Capítulo 20 - Pais
Fracassada.
Fracassada.
Fracassada.
Eu me via encolhida num canto escuro, os olhos fechados com força e as mãos tampando meus ouvidos, tentando inutilmente não escutar o coro de vozes ditando todos os meus defeitos. Eram muitos rostos, e vários eram conhecidos, meus amigos estavam ali e riam e apontavam para mim, dizendo o quando eu era uma fracassada, um ninguém.
Eu queria que aquilo parasse.
Eu queria que aquilo tudo desaparecesse.
E consequentemente eu acabei por chorar, gritando com todas as minhas forças para eles pararem, meu coração se destruída a cada proclamação de ódio. E como resposta a minha súplica, uma chuva de ovos me acertava, me sujando por inteira. Não havia para aonde ir, eu não conseguia me levantar daquele chão. Não conseguia sair daquele canto escuro. Não conseguia me libertar. Não conseguia fazer eles pararem...
Meus olhos se abriram de uma vez, e as lágrimas que desciam por meu rosto deixava minha visão embaçada, dificultando de enxergar ao meu redor. Eu estava no meu quarto, e aquilo era apenas um pesadelo.
Um pesadelo.
Todo o meu corpo tremia, e acabei por chorar baixinho, as imagens daquele sonho ruim nítidas em minha memória. Por mais que eu tentasse me fazer esquecer daquele dia no pátio, as lembranças vinham como enxurradas em pesadelos noturnos, desestabilizando todo o meu sistema emocional. Isso era muito ruim, me sentia a pior pessoa do mundo, e o pouco da minha pequena autoconfiança havia desaparecido, e o medo falava mais alto.
Respirei profundamente, secando as lágrimas que escorriam de meus olhos e funguei a coriza algumas vezes. A última coisa que eu queria era preocupar minha mãe com os meus medos, eu tinha que ser forte.
Ser forte.
Tentar ser forte.
Olhei as horas no meu mais novo relógio despertador, descobrindo que iria me atrasar se ficasse mais um segundo fazendo corpo mole. E isso foi um empurrão para puxar meu corpo para fora daquela cama, mesmo querendo voltar para debaixo dos lençóis e nunca mais entrar naquela escola. Mas eu já tinha dado o primeiro passo, e o pior havia sido ontem, hoje era só o segundo passo, caminhando para frente, deixando as coisas ruins do passado para trás.
Quando entrei na cozinha já arrumada, encontrei mamãe puxando a cadeira para se sentar, a mesa já estava arrumada para a nossa primeira refeição do dia.
- Bom dia – murmurei sem animação, puxando a cadeira e me sentando em seguida.
- Que cara é essa? – Ela perguntou, parando de colocar o açúcar em seu café, olhando para mim. – Está passando mal?
Neguei com a cabeça, pegando o pão e o requeijão, evitava olhar em seu rosto para ela não perceber meus olhos pouco vermelhos. Não queria que mamãe descobrisse que havia chorado.
- Só tive um sonho ruim, só isso.
- Quer compartilhar?
Balancei minha cabeça para os lados.
- Só quero esquecer.
Ouve um momento de silêncio entre a gente, apenas desfrutando do nosso café da manhã, e o meu estava com um gosto ruim. Não digo isso pela comida, mas sim pela minha boca ter um gosto amargo, mas tentei ignorar, pois não gostava da comida da escola.
- Não se esqueça que tem uma consulta com a psicoterapeuta depois da escola – disse mamãe de repente, me fazendo olhá-la rapidamente.
- Eu sei.
- Quer que eu vá com você? Posso pedir ao senhor Sarutobi para me liberar mais cedo, e te pego na escola.
- Não precisa – e a fitei novamente depois de dar um gole no meu leite. – Eu vou sozinha... ahn, eu vou dar uma passada na casa do Sasuke depois.
Mamãe arqueou as sobrancelhas.
- Não acha que vai ficar muito tarde para você não? Saiba que não gosto que ande a noite pelas ruas sozinha, é perigoso. Ainda mais com esse tempo ficando ruim, a meteorologia deu uma tempestade para hoje à noite.
- Prometo que não vou ficar muito tarde lá, é só uma passada rápida... estou levando as anotações da escola para ele.
- Hm. – E desviou sua atenção para o café, bebericando, enquanto seus olhos voltavam para mim novamente. – Você gosta mesmo dele, não é?
Eu quase que me engasguei com o leite. Era difícil conversar sobre meus sentimentos, ainda mais meus sentimentos amorosos. Eu simplesmente travava, e uma onda de vergonha tomava conta de mim.
- É – minha resposta era vaga, e sabia que meu rosto estava vermelho.
- Sakura, não precisa ficar com vergonha de falar sobre seu relacionamento com esse menino. – Não respondi, pois era difícil para mim conversar sobre garotos com mamãe, a vergonha ia a um nível cem. – Gosto dele, e estou feliz em ver que ele faz seus olhinhos brilharem...
- Mãe... vamos mudar de assunto? – E me levantei da cadeira. – Eu vou indo.
- Não esqueça de pegar um casaco mais grosso e um cachecol, está bastante frio lá fora.
- Tá.
E antes de sair completamente da cozinha, ela me chamou:
- Quer que eu a espere na Coffee Stand para irmos para casa juntas?
- Pode ser. - Sorri para mamãe antes de sair da cozinha.
. . .
