Capítulo 19 - Doente

Eu parei em frente a uma casa de dois andares na cor creme com telhado marrom, contrastando com a porta, as janelas e a calha da mesma cor. O muro que a cercava era da cor da casa e plantas rasteiras cobriam as bordas e o vento fazia as folhas desprenderem das árvores que haviam a volta. A casa de Sasuke era muito bonita, assim como a rua enfeitada de árvores pelas calçadas, diferente da minha.

Minhas mãos soavam geladas quando subia aqueles cinco degraus até pairar de frente para aquela porta fechada e apertei a campainha. Esperei, mordendo o canto de minha boca enquanto meu coração acelerava e a ansiedade e nervosismo tomava conta de mim.

Saí da escola depois de avisar as meninas que iria visitar Sasuke, pois elas queriam me acompanhar até minha casa e me fazer companhia. Hinata havia me entregado suas anotações que ela estava fazendo para Sasuke e que mandava Ino entregar a Naruto que o levava para ele, já que ela não está falando com Naruto direito depois do incidente com a Shion no banheiro. Ino disse que Hinata havia ficado bem chateada e que Naruto não havia tocado no assunto, mas alegou que ele sentiu o afastamento de Hinata e o clima estava bem estranho entre eles, o que fazia as meninas lanchar longe dos meninos todos os dias no intervalo.

Depois de alguns minutos eu voltei a tocar a campainha novamente, já imaginando que não poderia ter ninguém em casa. Mas para a minha surpresa a porta se abriu depois de dois minutos e automaticamente prendi a respiração quando vi Sasuke do outro lado do portal. A surpresa era visível em seu rosto quando me via ali, corroendo-me de culpa por não ter atendido suas ligações e por ele estar doente. Estava pálido e com algumas olheiras em volta olhos e os cabelos estavam todo desgrenhado. Usava calça de moletom cinza e uma camiseta branca de mangas e era visível que estava abatido, mas mesmo assim continuava bonito e fazia meu coração acelerar gradativamente.

- Sakura? – Sua voz era surpresa, assim como a sua expressão que me observava quase que incrédulo.

Acho que ele não imaginava que eu pudesse aparecer ali depois de vários dias sem nos falarmos.

Tentei um sorriso falho.

- Oi.

E a seguir agi no impulso e o abracei, minhas mãos em volta de sua cintura e meu rosto enterrado em seu peito, sentindo o seu cheiro suave e quente. Demorou alguns segundos até sentir seus braços me apertando, e fechei meus olhos com uma vontade absurda de chorar, mas segurei-me, a última coisa que eu queria era Sasuke preocupado comigo.

- Me desculpe – murmurei contra o seu peito, e o apertei mais forte.

- Por que está se desculpando?

- Por ter te ignorado... eu não... – e tentei balançar minha cabeça para os lados - eu não tive a intenção...

- Tudo bem – ele me interrompeu, sua voz arrastada, afastando-me de si com suas mãos em meus ombros e agora me fitando os olhos. – Você vai acabar pegando minha gripe se continuar perto de mim assim.

Balancei minha cabeça para os lados novamente, mordendo o lábio, me sentindo uma tola.

- Eu não me importo.

- Mas eu me importo – ele retrucou, franzindo o cenho, afagando meu rosto com sua mão quente, colocando uma mecha de meu cabelo para detrás de minha orelha. Em seguida deu um passo para trás e abriu mais a porta, dando espaço para mim entrar.

Entrei em sua casa tendo uma ampla visão da sua sala com piso de madeira, um sofá L de frente para uma poltrona de dois lugares na cor marrom e cheia de almofadas e um tapete quadriculados embaixo deles e uma mesa de centro ao meio. Atrás havia uma escada estreita com o corrimão prateado levando para o andar de cima que dava para umas portas de madeira que deveria ser os quartos. A casa era ampla e bonita, muito bem decorada.

Sasuke fechou a porta e espirrou, fazendo virar-me para ele e tentar me aproximar.

- Não, Sakura, por favor – e se afastou um pouco mais para longe de mim. – Não quero ver você doente por minha causa.

Foi um pouco inevitável não senti um certo desconforto com o seu gesto de querer se manter longe de mim, mas tentei disfarçar.

- Como você está? – Perguntei, o seguindo para o meio da sala.

Ele parou e virou-se para mim.

