Capítulo 16 - Devastada
Cheguei na minha casa no meio de um temporal, encharcada dos pés à cabeça, levando embora a sujeira de ovos e farinha, mas o cheiro havia permanecido e era insuportável. Sasuke me acompanhou todo o caminho, desde esperar o ônibus até a minha casa, segurava sempre a minha mão com os dedos entrelaçados nos meus. Aquilo me deu uma certa segurança, sua presença ao meu lado era confortante e ele estava super atencioso comigo, sempre me perguntando como estava me sentindo em cinco em cinco minutos. Sua preocupação era óbvia, estampado em seu rosto molhado com os cabelos emaranhados pela sua face.
Eu tentei fingir que estava bem, mas era impossível dizer que estava bem, quando estava um frangalho humano, eu me sentia destruída. Mas consegui segurar minhas lágrimas o máximo que eu podia, para não preocupar Sasuke mais ainda, eu tentava desesperadamente me fingir de forte e que iria ficar bem, mas eu sabia que não ficaria.
Peguei minhas chaves na mochila e abri a porta de casa e entramos rapidamente e fechei a porta atrás de mim. Tiramos os sapatos e os deixamos perto da porta, junto com as nossas mochilas.
- Vem, vou pegar umas toalhas para nos secarmos – eu o chamei, seguindo para o meu quarto enquanto escutava Sasuke soltar alguns espirros.
A situação era tão tensa que eu não havia percebido que aquela era a primeira vez que Sasuke entrava em meu quarto e o quão aquilo era estranho para mim, pois ele era o primeiro garoto que entrava ali.
- O seu quarto é a sua cara, define muito bem sua personalidade. – Ele disse, observando cada detalhe que havia ali, sem avançar muito por estar molhando todo o chão.
Eu apenas abri meu guarda-roupas, e tirei duas toalhas e uma calça de moletom preta e um casaco de flanela azul com leves riscos em xadrez, as únicas peças de roupas que havia sido de meu pai e que eu havia guardado e usava quando o tempo estava muito frio ou quando a saudade que sentia por ele apertava com muita força.
- Aqui – e estendi as roupas e a toalha, observando seus olhos negros fitarem minhas mãos. – As roupas foram de meu pai... são as únicas peças masculinas que tenho. Espero que não se importe.
Seus olhos que estavam nas roupas estendidas focaram em mim, sua expressão era difícil de identificar o que ele pensava sobre a respeito, mas quando o pequeno sorriso se abriu em sua boca e seus dedos gelados tocaram os meus e pegou a muda de roupas que eu estendia, fez meu coração bater mais rápido e meu rosto ficar quente.
- Eu não me importo, vai ser uma honra para mim usar as roupas que foram de seu pai.
Eu apenas sorri meio que comprimido, desviando meus olhos dos deles que estavam intensos me fitando, sentindo um calorzinho aquecer meu peito com sua resposta. Aquelas duas únicas peças de roupas que eu o emprestava eram importantes para mim.
Sasuke soltou uma sequência de espirros o que me trouxe de volta a realidade e perceber a sua situação e automaticamente lembrei-me de seu problema de saúde. Me senti péssima por ele estar todo molhado daquele jeito.
- O banheiro é logo aqui na frente, tome um banho e troque essas roupas molhadas. – Minha voz soou banhada de preocupação por seu estado de saúde.
- Negativo, você vai primeiro – ele me contrariou, franzindo o cenho.
- Você que vai primeiro – uni as sobrancelhas, meu tom de voz saindo mais forte que o dele, ignorando minha timidez por estarmos sozinhos em meu quarto. – Está espirrando muito, e pode acabar tendo uma crise de bronquite.
- Mas...
- Nada de más – e o empurrei para fora do meu quarto e abri a porta do banheiro que era logo de frente. – Eu irei demorar muito no banho para tirar todo esse fedor e resíduo de ovo e farinha.
Sasuke suspirou, dando-se por vencido.
- Tudo bem, você ganhou dessa vez.
Foi inevitável não soltar um meio sorriso, ainda mais pela cena engraçada de vê-lo com o rosto pouco emburrado por ter sido contrariado.
Quando ele entrou no banheiro e fechou a porta, o sorriso que havia em minha boca desapareceu. Suspirei, sentindo meus olhos ficarem embaçados, mas segurei aquelas lágrimas. Eu não iria chorar.
Voltei para dentro do meu quarto, fungando a coriza em meu nariz e fui procurar uma roupa confortável e quente em meu guarda-roupas, ouvindo o som do chuveiro ligado no banheiro. Peguei o meu pijama lilás de algodão com estampas de ursinhos, minha lingerie e uma toalha limpa para mim.