Não vi Hinata quando cheguei a escola, e isso me impedia de entregar as anotações dela que havia emprestado para Sasuke. E muito menos vi Ino... apesar que havia chegado quase em cima da hora, e fui direto para minha sala de aula.
A professora de biologia passou um trabalho em dupla para ser feito na aula, e assim começando a bagunça e desordem de arrastar cadeira pela sala, para montar as duplas da vez. Eu apenas me mantive no meu canto, esperando quando ela entregasse a folha de exercícios - que seria o trabalho - tendo consciência de que o faria sozinha como todas as outras vezes. Mas algo chamou minha atenção, um arrastar de cadeira parou ao meu lado e uma cabeleira loira tomando conta do meu campo de visão.
- Oi, posso fazer o trabalho com você? – Os olhos azuis de Naruto me fitavam enquanto um sorriso enorme estava em seu rosto.
O quê?
- Ahn... – eu não sabia o que falar, pois estava surpresa o suficiente com aquela façanha. Ninguém nunca havia feito trabalho escolar comigo. E aquilo era... estranho. – Ok – e pisquei algumas vezes, atordoada, olhando para frente, enquanto a professora distribuía a folha para as duplas. – E o Neji?
Eu tentei procurar Neji com um olhar, o achando logo em seguida ao lado de Rock Lee, o filho do professor de educação física, Gai.
Naruto soltou uma risada sem graça, coçando o pescoço.
- Ele não quer mais fazer trabalhos comigo depois do fiasco da sala de química na semana passada.
Eu me lembrava do incidente nos tubos de ensaios, e um Neji muito furioso com um Naruto por ter estragado o trabalho, levando nota baixa e uma advertência da professora por ter misturado componentes que não deviam.
- Hm.
Desviei meus olhos para frente ao mesmo tempo que a professora entregava a folha de tarefas para gente.
Nós começamos a debater com voz baixa as respostas que se encaixavam nas perguntas, o trabalho era sobre genética. E posso dizer que não vi dificuldade em responder as perguntas, e Naruto sabia quase todas as respostas, alegando que aquela matéria era a sua favorita e química era o seu pesadelo, assim como a matemática e física.
Eu nunca tinha parado para conversar com Naruto... quer dizer, a não ser ontem quando me falou sobre a condição de saúde de Sasuke. Mas nunca ficamos sozinhos para estudar ou conversar algo, o que foi uma surpresa era o fato de que era tão fácil conversar com ele, como era com a Ino. Naruto falava de tudo e parecia saber o ponto certo para despertar o interesse de alguém. E comigo não havia sido diferente, pois eu me peguei falando mais que o normal, ganhando uma repreensão da professora. Claro que morri de vergonha e abaixei a cabeça, me calando e olhando feio para Naruto que apenas comprimia os lábios, tentando não rir enquanto puxava a folha de exercícios para responder à questão que sabia.
Entregamos a folha de exercícios a professora depois que terminamos e ela nos liberou para sair.
- Nenhum professor jamais chamou minha atenção, e a culpa é sua. - Olhei feio para ele com a boca crispada enquanto andávamos pelo corredor vazio em direção aos armários.
- Olhe pelo lado bom – ele começou, me acompanhando -, pelo menos vai ter algo legal para rir quando for alguns anos mais velha.
- Você está ouvindo o que está dizendo? Você é pirado.
Naruto apenas gargalhou como resposta e chegamos aos armários. Tratei de abrir o meu para pegar o livro da próxima aula, segurando com a outra mão o casaco e o cachecol que havia guardado ali mais cedo e que estava caindo.
- Você foi na casa do Sasuke ontem? – Naruto perguntou, uns três armários afastado do meu.
- Fui – respondi, colocando o livro debaixo do meu braço e enfiando mais para dentro do armário o meu casaco.
- Como ele está?
Agachei, colocando minha mochila no chão e o livro que peguei no meu colo.
- Está melhor – abri a mochila, retirando o livro de biologia e consequentemente o caderno de Hinata veio junto, caindo no chão.
Naruto fechou o seu armário e se aproximou de mim.
- Eu até iria lá hoje, mas tenho curso de inglês mais tarde e amanhã tem um almoço na casa do meu padrinho. Talvez domingo eu dou uma passada para perturbar ele um pouco.
Guardei o livro de história que havia pegado na mochila e meu pé tremeu por estar daquela posição agachada. Eu iria cair sentada para trás se não tivesse agarrado a mão que Naruto estendia para mim, me puxando para cima e me pondo de pé novamente.
- Obrigada – respondi, segurando desajeitadamente a mochila e o livro.
Naruto pegou o caderno no chão, observando a capa com as sobrancelhas loiras levemente franzidas.
- Acho que esse caderno é da Hinata.
Tratei de enfiar logo o livro de biologia dentro do armário e o fechando em seguida.
- Ela emprestou para o Sasuke – e peguei o caderno de suas mãos. - Eu iria entregar de manhã, mas não a vi. Você sabe se ela veio?
Ele assentiu com a cabeça, positivamente.
- Eu a vi quando cheguei – e desviou os olhos para um ponto qualquer atrás de mim. - A Hinata não está falando comigo.
Eu podia sentir um certo desconforto em sua voz quando mencionou o fato da Hinata não está mais falando com ele. E a forma como seus olhos ficaram nublados e triste, eu soube que aquilo o afetava.
- Isso te incomoda?
