Capítulo 22 - Dúvidas

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Sasuke

A sensação era incrível quando Sakura aceitou o meu pedido e aquele brilho animado no olhar me deixou ansioso pelo baile. Geralmente eu não curtia muito esse lance de bailes, eu sempre acabava indo no final e saindo antes da metade. Evitava de convidar as garotas, isso sempre acabava em confusão. Lembrava uma vez quando estava na sexta-série e convidei uma mina qualquer, ela ficou no meu pé durante dois meses achando e falando para todo mundo que éramos namorados. Fiquei puto com isso e para tentar me livrar, acabei ficando com a amiga da namorada do Gaara que assim quando a descartei e percebeu o meu lance real, acabou ficando com raivinha e obrigando a amiga a largar o Gaara, só para não olhar mais na minha cara. Aquela foi a primeira desilusão do meu amigo e ele ficou com raiva de mim por um mês inteiro. E era por isso que eu evitava.

As garotas são loucas.

Mas com a Sakura era diferente. Eu queria mesmo ir com ela. Eu queria buscá-la em sua casa e entregar o corsage para que ela coloque em seu pulso, como muitos casais fazem. Queria dançar o baile inteiro com ela e tomar aquela droga de ponche. Sakura havia se tornado a minha droga particular que nunca me satisfazia e que eu não tinha a menor chance de largar. Ela era viciosa e eu não me atrevia a experimentar nem mesmo uma lasquinha. Apenas a mantinha por perto, conformando-me por ela está ali. Não havia esperanças para mim.

Eu não tinha nenhuma chance com ela.

Ino continuava tagarelando, levava o seu copo a pia:

- E já que tudo está nos conformes e todos tem seus pares para o baile...

- Auto lá, raxa, eu não tenho par ainda.

Revirei os olhos e me afastei da flor, ficando próximo a cadeira aonde me sentava.

- Sai – disse Ino voltando a fitá-lo -, não estou me referindo a você. E até o baile acho que você encontra alguém.

Aquela gazela empinou o nariz.

- Naquela pocilga de escola? Duvido.

Ino revirou os olhos, mas logo um grande sorriso abriu em seu rosto.

- Vamos aproveitar a praia agora? O sol está ótimo.

- Eu topo – disse a gazela se levantando. – Aproveito para passar descolorante nos pelos do meu corpo.

- Você vai fazer isso na praia? – Sakura questionou, tomando o resto do seu suco e ficando de pé também.

- Claro, raxa. O que é melhor do que o sol da praia para se queimar? – E fitou os braços branquelos e magros. – Aproveito para pegar um pouco de bronze.

- Bronze? – Disse Naruto com a boca cheia. – Você está precisando.

- Fique na sua, galego, por que minha conversa está em linha direta.

- Vamos, Sakura, Hinata – disse Ino caminhando em direção a sala -, vamos colocar um biquíni.

Tanto a flor como a Hinata a seguiram para fora da cozinha em direção aos quartos, levando aquela gazela junto.

Quem havia sido o infeliz que convidou aquele despacho de encruzilhada para vir com a gente?

As vozes animadas das meninas sumiram no andar de cima, restando apenas eu e meus amigos na cozinha. Gaara se levantou da cadeira e foi lavar a louça do café da manhã.

- Que merda foi aquela das meninas tentando achar um mané qualquer para ir ao baile com a flor?

Gaara virou sua cabeça para trás e me fitou.

- E isso te importa?

Franzi o cenho.

- É claro que importa.

- É mesmo? – A ironia era clara em sua voz.

Ainda estava pouco irritado com aquela conversa das meninas, mas estava fazendo um esforço para não demonstrar.

- Só não... gosto que façam isso. – Sentei-me na cadeira e depois suspirei. – Não quero ver a Sakura dando uns amassos com outro cara e muito menos no Sasori Akasuna.

- E por quanto tempo você acha que vai conseguir ficar impedido da mina se relacionar com outro cara? – Naruto perguntou, dando outra mordida em seu pão.

Franzi a testa e o fitei.

- Eu não sei. O tempo que for possível. Só não quero que ninguém fique se intrometendo nos meus assuntos.

A Sakura era um equilíbrio delicado entre a dureza e a ternura. Sabia que pressioná-la demais era a mesma coisa do que trazer à tona um animal feroz e acuado. Eu me divertia caminhando na corda bamba que ela exigia - de uma forma aterrorizante - como se estivesse de ré numa moto a mil quilômetros por hora.

Lembrava de como ela havia ficado ontem quando entrei no banheiro enquanto ela tomava banho. Achei desnecessário todo o drama que ela fez como se eu fosse abrir aquela cortina para vê-la pelada. Eu apenas queria ajudá-la para evitar o constrangimento quando percebesse que não havia levado suas coisas para o banheiro. Minhas atitudes foram inocentes, apesar da minha mente depravada estar imaginando o seu corpo nu por trás daquela cortina.

Eu me comportei.

- Mano, você quer a Sakura ou não quer? – Naruto perguntou, me olhava com a expressão séria. Hoje ele estava muito quieto e comendo mais que o normal. Alguma coisa havia acontecido. – Por que ficar tentando impedir a garota de sair com outros caras quando você nem ao menos estão juntos, é uma atitude babaca.

