Capítulo 13 - Cultivar Vínculos

As aulas finalmente acabaram naquele dia, e dei graças a Deus por isso, pois ficaria livre daquela escola que havia se tornado um tormento para mim ultimamente. Tudo era diferente agora, e o fato de eu ter me tornado conhecida, havia atiçado a ira de certas fãs obsessivas de Sasuke.

Eu era odiada por elas.

Olhei para os lados daquele pátio aberto, e pelo incrível que pareça eu não estava na mira de ninguém naquele momento. Agradeci por isso e apressei os passos enquanto olhava no celular se havia alguma ligação ou mensagem de Sasuke, mas não havia nada.

Acho que não deveria ter acontecido nada, já que ele havia dito para não me preocupar, pois notícias ruins sempre chega logo, certo? Puxei minha mochila para frente e guardei o celular, e foi aí que eu escutei uma voz me chamando:

- Sakura!

Parei e virei meu corpo para trás e vi Hinata se aproximando com passos corridos até mim. Estava surpresa por vê-la ali, já que mais cedo ela não parecia nada legal depois do acontecimento no banheiro.

- Hinata.

- Você está com pressa? - Ela perguntou, ofegante, devido ao esforço para me alcançar. Suas bochechas estavam vermelhas com isso.

- Estou indo para o trabalho - respondi. - Aconteceu algo?

- Não. – Sorriu forçado. - Você trabalha naquela loja de doces da terceira avenida, né?

Apenas assenti com a cabeça, positivamente.

- Você vai pegar alguma condução até lá?

- Não. Eu vou a pé, não é tão longe.

- Ah. – E segurou a alça de sua mochila que estava apenas no ombro direito. - Posso te acompanha até a loja? Acho que vou comprar algumas guloseimas para alegrar o meu dia que ficou azedo

- Claro - sorri, e voltamos a caminhar. - Como você está?

- Estou bem – e sorriu. - Eu queria te agradecer por ter me defendido naquela hora.

Ergui meus olhos para ela.

- Não é para isso que servem as amigas?

Ela apenas sorriu novamente como resposta, e apesar do bom humor que Hinata transmitia, eu via que ela estava pouco abatida.

- Me desculpe por ter saído daquele jeito e não ter ido com você a enfermaria. Não me sentia muito bem naquele momento, queria ficar um pouco sozinha para pôr a cabeça no lugar.

- Não se preocupe com isso, a Ino me fez companhia.

E ela voltou a me fitar de ombros, enquanto caminhava ao meu lado.

- É o machucado?

Levei a mão automaticamente no curativo da testa, latejava de vez em quando, mas nada com que possa me preocupar.

- Só um pequeno corte, nada grave.

- Me perdoe – suas sobrancelhas abaixadas, a voz soando culposa -, por minha culpa a Shion acabou descontando a raiva em você.

- Não precisa se culpar, essa Shion que é uma louca.

- É.

Silêncio.

Saímos dos domínios do colégio e agora andávamos pela calçada. Hesitei por um segundo em fazer a pergunta sobre a tal Shion, não queria parecer intrometida. Mas o silêncio que havia reinado ali entre a gente estava bem incômodo. Pois apesar de sermos amigas, era raro as vezes que ficamos sozinhas sem a presença de Ino. E das loucas vezes que ficamos sozinhas, o silêncio sempre reinava. Eu era péssima em puxar assuntos e eu tinha a impressão de que Hinata não tinha assuntos a tratar comigo, como tem com a Ino. Acho que devia ser por eu ser nova no grupo, e o seu vínculo com a Ino ser maior que o meu, pois entre nós três, a Ino era a que mais falava e abria assuntos para serem debatidos.

A Ino era o pilar do trio que eu agora fazia parte. E como uma integrante de um grupo, eu também tinha que fazer a minha parte e crescer mais o meu vínculo com Hinata, assim como tenho com a Ino. Eu tinha que dar os meus primeiros passos e deixar de acompanhar os passos dos outros. Pois é assim que se cultiva uma amizade, certo? Não basta apenas fazer a amizade e não cultivar para que cresça e fortaleça com o tempo. Bom, foi assim que vi num artigo sobre amizade que li no Google no mês passado.

- As duas eram amigas? - Tomei coragem e perguntei, atraindo atenção de Hinata para mim que franziu o cenho, confusa. - Você e a Shion? Quer dizer, eu estava dentro da cabine quando vocês estavam discutindo. Eu não pude evitar não escutar, me desculpe.