Fiquei observando pela janela a chuva forte castigar do lado de fora, o tempo estava escuro e pelo jeito iria demorar para estiar. Abracei meu corpo com meus braços enquanto as cenas da minha humilhação vieram como chicotadas em minha mente. As risadas nojentas daquelas pessoas se divertindo em minhas custas, sem ter um pingo de consciência de como aquela brincadeira machucava uma pessoa, não um machucado físico, mas sim um emocional, que destruía qualquer tipo de confiança e autoestima. Eu me senti o pior dos seres humanos, eu me senti um lixo. Era um sentimento muito ruim saber que minha presença era tão odiada assim, eu era jugada sem ao menos me conhecerem, sem ao menos saberem como me sentiria sendo apontada como se eu tivesse feito algo de errado...
- Sakura?
Saí de meus devaneios e virei meu copo, encontrando Sasuke no portal do meu quarto, vestido com as roupas do meu pai que haviam ficado um pouco maiores por ele ser mais magro que ele. E foi inevitável meu coração não bater forte com a sua imagem bonita pós banhos, os cabelos molhados e mais desgrenhados ainda, segurava suas roupas molhadas.
- Ah... – pisquei algumas vezes e sorri de nervosismo, secando meus olhos rapidamente com as mãos. – Você pode colocar as roupas dentro da máquina de lavar, é depois da cozinha... tem uma pequena lavanderia.
Com meus passos rápidos peguei minhas roupas limpas, evitando seus olhos preocupados me fitando. Passei por ele como uma bala e me tranquei no banheiro. Pendurei minhas roupas e fitei meu rosto e olhos vermelhos no espelho, não era uma boa imagem de mim mesma. Eu estava péssima, meus cabelos molhados e unidos por uma meleca gosmenta e dessa vez soltei aquelas lágrimas que prendia e elas desceram rolando uma depois da outra, deixando meu rosto mais vermelho ainda, minha expressão mais péssima.
Eu realmente era diferente das outras pessoas, eu não tinha uma personalidade marcante, ou uma coragem incrível, eu era simplesmente uma pessoa apagada, que quando se tem um pouco de destaque as outras pessoas massacram por ser fora do padrão.
Eu queria ser diferente do que eu sou agora, juro que eu queria. Eu queria mudar, ser uma pessoa mais forte e destemível como a Ino que enfrentava seus problemas, ou corajosa e super animada como a Hinata era, mas eu era apenas uma fracassada. Eu não conseguia mudar quem eu era, eu tenho medo de ser mais massacrada, tenho medo de não conseguir suportar ser pisoteada, por que dói. Dói tanto que fica difícil suportar, e mesmo com o apoio do garoto mais lindo que eu já vi e que gosta verdadeiramente de mim, ele não tinha o remédio que curasse aquela dor que rachava a minha confiança e minha autoestima ao meio.
Retirei todas as roupas molhadas do meu corpo e entrei no box molhado enquanto fungava meu nariz. Eu chorei novamente, sentindo a água quente do chuveiro tocar a minha pele, levando embora todos os resíduos daquele dia ruim, a sujeira de um vandalismo e um pouco da tristeza que havia em meu peito. Apertei meus olhos fortemente, limpando meus cabelos com shampoo, minha boca tremia e segurei para o soluço não sair alto, pois Sasuke não merecia ter todo aquele tipo de preocupação com uma garota fraca como eu. Ele tinha problemas por demais com sua saúde para ter um fardo como eu de bônus, isso não.
Depois de um banho tomado - tirando todo o fedor de ovo – e vestida com o meu pijama eu finalmente saí do banheiro com minhas roupas molhadas em mãos. Eu havia me recomposto antes de sair do banheiro e não chorava mais, mas meu rosto e meus olhos ainda vermelhos me denunciavam. Sasuke não estava em meu quarto e o encontrei sentado no sofá da sala, olhando seu celular. Seus olhos desviram para mim e logo se pôs de pé.
- Você está bem?
Apenas assenti com a cabeça, e ergui minhas roupas para ele poder ver.
- Só vou colocá-las na máquina.
E segui até a lavanderia, as roupas de Sasuke já estavam dentro da máquina, apenas joguei as minhas e depois de colocar o sabão e o amaciante eu a programei e deixei fazendo o seu processo.
Senti um par de braços me rodearem por trás, me pegando de surpresa e um beijo sendo depositado em meu ombro direito sob o tecido do pijama. Sasuke me virou para sua frente e me abraçou forte, e depois de dois segundos eu acabei retribuindo aquele abraço reconfortante, sentindo seu corpo colado ao meu de um jeito mais... íntimo.
