Capítulo 21 - Abusado

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Sakura

O que havia acontecido com todo mundo para terem perdido o juízo e fazer aquilo comigo? Eu e Sasuke dividindo a mesma cama? Aquilo era um absurdo. Admito que tínhamos um ótimo relacionamento de amizade e percebia que a cada dia Sasuke se esforçava para ser meu amigo. Mas dormir juntos? Ainda mais tendo consciência de seus hormônios aflorados e cafajestes?

Isso não.

O pior de tudo isso era saber que todos ali pareciam esquecer aquele detalhe e tratar o assunto com muita naturalidade. E ainda tinha o Sasuke que não fazia nada para contradizer àquela ideia. Parecia que estava gostando, parecia que era tudo planejado.

Não. Franzi o cenho com aquela ideia. Ele não iria armar aquela situação para cima de mim. Ou iria?

Fechei meus olhos e suspirei, cansada.

- Tudo bem. – Disse, e desviei meus olhos para Sasuke. – Eu não me incômodo em dormir no sofá.

Eu vi quando a expressão animadinha dele mudou, suas sobrancelhas franziram, e questão de segundos estava a minha frente.

- Você não vai dormir nesse sofá!

- Ok. - Ergui minhas sobrancelhas para cima, as mãos nos quadris. – Então você dorme no sofá e ponto final.

Sorri com a ideia observando seu rosto tomar uma expressão rabugenta.

- Eu também não vou dormir nesse sofá.

Franzi mais o meu cenho e apontei o dedo para ele.

- Qual foi, Sasuke? Eu não vou dormir na mesma cama que você. Então, ou você dorme no sofá ou eu durmo.

Se ele estava achando que eu iria cair naquele joguinho, ele estava muito enganado.

Seus olhos negros brilhavam em faísca de raiva e desafio.

- Nem você e eu vamos dormir nesse sofá desconfortável.

- Pessoal, eu já vou subir – a voz de Ino soou de repente, desviando minha atenção para ela. – Não sei vocês, mas estou muito cansada – e depois esticou sua mão para seu namorado. – Você vem, amor?

- Claro.

Traidora.

- Ahn, Hinata, vamos? – Naruto já puxava a namorada pela mão e seguia Ino escada a cima, sem ousar olhar para trás.

Mais traidores.

- Também vou subir – a voz de Sai soou, era notório a cara de nojo que ele fazia enquanto pegava suas coisas em cima do sofá. – Meus ouvidos são sensíveis a DR de casal.

- Nós não somos um casal! – Praticamente gritei, irritada, observando as costas de Sai enquanto ele andava em direção as escadas.

- Sei, raxa – seu tom saiu irônico enquanto subia os degraus. – É assim mesmo que os casais começam, pura adrenalina e tensão sexual.

Podia sentir meu rosto ficar quente e franzi mais a boca, me segurando para não voar até o pescoço de Sai e tomar aquele quarto de solteiro que deveria ser para mim.

Por que todo mundo acha que Sasuke e eu temos algo? Ou esperam que tenhamos algo? Será que ninguém entende que somos apenas amigos? Amigos. Era tão estranho assim uma pessoa ter amizade com o sexo oposto? O que eu tinha que fazer para que todos entendessem que Sasuke e eu nunca iria rolar? A gente nunca iria dar certo juntos.

Bufei, estalando a língua. Só restava eu e ele naquela sala.

- Ei! – Sasuke me chamou, agachava para pegar sua mochila no chão e agora agarrava a minha em cima do sofá. – Está na hora da gente subir também, está tarde.

- Eu já disse que não vou dormir na mesma cama que você, caramba! – Bati o pé, irritada com toda aquela cena em que opções eram isenta para mim.

Sasuke me fitou, o rosto era sério.

- Por que não? Você não confia em mim?

Sentia as minhas mãos soarem, mas não as sequei, não queria demostrar para Sasuke o quanto eu estava nervosa com aquela situação. Eu confiava nele a maior parte do tempo, mas dormir na mesma cama era um outro assunto. Era um campo minado. Sasuke era confiável para certas coisas, mas não quando o assunto era garotas. A minha confiança nele nesse quesito era zero.