- Melhor, passei por dias ruins, mas estou melhorando. Acho que poderei voltar a escola na semana que vem.

- Soube que estava internado... A culpa é minha, você pegou aquela chuva toda e acabou doente...

- Não se culpe, por favor, não se culpe – e suspirou, passando a mão em seu cabelo e o jogando para trás, parecia pouco cansado. – E você, como você está?

Ele hesitou um passo até a mim, mas se retesou em seu lugar, ele não queria chegar perto e me senti péssima por ele se preocupar tanto por mim como se eu fosse uma boquinha frágil. Odiei isso, aquela superproteção toda comigo era agonizante.

Ignorei seus protestos e avisos e me aproximei dele e o abracei novamente.

- Sakura...

- Eu não vou me afastar – e o abracei mais forte, percebendo o quanto eu havia sentido a sua falta. – Não depois de tanto tempo sem te ver.

Eu podia sentir minhas bochechas ficarem quentes e meu coração tão acelerado que parecia que iria sair pela minha boca, mas ignorei. Ignorei a minha vergonha e meus limites confortáveis, concebendo as minhas vontades interiores e de meu coração. Eu gostava tanto de Sasuke que as vezes me assustava, tudo aquilo era único e novo para mim.

Aos poucos ele se deu por vencido, o corpo relaxando até seus braços me apertarem contra si. E ficamos ali, daquele jeito por alguns minutos, ambos perdidos em devaneios e saudades. Eu podia ouvir as batidas de seu coração, ele batia tão rápido quanto o meu batia.

- Eu senti a sua falta – murmurei baixinho, me aninhando ainda mais em seus braços, sentindo-me de alguma forma protegida contra o mundo.

- Eu também senti a sua falta – e senti seu queixo apoiar o topo da minha cabeça. – Me desculpe por não ter ido te ver... Acho que o fato de você está aqui diz que o Naruto deve ter lhe contado o que aconteceu.

- Contou – e me afastei dele para olhar o seu rosto, e ele me puxou para nos sentarmos no sofá maior, um de frente para o outro. – Não briga com ele, tá?

Tirei a minha mochila das costas e a deixei no chão, ao meu lado. Sasuke segurou a minha mão e entrelaçou os nossos dedos, fungando seu nariz.

- Aquele boca grande. Ele também disse que você não estava indo para escola, te liguei, mas você não atendeu. Mandei até uma mensagem para sua caixa postal dizendo que iria a sua casa, mas acho que meu caso complicou e não deu para sair.

- Eu ouvi a sua mensagem. – E minhas sobrancelhas abaixaram, culpadas. - Eu sinto muito, eu desliguei o celular, não queria ver ninguém, só queria ficar sozinha.

- E como você está? – Ele voltou a pergunta anterior.

- Estou melhor... – resolvi ser honesta. – Estou fazendo tratamento com uma psicoterapeuta e estou me sentindo melhor do que ontem, do que anteontem... voltei para escola hoje.

- Eu sinto muito – e levou as costas de sua outra mão ao meu rosto, e mordi o lábio com o toque, desviando meus olhos para a nossas mãos unidas. - Puniram as pessoas que fizeram isso com você.

- Eu sei, as meninas me contaram tudo – e sorri cansada, voltei a fitá-lo. – Eu só queria esquecer tudo isso agora.

- E eu queria estar com você nesse momento ruim. Desculpe a droga de namorado que tem, com uma saúde toda fodida.

Levei minha mão ao seu braço e franzi o cenho com as suas palavras.

- Não fala assim, você é perfeito. Problemas de saúde todo mundo tem, uns com mais e outros com menos. Não se martirize com isso. E também, mesmo você estando saudável eu só queria ficar sozinha, eu precisava desse tempo para colocar algumas coisas no lugar – sorri forçado. – A minha cabeça ficou uma bagunça danada e não vou mentir para você que foi bom, por que não foi, mas estou bem melhor agora. Eu vou ficar melhor.

Ele sorriu, o primeiro sorriso que ele me dava naquele dia.

- E você vai ficar melhor.

- Você também vai ficar melhor – e retribui seu sorriso.

- A semana não foi muito boa para nós.

E balancei minha cabeça para os lados.

- Não.

Ele pegou a minha outra mão e sorriu mais, seus lábios estavam pouco rachados e ressecados. Me puxou para mais perto e me abraçou mais uma vez, afundando o seu rosto agora em meu pescoço.

