está tudo tranques.

Paramos de frente a biblioteca e de um jeito cavaleiro abri a porta para ela, e confesso que fiquei desapontado por ela não ter notado aquele gesto. Acompanhei o ritmo de seus passos até uma mesa no fundo da biblioteca.

Sakura jogou a mochila em cima da mesa e tirou de lá de dentro o caderno, livro e um estojo de canetas e lápis e sentou-se na cadeira cruzando as pernas e deixando suas coxas mais detalhadas e mais a mostras. Joguei o livro e o caderno de física em cima da mesa também e me sentei na cadeira a sua frente.

Começamos a estudar, revisamos os pontos principais que iriam cair na prova e ensinei os macetes das fórmulas de um jeito que ela pudesse se lembrar mais rápido. Era legal a forma como ela me olhava enquanto eu explicava. Sakura absorvia cada explicação daquelas fórmulas, impressionada com a minha inteligência. Algumas vezes eu percebia que ela não estava entendendo nada pela expressão que ela fazia em seu rosto, e então eu voltava a explicar novamente e os seus olhos verdes começavam a brilhar novamente. Esforcei-me na explicação para conseguir ver o brilho nos olhos delas depois que ela entendia com mais clareza as lições que não conseguia desenvolver.

Passei exercícios para ela que no começo teve um pouco de dificuldades, mas depois da quarta questão já estava conseguindo pegar o ritmo. Não sei quanto tempo ficamos nisso, mas quando dei por mim já passava das duas da tarde. Admirava-me como o tempo havia passado tão rápido quando estava junto dela. O domingo estava quase chagando ao fim.

- Vamos dar uma parada, flor, estou com tanta fome que mal consigo me mexer.

Sakura riu balançando a cabeça para os lados enquanto largava o lápis e fechava o caderno.

- Você não acha que exagerou um pouco não? – E o seu estômago deu um ronco enorme.

Soltei uma gargalhada e ela pareceu constrangida com o seu rosto levemente corado.

- Parece que não sou o mais faminto aqui.

Ela fez biquinho e me empurrou para trás com a mão em meu ombro.

- Só estou apenas com um suco e uma torrada no estômago, me dê um desconto.

Fechei o meu caderno e fiquei de pé com um sorriso panaca na cara.

- Mais um motivo para pausarmos e comermos algo.

. . .

Entramos no refeitório rindo e conversando coisas banais. E mais uma vez eu fui atingido por uma onda de desapontamento quando ela não percebeu meu ato de cavalheirismo quando abri a porta do refeitório para ela poder passar. Ela era a primeira garota que eu me ligava naqueles detalhes e de alguma forma eu queria que ela notasse. Eu queria que ela visse que eu podia ser um cavalheiro digno de orgulho.

Pegamos nosso almoço no balcão e caminhamos para uma mesa ao canto. Enquanto comemos, comentamos sobre o clima feio daquele domingo, do próximo jogo da intercolegial e sobre comida.

- Eca, Sasuke – ela fez uma careta -, tomates são horríveis.

- Que isso, flor de cerejeira, tomates são vida.

Ela apenas balançou a cabeça para os lados e fitou seu prato, pensativa.

- O que foi? – Perguntei, a fitando alarmado.

Ela me olhou com aqueles olhos grandes e tão verdes quanto uma pedra de esmeralda.

- Por que você me chama sempre de flor de cerejeira? Nunca de Sakura, mas flor?

- Por que você é uma – ela arqueou as sobrancelhas e expliquei: - Você é linda, delicada e frágil como uma flor de cerejeira. Uma beleza rara como as flores que só temos o prazer de vê-las apenas uma vez por ano e dura tão pouco que nos faz apreciar cada momento, pois o tempo passa rápido e a vida é curta o bastante para ser desperdiçada. Seu nome, seus cabelos, seus olhos, sua pele... uma verdadeira perfeição da natureza, assim como as flores de cerejeira.

Aquelas palavras simplesmente saíram de minha boca sem ao menos perceber, elas fluíam como uma água que brotava da nascente. Sakura estava com as bochechas rosadas, mas seus olhos nenhuma vez desviaram dos meus. Eu podia sentir minhas mãos ficarem geladas e soadas ao mesmo tempo enquanto sentia os batimentos do meu peito num nível bem acelerado.