E seus olhos azuis focaram em mim.
- Mas é claro que me incomoda, a Hinata é minha amiga.
Eu sabia que aquele assunto não era da minha conta, e depois de souber a versão completa da Hinata sobre aquela história e o fato de Shion ser uma vaca, não consegui me segurar.
- Então por que não acreditou nela naquele dia?
- Entenda, eu fiquei confuso em ver ela em cima da Shion. Tudo foi rápido demais e a Shion me puxou, estava tonta e...
Eu não contive uma risada sarcástica, incrédula com o que estava escutando.
- Como você pode ser tão idiota?
- Como? – Ele piscou algumas vezes, não esperava esse tipo de reação vindo de mim. – Eu tentei falar com a Hinata depois, mas ela não quis mais falar comigo.
- Por que você preferiu seguir a pessoa errada – retruquei, sentindo uma raiva tomar conta de mim quando lembrava aquelas cenas no banheiro e o quanto Hinata havia ficado arrasada.
Ela era apaixonada por esse babaca.
- Entenda, eu não consegui reagir naquele momento, a Shion me puxou daquele banheiro e eu apenas fui...
- Você foi por que você quis – não tive pena em atacá-lo, estava defendendo a minha amiga. – Você deu preferência a Shion do que a Hinata, que era a vítima daquilo tudo. Você que não entende o valor que a Hinata tem, o quanto ela é maravilhosa para merecer apenas migalhas da sua amizade, e desconfianças.
Naruto franziu o cenho, não havia gostado do que disse.
- Eu não desconfiei da Hinata – seu tom de voz aumentou um pouco.
E como resposta apenas arqueei as sobrancelhas, olhando bem nos seus olhos, e aquilo havia o desarmado.
- Ok, eu admito que sou o errado na história – confessou, suspirando pesadamente, coçando a cabeça, angustiado. – Mas não sei como irei consertar isso tudo.
Eu estava abrindo a boca para debater quando uma voz soou ao som de passos se aproximando:
- O que vocês dois estão fazendo fora da sala de aula?
Viramos ao mesmo tempo para o inspetor que se aproximava de nós com aquela cara desconfiada.
- A nossa turma está fazendo trabalho e a professora está nos liberando quem terminasse. – Naruto respondeu.
O inspetor olhou para ele e depois para mim.
- Se é assim, então espere lá embaixo, é proibido ficar pelos corredores no horário de aula.
- Sim senhor.
Assentimos com a cabeça, já nos preparando para sair de lá, quando ele voltou a chamar:
- Espere. Você por acaso é Sakura Haruno do terceiro ano?
Voltei minha atenção para o inspetor, sentindo uma pequena tenção tomar conta de mim.
- S-sim.
- A diretora quer falar com você.
O que será dessa vez?
- Tá.
E nos afastamos do corredor a passos longos.
- O que será que a diretora quer com você? – Naruto perguntou, e não parecia que estávamos a dois segundos numa situação bem delicada.
- Eu não sei.
Parei na curva que levava o corredor da diretoria, fazendo Naruto parar também. Coloquei o caderno de Hinata em suas mãos e sua expressão ficou séria, olhando do caderno para mim.
- Entregue a Hinata para mim, e aproveita e seja honesto com ela e com você mesmo. Se você realmente se importa e gosta dela de verdade, apenas deixe ela saber. Se a ver apenas como uma simples amiga, deixe ela saber. Se você não quer mais a sua amizade, deixe ela ficar sabendo e se afaste de uma vez. Não dar para viver numa corda bamba para sempre, isso só faz todos saírem machucados.
Naruto não disse nada, apenas me fitava, processando o que eu havia dito.
- Eu tenho que ir – e dei as costas e caminhei por aquele corredor vazio, deixando-o para trás.
Eu sabia que tinha ido um pouco longe demais, mas alguém tinha que dar o primeiro passo, e esse alguém tinha de ser Naruto com apenas um empurrão na direção certa.
Eu acho.
. . .
Eu estava deitada naquela marca regulável e confortável no consultório da minha psicóloga em minha segunda sessão de psicoterapia. Fitava o teto branco esperando a coragem surgir para começar a desabafar os meus problemas, minhas aflições. Mei, esperava pacientemente sentada em sua poltrona de couro, as pernas cruzadas, o bloquinho de anotações em seu colo, e seus olhos verdes em mim.
Mordia o canto de minha boca, as mãos torcendo uma na outra em cima da minha barriga quando suspirei pela décima vez.
- Eu me sinto um pouco melhor... na verdade eu voltei para escola ontem.
- Isso é ótimo, como você se sentiu?
Umedeci meus lábios, sentindo a pergunta ecoar em minha cabeça.
- Medo... bastante medo..., mas eu queria ver o Sasuke e segui adiante. As minhas amigas me receberam muito bem e disse que sentiram a minha falta. Eu me senti confortável com elas ao meu lado. Mas senti medo de ver algum rosto que me atacou naquele dia, mesmo sabendo que eles haviam tomado uma suspensão.
- Então a sua escola tomou uma atitude a respeito da agressão que você sofreu.
Aquilo não havia sido uma pergunta e sim uma conclusão.
- Foi. – E desviei meus olhos para ela, estava anotando no bloco, mas logo voltou sua atenção para mim. – A diretora me chamou hoje para saber se eu estava bem, e assegurou que fará tudo o que tiver ao alcance para que isso não ocorra mais. Soube que ela fez palestra sobre o assunto no começo da semana.