- Mas você aqui agora e melhorou bastante o meu dia.

Minhas mãos espalmaram as suas costas.

- Também estou um pouco mais confortável por ver que você está melhor.

E me afastei um pouco e observei seu rosto abatido, sentindo uma vontade de beijá-lo. Uma hora ou outra eu teria que tomar minhas próprias decisões, ousar um pouco mais. Aproximei meu rosto semicerrando meus olhos e toquei seus lábios com os meus, leve e delicado, pressionando aos poucos e sentindo a maciez deles. Foi um selinho simples, mas com muito sentimento, saudades... Sasuke tentou transformar aquele toque em um beijo de verdade, mas desistiu no meio, interrompendo nosso pequeno beijo, afastando-se um pouco para trás com o seu corpo.

- Acho que não é uma boa ideia – ele levou as costas de sua mão a boca e virou seu rosto para o lado.

Eu fiquei confusa com seu gesto, e o fato de ele está com um rubor em seu rosto me fez piscar algumas vezes.

- Me desculpe – e abaixei meu olhar, sentindo-me também envergonhada com minha atitude ousada.

Ele não queria.

- Por que está me pedindo desculpas?

Mordi o canto de minha boca, com receios de olhar para seu rosto.

- Eu... – Não consegui responder, agora estava morrendo de vergonha.

- Eu que peço desculpas.

E desta vez o fitei, parecia sem graça enquanto coçava atrás de seu pescoço.

- O quê?

- Eu quero muito te beijar, mas... eu acabei pensando besteiras...

E no momento que o meu cérebro processou o que ele estava falando, senti meus olhos arregalarem e meu rosto ficar tão quente que parecia que havia entornado um molho de pimenta flamejante sobre ele.

- Ah...

Era incrível como a honestidade de Sasuke poderia ser tão... constrangedor.

E de repente nós dois estávamos sem graça e não encontrávamos assuntos para argumentar. Aquela havia sido a primeira vez que mencionamos algo que chegasse perto de compartilhar cama e lençóis. E o fato de ele ter pensado nisso enquanto eu o beijava, havia me pegado de surpresa, ainda mais eu que estava em sua casa, e pelo jeito que não havia aparecido ninguém, presumo que estávamos sozinhos.

- Então... – ele começou, se remexendo no sofá. - Você não deveria estar trabalhando?

Agradeci muito por ele ter arrumado um assunto e iria me prender aquilo o mais rápido possível, aliviada por sair de um bastante constrangedor.

- A minha mãe falou com dona Chiyo e ela me deu essa semana de folga.

- Entendi.

Silêncio.

- Ah! – Lembrei-me de algo, pegando minha mochila e a abrindo. - Eu trouxe as anotações, a Hinata está fazendo para você, não é?

- Sim, obrigado – e fungou o nariz mais uma vez, pegando o caderno que estendia a ele.

- Ela disse que você vai ter que copiar tudo hoje, por que ela vai precisar do caderno amanhã.

- Ok, vou me apressar para copiar tudo.

- Você está sozinho? – Quis só ter a confirmação do que eu já previa.

- Estou – disse, abrindo o caderno e verificando as anotações. - Itachi está trabalhando, só volta no final da tarte

- Você já comeu?

Ele fechou o caderno e me fitou, mas não respondeu.

- Você não comeu.

- Estou meio que sem fome – e fez uma careta.

- Você não pode ficar sem comer. - Franzi as sobrancelhas com o descaso que fazia a sua alimentação, como se eu não fosse igual. - Está doente e pálido, vai acabar piorando.

E os cantos de sua boca começaram a se erguerem para cima, eu via que ele tentava reprimir aquele sorriso, mas seus olhos estavam o denunciando.

- Sabia que eu gosto de vê-la desse jeito, autoritária?

- Você está zoando com a minha cara.

- Juro que não estou – e agora sorriu abertamente, lindo. – Mas gosto de vê-la se preocupando comigo, eu sei que isso soa meio que egoísta, mas eu gosto. Mas não precisa se preocupar, não estou com fome.

Umedeci meus lábios discretamente, sentindo meu coração aquecer com aquele sorriso perfeito.

- Você cuidou de mim quando eu mais precisava, agora é a minha vez de cuidar de você. – E fiquei de pé, deixando a mochila em cima do sofá. – Vou preparar algo para você comer.

