Capítulo 17 - Canalha
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Sakura
Eu me sentia pouco confusa e irritada comigo mesma por causa de pequenos detalhes que saem do meu controle. Eu tinha consciência de que havia ficado muito próxima do Sasuke nesses últimos dias que estudávamos juntos para as provas, e como consequência, tivemos que lidar com os rumores frequentes sobre o nosso relacionamento. Mas conforme os dias passavam e todos viam nós dois juntos, aos poucos as fofocas amenizavam e as pessoas entendiam que nosso relacionamento era simplesmente platônico. E a reputação de pegador de Sasuke – por não ficar com uma garota mais de uma vez - também havia ajudado a calar as fofocas.
E mesmo com toda essa confusão e especulações sobre o que realmente nós temos, não impedia de Sasuke ser assediado pelas garotas. Elas simplesmente se jogavam aos seus pés sem um grama de amor próprio, como se ele fosse alguma espécie de divindade. O que para mim era um absurdo, pois Sasuke era só um garoto com um rosto bonito.
Bom, admito que ele não era simplesmente um rostinho bonito, ele era um cara legal – ignorando o seu lado depravado – e muito inteligente. E não demorei para perceber suas qualidades conforme nos conhecíamos mais pelo tempo que passávamos juntos. E por conhecer um pouco mais dele, eu me sentia na obrigação de defendê-lo quando alguém o ofendia injustamente.
E foi o que aconteceu no intervalo com Suigetsu. O cara havia sido um babaca, tentando humilhar Sasuke só por que ele estava sendo gentil com uma amiga. Não acho que isso seja motivo de zoação, era infantil. E por sua gentileza excessiva eu acabei sendo levada pelos comentários a nosso respeito e fui pouco grossa com ele. E era por isso que estava com raiva de mim mesma por ainda dar importância aqueles comentários maldosos, e confusa por agir levianamente.
As aulas depois do intervalo deram início e o lugar de Sasuke ao meu lado continuou vazio. Me senti irritada por ele dar preferência a uma garota qualquer do que está na sala de aula. Por mais que estivéssemos na última semana de aula, mas os professores estavam adiantando a matéria para o terceiro bimestre, poxa.
A professora de japonês passou um trabalho extra valendo nota para o terceiro bimestre, e liberava quem fosse terminando. Confesso que não tive dificuldades de fazer o trabalho, estava bem fácil para falar a verdade e fui uma das primeiras a terminar. Caminhei pelos corredores daquele andar e sentei-me no segundo degrau da escada que dava para os dormitórios. Fiquei ali mexendo em meu Instagram, esperando dar a hora para entrar na próxima aula.
Uma notificação de mensagem no WhatsApp vibrou meu celular. Era Sasori...
OI.
Respondi sua mensagem:
OI.
E logo outra mensagem veio.
ESTÁ OCUPADA?
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NÃO
E não demorou nem dois segundos e logo meu celular começou a tocar, era ele me ligando.
- Oi, Sasori, como vai? – Disse assim que atendi.
- Vou bem e você?
Encostei minhas costas no corrimão.
- Também estou bem.
- Foi mal ter sumido assim, a semana foi de provas maçantes. Você me perdoa?
Sorri, e senti na obrigação de brincar com ele.
- Claro que não, te perdoar? Jamais.
- Nossa, estou destruído agora. Você acabou de acertar uma flecha no meu coração.
Acabei rindo, imaginando a cena, ele com uma cara dramática enquanto dizia aquelas palavras com a mão no peito.
- Bobo. – E ouvi ele rir do outro lado da linha. – Não precisa se desculpar, eu o entendo. Essas últimas semanas também foram bem puxadas com as provas, enfim...
- Por falar em provas, e aquela prova monstruosa que a impediu de aceitar meu convite? Conseguiu fazer ela?
- Claro – sorri, observando Hinata passando com seu irmão ao lado. Ela acenou para mim e eu pisquei para ela. - Eu fui bem sim, o Sasuke me ajudou muito.
E por alguns segundos senti que a linha ficou muda, mas logo a voz de Sasori soou do outro lado:
- Sasuke? – Não teve como não notar o tom de sua voz ter se tornado cautelosa. – Vocês dois são...
- Amigos – interrompi antes que ele disse aquela palavra proibida.
E o suspiro se fez presente do outro lado da linha.