- A sua diretora fez bem em tomar uma atitude – disse Mei, olhando para mim. – Os alunos em geral, crianças e adolescente com formação de caráter precisam desse tipo orientação. O praticante do bullying é uma pessoa que não aprendeu a transformar a raiva em diálogo. Geralmente sente-se os mais populares, os mais poderosos e querem obter uma boa imagem de si mesmos. Por isso sente-se satisfeitos com a opressão do agredido, supondo ou antecipando quão dolorosa será a crueldade vivida pela vítima. É um caso muito delicado que infelizmente acontece em muitas escolas. Mas com diálogos, debates em grupos e uma criação de um ambiente que propicie o estabelecimento numa relação mais saudável e respeitada para todos costuma ajudar.
Suspirei de novo, voltando a fitar o teto.
- Mas mesmo assim, não apaga as imagens ruins na minha memória... na verdade eu tive pesadelo essa noite, o mesmo que me assombra. Por um momento eu cogitei a ideia de não ir para a escola hoje, mas... – pausei - está difícil de encarar tudo... tenho muito medo ainda. Às vezes fico apreensiva quando estou sozinha na escola... fico imaginando alguém chegar a qualquer momento e me arrastar para os fundos do colégio... isso é aterrorizante.
- O trauma do bullying é uma situação bastante delicada, Sakura. Como você disse na sessão anterior, além de agressões verbais, você sofreu agressões físicas o que é pior, pois afetou o seu psicológico, decaindo a sua autoconfiança. Nós vamos trabalhar para reconstruir o seu emocional e sua autoconfiança. O primeiro passo você já deu, que é uma procura profissional, o apoio de suas amigas...
- Elas são maravilhosas – e foi inevitável não sorrir ao lembrar das duas me tratando com carinho.
- Elas estão fazendo um ótimo trabalho em lhe dar apoio moral, assim como sua mãe, e as atitudes de sua escola. Tudo isso vai ajudar para que você consiga a sua confiança e assim o medo que sente agora vai desaparecendo aos poucos. E o momento ruim que passou vai se transformando numa vaga lembrança que não afetará mais o seu desenvolvimento.
. . .
Hoje era o primeiro dia do inverno, e ele estava dando as honras com o vento frio, o tempo fechado e carregado, me fazendo encolher dentro daquele casaco enquanto parava em frente a porta da casa de Sasuke. E por mais que o casaco por cima do suéter amarelo e o cachecol em volta do meu pescoço deixasse o meu corpo um pouco aquecido, as minhas pernas descobertas sofria com aquele declínio de temperatura.
Levei o dedo a campainha e apertei, voltando a me encolher, pedindo internamente que Sasuke atendesse logo para que assim eu pudesse sair daquele frio no final daquela tarde.
Esperei e dois minutos depois a porta foi aberta, e para a minha surpresa não era Sasuke e muito menos seu irmão Itachi, mas sim uma mulher muito parecida com os dois.
Se eu estava morrendo de frio, agora congelei.
- Pois não?
Ela me olhava com uma curiosidade em seu olhar negro, da mesma cor de seus cabelos longos que estavam soltos.
A minha surpresa era tanta que o meu nervosismo chegou a nível cem, contribuindo para o calor em minhas bochechas e a minha gagueira dolorosamente ridícula.
- Ah... eu... ahn, eu... o Sasuke...
Meu Deus do céu, as minhas mãos estavam tremendo e não era de frio. Eu pensei na possibilidade de dizer aquela mulher que havia sido engando, em seguida dar as costas e sair correndo dali e me enfiar em algum buraco. Meu coração batia tão forte que parecia que iria sair pela minha boca, pois eu sabia quem era aquela mulher, já havia visto sua foto no porta-retratos que havia no quarto de Sasuke. Eu nunca imaginei que a encontraria de uma forma tão... precoce.
Ela piscou algumas vezes, me analisando, e de repente seu olhar mudou para um olhar de reconhecimento.
- Você por acaso se chama Sakura?
- Sim – e balancei a cabeça freneticamente, como uma idiota.
Ela sorriu e abriu mais a porta, me dando passagem.
- Por favor, entre, aqui fora está muito frio.
Hesitei por um segundo àquele convite, mas me rendi a possibilidade de me aquecer um pouco e atravessei o portal, passando por ela e murmurando envergonhadamente um; com licença.
Ela fechou a porta, deixando o calor da casa banhar a minha pele, mas ainda tremia gelada. Me virei para a mulher que havia colocado Sasuke no mundo.
- Eu sou Mikoto, a mãe do Sasuke. - E sorriu novamente, de um jeito bem simpático, mas mesmo assim a tensão não havia me abandonado.
- É u-um prazer conhecê-la, dona Mikoto – e novamente a gagueira agarrando-me como uma doença.
- Meu Deus, como você é linda!
Se meu rosto estava vermelho, acho que agora ele havia se transformado num tomate. Não conseguia lidar com súbitos elogios, eu me sentia estranha, deslocada para falar a verdade.
- O-obrigada... a senhora t-também é muito bonita.
Ela abanou a mão no ar, sorrindo para mim ao mesmo tempo que ouvimos um barulho de passos descendo escadas.
- Gentileza sua, queria.
- Sakura!