Ele também se levantou, ficando a minha frente.

- Não se preocupe com isso, Sakura. Juro que não estou com fome.

- Aonde fica a cozinha? – Perguntei, ignorando os protestos e olhando para os lados, a procura de uma porta ou corredor que me levasse até ela.

- Você não vai desistir, não é?

Reprimi um sorriso e o fitei balançando a cabeça para os lados, ignorando o fato de sentir meu rosto ficando quente, pois estava ultrapassando uma linha confortável e deixando-me ser um pouquinho mais ousada. Sasuke precisava de mim, e eu tinha que ser forte e corajosa para lhe dar apoio.

Ele soltou um suspiro, se dando por vencido.

- A segunda porta naquele corredor.

Ele apontou para o lado direito da sala, em direção ao hall aonde ficava uma enorme mesa de seis cadeiras envolta de uma decoração muito bonita, tanto nas paredes como nos objetos e móveis.

- Ok – e comecei a me locomover, sentindo-o me seguir atrás.

- Eu vou te ajudar.

Parei no meio do caminho e o impedi com uma mão espalmada em seu estômago.

- Negativo. Você vai descansar agora e quando estiver pronto eu levarei para você.

Suas sobrancelhas negras franziram em contestação.

- Sakura...

- Sem reclamar – eu havia sido dura em minha decisão, não me deixando levar por sua expressão de cachorrinho abandonado.

Mas no fim ele acabou sorrindo, soltando a respiração pelo nariz.

- A senhorita quem manda – e aproximou-se de mim, depositado um beijo em minha testa, sua mão tocando o meu ombro. – Qualquer coisa estarei no meu quarto, é logo ali em cima, deixarei a porta aberta.

- Ok.

Eu me afastei primeiro, dando as costas e caminhando em direção aonde ele havia indicado. Havia um corredor que dava direto para a cozinha e, nossa, era grande, espaçosa e bem bonita e limpa, como se não tivesse a usado naquele dia. Os móveis eram na cor mel, com uma bancada de granito escuro, as paredes pitadas de um cinza médio, e uma janela acima da pia com a paisagem do quintal do lado de fora.

E quando eu me via sozinha naquele cômodo totalmente diferente do que estava acostumada, eu peguei me questionando, o que diabos estava fazendo? Não era meu feitio ser intrometida e colocar a mão nas coisas dos outros, nunca havia feito isso que não seja na minha casa... para falar a verdade, nunca fiquei sozinha ou fiz comida na cozinha de ninguém.

Mas para tudo tinha uma primeira vez, não é? Sasuke era meu namorado e estava doente, eu apesar dos meus problemas estava bem de saúde e disposta a ajudar. Então por que eu me via questionando-me justo agora? Por que eu tomava uma decisão e depois me reavaliava, e queria voltar a minha rotina sem graça?

Meus questionamentos internos eram confusos, um lado sempre brigava com o outro. O medo brigando com a mudança. Era difícil, mas... uma coisa que percebi ontem, era que eu não queria ser para todo o sempre daquele jeito. Eu tinha que crescer, e para crescer eu tinha que encarar as mudanças e a cada dia elas estavam a minha frente com milhares de opções de escolhas que me levaria a vários outros momentos que enfrentaria para me tornar uma pessoa melhor.

Uma coisa que percebi foi que a vida havia colocado Sasuke em meu caminho, e com ele me trouxe amizades verdadeiras que gostavam verdadeiramente de mim, e eu gostava de saber que eu era querida por essas pessoas. Eu gostava de saber que eu era importante, e eles eram importantes para mim, principalmente Sasuke. Ele havia entregado seu coração para mim e eu estava disposta a amá-lo.

Respirei fundo, espantando qualquer tipo de pensamentos ruins que possam surgir, e enfrentei aquele pequeno obstáculo, erguendo a cabeça e começando a trabalhar, ignorando aquela vozinha negativa que tentava me por barreiras.

Procurei pelos armários as panelas, abri vários até os achar, assim como a geladeira, incerta do que iria fazer para Sasuke. O que ele gostaria de comer?

Pensa... e foi aí que algo iluminou minha mente. Isso! Tomates. Havia lembrado de que ele havia confessado que amava tomates, talvez uma sopa deles agradasse o seu paladar fastioso.