- Nossa, por um momento... deixa para lá. Vocês são muito amigos?
- Nos damos bem. Sasuke é bem legal quando o conhece.
- Uau – ele soltou uma risadinha. – É estranho escutar que o Uchiha tem uma amizade feminina, principalmente você, uma garota bonita. – Não consegui evitar um calor em meu rosto com o elogio. – Ele geralmente pega garotas bonitas.
- Ele é muito educado comigo, caso queira saber.
E para a minha frustração estava eu novamente defendendo Sasuke com garras e unhas. Eu tinha que parar com isso.
Porcaria.
– Mas você não me ligou para debater sobre minha amizade com Sasuke, eu presumo.
- Não. Você tem toda razão – e mudou de assunto. – Bom, acho que você deve estar de férias...
- Estou na escola, mas entrarei de férias depois de amanhã.
- Legal – e ouvi ele sorrir. – Então podemos marcar para sairmos, nos encontrarmos... vai ter uma festa na próxima quarta e estou te convidado para ser minha acompanhante. E aí? Topa? Vai ser legal. Eu e você, você e eu.
Soltei uma risadinha.
- Você é muito bobo.
- Faço o meu melhor.
E depois suspirei pesadamente, fechando os olhos, lembrando dos meus planos com meus amigos.
- Então...
- Ah, não - me interrompeu. – Você começou a frase com a palavra então e não vou conseguir suportar levar outro fora.
- Me desculpe – abri os olhos, morrendo de pena dele. – Irei viajar nessas férias...
- Mas que droga! Eu não dou uma dentro.
- Desculpe.
- Acho que irei marcar uma hora na sua agenda.
Acabei sorrindo com seu humor
- Olha, não está nada certo ainda, e se a viajem não rolar, eu ligo para você.
- Você ficaria feliz se eu começasse a torcer contra a sua viajem?
- Você não vai fazer isso.
- Ok, eu prometo. Estou com os dedos cruzados.
- Você é ridículo.
Ele acabou gargalhando do outro lado.
- Estou com saudades de você. Mas vou ficar esperando, a esperança é a última que morre, não é?
- Você tem razão – sorri. – Mas juro que da próxima eu vou.
- Olha lá, hein? Irei marcar hora na sua agenda com três semanas de antecedência.
- Estou falando sério.
- Ok. O que está fazendo?
- Estou sentada na escada esperando a próxima aula começar.
- Te chutaram para fora? Não sabia que fazia o tipo rebelde.
- Não! – E ele riu. – Apenas fiz o trabalho de japonês e agora estou esperando lá fora para depois entrar.
- Hm.
- E você? O que está fazendo?
- Jogado na minha cama sem fazer nada.
- Que inveja. Já está de férias?
- Desde ontem à tarde... Ah, Sakura, vou desligar, acabou de chegar um babaca em forma de amigo aqui.
Acabei rindo mais uma vez, pois escutei uma outra voz xingando ele de vacilão.
- Tudo bem.
- Beijos e pense em mim.
- Bobo – acabei rindo novamente.
Ele riu também e eu desliguei, enquanto balançava a cabeça para os lados.
- Seja lá quem for, acho que faz o seu tipo. – Sai sussurrou em meu ouvido.
Dei um pulo e fiquei de pé num impulso e virei para ele de uma vez, assustada.
- Que susto, Sai! – E pus a mão no peito, sentindo-o bater muito forte.
- Está devendo, minha filha?
Soltei um suspiro e revirei os olhos, voltando a me sentar no degrau, e ele sentou-se ao meu lado.
- É o bofe do Sasori? – E murmurei um sim, voltando a fitar meu instaram. – Aquele lá é um absurdo de gostoso.
Não pude conter uma risadinha com o jeito afeminado de Sai, ele era uma figura.
- Ele é realmente uma gracinha.
- Gracinha? – E me fitou indignado. – Aquele lá é um Deus ruivo da Grécia antiga, pena que é hétero. Mas também, mania da população masculina ser hétero – e depois começou a se coçar –, me dá até alergia essa palavra maligna.
- Não exagera.
- Exagero nada, raxa, pois você está com dois bofes escândalo lambendo o chão que você passa e eu aqui só com as sobras da humanidade por que heterossexualidade é modinha.
- Você está ligado que está falando um monte de besteira, não é?
- E você está ligada que tanto o Sasori quanto o Sasuke quer ter você embaixo deles em posição papai e mamãe, não é?