Virei meu corpo para trás e lá estava ele, o meu lindo namorado terminando de descer as escadas, e naquela hora meu coração acelerou desenfreadamente. Usava calça de moletom preta e casaco azul de algodão. Seus cabelos estavam amarrados para trás, mas algumas mechas pequenas caiam para frente, deixando mais amostra a sua pequena argola na orelha direta. E os óculos de grau o deixava ainda mais... perfeito.
Minha respiração estava presa na garganta enquanto acompanhava com o olhar todo o seu processo até chegar a mim, fazendo aquele friozinho no estômago ficar mais forte.
- Oi – disse, seus olhos me fitando e um pequeno sorriso no canto de sua boca.
- Oi.
Eu me sentia estupidamente tímida, e o fato de que sua mãe estava ao nosso lado só contribuía para que tudo ficasse mais estranho.
- A sua namorada é uma princesa, meu filho – a dona Mikoto disse, observando nós dois.
- Eu sei mãe – ele respondeu agarrando a minha mão gelada, a sua estava bem quentinha. - E saiba que ela cuidou muito bem de mim ontem.
Olhei assustada para ele, os olhos levemente arregalados.
- Não precisa exagerar.
- Agradeço por ter cuidado do meu filho – disse a dona Mikoto, me fazendo voltar minha atenção para ela -, o Sasuke requer um pouco de atenção extra.
- Agora é a senhora que está exagerando, mãe. – Retrucou Sasuke revirando os olhos, emburrando a cara. Fofo.
A dona Mikoto riu, me contagiando com pequenas risadas observando Sasuke ficar mais emburrado. Mas logo em seguida ele começou a cheirar o ar, as sobrancelhas franzindo. Confesso que também estava sentindo um cheiro de queimado.
- Mãe, a senhora deixou alguma coisa no fogo?
E aquilo foi um gatilho para que ela arregalasse os olhos.
- Ah Meu Deus! – E correu em direção a cozinha, desaparecendo em nosso campo de visão.
- Estou morrendo de vergonha – confessei, me virando para Sasuke, tirando o cachecol do meu pescoço.
- Não fique. - Sasuke havia me ajudado, pegando minha mochila e jogando do sofá. - Minha mãe gostou de você.
Depois que retirei o grosso casaco, ficando só com o suéter, eu olhei para ele.
- Você acha?
Ele sorriu, pegando o meu casaco de minhas mãos e jogando no sofá também. Sua mão tocou meu rosto delicadamente, colocando a mecha do meu cabelo para detrás de minha orelha e em seguida me beijou. Fechei meus olhos e me permiti desfrutar de seus lábios macios se movimentando contra os meus, naquele beijo calmo. Minhas mãos seguravam o seu casaco, mas a consciência voltou para mim, sabendo que sua mãe estava em casa. Me afastei dele, interrompendo o beijo.
Ele colou as nossas testas, nossos olhos se enxergando mais de perto.
- Senti saudades – sua voz era quase um sussurro, nossos narizes se tocando.
- Eu também – eu respondi no mesmo tom, sentindo o canto de minha boca se curvar para cima. – Como você está?
- Praticamente curado – e sorriu convencido, me roubando um beijo rápido. - Eu vou na cozinha, você me espera?
Balancei minha cabeça para cima e para baixo, concordando.
Ele se afastou e saiu pela casa em direção a cozinha, me deixando sozinha naquela sala. Soltei todo o ar dos meus pulmões, tentando relaxar o meu corpo diante daquela tensão toda.
Eu havia conhecido a mãe do Sasuke.
E ela é a minha sogra.
Meu Deus.
Sentei-me no sofá, ajeitando meu casaco e o cachecol para perto de mim. E depois de alguns minutos, Sasuke apareceu novamente, sentando ao meu lado.
- A lasanha que minha mãe fazia queimou toda – e fez uma careta. – Está toda lamuriosa na cozinha, correndo com o tempo para preparar uma outra antes do meu pai chegar com Itachi.
- Foi uma surpresa para mim quando vi sua mãe, pensei que estava sozinho.
- Meus pais chegaram essa madrugada. Itachi passou o relatório do meu estado e eles largaram tudo e vieram no mesmo pé.
Ergui minhas sobrancelhas para cima, achando estranho o tom que ele usou.
- E isso não é bom?
- Sei lá – murmurou, fitando o chão -, depois de tanto tempo sozinho acho até estranho ter eles por perto.
- Não fale assim – e pus uma mão em seu braço, atraindo sua atenção para mim. – O importante é que eles estão aqui com você agora, o resto não importa.
Ele sorriu cansado, virando o corpo para minha frente e pegando minha mão.
- Você tem razão – e abri um sorriso contido como resposta. – Vamos subir para o meu quarto?
- Ahn, acho que não.
- Não?
Soltei a sua mão e peguei minha mochila, abrindo o zíper.
- Eu só vim dar uma passada rápida, e entregar as anotações – abri a mochila e peguei o caderno de Ino.
Não vi Hinata na hora da saída e o intervalo soube por Ino que Naruto havia a abordado e a convencido de escutar o que ele tinha para falar. Eu torcia para aqueles dois se entendesse.
- Aqui – e entreguei para ele -, as anotações são da Ino.
- Obrigado – e abriu o caderno, voltando a fechá-lo novamente. – Pensei que fosse vir mais cedo.
- Eu tinha uma consulta na psicoterapeuta.
Ele me olhou curioso.