Achei um saco deles dentro da geladeira e peguei mais alguns temperos e utensílios para o preparo daquela sopa. Acabei me distraindo no preparo daquela comida e confesso que o cheiro estava muito bom, fazia meu estômago roncar, lembrando-me que estava só com o café da manhã no estômago.

Depois quando a sopa já estava pronta, arrumei o prato com a colher e um copo de água dentro de uma bandeja que estava num lado e o levei para Sasuke, subindo as escadas com cuidado para não derramar a sopa. Antes mesmo de chegar em cima podia escutar um barulho estranho de aparelho e segui na direção do som que vinha de uma porta aberta que deveria ser o quarto de Sasuke. E era dele mesmo, estava sentado em sua cama com uma perna para fora e outra dobrada para cima, enquanto fazia nebulização naquele inalador, olhando as anotações do caderno de Hinata.

A minha chegada chamou sua atenção e timidamente adentrei o seu quarto, observando o local com pareces cinzas, teto branco e cortinas claras e fechadas. Era a primeira vez que eu entrava no quarto de um garoto, e pelo visto Sasuke era organizado, apesar da cama está bastante bagunçada.

- Fiz sopa de tomate para você.

Ele ergueu as sobrancelhas e tirou a máscara de plástico e aspirou o cheiro da sopa no ar.

- Isso está cheirando muito bem – e sorriu. – Pode colocar em cima da mesa. – E observou o copinho de acrílico com um líquido dentro que ele segurava. – Já estou quase terminando aqui – e voltou a segurar a máscara no seu rosto.

- Tudo bem – e coloquei a bandeja em cima da sua mesa de estudos, e afastei alguns livros e cadernos da escola para o lado.

- Você não vai comer? – Ele perguntou, tirando a máscara novamente.

- Eu?

- Se eu vou comer, você também vai comer.

- Vou pegar o meu lá embaixo – disse, sem condições de renegar, pois estava faminta.

Ele sorriu.

- Ótimo, vou ficar aqui esperando – e voltou a colocar a máscara mais uma vez.

Saí de seu quarto e desci as escadas, indo para a cozinha preparar o meu prato, impressionada por aquela situação soar tão natural. Depois de preparar o meu prato, subi para o seu quarto segurando o meu prato pelas bordas para não queimar meus dedos. Sasuke estava desconectando o inalador da tomada e o deixava num canto. Eu fiquei parada com o prato nas mãos, esperando ele jogar o cobertor para o lado e abrir espaço naquela cama de casal. Ele sorriu para mim, indicando a cama para eu sentar, mas preferi comer em sua mesa de estudos, colocando meu prato em cima.

- Acho melhor ficar aqui – disse, puxando a sua cadeira de game para trás e me sentando nela, e nossa, como era confortável.

- Vai me deixar comendo sozinho nessa cama? – Ele perguntou com uma tristeza fingida, pegando a bandeja em cima da mesa e indo para sua cama.

- Para drama – e virei a cadeira para sua frente, apoiando a minha cabeça para trás. – Essa cadeira é maravilhosa – e foi inevitável não ficar girando a cadeira de um lado e para o outro, era muito bom.

- Acho que não tão maravilhoso quando o cheiro dessa sopa – ele se ajeitou na cama, com as costas na cabeceira, colocando o seu copo de água no criado mudo ao lado, e cheirou a sopa. – Tem certeza que não quer comer aqui? A cama é mais confortável.

- Dispenso – e parei de girar -, a sua cadeira é mais confortável.

Ele olhou para mim e sorriu, levando uma colherada da sopa a boca depois de soprar. Seus olhos a seguir arregalaram um pouco e prendi a respiração, agora não tão certa quando ao tempero daquela comida.

- Está... ruim?

Sasuke fez um momento de tensão, a expressão séria, levou outra colherada da sopa a boca para depois olhar para mim, ainda sério.

- Está delicioso - os cantos de sua boca começaram a erguerem para cima. – A melhor sopa de tomates que eu já comi.

- Não precisa me bajular – e voltei para minha sopa, assoprando um pouco na colher.

- Estou dizendo a verdade, essa sopa é maravilhosa. – E levou mais um pouco a boca. – Adoro tomates.

Provei da minha sopa e estava gostosa, mas não tão saborosa como o que minha mãe fazia, mas dava para comer. Como previsto, Sasuke estava me bajulando.