- Não precisa fingir que está tudo bem, eu sei que você não está nada bem. – Ele disse baixinho, seu rosto em meu ombro. – Pode chorar se você quiser, mas quero que saiba que eu vou estar aqui com você.
- Obrigada – e o apertei com todas as minhas forças.
- Saiba que essas pessoas que fizeram isso com você vão pagar, cada uma, elas vão pagar.
E novamente senti o molhar quente de minhas lágrimas rolando por meu rosto. Sasuke era uma pessoa maravilhosa, um namorado maravilhoso, meu herói maravilhoso e que amo muito com todo o meu coração. Amo na mesma proporção que eu respiro, e só dele está ali me envolvendo em seus braços acalmava um pouco o meu coração.
- Eu só peço desculpas por não está com você e defende-la daqueles abutres.
- Você não tem culpa de nada, Sasuke – e me afastei um pouco para ver seu rosto, ele secou minhas lágrimas com seus dedos, e fechei meus olhos apreciando seu gesto delicado. – A culpa é minha por eu ser quem sou.
Ele agarrou cada lado de meu rosto e me fitou no fundo de meus olhos, seu rosto era sério.
- Entenda, Sakura, não se diminua por causa desses idiotas, você é uma garota incrível e inteligente. Você é muito mais do que você pensa que é, só precisa ser mais autoconfiante e não se rebaixar para qualquer tipo de ofensa. E eu juro que a partir de hoje ninguém vai tocar em um fio de cabelo seu sem passar por cima de mim, entendeu?
Balancei minha cabeça para os lados, mordendo o lábio.
- Você não precisa jurar nada, você já faz muito por mim.
- Não foi o suficiente – ele disse, ainda sério. – Eu briguei com você ao invés de apoiá-la e deixá-la mais confortável para confiar em mim e contar o que estava acontecendo. Eu fiz tudo errado.
- Você não fez – e balancei a cabeça negativamente. – Eu que fui idiota, pensei que conseguira resolver tudo sozinha. Não queria te preocupar enchendo seus ouvidos com meus problemas.
- Mas eu quero que você encha os meus ouvidos e me preocupe com seus problemas – ele retrucou, pousando suas mãos agora em meus ombros. – Você ainda não entendeu que eu quero cuidar de você? Eu sou seu namorado e meu dever é cuidar de você, minha linda namorada cabeça dura.
Sorri comprimido, sentindo minhas bochechas ficando vermelhas.
- Eu entendi – minha voz saiu baixinha, fazendo os cantos da boca de Sasuke erguer-se para cima, para logo em seguida seus lábios tocarem os meus.
Meus olhos se fecharam automaticamente quando sentia minha boca se entreabrir com a dele para assim sentir sua língua tocando a minha em movimentos enquanto nossos lábios se moviam num beijo lento. Suas mãos desciam por meus braços e agarravam minha cintura, puxando mais meu corpo contra o dele, e minhas mãos automaticamente agarravam seu pescoço, sentindo a ponta de seus cabelos úmidos torarem minha pele.
Estávamos sincronizados dentro de nosso mundinho particular que somente ao som de nossos beijos e da máquina de lavar ecoavam pelo local. Assustei-me quando senti as pontas dos dedos de Sasuke tocarem a minha pele por debaixo da minha blusa do pijama para em seguida sentir toda a sua mão, subindo as minhas costas. E antes que eu me afastasse com aquele novo contato diferente de todos os contatos, Sasuke se afastou de mim bruscamente, dando alguns passos para trás e com as mãos sob nariz e boca começou a espirrar, um atrás do outro em sequências. Ele puxava o ar para os pulmões e voltava a espirrar.
Ele estava resfriando.
- E-eu vou preparar um chá – disse, ainda com as bochechas vermelhas.
- Não... – e espirou novamente – precisa.
- Precisa sim, você está começando a se resfriar – e franzi o cenho, entrando na cozinha e procurando os ingredientes para o chá.
- É sério, Sakura, não precisa. – Ele insistiu novamente enquanto entrava na cozinha fungando o nariz.
Peguei uma chaleira e virei-me para ele.
- Vai para sala e me espere lá, por que daqui a pouco eu levo o seu chá. – Ele tentou retrucar, mas eu fui mais rápida. – E nem tente discutir, você não disse que iria cuidar de mim? Então, eu também quero cuidar de você.