Por um momento eu me arrependi de ter vindo naquele passeio, se eu soubesse o que estava para acontecer com todos me dando as costas eu nem teria vindo. Todos ali tiveram a opção de escolher aonde dormir, menos eu. Isso não era justo comigo. Ninguém ali estava disposto a achar uma solução para mim. Todos apenas escolheram seu par e se refugiaram, me deixando nas mãos do lobo.

Desviei meus olhos para o sofá. Para ser sincera, eu não me importava com ele, o sofá estava de bom tamanho para mim. Eu era acostumada dormir em sofás, as minhas costas eram calejadas pelos anos com o meu velho companheiro de noite. Alguns dias não iria me matar.

Mas parece que Sasuke estava disposto a defender com garras e unhas seu argumento e ultrapassar a linha limite que plantei entre a gente, para que assim, eu conseguisse conviver perfeitamente com ele. Pois uma coisa eu sabia, se ele atravessasse aquela linha, coisas desagradáveis iriam acontecer e meu coração iria ser a principal vítima.

Ele ainda me olhava, segurava minha mochila no seu ombro e a sua nas mãos. Sua boca numa linha reta e eu sabia pelo modo como me olhava, sério, que estava ficando chateado.

Suspirei profundamente e desviei meus olhos para o lado.

- Eu confio – murmurei, sentindo um certo incômodo por saber que a situação estava começando a sair do meu controle. – Mas...

- Eu não vou tentar nada contra você, flor – ele me interrompeu, a voz séria. – Nós só vamos dormir. A não ser que esteja planejando me atacar a noite e abusar do meu corpo.

- O quê? Não! – Minha voz soou estrangulada, meus olhos arregalados.

O sorriso brotava em seu rosto, franzi o cenho por ter caído em sua pilha.

Cachorro.

- Então movimente seus esqueletos e vamos subir, por que estou morrendo de sono.

- Sasuke, eu durmo sem problema no sofá.

- Não vou deixar você dormir nesse sofá desconfortável, flor. – E pegou a minha mão e me puxou em direção as escadas, mas meus pés travaram no chão, o fazendo parar e me olhar. – O que foi? Você quer que eu te carregue até o quarto?

Puxei minha mão e o fitei irritada antes de passar por ele esbarrando o meu ombro em seu braço e comei a subir as escadas com muita má vontade, sentindo que ele vinha atrás de mim. Não quis pagar para ver se ele iria mesmo me levar até o quarto em seu colo, conhecia-o suficiente para saber que era capaz daquela loucura.

Eu sabia que ele estava com um sorriso vitorioso no rosto, não precisava olhar para trás e comprovar, pois, eu sentia. E eu estava zangada. Muito zangada comigo mesmo por não ter lutado mais com meus argumentos, e ter cedido as suas vontades. Talvez seja o cansaço que sentia da viagem que não me permitiu ter forças para lutar, e tudo que eu queria era dormir.

Entramos no quarto grande e espaçoso, havia uma cama de casal no meio, um guarda-roupas pequeno, uma cômoda ao lado, perto da porta, e uma janela daquelas que vai até o chão que dava para uma varanda. Ela estava aberta e o vento gelado fazia as cortinas finas esvoaçarem e o cheiro da maresia invadir todo o quarto. O céu estava claro por causa da meia lua que enfeitava aquela noite estrelada e o mar que refletia seu brilho deixava tudo muito lindo.

Por um segundo eu me distraí com a paisagem, e voltei quando ouvi a voz de Sasuke enquanto jogava as mochilas em cima da cama:

- Flor, o banheiro é logo ali...

Não esperei ele terminar a frase, caminhei até o banheiro e bati a porta com força. Queria que ele soubesse que eu não estava satisfeita por estar ali. Tirei as minhas roupas e entrei no box, fiquei debaixo do chuveiro tempo o bastante para deixar que a água levasse embora a raiva e a tensão do dia. Meus olhos estavam fechados enquanto massageava meu couro cabeludo com os dedos, lembrando de que havia esquecido de pegar as minhas coisas.

Droga!

A porta se abriu de repente, dei um pulo abrindo os olhos e tentando enxergar algo por trás das cortinas de plástico.

- Quem está aí?

- Sou eu.

Sasuke?