- O da minha mãe é melhor – disse tomando mais um pouco.

- Você está brincando? – Ele parecia incrédulo. – Isso aqui está muito bom.

- Para.

- E sério. Itachi e eu não somos bons na cozinha e a gororoba rola solta aqui. Vivemos mais sob comida processada e pizza, ou vez ou outra pedimos comida no restaurante.

- Isso faz mal à saúde.

Agora estava explicado porque a cozinha estava um brinco de limpa.

- Estamos sobrevivendo e é isso que importa.

Não discutimos mais aquele assunto e comemos um bom tempo calados, a não ser por um comentário ou outro de Sasuke sobre a bendita sopa, elogiando sobre ela estar gostosa. E para quem dizia que estava sem fome, ele desceu até a cozinha atrás de mais e voltou para o quarto com o segundo prato enquanto eu nem tinha chegado a metade do meu.

- Obrigado pela sopa, estava muito boa – ele disse depois que terminou o seu segundo prato, agora ficando de pé. Eu já havia terminado o meu e ele agarrou o meu prato vazio junto com a abandeja e o copo vazio. – Vou levar isso aqui lá para baixo.

- Deixa que eu levo – e levantei-me da cadeira.

- Não, você fica, já fez por demais em preparar comida para mim. Eu preciso circular um pouco, passei muito tempo na cama. – E seguiu para a porta. – Já volto.

Suspirei o vendo sair e me deixando sozinha em seu quarto. Permiti-me observar o local que ele dormia com mais atenção. Era um pouco maior que o meu, havia um guarda-roupas grande, uma televisão pregada na parede, uns dois puff, a mesa de estudos com notebook daqueles de game, uma iluminaria, as coisas da escola, um caneco com canetas e um boneco do Vegeta de pé ao lado. A sua cama era de casal e nas paredes acima havia várias prateleiras na cor escura e muitas delas abarrotadas de mangás e HQs, também havia mais bonecos de animes, assim como carrinhos em miniaturas e quadros com frases escritas e um pôster dos Transformers e outro da banda Linkin Park.

Sorri, vendo que aquilo tudo era um pouco do que o Sasuke era, seu cantinho particular. Meus olhos logos foram atraídos para um porta-retratos em cima da mesinha ao lado de sua cama. Era uma foto de Sasuke mais jovem ao lado de uma mulher bem parecida com ele e um homem e mais outro garoto um pouco maior. O local ao fundo era de terra e rochosos e havia ossos no chão, grandes demais para serem de humanos.

- Essa foto foi tirada na África do Sul, na área de escavação aonde meus pais estavam trabalho a uns cinco anos atrás.

Levei um susto com sua voz, virando meu corpo para trás e já o encontrando no quarto, ao meu lado.

- Você me assustou.

- Desculpe – e sorriu -, você estava tão distraída que não me viu entrar.

- Acho que me distraí mesmo, você estava fofinho nessa foto.

Ele revirou os olhos, e eu voltei a observar a fotografia, prestando mais atenção nos contornos ainda infantis que haviam no seu rosto.

- Você tinha quantos anos?

- Doze, quase treze – respondeu.

- Presumo que esses são seus pais e seu irmão.

- Sim, e no fundo um fóssil de um Saurópodes... bom, uma partezinha do que foi ele.

- Isso é bem grande.

- Você não imagina o quanto – e o senti me abraçar por trás e beijou-me o ombro antes de me soltar. – Trouxe a sua mochila.

Virei-me para ele.

- Obrigada.

Ele passou a mão nos cabelos, os levando para trás e os prendeu com um elástico, colocando seus óculos em seguida. Não era preciso dizer que meu coração acelerou só de vê-lo assim, despojado com um jeito estudioso.

Sasuke começou a copiar as anotações e aproveitei para fazer minha lição de casa. Trocamos algumas confidências de nosso dever e confesso que foi divertido. Sasuke estava todo cheio gracinhas, apertando a minha bochecha quando eu corava por um comentário de duplo sentido seu. Mexia no meu cabelo do nada quando estava concentrada no dever, me fazendo dar uns tapas em sua mão, e me cutucava a costela com o dedo depois quando percebeu que eu sentia cócegas naquele lugar. Conclusão, eu acabei um pouco irritada e ameacei falsamente de ir embora, mas no fundo eu estava adorando. Não sabia o que tinha dado nele, assim tão de repente.