Aquela garota me fazia mostrar um lado que era desconhecido por mim. Nunca imaginei que daria tanta moral para uma simples garota.

- Nossa... – ela piscou algumas vezes, um sorriso afetado – eu... eu nunca imaginei que você pensasse isso de mim. Quer dizer... você diz essas coisas e me faz sentir que sou de alguma forma... especial.

- Apenas estou dizendo o que vejo – declarei me sentindo o maior babaca da face da terra.

. . .

Voltamos para a biblioteca depois de almoçamos e estudamos por mais algumas horas. Olhei para a janela e vi que o céu já estava quase escuro, passamos muito tempo estudando. Voltei minha atenção para o caderno de questionários que eu havia passado e que a flor tinha respondido. Avaliei as quinze questões constatando todas certas, ela aprendia rápido.

- Parece que alguém aqui vai gabaritar a prova de amanhã – sorri e ergui meus olhos para ela. – Conhece as fórmulas de trás para frente e de frente para trás. Já pode tomar o lugar do Kakashi nas aulas de física.

Ela revirou os olhos e riu baixinho.

- Tomar o lugar do professor Kakashi é um pouco impossível, mas vou tentar não ficar em recuperação.

- Estou falando sério, flor, você acertou todas – e vi que ela pareceu mais animada com seu progresso e eu gostei disso. – Está tão boa quanto a mim.

- E tudo graças a você – e sorriu, segurando a minha mão por cima da mesa, e não perdi a oportunidade e segurei sua mão com um pouco de força. – Obrigada.

- Não precisa agradecer, tenho consciência de que sou o melhor da escola e se você começar a andar comigo vai se tornar uma gênia num período de tempo muito curto.

Ela puxou a sua mão da minha, fingindo estar brava.

- Deixa de ser convencido, Sasuke Uchiha.

Meu sorriso se alargou. Sabia que estava exagerando no meu ego inflado, mas estava adorando provocá-la, por que era o nosso momento... as nossas brincadeiras.

- Não tenho culpa por ser bom em tudo que faço.

Ela se levantou de repente, se inclinou por cima da mesa e tombou minha cabeça para frente - quase encostando a mesa - com suas duas mãos em minhas cabeça, bagunçando meus cabeços.

Apenas gargalhei alto.

- Você se acha, garoto.

- Apenas sou realista, flor – meu tom saiu brincalhão, me desvencilhando de suas mãos destruidoras de penteado.

Ela revirou os olhos e começou a jogar suas coisas dentro da mochila.

- É praticamente impossível discutir com você e seu ego de pavão.

Arrumei as minhas coisas também e empurrei a cadeira para trás, ficando de pé.

- Vamos, irei acompanhar você até seu quarto.

Esperei ela recusar a minha oferta, mas ela me surpreendeu com um sorriso.

- Só não deixe a minha tia te pegar na ala feminina.

- O que aconteceu hoje de manhã foi apenas um pequeno detalhe técnico – respondi e pisquei para ela, enquanto saímos da biblioteca.

Caminhamos pelos corredores desertos e logo estávamos terminando de subir as escadas que davam para os dormitórios, e quando viramos para o corredor da ala feminina, a voz de Sakura soou, chamando minha atenção:

- Você não vai ficar bravo comigo se eu for um verdadeiro fracasso depois de passarmos horas estudando, vai?

Olhei para ela que estava fitando o chão.

O quê?

Ela estava preocupada se eu ficaria bravo com ela? Isso era inacreditável. Eu não sabia o que pensar sobre isso, mas a sensação era incrível pra caralho.

- Você não vai fracassar, flor – e ela olhou para mim. – Mas iremos começar a estudar mais cedo da próxima vez.

Ela ergueu as sobrancelhas para cima.

- Próxima vez?

- Serei o seu tutor de agora em diante.

Ela sorriu mordendo o lábio.

- E isso não vai atrapalhar os seus treinos? Você sabe, eu tenho dificuldades não só em uma matéria, mas em várias. A diferença de ensino entre a minha antiga escola e essa é enorme.

