Capítulo 22 - Nova Amizade

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Parece que a rotina matinal havia voltado ao normal, como se nunca houvesse sido interrompida pelos últimos acontecimentos. Acordei mais disposta naquela manhã, apesar da preguiça que minha cama e meu cobertor quentinho me fazia sentir diante do tempo frio que fazia lá fora, o inverno dando as suas caras.

Mamãe estava bem animada e falante enquanto tomávamos nosso café da manhã. Ela e a senhora Mikoto haviam se dado muito bem e trocado seus números de celulares. E agora conversavam sempre quando tinham oportunidade, e nem era preciso dizer que o assunto principal das duas eram seus filhos, que no caso era eu e Sasuke.

E por falar em Sasuke, ele havia acabado de chegar. O som de sua motocicleta e a buzina me fez tomar o resto do meu suco de uma vez enquanto me levantava da cadeira.

- Eu já estou indo – disse para mamãe, levava o copo até a pia.

- Você vai trabalhar hoje?

Assenti com a cabeça positivamente.

- Sim.

- Então vou esperá-la para irmos juntas para casa.

Sorri comprimido para ela.

- Ok. Tchau.

- Boa aula.

Corri até meu quarto e coloquei um casaco mais grosso por cima do meu blazer, meu cachecol enrolado no pescoço e a mochila nas costas. Logo já estava saindo de casa sendo arrebatada pelo vento frio que batia em minhas pernas desnudas. Encolhi-me em meu casaco e andava rapidamente até Sasuke que estava sentado em sua motocicleta muito bem agasalhado enquanto mexia em seu celular, debruçado no guidão.

Seus olhos ergueram-se para mim e o canto de sua boca ergueu-se para cima. Retribui o sorriso, percebendo suas bochechas e nariz vermelhos devido ao frio.

- Bom dia, namorada.

- Bom... dia – minha boca tremia quando senti sua boca encostar a minha num pequeno e simples selinho.

- Você está tremendo.

- Eu detesto frio.

Ele entregou o capacete reserva para mim que fui logo colocando na minha cabeça, já hábil em arrumar a fivela.

- Também não sou fã desse frio. Gripo com muita facilidade e isso é irritante.

Segurei em seus ombros e tomei impulso para subir na moto. Envolvi meus braços em torno de sua cintura, sentindo o calorzinho escapar por aquele casado pesado que vestia.

- Você nem devia estar nessa motocicleta – eu disse -, a friagem é grande que você leva. E só tem poucos dias que melhorou da gripe. E além do mais, não tem necessidade de você vir me levar para escola. Posso muito bem ir de ônibus como fazia antes.

Ele virou seu rosto já com capacete para trás, tentando vem ver.

- Uau, você está bem-falante hoje – e soltou uma risadinha, voltando a cabeça para frente e aprumando a moto. – Não se preocupe, estou bem, Sakura. E caso ainda não percebeu, gosto de levar a minha namorada para escola.

Eu abri minha boca para retrucar, mas o ronco do motor da motocicleta soou alto para logo tomar velocidade, saindo da minha rua em poucos segundos e entrando na pista. Agarrei ainda mais em Sasuke, o vento congelante ardendo em minhas pernas. E por mais que houvesse reclamado com Sasuke por ele me dar o luxo daquela carona, eu estava feliz por estar ali, naquela nossa rotina matinal. Havia sentido falta dele me levando e me buscando naquela motocicleta monstruosa.

Conforme os dias iam passando eu sentia que os remédios que a Mei havia me receitado estava fazendo o efeito, pois aquele medo, aquela angustia que sentia toda vez que pensava em colocar os meus pés na escola havia diminuído. Bom, ainda sentia aquele receio e meu coração acelerava toda vez que atravessava os portões daquele lugar, mas agora eu conseguia me controlar e seguir em frente.

Respirava fundo e dizia para mim mesma que era só mais uma barreira e que eu tinha que atravessá-la. Não poderia viver para sempre dentro daquela bolha depressiva de medo, pois o que eu estava aprendendo nas minhas seções de psicoterapia era que eu não era melhor e nem pior do que ninguém. Eu tinha uma mãe incrível, eu tinha amigas maravilhosas e um namorado perfeito, digno de um príncipe.

Eu havia parado por um minuto para perceber e... Caramba, eu era sortuda.

Eu tinha sorte de ter pessoas que me valorizava e que me tratava como uma igual, e não um ser asqueroso e rastejante.