E assim se passou aquela tarde que mal havia percebido a hora passar, e quando dei por mim eu estava observando o irmão de Sasuke na porta de seu quarto nos olhando nós sentados em sua cama enquanto ele me mostrava alguns de seus mangás favoritos.

Juro que paralisei ali, minha mente rebobinando as falas de Sasuke que havia me dito que seu irmão só voltava no final da tarde. Que horas são afinal?

- Temos visita? – A voz do irmão de Sasuke soou, as sobrancelhas erguidas para cima. Os dois eram muito parecidos fisicamente.

- Itachi.

Sasuke se levantou da cama, ficando de pé. Aquilo foi um despertar, para pegar meu celular e ver as horas, 6hrs e 49min. Meu Deus, minha mãe já havia chegado e iria me matar.

- Atrapalho? – Itachi perguntou, ainda parado no portal.

- Eu tenho que ir. - Saltei da cama pegando as minhas coisas didáticas que estavam espalhadas e jogando na mochila.

Sasuke me interrompeu, agarrando minha mão e me conduziu para perto de seu irmão, e não era preciso dizer que minhas bochechas estavam vermelhas.

- Itachi essa é a Sakura.

- A tão falada Sakura? – Seu tom me fez olhar para Sasuke que apenas deu de ombros. – Tem bom gosto, irmãozinho, ela é muito bonita.

- Obrigada – murmurei me sentindo estupidamente tímida.

Itachi estendeu a mão para mim.

- Prazer, Sakura.

- Sakura esse é meu irmão Itachi – Sasuke fazia as apresentações.

Apertei a mão estendida, sorrindo com os lábios comprimidos.

- Prazer.

Soltei a sua mão e ele fitou Sasuke.

- Como está?

- Bem.

Itachi assentiu com a cabeça, concordado.

- Sasuke eu tenho que ir – e soltei de sua mão para pegar a minha mochila na sua cama.

- Eu levo você para casa – a voz de Itachi soou, me fazendo olhar para ele.

- Ah, não... – sorri nervosa – não precisa se preocupar.

- Está escuro para você andar sozinha, Sakura – disse Sasuke, insistindo. – Fica tranquila, o Itachi te leva.

- Não precisa ficar com medo – Itachi disse com a voz brincalhona.

Arregalei os olhos.

- Não estou com medo de você... desculpe por pensar assim.

Itachi apenas sorriu, erguendo as sobrancelhas.

- Então aceita?

- Não quero incomodar.

- Você não incomoda – respondeu Sasuke ao meu lado.

- Só me dê um minuto – disse Itachi sumindo do nosso campo de visão.

Soltei um suspiro e fitei Sasuke.

- Juro que posso muito bem ir sozinha e não incomodar seu irmão, ele acabou de chegar.

- Deixa disso – e agarrou a minha mão, me puxando para fora de seu quarto. – Se minha saúde não estivesse uma droga quem iria levar você era eu.

Parei por um segundo no corredor perto da escada e o fazendo parar também.

- Nada de fazer extrapolias.

Ele sorriu e me roubou um beijo.

- Você que manda – e estendeu um livro de Mangá para mim. – Aqui, primeiro volume de Noragami para uma iniciante. Você verá que ler mangás com toda essa ilustração é muito melhor do que algo sem graça como livros.

Apertei os olhos pegando seu livro de Mangá muito bem conservado.

- Ok, darei uma chance para as suas escolhas se você dar uma chance as minhas.

Ele fez uma careta, e comprimi meus lábios para não sorrir.

- Tudo bem, contanto que seja um bem legal.

- Vou trazer algo amanhã que você possa gostar.

- Vamos? – Era a voz de Itachi se aproximando da gente com passos rápidos, mexendo nas chaves em sua mão.

Descemos juntos as escadas para o andar de baixo e Sasuke nos acompanhou até a porta enquanto Itachi tirava o carro da garagem.

Virei-me para Sasuke.

- Amanhã eu volto de novo, se não for incomodar.

Ele segurava minha mão ainda.

- Você nunca me incomoda – aproximou seu rosto e me beijou, mas não aprofundamos, já que interrompi com o som do carro já saindo para a rua.

- Tchau.