- E como foi?
- Bom, eu acho. – Preferi não dar detalhes e voltei meus olhos a mochila, tirando o livro de literatura de capa preta, estendi a ele. – E esse é o livro que prometi, uma literatura básica para um iniciante.
Ele pegou de minhas mãos, observando a capa.
- Mitologia Nórdica – sua voz soou quando lia o título do livro.
- Conta as lendas dos deuses nórdicos – expliquei observando ele abrir o livro e folhear as páginas. – Fala sobre Odin, o heroísmo de Thor, as travessuras de Loki e assim por diante. É bem envolvente, acho que você vai gostar.
- Obrigado, eu vou ver – e me fitou. – Não imaginava que cultura nórdica fosse seu livro favorito.
- Não é exatamente meu favorito, mas acho que você não está preparado para uma Jane Austen.
E foi engraçado como o seu cenho franziu e uma leve careta em seu rosto se formou.
- Você pode falar a minha língua?
Acabei soltando uma pequena risada, percebendo que ele se segurava para não rir.
- Eu falo de Orgulho e Preconceito, Persuasão, Razão e Sensibilidade... e um monte de livros românticos.
Seus olhos se apertaram, numa dignarão muito fingida.
- Está me subestimando?
E novamente eu me via segurando um sorriso que queria escapar de minha boca.
- Você é uma pessoa que gosta de ver gravuras, então uma literatura inglesa seria bem entediante para você no momento.
- Eu tenho uma namorada bem prestativa – disse, voltando a abrir o livro que lhe dei, meio que hesitante. – Só estou achando muitas páginas e as letras são bem pequenas.
- Dê uma chance... eu estou lendo o seu mangá.
E eu vi quando seus olhos brilharam quando me fitou na mesma hora.
- E o que você está achando?
Era incrível o quanto Sasuke parecia uma criança excitada com algum brinquedo, ele não tinha ideia o quanto ficava fofo.
- Gostando mais do que devia – e o seu sorriso se alargou em seu rosto. – Hoje à noite termino, e se não for tão abusada, queria que me emprestasse o segundo volume.
E como resposta ele agarrou atrás de minha cabeça e me roubou um beijo, me pegando de surpresa. Mas logo me afastei, olhando para os lados, consciente de que a dona Mikoto pudesse surgir de repente.
- A sua mãe pode nos ver.
- Como você pode ser tão perfeita?
Voltei minha atenção para ele, podendo sentir o calor se armazenar em minhas bochechas.
- Eu não sou perfeita – e estava longe de ser, pensei.
- Mas você é perfeita para mim – e sua mão afagou meu rosto, meu coração novamente estava disparado. Seu rosto se aproximou mais e nenhuma vez perdemos o contato visual. Eu estava hipnotizada com cada movimento que ele fazia, até um piscar de pálpebras. – Eu te...
- Ah, a lasanha está perdida – a voz da dona Mikoto soou enquanto entrava na sala.
Sasuke e eu nos afastamos no mesmo instante, e me ajeitei no sofá, com as mãos em meu colo e fitando algo invisível no chão, me sentindo pega no flagra com aquelas confissões íntimas de Sasuke.
- Mãe – disse Sasuke se pondo de pé, e a dona Mikoto parou a nossa frente.
- O que foi? – Seu olhar variava de mim a Sasuke. – Que cara são essas? Aconteceu alguma coisa?
- Não aconteceu nada. - Disse Sasuke e eu em uníssonos.
Evitei olhar para seu rosto, sabia que o meu estava vermelho de vergonha.
- Bom, se importa de eu pedir comida italiana? – Ela perguntou, ignorando o jeito que ficamos com sua chegada repentina. - Acho que não vai dar tempo de preparar uma outra lasanha antes de seu pai e seu irmão chegarem.
- Por mim tudo bem.
E agora eu era alvo de seus olhos avaliadores.
- Você gosta de comida italiana, Sakura?
E automaticamente eu me pus de pé, meu constrangimento era enorme.
- Ah, não se preocupe comigo... quer dizer, já estou indo embora.
- Você já vai? – Sasuke perguntou, com toda a sua atenção para mim.
- Sim, eu só vim para trazer as suas anotações – e ver como você estava. Eu quase disse isso, mas me segurei, a vergonha me consumindo como ácido.
- Fica pelo menos para o jantar – insistiu a mãe dele, bem hospitaleira.
- Me desculpe, mas já está ficando tarde.
- Eu te levo para casa – disse Sasuke se oferecendo, e todo o meu interior entrou em alerta.
- Não precisa – tratei logo de interferir naquela ideia estúpida. – Juro que não precisa. E-eu combinei com a minha mãe que iria encontrá-la para irmos para casa juntas.
- Entendi – disse dona Mikoto, compreendendo e olhando feio para Sasuke. Eu sabia que ela compartilhava da mesma linha de opinião que a minha. Sasuke passeando na friagem nem pensar. – Você mora aqui por perto? – Perguntou, voltando-se para mim.
- Moro em Suna com a minha mãe.
- Suna? – E o cenho franziu. - É um pouquinho distante.
- Mas minha mãe trabalha aqui nesse bairro e ela está quase saindo seu expediente no momento.
- Sua mãe trabalha em quê?
- Mãe, pode parar com interrogatório? - Sasuke se virou para a dona Mikoto com as sobrancelhas franzidas. - Está deixando a Sakura sem graça.