Meu argumento pareceu quebrar qualquer tipo de protesto, joguei praticamente as mesmas palavras que ele acabara de jogar a pouco tempo para mim. Sorri satisfeita quando ele se deu por vencido e assentiu com a cabeça, pouco a contragosto e saiu da cozinha, indo para a sala.
Apressei-me e preparei logo um chá quente para ele e para mim. Entrei na sala com as duas xícaras em mãos, encontrando-o sentado no sofá, soltando um espirro, seu nariz já estava vermelho.
- Aqui – entreguei a sua xícara.
- Obrigado.
Coloquei a minha em cima da mesinha de centro e fui até meu quarto e peguei um cobertor, voltando em seguida para a sala.
- Sakura, não precisa disso. – Sasuke retrucou quando via eu estendendo o cobertor e cobrindo seu corpo enquanto ele levantava a mão para cima para não tocar na xícara.
- Você precisa se esquentar – eu disse. – E tome o chá, não coloquei açúcar, pois sei que odeia coisas doces.
- O chá está ótimo – disse com o canto de sua boca curvado para cima.
Apenas assenti com a cabeça, pegando minha xícara em cima da mesinha.
- Sente aqui – ele pediu quando percebeu que iria me sentar no outro sofá. – Por favor.
Mordi o canto de minha boca e me aproximei, ele abriu o cobertor e afastou um pouco para o lado e me sentei ao seu lado e em seguida ele jogou a coberta em mim, cobrindo-me, com um pequeno sorriso satisfeito na boca enquanto minhas bochechas estavam para lá de vermelhas.
Segurei minha xícara com as duas mãos e assoprei um pouco antes de tomar um gole superdoçe do meu chá. Senti o braço de Sasuke encostar-se ao meu, enquanto ele bebia do seu chá.
- Está chovendo muito ainda – disse baixinho, querendo desesperadamente quebrar aquele silêncio constrangedor.
- Pois é – ele concordou. – Vou ligar para meu irmão vir me buscar, só vou lhe incomodar um pouco mais, pois ele ainda está na faculdade a essa hora.
- Você não me incomoda – e o fitei e ele sorriu e beijou minha bochecha.
- Você é uma namorada muito atenciosa, sabia?
Desviei meus olhos para o lado e dei mais outro gole do meu chá.
- Você me deixa sem graça quando fala assim.
- Assim como? – Ele perguntou, se remexendo e ficando virado para mim, seus olhos negros me fitando e me deixando com mais vergonha ainda.
- Deixa para lá – murmurei, olhando qualquer coisa que não fosse seus olhos.
Ele riu baixinho e pousou um braço em volta de meus ombros e me abraçou de lado, me aconchegando mais contra o seu peito. E novamente eu era arrebatada com novas sensações diferentes em uma posição completamente nova para mim, fazendo aquele friozinho circular meu estômago. Por um momento eu havia me desligado do ato de brutalidade que aconteceu comigo, Sasuke estava me distraindo de meus demônios internos e depressivos.
Ficamos daquele jeito, um perto do outro naquele sofá, cobertos pelo cobertor trocando beijos e escutando a chuva cair lá fora, perdemos totalmente a noção do tempo. E foi quando a porta da sala foi aberta e minha mãe entrar afoita que a realidade me bateu. Estávamos praticamente deitados no sofá, minha cabeça apoiada no peito de Sasuke enquanto ele fazia carinho em meus cabelos. Me afastei dele rapidamente e os olhos de minha mãe focaram em nós, o cenho levemente franzido.
- Sakura?
- Mãe... – me pus de pé, deixando o cobertor cair no chão, sentindo meu coração bater com força em meu peito.
- Senhora Haruno, como vai. - Sasuke também ficou de pé e assentiu com a cabeça e atraindo a atenção de minha mãe para si que franziu mais o cenho o fitando de cima a baixo, reconhecendo as roupas que ele usava.
- Sakura, você pode me explicar o que está acontecendo? – Seus olhos me fitaram, e aproximou-se mais, ela estava pensando coisas que não deviam.
- Mãe, não é nada disso que a senhora está pensando – eu disse a frase mais estupida de todas.
Ela ergueu as sobrancelhas.
- Não?
- Senhora Haruno, a Sakura me emprestou essas roupas por que as minhas estavam molhadas.
- A gente se molhou na chuva, e eu coloquei as roupas do Sasuke para lavar – me expliquei, sentindo minhas mãos trêmulas.
- A sua escola me ligou e disse que você foi alvo de alguns alunos que fizeram uma brincadeira de mal gosto com você. Fiquei muito preocupada e vim para casa saber como você estava.