Então, se essas pessoas me valorizam... por que eu não me valorizava?

. . .

Depois de alguns tempos de aulas o intervalo chegou. E assim, como todas as vezes, os alunos levantaram e correram como búfalos para os corredores.

Ajuntei minhas coisas na mochila e peguei algum dinheiro - iria me arriscar na cantina - e saí da sala, enfrentando aqueles corredores lotados.

Por mais que a diretora tenha feito um discurso no auditório sobre bullying na semana passada e ter garantido a mim que os alunos suspensos não iriam mais mexer comigo, havia aqueles que me olhavam e cochichavam sobre o acontecimento. Eu recebia olhares de pena por toda a situação que passei, e olhares de deboche por minha humilhação. Aquilo incomodava e muito, mas tentei fingir que não percebia aqueles olhares e ignorar tudo como fazia antes. Mas eu sabia que não era como naquela época em que eu era a invisível, as coisas eram mais difíceis agora.

Abaixei meu olhar e apressei os passos, desviando vez ou outra de alguns alunos que surgiam no meu caminho. Eu queria chegar o mais rápido possível no pátio, encontrar as meninas ou o Sasuke. Eu tinha que desviar a rota dos meus pensamentos sombrios e acalmar a respiração que começava a acelerar.

Eu vou conseguir.

Eu tinha que conseguir.

- Ei, Sakura!

Aquela voz... eu podia sentir o alívio que senti quando a ouvi.

Parei de andar e olhei para trás, Ino vinha com Hinata ao seu lado. Nunca fiquei satisfeita em vê-las em toda a minha vida.

- Oi meninas – sorri, ocultando o incômodo que sentia por aqueles olhares e o alívio por vê-las. – Ah, Ino, o seu caderno está comigo.

- Depois você me dar – e agarrou meu pulso de repente, me puxando para uma outra direção. – Agora temos assuntos a tratar no confessionário.

- Ai, Ino, só você mesmo para chamar o banheiro de confessionário – disse Hinata a seguindo do seu outro lado.

- Que assunto é esse, Ino? – Perguntei, sentindo-me confusa com toda aquela agitação dela.

Ino me fitou de lado antes de responder:

- A Hinata tem um bafão para nos contar e me torturou o fim de semana todo, essa Malévola.

- Ino!

Chegamos no banheiro, e havia algumas meninas lá dentro. Esperamos para que elas saíssem e Ino trancou o banheiro para depois se virar para Hinata com aqueles olhos azuis avaliadores.

- E então, dona Hinata? – E cruzou os braços. - O que tem de tão importante para contar que não podia ser pelo telefone?

As bochechas de Hinata ficaram levemente coradas, deu um passo para trás e encostou as costas na pilastra de mármore entre uma cabine e outra.

- Vocês não vão imaginar quem falou comigo na sexta-feira na hora do intervalo!?

- Quem? – Perguntou Ino, os olhos brilhando em curiosidade.

Eu já imaginava quem pudesse ser, e a resposta apenas escapou por minha boca, chamando a atenção das duas para mim:

- O Naruto.

- O Naruto?

- Como você sabe? – Perguntou Hinata, surpresa, assim como Ino.

- Ah... – cocei meu pescoço, odiando-me por ter dito aquele nome. Não queria que a Hinata percebesse que eu estava me intrometendo em sua vida amorosa e ficasse chateada comigo. Ainda mais agora que eu não sabia o que realmente havia acontecido entre eles. Torcia para que Naruto não tenha agido como um babaca. – Eu... eu chutei.

- Você chutou muito bem.

Os olhos de Ino desviram-se para ela.

- O Naruto falou com você?

Hinata assentiu com a cabeça, e seu rosto corou mais.

- Como assim? – Ino questionou, meio que incrédula e curiosa. - Ele foi um escroto novamente? Me fala, por que aí eu vou naquele imbecil e desço o braço nele.

- Para Ino! O Naruto não foi ruim comigo. Ele me pediu desculpas por aquele dia e...

Silêncio.

- E o que mais? – A incentivei, quando percebi que Hinata hesitava.

Ela desviou os olhos para o chão e ficou torcendo seus dedos, indicação clara de seu nervosismo.

- Disse que eu era uma pessoa importante para ele, e que estava chateado por ter me magoado.

- E o que mais? – Ino avançou e agarrou os ombros de Hinata. – Diga! Ele te beijou?

Os olhos de Hinata arregalaram.