Automaticamente envolvi as partes do meu corpo com os braços e me virei de costas para a cortina, o cenho franzido e o coração tão acelerado como se pudesse sair por minha boca.

- O que diabos você está fazendo aqui? – Minha voz saiu histérica. – Saia daqui!

- Calma. Você esqueceu de pegar as suas coisas. Olha, eu trouxe o seu pijama, a toalha, sua escova de dente e a pasta, a sua escova de cabelo e um creme esquisito que achei na sua mochila... – ouvi o barulho do pote se abrindo. - Hum... tem um cheiro bom. Sabia que gosto de baunilha?

- Você mexeu nas minhas coisas? – Perguntei num gritinho agudo.

Ele não respondeu. Em vez disso ouvi o farfalhar da cortina e sua mão apareceu estendida para mim. Não pude conter um grito e me encolher mais, tentando esconder ainda mais o meu corpo.

- Sasuke!

- O seu sabonete, você também esqueceu.

Virei meu rosto para aquele braço estendido e agarrei o meu sabonete rapidamente e a mão recuou para fora da cortina. Aquilo estava ultrapassando todos os limites.

- Sasuke, vai embora!

- Só estou terminando de organizar as minhas coisas aqui também.

Virei meu corpo em direção a cortina e coloquei a cabeça para fora, observando as suas costas e ele ajeitando algo na bancada de mármore.

- Se você chegar perto dessa cortina novamente eu juro que vou te matar enforcado com um travesseiro enquanto você estiver dormindo.

Ele ergueu seus olhos e me fitou através do espelho e deu uma risadinha.

- Não vou te espiar pelada, flor.

- Então sai daqui agora!

- Calma, já estou saindo.

Fiquei esperando embaixo da água com os braços bem apertados em volta dos meus peitos até escutar a porta ser fechada.

Respirei fundo tentando acalmar as batidas do meu coração e terminei de tomar meu banho rapidamente, me ensaboado e enxaguando dessa vez. Me seguei rapidinho, passei meu hidratante e vesti o meu pijama amarelo de xadrez que era composto de um short e uma blusa de mangas aberta na frente com botões e gola. Penteei meus cabelos e escovei os dentes, notando as coisas que Sasuke havia trazido para mim. E mesmo tendo sido uma situação embaraçosa eu não pude conter um sorriso escapar por minha boca, percebendo o quanto que ele era atencioso e gentil quando queria.

Sasuke abriu a porta do banheiro novamente colocando só a cabeça para dentro.

- Anda logo, flor. Também quero tomar banho.

Joguei minha escova de cabelo nele que fechou a porta antes que o acertasse. Podia escutar suas risadas dentro do quarto.

Abusado e ordinário.

Depois de terminar de me arrumar, eu entrei no quarto segurando minhas roupas sujas e colocando em cima da minha mochila que acabei de deixar num canto no chão.

- Pijama legal. É sexy.

Franzi a boca, sabia que ele estava me zoando, pois de sexy meu pijama não tinha nada.

Sasuke estava sentado na beirada da cama e digitava rapidamente algo no celular.

- Pode se aproximar, não vou te morder.

- Não tenho medo de você – disse, me sentando no canto esquerdo da cama, já que ele havia escolhido o direito. Por mais que eu me esforçasse para não demonstrar, eu estava sem jeito de como dormiríamos.

Ele piscou para mim antes de se levantar, pegou a toalha jogando-a nos ombros e entrou no banheiro. Minutos depois eu podia escutar o som do chuveiro. Senti uma raiva tomar conta de mim de repente, raiva dele por ter levado as suas coisas para dentro do banheiro quando chegasse a sua vez, e raiva de mim por ter esquecido de pegar as minhas coisas antes de entrar no banheiro. Lembrarei de trancar a porta da próxima vez.

O vento frio da noite entrava pela janela, fazendo a minha pele arrepiar. Levantei-me e fechei a janela e as cortinas, voltando para a cama novamente e ficando debaixo dos lençóis.

Alguns minutos depois a água parou de cair e a porta do banheiro se abriu. Sasuke entrou no quarto só com a toalha enrolada nos quadris, os pingos d'água caíam em seu peito desnudo e malhado com pequenos gominhos, os braços eram definidos e fortes. Dei um gritinho e fiquei de costas com os olhos bem fechados quando ele deixou a toalha cair para vestir a cueca.