- Tudo bem, Sasuke – sorri comprimido, voltando a olhar a minha sogra. – Ela trabalha na loja de antiguidades no centro.
- Hm. E o seu pai?
- Mãe!
Não tinha como evitar o nó que se formou em minha garganta toda vez que me lembrava de papai, e do fato de que nunca mais iria vê-lo, restando apenas lembranças boas em minha memória e sua imagem impressas em fotografias.
- Ele morreu tem uns dois anos.
- Ah – ela abriu a boca, arrependida pela pergunta, os olhos me fitando com ternura. – Eu sinto muito, me desculpe.
Sorri forçado, agarrando o meu casaco que estava no sofá e o colocando em seguida.
- Tudo bem, não se preocupe.
- Mãe, já chega, né? – Sasuke a repreendeu novamente, irritado, depois voltou-se a mim. – Você me espera aqui? Vou pegar o negócio para você lá em cima.
Assenti com a cabeça e ele saiu com passos rápidos em direção as escadas, subindo e desaparecendo de nosso campo de visão.
A dona Mikoto balançou a cabeça para os lados, suspirando antes de me fitar e sorrir. Ela era bem simpática.
- Esse menino, mal deixou a gente conversar.
Reprimi um sorriso, desviando meus olhos para o chão.
- Vocês estudam na mesma sala?
- Não – e a fitei. – Somos de sala diferente.
- Estão namorando a muito tempo?
- Não muito.
- Desculpe se estou fazendo tantas perguntas, mas o Sasuke não me conta nada. Soube que tinha uma namorada através do Itachi. E confesso que fiquei muito surpresa. Você é a primeira menina que ela traz aqui, acho que é a primeira namorada – e riu baixinho, e sua mão tocou o meu braço. – Quero que saiba que gostei você.
Não pude deixar de sentir um pouco de alivio por saber que ela havia gostado de mim, acho que tirou um pouco o peso que sentia nos ombros por conhecê-la assim, tão de repente.
- Obrigada... também gostei da senhora.
E eu não havia mentido, gostei dela, apesar de me sentir ainda receosa a sua presença, mas isso dá ao fato de que não sabia lhe dar muito bem com pessoas novas.
- É uma pena que não vai ficar para o jantar... – ela parou por alguns segundos, e pareceu pensar um pouco. – Por que você não vem almoçar conosco amanhã?
- Amanhã?
- Sim, e aproveite e traga a sua mãe, aí nos conhecemos. A não ser que ela trabalhe nos sábados.
- Ela não trabalha nos sábados.
- Isso é ótimo – ela sorriu mais, e parecia empolgada.
Ouvimos os passos descendo as escadas e não demorou para que Sasuke se juntasse a nós, carregava uma sacola de papel pardo e um livro de mangá.
- Estamos de acordo?
- O que vocês estão acomunando aí? – Ele perguntou, olhando de mim para sua mãe, a expressão desconfiada.
- Convidei a Sakura e sua mãe para o almoço de amanhã, fazer as apresentações formais.
Sasuke me fitou, ansioso.
- Você vai vir?
- Ah... – aquilo havia sido uma surpresa, almoçar com todo mundo. Um almoço formal, é praticamente selar o nosso compromisso para toda a família. Meu Deus. – O-ok. Vou falar com a minha mãe.
- Fale sim, querida, e qualquer coisa mande um recado pelo Sasuke que ele me comunica.
- Tudo bem. – Assenti e me virei para o sofá, agarrando minha mochila e o cachecol. – Desculpe chegar assim sem avisar, dona Mikoto.
E novamente ela abonou a mão no ar.
- Que isso, você é bem-vinda a qualquer hora, e te espero amanhã.
- Tá bom.
- Eu te levo até a porta – disse Sasuke me conduzindo até a saída com a mão nas minhas costas.
Ele abriu a porta para mim, e antes de sair coloquei o cachecol sobre os ombros, o frio estava mais forte lá fora e me encolhi no casaco. Sasuke fechou a porta e me levou até o portão.
- Caramba, esfriou muito – ele disse, passando o braço em meus ombros e me puxando para perto de seu corpo, me encolhi mais enquanto caminhávamos para fora de seu quintal. – Você não quer esperar um pouco não? O meu irmão está quase chegando, ele te leva para casa.
Parei do lado de fora, na calçada, e me virei para ele, desfazendo do seu braço no meu ombro.
- Não precisa, eu vou encontrar com a minha mãe.
- Aqui, o segundo volume – estendeu o livro para mim, que peguei sem hesitar.
- Obrigada, amanhã eu trago o primeiro volume – e abri a mochila, guardando-o com muito cuidado aquele livrinho de mangá, que através de Sasuke estava começando a me apegar aqueles tipos de histórias.
- Não precisa correr para me entregar – e estendeu a sacola parda agora. – Isso aqui é as roupas do seu pai que você me emprestou – segurei a sacola, sentindo os nossos dedos se tocarem. – Acabei por me esquecer de te entregar ontem.
- Obrigada.
Ele se aproximou e ajeitou o cachecol em meu pescoço, tirando os fios de meus cabelos que estavam no pescoço para ficar por cima do tecido. Um gesto simples que mexeu com todas as minhas estruturas. Ele era atencioso comigo que as vezes eu me perguntava se aquele garoto era mesmo real.