- Não se preocupe, os treinos são suspensos em época de provas. – E sorri. – E você sabe, sou bom no que faço.

Ela apertou os olhos e me empurrou com seu ombro.

- Você não se cansa de ser convencido não?

Gargalhei, passando meu braço por seu ombro e andando um metro restante até a porta do seu quarto.

- Está entregue.

O seu celular de repente começou a tocar em seu bolso de trás. Tirei meu braço de seu ombro e ela pegou o aparelho e olhou quem era, e como estava ao seu lado, espionei a tela do seu celular e na mesma hora minha mandíbula trincou de ódio quando vi o nome daquele palerma.

O que diabos Sasori queria com ela? E aliás, como os dois tem o contato um do outro? Quase tive um acesso de fúria ao saber que o Akasuna estava tendo contato com a minha flor. Eu não estava acreditando que aquele imbecil esteja interessado nela.

- Vou entrar – disse Sakura com o celular na mão ainda tocando.

Dei de ombros de um jeito casual nenhum pouco afetado, mas a minha vontade era de pegar aquele aparelho e jogá-lo na parede e o deixar em mil pedacinhos, só para não vê-la conversando com o Akasuna. De alguma forma eu me senti traído depois de uma tarde legal que tivemos.

- Tudo bem, já vou indo – murmurei indiferente.

Ela abriu um sorriso impecável, e se não fosse minha raiva interna eu tinha abanado o rabo se tivesse um.

- Obrigada pela ajuda – e piscou para mim e deu tapinhas em meu ombro, não consegui sorrir de volta.

Ela entrou no quarto, fechando a porta em seguida com o telefone no ouvido enquanto dizia: Oi, Sasori.

Enquanto andava em passos rápidos pelos corredores do dormitório, sentia os nós dos meus dedos ficando brancos com tamanha forca que eu fechava a mão direita e a esquerda nos livros. Quando entrei na ala masculina fantasiei mil e uma maneiras de como acabar com a raça de um certo Sasori Akasuna.

Dei um longo suspiro, passando a mão no meu rosto, tentando não ficar louco ao pensar que Sasori estava caindo nas graças de Sakura. Eu tinha que ficar calmo, e não cometer nenhuma merda que fosse manchar minha imagem frágil que eu tinha com a flor.

Era extremamente notório que eu havia agido como um merda com todas as garotas do KHS que tinham mais de quatorze anos. A nossa história estavam mais para o tipo do playboy que se apaixonou pela princesinha, mas a Sakura não era nenhuma princesinha. Ela escondia algo, e aquele mistério todo me atraía como uma mariposa. Talvez essa seja a nossa conecção.

Invadi o meu quarto de repente fechando a porta num baque alto depois de entrar. Estava de péssimo humor. Puto para falar a verdade. Chutei um puff que estava no caminho, fazendo ele rolar para o meio do quarto, caindo de lado. Estava tão puto que nem havia percebido a presença de Naruto e Gaara ali.

- Ei, cara, caso não saiba esse quarto também é meu, antes de você pensar em destruir ele.

Ergui meus olhos para os meus dois melhores amigos, Naruto sentado em sua cama e Gaara na cadeira do computador. Franzi o cenho.

- O que fazem aqui? – Perguntei irritado jogando meus livro e caderno na cama.

- Viemos mais cedo para o colégio – respondeu Gaara -, e dar o nosso apoio moral para você também.

Bufei, arrancando a camisa e a jogando no chão.

- O que você têm? – Perguntou Naruto enquanto enfiava a mão dentro de um saco de Cheetos.

- Não sei – grunhi, me jogando na cama, ficando de barriga para cima e fitando o teto. – Sakura Haruno.

Naruto soltou uma gargalhada.

- O que tem ela?

Passei as duas mãos no rosto, num gesto para aliviar um pouco a tensão.

- Aquela garota me irrita de várias formas diferente. Acho que preciso trepar logo com ela para acabar com toda essa merda.

O silêncio se formou no quarto. Desviei meus olhos para o lado só para constar que os dois estavam me fitando, sem saber o que dizer. Gaara foi o primeiro a se pronunciar:

- Não que eu goste do fato de você ferrando com a minha vida, mas você nunca precisou de permissão antes para agir... a menos que... não me diga que você se importa com isso agora?