- Mas que droga, Sasuke! Por que você não se troca no banheiro? - Minha voz era irritada, o rosto quente de vergonha e constrangimento por ter visto de relance como ele veio ao mundo.

- Eu esqueci de pegar.

Era impossível discutir com ele, Sasuke não tinha pudor algum.

Ele caminhou até o interruptor perto da porta e desligou a luz e se deitou ao meu lado, puxando um pouco da coberta para si.

Franzi o cenho e me virei para ele, a claridade da lua ultrapassava a cortina fina deixando o quarto pouco iluminado e me permitindo enxergar seu rosto.

- Você vai dormir assim, de cueca?

- Geralmente eu prefiro dormir sem nada. Não consigo dormir com roupas, me incomoda e me dar coceira.

- Mas eu...

Não sabia o que falar. Não havia argumentos para debater aquilo. Sasuke era inacreditável e eu não tinha opções de lugar para dormir a não ser o sofá. Mas eu sabia que se cogitasse a ideia, Sasuke iria ficar infernizando a noite inteira e eu estava cansada demais para discutir.

Ele abriu um pequeno sorriso e balançou a cabeça para os lados.

- Você ainda não confia em mim, não é? - Ergueu a mão para cima. - Eu juro que irei me comportar muito bem.

Não discuti, apenas me virei de costas para ele e me ajeitei para a beirada da cama, tentando ignorar as batidas aceleradas do meu coração idiota.

- Boa noite, flor de cerejeira - ele murmurou próximo ao meu ouvido.

Eu sentia o seu hálito em meu rosto, fazendo a minha nuca arrepiar-se. Agradeci por estar escuro e ele não poder ver a minha reação e meu rosto corado. Apertei meus olhos com força e me encolhi mais, torcendo para que nada saísse do controle.

. . .

Parecia que eu tinha acabado de fechar os olhos quando ouvi o barulho do celular tocando. Atordoada e de olhos fechados, remexi-me na cama virando para o outro lado e estiquei-me para atender, mas puxei minha mão de volta, horrorizada ao sentir uma pele morna sob os meus dedos. Tentei lembrar aonde estava quando abri meus olhos, mas logo descobri quando vi Sasuke dormindo ao meu lado, coberto apenas da cintura para baixo. Quando dei por mim fiquei paralisada de que Sasuke pudesse pensar que eu tinha o tocado de propósito.

Engoli a seco e sussurrei, o chamando:

- Sasuke? O celular. – O aparelho era dele mesmo, pois o meu estava na mochila. – Sasuke! – O cutuquei com o dedo seu braço, mas ele não se mexia.

Eu não podia acreditar que ele pudesse ter um sono tão pesado. Estiquei-me por cima dele, tateando o criado-mudo ao seu lado até sentir a ponta do celular que tocava e vibrava. Era impossível não encostar no corpo dele diante do ato. Voltei para o meu lugar com o celular em mãos, o nome Itachi estava gravado na tela, e antes de tomar qualquer decisão, ele havia desligado.

Caí bufando no travesseiro, o celular em mãos, irritada com a situação e era apenas nove e cinquenta da manhã.

Porcaria.

Escutei a risadinha de Sasuke e olhei para ele com o cenho franzido.

- Você estava acordado?

- Eu prometi que iria me comportar – e virou seu corpo ficando de frente para o meu, o sorrisinho irritante nos lábios. – Mas não imaginava que você fosse deitar em cima de mim.

Franzi o cenho. Ele estava tirando uma com a minha cara.

Vadio.

- Eu não me deitei em cima de você – protestei. – E não fale desse jeito como se eu estivesse me aproveitando da situação... apenas não consegui alcançar o celular. – E joguei o aparelho na barriga dele. – Era o seu irmão Itachi.

Ele agarrou o celular e ligou o display para ver as horas e devolveu o aparelho de volta ao criado-mudo.

- Deve ser nada importante. – Virou-se novamente, ficando de frente para mim, o sorrisinho patético não saía dos seus lábios. Ele mexia nos fios do meu cabelo que estavam espalhados pelo colchão. – Vamos tomar café?