- Pronto, assim evita de se resfriar
Pisquei algumas vezes, tentando fazer meu cérebro voltar a trabalhar, enquanto olhava para seus olhos por detrás daquela armação dos ósculos que usava.
- Você devia seguir seu concelho e entrar e se agasalhar.
O canto de sua boca ergueu-se para cima, e se aproximou mais, as mãos que estavam em meus cabelos agora estavam espalmadas em cada lado do meu rosto, nossas testas se tocando.
- Só vou ficar um pouquinho – ele murmurou, a voz manhosa.
Seu jeito fofo quando se fazia de manhoso era tão... desconcertante.
Senti seus lábios roçando os meus até capturá-los de uma vez. E pela primeira vez naquele dia deixei ser levada por aquele momento e retribui com muito gosto aquele beijo, cheio de saudades, a ansiedade tomando conta quando o sentia mais perto de mim. Eu me desliguei do mundo ao meu redor, entrando numa pequena bolha particular, deixando os problemas, os medos e as angustias do lado de fora.
E eu estava apaixonada.
Só o pensamento já fazia meu coração bater ainda mais e me encolher em seus braços, minhas mãos agarrando seu casaco, sentindo o sabor de sua boca. Era bom, gostava do jeito que me tocava. Eu me sentia confiante em seus braços, eu me sentia protegida.
Encerramos aquele beijo com vários selinhos enquanto tomávamos o fôlego, minhas pernas tremiam, e não eram só pelo frio.
Sasuke me abraçou a seguir, afundando seu rosto em meu pescoço e o vento frio me fazia encolher e o apertar ainda mais, sentindo o calor de seu corpo por baixo daquele casado de algodão em minhas palmas.
- Está um pouco difícil ficar sozinho assim com você – ele murmurou, apertando ainda mais as suas mãos em volta da minha cintura.
- Eu também sinto falta de você – confessei, meu rosto afundado em seu peito, os olhos fechados, sentindo seu cheiro gostoso. – Muita.
Ele beijou minha mandíbula, subido beijos por meu rosto, me afastando delicadamente para alcançar a minha boca novamente. Mas na mesma rapidez que se aproximou, ele se afastou, o cenho levemente franzido.
- O que foi? – Perguntei, olhando seu rosto, fitando algo no chão atrás de mim.
- Essa sensação...
Pisquei algumas vezes, tentando entender o que ele estava dizendo.
Ele me fitou.
- Acho que estou passando pela mesma situação que você a umas semanas atrás.
Tombei minha cabeça para o lado, confusa.
- Como assim?
- Estamos sendo espionados – e virou sua cabeça para trás de uma vez, eu apenas o segui com o olhar, ao mesmo tempo a porta de entrada se fechou. Ele sorriu incrédulo. – E ao contrário da sua mãe, a minha não é nenhum pouco discreta.
Ah, meu Deus, a mãe dele estava nos espionando esse tempo todo. E eu não sabia o que era pior, a minha mãe enxerida ou a mãe dele intrometida. Acho que não estava sentindo uma boa sensação com o fato das duas se conhecerem amanhã. Não queria nem imaginar o que àquelas duas pudesse inventar, supor, descrever o meu futuro com o Sasuke como se fosse um livro, ou um comercial de margarina.
- A-acho que eu tenho que ir – disse, dando alguns passos para trás, assustada com a minha linha de pensamentos.
Sasuke se voltou para mim na mesma hora.
- Tem certeza de que quer ir sozinha? Eu posso te acompanhar até o ponto de ônibus, não é tão longe.
- Nem pensar – minha resposta soou na mesma hora, e meu cenho franziu. – Você vai dar meia volta e entrar na sua casa quentinha.
- Eu estou bem, Sakura – e sorriu. – Estou quase cem por cento, semana que vez já volto para o colégio.
- Não é por que está melhor que você pode andar por aí nesse frio todo, em tempo de cair uma tempestade. Quer ter uma recaída?
- Eu iria me agasalhar, prometo – estava com a mão estendida com a palma virada para mim.
- Esquece, você não vai. – Bati o pé, crispando a boca e apertei os olhos para ele, firme em minha decisão.
E o sorriso que era uma sombra em sua boca, se abriu em seu rosto. Sua mão agarrou a minha e me puxou para perto, me recebendo com um beijo na boca, me deixando tonta.
- Você está ficando mandona – sua voz era brincalhona.
- Faço para o seu próprio bem. – E me recompus, tentando inutilmente ignorar os efeitos que ele fazia em mim. – Tchau.
- Nos vemos amanhã.
Sorri como resposta e comecei a caminhar, minha mão se desprendendo da sua lentamente, até não sentir o calor da sua. Andei pela calçada daquela rua larga, enfeitada de árvores e arbustos, e meus olhos fitaram o céu mais escuro, as nuvens bem carregadas. Acho que não iria dar tempo de chegar em casa antes da chuva me alcançasse.
Virei meu rosto para trás e vi Sasuke ainda no portão me observando naquela friagem. Parei de andar e virei todo o meu corpo para trás, fechando a cara com a mão no quadril, jogando a mensagem através do meu gesto – por que havia uma boa distância entre a gente -; que ainda ele fazia ali? E pude observar ele rir, levantando as duas mãos para cima em sinal de rendição antes de voltar para dentro.
Suspirei pesadamente e tomei o meu rumo, apressando mais os passos, não acreditando que amanhã eu teria um almoço de família oficial.