- Deixa de ser otário.

Gaara abriu um sorriso largo.

- Cara, você se importa com ela! Acho que só precisava uma garota te renegar sexo por mais de vinte quatro horas para isso acontecer.

- A Aika me fez esperar por uma semana – questionei, achando ridícula sua teoria.

- Mas a Sakura não quer nada com você – respondeu Naruto.

- Só para você ficar sabendo, Sasori estava ontem na boate. – Sentei-me na cama e olhei para Gaara, alarmado. – Ele e a Sakura passaram a noite toda dançando juntos.

Franzi o cenho, sentindo a raiva aumentar.

- O quê? Aquele imbecil estava lá?

- Porra, Gaara, para de ficar envenenando.

- Ele tem que saber – e olhou para mim. – O mais estranho foi quando um cara mal encarado agarrou ela no meio da boate.

- Cara? Que cara? – Sabia que tinha acontecido algo pelo jeito agitado que Sakura estava ontem. – O que aconteceu depois?

- Sasori a defendeu e o cara foi embora. – Naruto explicou, chupando os dedos pintados de farelo. – O mais esquisito foi o fato de que o cara ficava encarando a Sakura como se a conhecesse.

- A Sakura o conhece?

Por que estava com a sensação de que tudo estava saindo do controle?

- Ela disse que não.

- Mas o clima era estranho entre ambos – disse Gaara.

Ficamos alguns minutos calados, processando o fato de que Sakura havia passado por um momento perigoso. E não era eu que estava lá para defendê-la e sim o palerma do Akasuna. Ele estava preparando o terreno para dar o bote e eu não podia deixar que a Sakura caísse naquela cilada. Minha cabeça parecia que ia explodir. Estava indo tão bem, mas de uma hora para outra tudo começou a desandar.

- O que você vai fazer? – Naruto quebrou o silêncio.

Suspirei cansado.

- A Sakura só quer ser a minha amiga e mais nada. Eu tenho sorte por ela não me rejeitar como um sarnento.

Depois de um silêncio desconfortável Gaara disse:

- Você está com medo.

- Medo? - Perguntei com um sorriso irônico. – Medo de quê? Posso saber?

- De ser rejeitado – e o sorriso se alargou.

Bufei, revirando os olhos.

- Conta outra.

- Admite, Sasuke, você é um de nós afinal das contas – o tom zombeteiro de Gaara ecoava nos meus tímpanos.

- E com concorrente – completou Naruto com aquele som irritante que fazia enquanto chupava os farelos dos dedos.

Meu olho esquerdo estremeceu.

- Vocês não estão ajudando se querem saber.

- Então, você gosta dela e está com medo...

- Não estou com medo – interrompi Gaara, que continuou:

- E agora? O que pretende fazer?

Não tinha o que discutir, eram dois contra um.

Suspirei, me dando por vencido daquela batalha verbal.

- Não vou fazer nada – e olhei para Gaara. – Só acho uma droga, quando encontro finalmente uma garota que vale a pena, ela é boa demais para mim.

Naruto e Gaara tentaram prender uma risada, mas estava falhando. Era irritante ver os meus dois melhores amigos imbecis tirar uma com a minha situação.

- Por que você não a deixa tomar uma decisão? – Naruto perguntou com um sorriso zombeteiro.

- É por que eu me importo o suficiente com ela para eu querer tomar a decisão por ela. Eu não valho nada.

Gaara se levantou da cadeira e espreguiçou a coluna antes de me fitar.

- Depois de tudo isso você ainda vai ficar andando com ela? Por que para mim, mano, isso é tortura.

Pensei naquilo por alguns segundos. Era mesmo torturante, mas era melhor do que ficar só olhando de longe. Eu me conhecia bem o suficiente para saber que não aguentaria ficar só de telespectador.

- Eu não quero que ela fique comigo... mas também não quero que ela fique com outro cara.

- Mano, isso é doideira – disse Naruto depois de estourar o saco de salgadinho.

Eu sabia mais do que ninguém que era doideira, mas era melhor ficar com a amizade do que não ter nada com ela.

Minha situação tinha como piorar?