Olhei irritada para ele e balancei a cabeça negativamente, girando os meus pés na lateral da cama e me arrastando até a janela, abrindo as cortinas. O mar brilhava com o sol que estava quente naquele céu azul e límpido, uma bela visão do paraíso.

Saí de lá e caminhei até minha mochila e a joguei em cima da cômoda, comecei a revirar as minhas roupas.

- Você vai fazer o quê agora?

- Vou me vestir – agarrei uma regata cinza e um short jeans. – Por quê? Vai querer um manual para saber o que vou fazer quando estiver por aqui?

Sasuke se espreguiçou na cama e depois se levantou, vindo até mim apenas com aquela box preta.

Me esforcei ao máximo para não contemplar a visão de seu corpo definido desfilando majestosamente em minha direção com os cabelos bagunçados, a cara amaçada e inchada de sono. Eu tinha que admitir, Sasuke era um diabo de tão bonito. Droga.

- Você é toda nervosinha assim, ou ficará mais calma quando acreditar que eu não estou arquitetando nenhum plano para transar com você?

Sasuke parou a minha frente, pousando suas mãos em meus ombros e me virando para ele.

- Eu não sou nervosinha – disse, medindo minhas palavras para que não saíssem atropeladas. Tentava não desviar meus olhos para seu peito nu e o volume que preenchia aquela cueca.

Ele aproximou seu rosto para mais perto e sussurrou em meu ouvido:

- Não quero transar com você, flor. Eu gosto demais de você para isso.

Senti os pelos da minha nuca arrepiar quando seu hálito quente batia em minha pele. O seu cheiro natural que exalava quente fazia as batidas do meu peito acelerar e um friozinho circular o meu estômago. Mas tão rápido quanto ele se aproximou, ele se afastou, caminhando até o banheiro e fechando a porta.

Fiquei parada, perplexa, sentindo os efeitos estranhos de sua proximidade. As palavras de Tenten ficaram repetindo em minha cabeça. Sasuke Uchiha transava com qualquer uma. E mesmo achando aquilo uma loucura, eu não consegui evitar uma sensação de inferioridade ao saber que ele não tinha nenhuma vontade de transar comigo.

Eu era tão broxante assim?

Pisquei meus olhos algumas vezes e balancei minha cabeça para os lados, zangada comigo mesma por pensar daquele jeito enquanto me recuperava daquele episódio.

Eu tinha que tomar um pouco de ar.

Larguei aquelas roupas e saí do quarto, a cabeça fervendo. Ino vinha em minha direção, estava arrumada, penteada e maquiada, sorriu para mim com um humor lá encima.

- Bom dia, dorminhoca! – E parou a minha frente. – Me conta, conseguiu dormir ou passou a noite em claro?

- Ele mal respirou em minha direção – meu tom era azedo.

Por que estava tão irritada desse jeito? Qual era o meu problema afinal? Ele disse que iria se comportar e se comportou... em partes. Então por que eu estava tão incomodada?

Ino abriu um sorriso sagaz, iluminando todo o seu rosto.

- Aah.

Franzi a testa.

- Ah, o quê?

- Nada. – E levantou os ombros para cima, sem tirar um brilho malicioso em seu olhar.

- Você é uma péssima amiga! – Ataquei, queria deixar claro para ela que não estava satisfeita com aquela situação. – Você poderia ter me ajudado ontem, não batido em retirada quando mais precisei.

- Ele não se comportou? Então? Para que o estresse? Relaxa, Sakura e curti a viagem. – E beijou minha bochecha e sorriu para mim. – Só curti amiga. O sol está lindo lá fora, ótimo para a praia.

Bufei e passei por ela e desci as escadas, encontrando tudo lá embaixo vazio e silencioso. Permiti prestar atenção na decoração da casa, era bonita e bem aconchegante com móveis e decorações de muito bom gosto e planejado nos mínimos detalhes. A cozinha estava vazia, a porta que dava para a varanda estava aberta que ficava de frente para o mar. Encontrei Hinata debruçada sob a pilastra de madeira da extensa varanda, observando a paisagem da praia vazia a alguns metros de distância. Ela estava com um vestido azul e os cabelos presos em um rabo de cavalo frouxo.