Olhei incrédula para ele.
- Sai!
- Falei alguma mentira? – Ele ergueu as sobrancelhas de um jeito debochado com um toque seboso. – Você é uma bandida bonita do caralho e a minha parte homem que as vezes cisma de sair do inferno não pode deixar de notar, e a população masculina desse antro de escola também.
Apertei os olhos, o fitando.
- Você está querendo dizer que seu lado hétero está dando indícios de voltar?
- Ahhhhhh – ele gritou, tampando os ouvidos com as mãos. – Não diga esses palavrões, minha alma é frágil, raxa. – Em seguida começou a se coçar. – Viu só? Estou com alergia.
Prendi uma risada, mordendo o lábio.
- Mas foi você que mencionou – e aproximei para perto de seu rosto e sussurrei: - aquela palavra.
- Me arrependo de ter dito.
Não aguentei e caí na gargalhada e ele suspirou, me dando um empurrão com seu ombro.
- Dá para você parar?
- Você é uma figura.
Ele revirou os olhos.
- Vamos voltar o foco, raxa – e prestei atenção nele. – Você respondeu os questionários de física da semana passada?
- Sim, porquê?
- Me empresta? Sabe que levei pau nessa matéria e falei com o professor e ele vai olhar meu caderno e considerar um teste amanhã. Quero copiar as respostas que deixei em branco agora na aula de inglês.
- Claro, mas vou ter que pegar lá no quarto.
- Eu espero aqui.
Suspirei cansada e me levantei.
- Ok, seu abusado.
Subi as escadas e logo já estava no extenso corredor da ala feminina que estava vazio naquela hora. Virei o segundo corredor e um pouco mais a frente uma das portas do quarto se abriu e Sasuke saiu por ela, abotoando a camisa branca totalmente amarrotada. Uma garota de pele morena e cabelos vermelhos saiu em seguida, agarrando o pescoço dele e o beijando na boca. E não foi preciso revirar muito a minha mente para lembrar que ela era a garota que Sasuke havia ido atrás no final do intervalo.
Senti meus pés paralisarem no chão diante da cena. Eu já havia visto Sasuke beijando outras garotas, mas nunca depois de... ele...
Eles se separaram e Sasuke abotoou o último botão e deu um tapa na bunda dela com aquele sorriso maliciosamente canalha.
Piranha.
Crispei a boca, e minhas mãos apertaram com força.
Cafajeste.
Mandei o comando para as minhas pernas e comecei a andar, e conforme me aproximava, podia ouvir a conversa deles, alheios a minha presença.
- Anota o meu número – disse a garota e passou a mão na bunda de Sasuke e arrancou seu celular do bolso.
Sasuke recuperou seu celular das mãos dela.
- Sinto muito, gata, mas não vou precisar. - Seu tom havia saído calmo e casual, guardando o celular de volta no bolso de trás de sua calça.
A garota franziu o cenho, sorrindo, e alisou a gravata solta em volta do pescoço de Sasuke.
- Como assim, meu lindinho? Nós começamos a transar, e você vai precisar quando for se comunicar comigo para uma nova aventura.
Que nojo.
- Eu não vou precisar do seu número – e tirou as mãos dela de cima de si -, por que isso não vai mais se repetir.
A garota fechou a cara, meio que desconcertada, mas tentava disfarçar colocando as mãos nos seus quadris.
- Você só pode estar brincando, não é?
- Eu já vou indo... – e assim que se virou, seus olhos esbarram em mim a poucos metros de distância, se aproximando. Ele havia ficado surpreso com minha presença, mas logo se recompôs.
Eu apenas vesti a minha cara de paisagem e continuei me aproximando como se eu não tivesse visto nada.
A garota me viu também, a sua cara se fechou e agarrou o braço de Sasuke e o fez virar-se para ela.
- Você não pode fazer isso comigo – sua voz agora era baixa e indignada, mas eu escutei, pois só estava um metro de distância. – Nós acabamos de fazer sexo.
- Olha – e tirou a mão dela de seu braço -, não quero ser grosso com você. O que aconteceu entre nós foi legal e gostoso, mas não vai acontecer.
- Você é um idiota! – E em seguida deu um tapa na cara dele que virou para o outro lado. – Você é um cretino imundo, Sasuke Uchiha.