- Ah...
Eu havia ficado sem palavras. Não sabia que a escola iria ligara para minha mãe e relatar o que havia acontecido, por que geralmente quando essas coisas acontecem, nem a direção ficava sabendo.
- Senhora Haruno – Sasuke tomou partido em se explicar, tomando toda a atenção de minha mãe. – A Sakura sofreu bullying fisicamente, pegaram-na por detrás da escola e jogaram ovos e farinha nela.
- O quê? – Os olhos de mamãe arregalaram, incrédulos. – Como assim? Por que fizeram isso? – Ela se aproximou de mim, com suas duas mãos em meus ombros. – Você está bem, querida?
Eu só balancei minha cabeça para cima e para baixo, concordando, mas no fundo eu não estava bem.
- A culpa foi minha – continuou Sasuke, fazendo minha mãe o fitar. – Foram umas garotas que se denominam ser minhas fãs, elas ficaram com ciúmes de Sakura ser minha namorada e acabaram fazendo essa maldade com ela.
- Você não tem culpa de nada – eu disse para ele.
- Essas meninas não podem sair impune – minha mãe falava com uma certa irritação na voz. – Eu irei na sua escola resolver esse assunto amanhã.
- Mãe, acho que...
- Você não acha nada, Sakura – ela me interrompeu. – Bullying é uma coisa séria, e você já sofreu isso uma vez, e sei muito bem como você deve estar se sentindo agora.
- Mãe! – A repreendi, sobre ela tocar naquele assunto, e fitei Sasuke que observava curioso sobre o que ela havia dito.
- Completamente essas pessoas vão ter o que elas merecem, senhora Haruno.
Minha mãe sorriu para Sasuke.
- Obrigada por ser cuidadoso com minha filha.
- Não precisa agradecer, eu amo a sua filha.
E aquilo havia soado como música para os ouvidos de mamãe que estava sorrindo toda derretida para ele enquanto minhas bochechas pegavam fogo.
Mamãe me abraçou apertado, e me senti mais protegida em seu colo de mãe que me mimava. Perguntou se a gente havia almoçado e depois de Sasuke dizer que iria embora depois que ela tenha chegado para me fazer companhia, mamãe não aceitou, e o convidou para jantar, não aceitando um não como resposta. E depois de muito insistir ele acabou aceitando e vez ou outra soltava espirros o que deixou mamãe em alerta.
Enquanto minha mãe estava na cozinha, nós dois fomos para o meu quarto, levando dessa vez nossas mochilas e fizemos juntos o dever de casa em cima da minha cama, e claro, minha porta estava aberta. Posso dizer que depois de uma manhã horrorosa o finalzinho da tarde para o começo da noite foi divertido, e novamente Sasuke havia me distraído.
Jantamos nós três na mesa, mamãe havia feito rosbife, arroz e batata frita, estava gostoso e Sasuke elogiava enquanto comia, deixando minha mãe ainda mais encantada por ele. Posso considerar que mamãe havia se tornado uma de suas fãs.
Depois do jantar Sasuke ligou para seu irmão vir pegá-lo, já que quando ele veio atrás de mim mais cedo havia deixado a motocicleta no estacionamento da escola. E depois de vinte minutos a buzina soava lá fora, acompanhei Sasuke até a porta, entreguei uma sacola com seu uniforme já limpo e passado, mamãe fez questão de passar. A chuva havia acessado bastante, mas ainda caía uma fina garoa.
- Então nos vemos amanhã – ele disse, e percebi sua respiração pouco pesada. Já não espirrava, mas seu nariz continuava vermelho e fungava de vez enquanto.
- Tá bom – sorri comprimido, e senti seu rosto se aproximar de mim e sua boca tocar a minha num pequeno selinho rápido.
- Tchau – e abriu a porta.
- Tchau.
Sasuke correu até o Jeep estacionado a frente, o mesmo carro que ele havia me buscado do trabalho ontem. Ele abriu a porta e entrou para em seguida o carro fazer o movimento e sair do meu campo de visão. Fechei a porta e encontrei mamãe me fitando, meus olhos começaram a encher d'água, e a tristeza e o medo tomaram conta de mim.
- Filha... – mamãe se aproximou e me abraçou forte. – Como você se sente?
- Mal, mamãe – e as lágrimas escaparam por meus olhos e chorei novamente enquanto abraçava ela com força. – Não quero nunca mais voltar para aquela escola.
Eu não me sentia à vontade de olhar para a cara de ninguém e vivenciar a maldade que sofri.
Eu estava com medo daquilo acontecer novamente.