Ela olhou para trás quando meus pés faziam barulho no chão de madeira e sorriu para mim.

- Bom dia, Sakura.

- Bom dia – sorri comprimido, retirando o elástico no meu pulso e prendendo os meus cabelos num coque no alto da cabeça. – Dormiu bem?

E na mesma hora seu rosto tomou uma proporção rubra, desviando seus olhos para frente.

- Sim – sua voz soou como um sussurro.

Parei ao seu lado, virando meu corpo para sua frente.

- Aconteceu alguma coisa?

Hinata mordeu o lábio e por alguns segundos se permaneceu em silêncio antes de suspirar profundamente.

- É que... – hesitou, e seus olhos me fitaram. – O Naruto... ele... ele queria fazer... você sabe...

Não precisou ela terminar a frase para eu entender o que estava tentando dizer.

- Vocês nunca transaram? – Aquela era uma pergunta indiscreta, mas ela estava se abrindo comigo. Hinata negou com a cabeça. – Uau, eu pensei que vocês já tivessem... você aceitou dormir com ele ontem tão naturalmente.

- A gente já dormiu juntos outras vezes... ainda sou virgem.

Assenti com a cabeça.

- Entendi.

Hinata voltou sua atenção a praia.

- A gente tivemos alguns momentos mais... quentes. Mas diferente das outras vezes eu senti que ele queria mesmo. – E fechou os olhos e balançou a cabeça para os lados. – Eu não consegui ir adiante – abriu os olhos e me fitou, com olhos apreensivos. – Eu tenho medo de fazer algo de errado e parecer uma tola.

Aquela era a primeira vez que tínhamos uma conversa tão aberta. Geralmente Hinata se afugentava quando entravamos no assunto sobre sexo, ela sempre desconversava ou inventava uma desculpa para sair de perto de nós.

Agora era diferente. Eu percebia a timidez em sua voz, a hesitação em se abrir comigo sobre suas dúvidas e medos. Não conhecia tão bem o Naruto, mas pelo pouco que via dele e sua personalidade, percebia que ele gostava de verdade da Hinata. E pelo modo como ele a olhava e agia, eu sabia que a amava e que faria tudo por ela.

- Essas coisas não têm como dar errado – disse, fazendo sua atenção focar em mim. – Quando duas pessoas se amam tudo fica diferente e os instintos se encarrega do resto. Você só não estava pronta no momento, e o Naruto te ama e vai esperar até você sentir quando chegar a hora.

Hinata sorriu minimamente.

- Obrigada. Você acabou de tirar um peso em minhas costas.

- De nada – pisquei para ela.

Silêncio.

- Então... – e virou todo o seu corpo para a minha frente. – Como foi dormir com o Sasuke?

- Normal.

- Ele não tentou nada?

- Nada. O Sasuke se comportou quase como um cavalheiro.

Ela ergueu as sobrancelhas para cima.

- Quase?

- Quase.

- Nem vou perguntar porque do quase.

- Nem pergunte.

Ela riu, desencostando da pilastra de sustentação.

- Vou acordar o Naruto para tomar café.

- Ele ainda está dormindo?

- Oh, se tá.

Ela se afastou, entrando dentro de casa.

Fiquei um tempo ali na varanda observando a praia e acalmando meus nevos. Quando entrei na cozinha encontrei Sasuke já vestido com bermuda clara e camiseta preta. Ele cantarolava uma música qualquer, acho que era Guns'n Roses, enquanto cortava tomates e jogando dentro do liquidificador. Sua atenção focou em mim quando eu abria a geladeira, tirando uma garrafa d'água.

- Tem certeza que não quer comer? Estou fazendo suco de tomates – ofereceu, voltando sua atenção para o que estava fazendo.

Fiz uma careta e bebi a minha água.

- Tenho sim, obrigada

Deus me livre comer aquela gororoba. Suco de tomates? Só de imaginar meu estômago embrulhava.

Eca.

O som do liquidificador ecoou forte, deixei o copo na pia e saí da cozinha. Encontrei Ino com o Gaara se beijando na sala. Murmurei um bom dia para Gaara e Ino piscou para mim enquanto subia as escadas.