- Ino! Por Deus, não! - E afastou a outra de perto dela, dando vários passos para o lado, ficando perto de mim. – Por que tudo tem que ser assim para você?

- Por que quando duas pessoas se gostam, elas se beijam. – E apontou o dedo para mim. – Veja só o exemplo da Sakura. O Sasuke gostou dela e foi lá e – bateu as costas da mão na sua palma -, e agora estão felizes namorando, assim – e estalou os dedos – rapidinho.

- Mas acontece que o Naruto não é o Sasuke, e eu não sou a Sakura – Hinata retrucou, o cenho franzido. - Somos pessoas completamente diferentes. Situações completamente diferentes. A Sakura não teve que lidar com uma ex louca do Sasuke, ou ele ainda confuso com seus sentimentos. Você não entende Ino!

Ino ergueu as mãos para cima em sinal de rendição.

- Tudo bem. Tudo bem. Eu me excedi, me desculpe. Mas eu não gosto de ver você sofrendo por um amor platônico desde o jardim de infância.

- Ino, o Naruto admitiu que a Hinata é uma pessoa importante para ele, talvez ele esteja pensando em seus próprios sentimentos por ela. Acho que a questão é dar mais um pouco de tempo para ele, não?

Hinata me fitou com um olhar esperançoso.

- Você acha que ele pode gostar de mim, Sakura?

- Eu realmente não posso te dar essa certeza, mas diante do pouco que vocês me contaram, eu acho que sim. Ele só deve está confuso, ainda mais quando se tem uma terceira pessoa no meio.

Ino bufou, cruzando os braços.

- A Shion é realmente uma vaca, odeio aquela garota.

- Mas foi a garota que Naruto amou – disse Hinata.

Ino ergueu as sobrancelhas para cima.

- E que te sabotou também.

Era complicada a realidade amorosa de Hinata. Assim como a Ino não gostava de vê-la triste e sofrendo por um amor sem saber que era correspondido. E novamente eu percebia naquela situação a sorte grande que tinha por ter o amor de Sasuke.

- Hinata – a chamei, fazendo-a me olhar -, o Naruto só disse isso para você e mais nada?

- Bom... ele... ele me chamou para sair nesse fim de semana, mas eu não aceitei.

- Por que não?

- Oras, Ino, por mais que ele tenha se desculpado por aquele lance do banheiro, eu ainda me sinto chateada. N-Não quero ser um estepe. Não quero que ele saia comigo para diminuir a culpa que sente por não ter acreditado em mim.

- Você tem razão – disse Ino e depois suspirou. – Esse, Naruto...

- Mas nos falamos por mensagens e confesso que estou gostando disso.

Toquei o braço de Hinata, chamando sua atenção.

- Hinata, se o Naruto gostar realmente de você, ele vai correr atras e farar de tudo para não te perder.

- Você acha?

E desta vez sorri, confiante em minhas palavras e no que me lembrava do pouco que conhecia de Naruto. Ele não me parecia um cara ruim e nenhum pouco burro, apesar de se mostrar como tal. Eu sabia que ele sabia quando era hora certa para agir de forma digna e honesta. E eu tenho quase absoluta certeza de que ele só estava esperando o momento certo para agir.

- Eu tenho certeza.

- Ai que legal! – Ino deu pulinhos e dando palminhas. – Se o Naruto realmente se decidir o que quer, então seremos um grupo de casais – e mais gritinhos. – Isso seria um máximo! Pois assim poderíamos fazer um encontro de casais. Eu e o Sai, a Sakura com o Sasuke e você com o Naruto. E passaríamos um dia incrivelmente divertido.

Hinata revirou os olhos.

- Ai, Ino, você de novo com esses encontros.

Ino aproximou e passou o braço por seus ombros e com a outra mão apontou o dedo em seu peito.

- Ah Hinata, vai me dizer que você não quer sair em um encontro legal com o Naruto?

- Bom, eu quero, mas acho difícil isso se concretizar.

- Amiga, vai por mim, se aquela daqui – e apontou para mim – disse que você tem chances, é por que você tem chances.

- Por que você bota tanta fé no que eu disse Ino? – Perguntei.

- Ora, por que você foi a única garota que conseguiu fisgar o Uchiha de jeito. Você sabe das coisas.

Bufei, revirando os olhos e virei meu rosto para o lado, levemente corado.

- Boba.

E foi nessa hora que alguém começou a bater na porta, sinal claro de que tinha gente querendo entrar.