- Tudo bem, esse pequeno fato não é segredo para ninguém. - E depois suspirou e fitou algo a frente. - Eu e a Shion costumávamos ser bem amigas no fundamental. Era o que eu achava. Eu não era exatamente uma nerd, mas eu era bem tímida naquela época, e não costumava me arrumar adequadamente. – E me olhou. - Eu tinha vergonha de ser eu mesma.

Era inevitável o quanto estava surpresa, a Hinata era muito parecida comigo. Parecia que me descrevia e isso era pouco estranho, pois a Hinata que eu via agora não parecia em nada com a antiga Hinata que ela me descrevia. Ela continuou:

- A Shion sempre me repreendia, dizendo para fazer isso e fazer aquilo. E como uma idiota eu fazia tudo o que ela pedia. Eu vivia na sombra dela, sem ao menos perceber. Não tinha uma identidade, eu era praticamente invisível.

Com certeza, Hinata era muito parecida comigo. Mas diferente dela, eu era invisível de nascença, não precisava de alguém para me ajudar naquele quesito.

- Quando estava na oitava série o Naruto entrou na escola no meio daquele ano e a Shion caiu louca de amores por ele. Confesso para você que eu também me interessei pelo Naruto, mas a Shion chegou primeiro e pós as garras nele. Teve um dia que ela foi a minha casa e pegou meu diário escondido e o leu. Lá estava todos os meus sentimentos reprimidos pelo Naruto. E aí dá para imaginar o que aconteceu, né?

- Nossa, como alguém pode ler o diário de uma pessoa assim? Isso é tão íntimo e pessoal.

- Vai dizer isso para ela. - Respondeu Hinata. - Ela tirou satisfações comigo, e deixou de ser minha amiga naquele dia e passou a me ignorar. Lembro-me que ela colocou toda a sala contra mim. Eu não tinha tantos amigos, e uma sala inteira te ignorando foi o meu pior final de fundamental que eu já tive.

- Essa Shion é um monstro – estava incrédula de como as pessoas podem ser cruéis com as outras. Hinata não tinha culpa por ter os mesmos gostos para garoto que a ex amiga. Isso não dava o direito de Shion menosprezar uma amizade e deixar todos contra Hinata. Isso era tão desumano e injusto.

Naquele momento eu imaginava as cenas e me colocava na cena. Eu numa versão mais forte de mim mesma aparecendo ao lado de Hinata e a defendendo desses abutres e a consolando como uma amiga deve ser com a outra. Mas isso só ficaria na minha imaginação, pois a Sakura forte não existia, só uma fraca que quando tenta defender a amiga acaba piorando a situação.

Eu era um desastre.

- A Ino ficou minha amiga no início do primeiro ano, depois que a Shion me humilhou na frente de todo mundo. Chorei horrores no banheiro naquele dia e a Ino foi como uma fada, e me consolou, me deu conselhos e me fez enxergar que eu era muito melhor do que a Shion me fez parecer. E a partir daquele dia nós começamos a andar juntas e eu comecei a gostar mais de mim e não ter medo de mostrar quem eu sou. Eu devo muito a Ino.

- A Ino é uma pessoa incrível – murmurei, lembrando-me de hoje e de seus conselhos. Ela tinha o poder de me fazer sentir-me menos insignificante e ver as coisas de um outro ângulo. Mas diferente de Hinata, eu ainda tinha medo de mudar. O desespero aparecia quando eu pensava na palavra mudança. Talvez seja o fato de que a mudança saia do meu campo de controle e tome proporções que eu não consiga controlar.

- Ela é – e sorriu, balançando a cabeça para os lados –, apesar dela ser bem maluca.

Era inevitável não sorrir quando lembrava das maluquices de Ino.

Atravessamos a rua depois de esperamos um carro e uma moto passar e agora estávamos do outro lado, entrando numa outra avenida. E Hinata continuou:

- Naquele ano, o Sasuke entrou na escola e logo ficou amigo do Naruto, o meu primo Neji e o Sai. A Ino naquela época era louca pelo Sasuke e com a sua lábia acabou entrando no grupo para poder paquerar o Sasuke, o que não deu muito certo, e como eu estava junto com ela acabei entrando no grupo dos meninos também. E de alguma forma eu acabei criando amizades com o Naruto e os outros. E o grupo é o que você conhece agora.

- Hm. - Eu tentava visualizar todo o processo daquele grupo que eu agora fazia parte, e reprimir aquele pequeno incômodo com o fato de Ino ter sido apaixonada pelo Sasuke. - E o Naruto namora a Shion?

- Namorava... sei lá mais, depois de hoje eu não duvido de mais nada. O fato é que, é muito ruim gostar de alguém que não sente o mesmo, sabe? A Ino ainda fica colocando minhocas na minha cabeça, dizendo que ele gosta de mim e que é para eu dar o primeiro passo. Você viu lá no banheiro, ele acreditou naquela vaca e foi com ela. Isso é o que mais me decepcionou, pois eu tinha uma ponta de esperança da Ino está certa.