Entrei no quarto, fui direto para o banheiro e fiz minha higiene pessoal, penteei meus cabelos e troquei de roupa. Organizei as minhas roupas naquela cômoda e arrumei a cama antes de voltar para a cozinha, encontrando todos em volta da mesa comento e conversando banalidades.

- Olha quem apareceu? – A voz de Sai soou enquanto tomava um gole de seu suco.

- Sakura, tem pão integral, requeijão e suco de morango, o seu favorito – disse Ino apontando os itens na mesa.

- Valeu – sorri comprimido e puxei a cadeira e me sentei entre Sai e Hinata.

Era incrível a forma como Ino cuidava de mim, era assim desde quando éramos pequenas. E mesmo às vezes reclamando, eu gostava daquela atenção, pois eu sabia que alguém se importava comigo.

- Vamos continuar o assunto? – Questionou Sai.

- Do que vocês estão falando? – Perguntei enquanto pegava as fatias de pão e o pote de requeijão.

- Do baile de primavera – Naruto respondeu, estava sentado ao lado de Hinata. – Você vai?

- Não sei – dei de ombros, passando o requeijão no pão. – Nunca fui a bailes.

- Jura? – Perguntou Hinata, me fitando.

Apenas assenti com a cabeça.

- Sakura, você tem que ir – disse Ino, me passando a jarra de suco. – Ano passado foi maravilhoso, me diverti muito.

- Só vai precisar de um par – disse Sai. – E já vou logo avisando que não vou fazer mais sacrifícios para ninguém. Eu vou escolher um super boy magia para mim como acompanhante.

- O Sasuke pode ser o acompanhante da Sakura – Hinata sugeriu.

Ergui meus olhos para ele que estava quieto comendo uma tigela de tomates picados.

- O Sasuke nunca convida ninguém para o baile – respondeu Gaara -, todos sabem disso.

- Se for por falta de bofe, podemos arrumar um para ela – disse Sai. – Só tem que passar o pente fino naquela escola para achar alguém que preste.

Terminei de engoli o pedaço do sanduíche e tomei um gole do meu suco antes de dizer:

- Vocês podem parar de tomar decisões por mim como se eu não estivesse aqui?

- Ah! – Ino sorriu com uma possível ideia. – E o Sasori? Você podia convidar ele.

- Negativo, racha. O baile é só para os alunos da escola, é proibido trazer pessoas de fora.

- Que tal o Kimimaru? – Hinata veio com outra opção.

Franzi o cenho. Quem era Kimimaru? Antes de abrir a minha boca para retrucar, Sasuke se levantou da mesa com o copo e a tigela vazia e jogou tudo na pia, fazendo um estrondo.

- Eu não disse que não levaria a Sakura para o baile.

Revirei os olhos.

- Você não precisa fazer esse esforço por mim, Sasuke. – E voltei para os outros. – E eu sou grandinha o suficiente para encontrar o meu próprio par.

- Eu não estou fazendo esforço algum, flor. Eu quero levar você ao baile – e me olhou. – Eu geralmente nunca convido ninguém por que sempre acaba em confusão no final. Mas não vou me preocupar com a possibilidade de você esperar algum compromisso depois do baile.

Ino sorriu abertamente.

- Viu só? Resolvemos o problema.

Suspirei, pouco desconfortável com toda aquela atenção em mim.

- Só não quero que se sinta obrigado por ser o meu par.

- Ah, para de fazer cu doce, Sakura – disse Sai. – O bofe está aí todo vitaminado querendo te levar, aceite.

Revirei os olhos e tomei outro gole do meu suco.

Sasuke atravessou a cozinha e envolveu meus ombros e se agachou ao meu lado.

- Flor – começou, olhando para mim -, você quer ir ao baile comigo?

Eu não entendia por que o meu coração batia tão rápido naquela hora. Era só um baile. Era só o Sasuke. Por que eu estava tão nervosa com aquele pedido?

A respiração estava presa em minha garganta e um friozinho circulava o meu estômago. Reprimi um pequeno sorriso e balancei minha cabeça para cima e para baixo.

- Quero.

Ino soltou um gritinho batendo palminhas.

- Isso vai ser muito divertido.

Sasuke sorriu de lado e piscou para mim, ficando de pé.