- Ops, acho que o nosso tempo acabou, chicas.

. . .

Depois de vários dias sem trabalhar, finalmente entrei na loja da dona Chiyo, sentindo o calor do aquecedor ligado e o cheiro gostoso dos doces nas vitrines e prateleiras. Eu não fazia ideia como havia sentido falta daquele lugar e do ambiente aconchegante.

- Ai meu Deus, não acredito que você voltou!

A voz estrondosa de Tenten soou alta e ao mesmo tempo seus braços me rodearam naquele abraço apertado.

- Tenten... você está me... apertando.

Ela se soltou de mim, mas continuava me olhando com um sorriso no rosto.

- Nossa, e aí? Eu soube que você não estava nada bem e que havia sofrido violência na escola. Eu fiquei indignada. Como alguém pode fazer uma brutalidade com você, uma garota legal? Sakura eu realmente não entendo.

- Não foi um dia bom para mim – disse enquanto caminhava até a salinha dos funcionários com ela em meu encalço.

- E como você está? Eles te machucaram?

Arranquei o casaco, o blazer e o cachecol.

- Fisicamente não, mas... – balancei a cabeça para os lados, afastando as imagens que vinham em minha cabeça. Cenas que eu nunca mais queria ver. – Deixa para lá... Tenten, me desculpe, mas não quero falar sobre esse assunto.

- Oh, me perdoe – e segurou minha mão desocupada, os olhos cor-de-chocolate trasbordavam sua real sinceridade em suas palavras. – Eu fui indelicada agora. Prometo não tocar mais nesse assunto.

Forcei um sorriso.

- Obrigada.

Tenten sorriu também.

Guardei minhas coisas no armário e peguei de lá dentro o meu avental, colocando a seguir e prendendo meus cabelos num coque baixo muito mal feito.

- Ah, eu preciso te contar uma coisa.

- O quê? – Perguntei, enquanto amarrava o avental atrás de mim

- A senhora Chiyo bem contratou um ajudante para carregar as caixas no deposito.

- É mesmo?

Ela assentiu com a cabeça, reprimindo um sorriso, visivelmente energética.

- E você nem imagina quem seja... e já digo que é o sobrinho neto dela.

- Eu não faço a mínima ideia, Tenten.

Ela fez uma pequena careta.

- Você nem vai tentar adivinhar?

Sorri comprimido, erguendo meus ombros para cima.

- Oh, Sakura, como você está, minha filha?

Tenten e eu viramos nossas cabeças em direção a porta dando de cara com a dona Chiyo adentrando o quartinho e parando a nossa frente.

- Eu estou bem senhora Chiyo, obrigada.

- Sua mãe me contou o que aconteceu com você e fiquei indignada com o vandalismo. Espero que essas pessoas paguem pelos seus atos.

Apenas sorri forçado, assentindo com a cabeça positivamente, querendo desesperadamente mudar o assunto. E como se percebesse o meu desconforto, a senhora Chiyo mudou o assunto, desviando seus olhos para Tenten.

- Hoje você vai me ajudar na cozinha – e depois seus olhos me fitaram. – E você, Sakura, ficará no caixa.

- Sim senhora.

- Agora ao trabalho as duas.

Fui para detrás do caixa bem a tempo de uma mulher com os produtos escolhidos chegar. E assim comecei a trabalhar. Posso dizer que o movimento hoje estava pouco fraco devido o frio que fazia lá fora e o tempo que estava horrível.

Depois de mais ou menos uma hora e meia e de ter acabado de acabar com uma pequena fila de três clientes, escutei uma voz grossa e desconhecida soar vindo da porta que dava para a cozinha:

- Nossa, pelo visto você voltou a trabalhar.

Virei meu rosto para o lado dando de cara com um garoto com um boné com a aba virada para trás e vestido com o avental igual ao meu.

- Ah...

Ele adentrou mais a loja e colocou uma pequena caixa em cima do balcão e sorriu para mim.

- Oi.

Pisquei algumas vezes, o cenho pouco franzido, meio que reconhecendo aquele rosto.

- Acho que... você não me é estranho.

O garoto deu um passo para trás com a mão no peito, fingido uma indignação.

- Uau, assim você me magoa.

Mordi o canto de minha boca e desviei meus olhos para o balcão, forçando minha memória. De onde eu conhecia aquele garoto?

- Pois eu me lembro de você – e inclinou seu corpo para cima do balcão, próximo de mim -, .RA.