A garota entrou em seu quarto e bateu a porta com força.
Eu estava completamente pasma com o que acabei de presenciar. Sasuke era descarado e dispensou a garota com tanta naturalidade que me dava ranço.
Ele se virou para mim, esfregando o local do tapa que estava ficando vermelho e marcado com dedos.
- Oi, flor - e ele tinha o descaramento de sorrir para mim como se nada tivesse acontecido. – Que cara feia é essa?
Parei a sua frente.
- Não estou de cara feia. Apenas estou indignada.
- Comigo?
O sorriso não saiu de seu rosto. Acho que ele estava esperando que eu continuasse, pois havia me atiçado.
- Mas é claro que é com você. – Apontei para a porta fechada do quarto que a garota havia acabado de entrar. – Como você pode usar alguém e depois tratá-la desse jeito?
Ele apenas deu de ombros.
- Ela apenas quis que eu anotasse seu telefone e eu não aceitei.
Meu queixo caiu com a forma descarada e cafajeste que ele respondeu, sem um pingo de remorso.
- Você pode ir para cama com ela e não pode pegar o número dela?
Sasuke cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas.
- E por que eu pegaria o número dela se não vou ligar?
- Você foi para cama com ela – argumentei, tentando entender sua lógica cretina. – Ela estava esperando que... pelo menos podia fingir que ela era importante por alguns segundos, e não a deixar constrangida com seu fora.
- Olha, flor – e descruzou os braços, olhando diretamente em meus olhos -, eu não gosto de fingir. Não gosto de mentiras. Eu nunca prometi nada para ela e para ninguém. Ela não me exigiu um relacionamento sério antes de abrir as pernas para mim.
Eu olhei com nojo para ele.
- Ela é filha de alguém, Sasuke. E se num futuro alguém tratar a sua filha desse jeito que você tratou essa garota?
- Então acho melhor a minha filha não abrir as pernas para o primeiro idiota que ela acabar de conhecer.
Cruzei os braços e o fitei com raiva, por que o que ele dissera fazia todo o sentido.
- Então, além de você admitir que é um idiota, você está tentando me dizer que por ela ter transado com você ela merece ser tratada como um cachorro?
Sasuke apenas suspirou.
- Eu só estava sendo honesto com ela, flor. A Karui sabia muito bem o que estava fazendo... ela não hesitou um segundo sequer, caso queira saber. Você está me culpando como se eu estivesse cometido um crime.
- Ela não me pareceu saber de suas reais intenções.
Ele franziu o cenho.
- Você só fica me jugando como se eu fosse o vilão. Mas você também não ver o outro lado, as intenções delas quando se jogam para cima de mim. Apenas pego o que me é oferecido.
- Você... você é um canalha.
Ela abriu um meio sorriso sarcástico.
- Já fui chamado de coisa muito pior.
Eu não podia acreditar no que ouvia, os seus argumentos tão certos falados de um jeito que soasse verdadeiros, sem sentir um pingo sequer de arrependimento de seus atos. Eu sabia que Sasuke era um galinha - a sua fama era enorme -, mas não imaginava que ele pudesse chegar a tal ponto. Nunca imaginei que ele fosse tão cafajeste assim, tratando as garotas como se fosse objetos descartáveis. Isso era errado. Eu sentia ânsia por pessoas daquele tipo. E eu não era obrigada ficar escutando seus absurdos devassos.
Comecei a andar, passando por ele, mas logo sua voz se fez presente, me seguindo:
- Você está indo para o quarto?
- Sim, e espero que não me siga – minha voz soava fria, queria que soubesse que eu estava irritada com ele.
Ele acelerou os passos e passou por mim parando a minha frente e me fazendo parar também.
- Você está passando mal? – Ele me fitava, sua expressão parecia preocupada.
- Não – crispei a boca. – Só vou pegar um caderno.
- Então eu te espero...
- Não! – O cortei. – Não quero que você me espere. Eu vou sozinha e voltarei sozinha.
Contornei o seu corpo e voltei a andar, mas lembrei-me de algo e parei. Virei meu rosto para trás, Sasuke estava me olhando, parado no mesmo lugar.
- Ah, só para ficar situado, você perdeu um trabalho de japonês valendo nota para o terceiro bimestre.
E não esperei sua reação, dei as costas a ele e virei o próximo corredor.
A minha cota de Sasuke por hoje havia chegado o limite.