Sorri, pouco corada, começando a andar, e soltando do aperto de sua mão e o deixando parado no portal.

- Tchau.

Dei as costas e com passos rápidos abri a porta do carro e sentei no banco do carona, sendo recebida com um sorriso amigável de Itachi, antes de ele dar a partida.

O silêncio naquele carro se formou por alguns minutos, eu ainda me sentia acanhada para começar uma conversa com o irmão do meu namorado. Eu não era tão boa assim em me relacionar com novas pessoas, e quando Itachi começou um diálogo, eu meio que agradeci. Pois era péssima para começar um.

- Meu irmão gosta muito de você.

Mordi o canto da minha boca e minhas unhas rasparam o tecido da minha mochila, sinônimo de nervosismo.

- Eu também gosto dele – minha voz era bem baixa, olhava para a rua iluminada e com carros a minha frente.

- Isso é bom – e percebi que ele me olhava, acabei olhando para ele também, mas logo voltou sua atenção para o tráfego. – Nunca vi Sasuke agindo daquele jeito como vi hoje, confesso que fiquei impressionado. Você é a primeira garota que ele leva para casa.

- Ele não me levou para sua casa... – e ele me olhou de relance rapidamente. – Quer dizer, eu meio que apareci hoje sem avisar.

- Não quis dizer isso, mas sim por você ser a primeira namorada de Sasuke.

Aquela confissão havia me surpreendido, e voltei toda minha atenção para Itachi, curiosa.

- A primeira?

- Sim. Sasuke sempre tinha umas paquerinhas, mas nunca chegou a ser algo sério. Para ser honesto, ele não é de sair muito de casa, gosta de ficar enfurnado naquele quarto jogando videogame e lendo aquelas mangás e HQ.

- Ele comentou que não gosta de sair.

- Por isso fiquei surpreso quando o vi escapulir todas noites – e soltou uma risada abafada. – O bandido estava de namorada.

E novamente eu me via com minhas bochechas coradas, virei meu rosto para ver a janela ao lado, para que Itachi não percebesse o quanto seu comentário havia me afetado.

- Eu não sei se ele te contou, mas Sasuke tem um problema de saúde.

Suspirei aliviada por seu assunto ser mais sério, e recompus meu espirito envergonhado.

- Ele me disse que tem bronquite.

- Sim. – Concordou. - Os problemas respiratórios é um carma da vida dele, os invernos sempre são as piores estações, as crises eram uma atrás da outra. Algumas delas são fortes o suficiente para deixá-lo internado dias no hospital. E foi o que aconteceu essa semana, ele teve uma crise e acabou ficando internado por dois dias. Está bem melhor do que antes, mas mesmo assim está acabado. Eu sei que você deve estar se perguntando por que estou lhe dizendo isso, mas se você gosta mesmo de Sasuke tem que saber que ele não é cem por cento saudável.

- Eu entendo – e fitei minhas mãos, enquanto mordia o lábio. Podia sentir meus olhos ficarem pouco embaçados, e a culpa corroendo-me por inteira. – A culpa é minha.

Itachi me olhou quando parou no semáforo fechado, mas não disse nada. E continuei:

- Ele pegou toda aquela chuva por minha causa e acabou ficando doente. A culpa é minha.

Eu evitava piscar os olhos para não deixar aquelas lágrimas escaparem, mas não podia evitar aquele sentimento de culpa, por que eu realmente tinha culpa.

- Não sei o que aconteceu para que vocês ficassem na chuva – e voltou a dirigir -, mas uma coisa eu sei, se Sasuke pegou toda aquela chuva sabendo das consequências é por que você é importante para ele. Se culpar assim não vai fazer ele ficar bom e muito menos mudar o que foi passado, só lhe causará dor de cabeça.

Não respondi.

E o silêncio reinou até o carro parar de frente a minha casa, agradeci pela carona e antes de sair daquele carro, Itachi me chamou, me fazendo olhar para ele.

- Antes de você ir, quero que saiba que você faz bem ao meu irmão. Sasuke não é mais o mesmo cara resmungão de antes. – E sorriu. – E obrigado por fazer meu irmão feliz.

E novamente eu não tive o que responder, não imaginava que a minha presença significava para Sasuke a tempo de fazê-lo mudar. Eu era muito importante para ele.

Sorri pouco sem graça e assenti com a cabeça e saí do carro.