Ele havia dito meu nome pausamente, e de um jeito que me deixou bem sem graça com aquela intimidade forçada. Senti minhas bochechas ficarem levemente quentes. Seus olhos verdes contornados de lápis preto me fitavam de um jeito que me fazia querer gritar para ele que eu tinha um namorado. Mas eu não gritei e muito menos desviei o meu olhar, pois naquele momento eu havia me lembrado de onde eu o conhecia.

- Você é o garoto daquele dia que veio comprar o doce monaka!

Era ele sim. O boné na sua cabeça ocultava a cabeleira ruiva, e o avental o deixava diferente do garoto daquele dia.

- Touché – seu dedo apontou para mim, e um sorriso se abriu em seu rosto. – E você foi a gentil atendente que me indicou uma segunda opção.

Sorri sem graça e fingi mexer no caixa registradora.

- E como vai a sua irmã? Ela gostou da segunda opção?

- Ela vai bem, chata como sempre, mas está bem. Saiu do hospital no dia anterior. E ela adorou os doces e me perdoou. – Eu voltei a olhá-lo quando ele afastou um pouco seu corpo para trás. - Então eu te agradeço por ter sido legal comigo naquele dia e não me mandar pastar por minha ignorância.

Assenti com a cabeça, agora reprimindo um sorriso, sentindo que agora ele não invadia meu espaço pessoal.

- Sou uma boa funcionária, não posso mandar ninguém pastar, apenas achar uma boa solução para manter um cliente satisfeito.

Ele sorriu abertamente, fazendo as ruguinhas se destacarem ao redor de seus olhos.

- Eu tenho que concordar com você, é uma boa funcionaria, Sakura. – E em seguida estendeu a mão para mim. – Eu me chamo Gaara, o novo funcionário.

Hesitei por um segundo, mas acabei apertando sua mão incrivelmente soada e quente.

- Sakura... acho que você já sabe.

Gaara soltou uma pequena risadinha. Puxei a minha mão.

- A Tenten é ótima em ser um banco de informações.

- Ela é mestre em detalhar – concordei, e nesse momento entraram mais dois clientes e Gaara se afastou pegando a caixa e indo até as prateleiras depositando os pacotinhos de biscoitos amanteigados.

Atendi uma cliente que veio pagar um pacote de três cupcakes, e pude observar que Gaara era gentil atendendo a senhorinha em dúvida do outro lado da loja. Era incrível como ele parecia diferente do garoto esquentadinho de uns tempos atrás.

Depois que a senhorinha foi embora assim que pagou, Gaara voltou a se aproximar e eu disse:

- Até que você é bom com os clientes.

- Eu faço o meu melhor – e novamente sorriu de lado, retirando o boné da cabeça, revelando aquela cabeleira ruiva bagunçada.

- Então você é o sobrinho neto da dona Chiyo?

Ele enrolou o boné e colocou no bolso detrás do seu jeans.

- Vou nem perguntar que essa informação foi adquirida por aquela Pucca.

Reprimi um sorriso.

- A Tenten vai te matar se ouvir você a chamar desse jeito.

Gaara se inclinou novamente pelo balcão, e sussurrou para mim:

- Então isso fica sendo o nosso segredinho.

Revirei os olhos, e ele me respondeu:

- A tia Chiyo é a irmã mais velha do meu avô paterno.

- Hm.

- Aí estava precisando de grana e falei com ela e agora estou aqui.

- Entendi.

- Gaara – a voz da senhora Chiyo soou de repente, aparecendo na loja. – O que ainda está fazendo aqui? O estoque ainda está todo desarrumado.

- Eu já estava indo, tia, apenas estava ajudando a Sakura com os clientes. – E se aproximou da senhorinha dando um beijo em sua bochecha. – Eu já disse que a senhora é a mulher mais linda da cidade.

A senhora Chiyo deu um tapa em seu braço, o fazendo afastar.

- Seu moleque malandro, eu me olho todos os dias no espelho para não cair na sua lábia de cafajeste.

- Que isso tia Chiyo – ele passava a mão no local do tapa -, o que a Sakura vai pensar de mim se a senhora fica me difamando desse jeito?

- Ela vai pensar duas vezes antes de cair nas suas graças. Agora volte ao trabalho, se não – apontou para a porta de saída.

Ele levantou as mãos para cima.

- Ok, ok, já estou indo – e atravessou a porta com Chiyo atrás dele.

Suspirei profundamente pelo mundo pequeno em que vivemos.