- Nós somos apenas amigos.

Ele soltou um sorriso irônico e presunçoso.

- Amigos conversam sobre trepadas. E eu não vejo isso acontecendo com vocês dois.

- O Naruto está certo – Gaara concordou, fechando o registro da torneira. – Esse lance de vocês dois é estranho.

- Nós não conversamos sobre trepadas, mas isso não quer dizer que não podemos ser amigos.

Gaara me olhou descrente.

- Meio que sim, mano. Na boa, não acredito no lance de amizade entre homem e mulher. Sempre vai haver algum interesse de uma ou ambas as partes. Você diz que é amigo dela, mas sabemos que você quer ela. A amizade de vocês é na base do interesse. O seu interesse.

Gaara não estava errado, eu apenas não queria admitir.

- É que... – pausei, fitando algo na mesa, sabendo que eu tinha toda a atenção dos meus amigos para mim. Sabia que eles seriam os que me jugaria menos, mas parecia fraqueza eu admitir que pensava em Sakura com muita frequência. Gaara e Naruto me entenderiam, mas isso não me faria sentir melhor. – É que tem algo nela que eu preciso. É isso! – Olhei para eles. – É tão estranho assim eu achar a Sakura legal pra caramba e não querer dividir com alguém?

- A Sakura não é sua para você não querer dividir – repreendeu Gaara, o cenho franzido.

Espalmei minhas mãos na mesa, ficando irritado sobre não encontrar uma solução para as minhas dúvidas.

- Então me digam vocês, o que eu sei sobre namorar? A minha única referência são vocês dois. Se a Sakura encontrar um cara para namorar eu vou perdê-la.

- Por que não namora a Sakura de uma vez, porra? – A voz de Naruto soou irritada.

Balancei minha cabeça para os lados.

- Eu não estou pronto.

- Por que não? Está com medo? – Gaara quis saber, jogando o pano de prato na minha cara que caiu no chão.

Abaixei e peguei o pano e fiquei torcendo para frente e para trás para aliviar a ansiedade.

- Ela é diferente – murmurei.

- Então o que está esperando para tomar uma decisão?

Dei de ombros.

- Apenas mais um motivo.

- Que motivo?

Suspirei pesadamente, balançando a cabeça para os lados, cansado daquela conversa.

- Eu não sei. É confuso.

Tanto Gaara quanto Naruto fizeram caretas de desaprovação para mim.

- Cara, você está fodido.

Olhei para Naruto.

- E você? Parece que não está nos seus melhores momentos.

Ele suspirou e fitou um ponto qualquer na mesa.

- Ontem eu meio que vacilei com a Hinata.

- O que você fez? – Gaara se aproximou e sentou-se na cadeira.

- Quando fomos para o quarto, nós ficamos de amassos e eu meio que me descontrolei, avancei alguns sinais. – E levou a mão no cabelo e olhou para nós, uma careta desesperada. – Eu estou subindo pelas paredes, meirmão. São seis meses sem trepar. Seis meses!

Gaara e eu acabamos por gargalhar com o drama daquele dobe. Era engraçado ver meu amigo daquele jeito, se descabelando. Seis meses era osso mesmo. Quem diria que Naruto iria ficar todo esse tempo sem transar, isso só demonstra o quanto ele gosta da Hinata para fazer esse sacrifício.

Depositei minha mão em seu ombro.

- É cara, parece que nós dois não estamos numa maré muito boa.

Naruto franziu o cenho, arrancando minha mão de seu ombro.

- Você está nessa situação por que você quer.

- Eu já falei que não posso - Balancei minha cabeça para os lados. – Eu não sou o cara certo para Sakura. Ela merece coisa melhor do que eu.

- Tipo, Sasori Akasuna?

- Vai se fuder.

- É isso que vai acabar acontecendo se você ficar nessa sua lengalenga.

- Você gosta mesmo de sofrer, cara – disse Gaara. – Deixa de ser emo.

- Eu não sou emo.

- Não? – Questionou Gaara ironicamente.

- Vocês não entendem – e me levantei da cadeira, indo em direção a porta aberta que dava para a varanda. Fiquei parado no portal, olhando a praia a poucos metros de distância.

Ninguém entendia a minha situação.

- Tudo bem. – Disse Naruto, se levantando e se juntando a mim no portal. – Vamos deixar essa conversa mole de lado e planejar o que vamos fazer para comemorar o dia vinte e três.

Sorri de lado.

- Vocês não esquecem mesmo.

- E têm como esquecer? – Disse Gaara, se ajuntando a nós no portal, fomos para a varanda.

- Uma festa? – Propôs Naruto.

- Gostei – Gaara estava animado. – E desta vez sem nenhum adulto para nos restringir como ano passado.

Naruto pôs a mão no meu ombro, claramente animado agora.

- Mano, vamos afogar o ganso na sua festa de dezoito.

Dezoito anos. Estava tão distraído com minhas dúvidas em relação ao que sinto pela flor que acabei por esquecer que meu aniversário seria daqui a poucos dias, e uma festinha longe dos adultos iria ser bom.