- Talvez ela esteja certa, e a Shion só esteja forçando a barra.

Hinata balançou a cabeça para os lados.

- Não quero mais saber disso. Eu vou arrancar o Naruto do meu coração de uma vez por todas. Eu preciso arrumar um namorado - riu baixinho. - Olha o que eu estou falando. Quando chegar em casa eu vou me trancar no meu quarto, colocar o meu pijama lilás de unicórnios e me entupir de doces até morrer de diabetes enquanto escuto BTS no volume máximo.

- Meu Deus Hinata.

E ela me fitou.

- Você tem sorte Sakura, por que o Sasuke te ama. Será que eu seria uma pessoa ruim se eu sentir um pouquinho de inveja de você?

- O quê? - Arregalei meus olhos, surpresa. - Inveja de... mim?

- Eu sei que é ruim, mas você é uma garota legal, bonita, meiga e tem um namorado lindo que a ama. E eu? Uma EXG comilona que tem um amor platônico por um garoto que está nem aí para mim.

Eu não podia acreditar no que Hinata dizia. Estava incrédula. A Hinata! A garota mais legal, linda, tão perfeita quanto a Ino em seu estilo boazuda estava com a baixa autoestima. Ela tinha inveja de mim? Eu, Sakura Haruno, que a um mês atrás era anônima a todos a minha volta.

- Acho que você está louca – murmurei, ainda descrente em como ela podia se comparar a mim.

- Eu sou uma idiota.

- Não é - e parei de andar, fazendo-a parar também. - Como você pode se comparar comigo? Você é linda, engraçada, muito legal. Você não precisa do Naruto para se sentir bem, ele é muito idiota por não perceber a garota maravilhosa que você é. E o fato de eu ter um namorado e você não, é que ainda estou tentando entender o que Sasuke viu em mim.

Agora era Hinata que estava incrédula enquanto me fitava.

- O quê? Sakura você está se ouvindo agora? O Sasuke viu em você o que todo mundo vê, uma garota incrível, e que só precisa de mais confiança... – e depois se interrompeu, olhando para os lados, parecia confusa. - Que droga, olha o que eu estou dizendo? Estou te repreendendo por se rebaixar e eu estou fazendo a mesma coisa. – E levou as mãos na cabeça. – Eu estou ficando mesmo louca. Eu preciso de uma grande dose de açúcar, eu preciso stalkear os perfis dos meninos do BTS, eu preciso ver animes shoujo, eu preciso ler fanfics...

- Hinata – coloquei minhas duas mãos em seus ombros e a sacolejei, ela estava surtando.

Ela pareceu voltar a si e me fitou, os olhos arregalados e agora marejando.

- Me desculpe – murmurou -, eu não estou bem.

Eu não tinha o que falar, estava assustada. Apenas abracei e Hinata não hesitou em aceitar o meu abraço, afundando seu rosto em meu ombro e sendo vencida pelas lágrimas e começando a chorar.

- Eu sinto muito – foi tudo o que eu podia dizer.

Naquela hora o meu abraço era tudo o que eu podia oferecer, pois só o tempo que iria encarregar de curar um coração partido.

- Obrigada – ela disse, se afastando e secando as lágrimas de seus olhos. Seu rosto estava bem vermelho. – E me desculpe, acho que irei para casa.

- Você quer que eu te acompanhe?

Ela negou com a cabeça e sorriu chorosa.

- Eu vou pegar um metrô aqui perto, ainda tem sorvete na minha geladeira – e voltou a chorar, terminando de falar as últimas palavras -, é de chocolate.

Meus Deus!

- Hinata – e a abracei mais uma vez, estávamos chamando a atenção de algumas pessoas que passava na rua. Eu estava realmente preocupada com ela e queria desesperadamente que Ino estivesse ali, ela saberia o que fazer. – Deixa pelo menos eu te acompanhar até a estação.

- Não quero atrasar você, Sakura – sua voz saiu chorosa, se afastando mais uma vez de mim e secando novamente seus olhos.

- Não vai me atrasar – e sorri, tentando passar um pouco mais de conforto e confiança para ela. – Você é mais importante agora do que o meu trabalho.

Hinata apenas sorriu, os olhos vermelhos e o rosto também.

- Obrigada, Sakura. Você é uma amiga muito fofa.

Sorri comprimido, sentindo minhas bochechas ficarem levemente quentes com o elogio. Mudamos a rota de nosso caminho e acompanhei Hinata até a estação de metrô.