Capítulo 25 - Surpresa

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Foi praticamente num piscar de olhos as férias de inverno haviam acabado e agora me via novamente dentro de uma sala de aula. Posso dizer que essas últimas férias não haviam sido tão proveitosas a não ser os dias que eu acordava tarde, mas sim, pelo fato de que todos os planos de sair em grupo com meus amigos haviam dado errado.

A nevasca que se estendeu depois do natal havia impedido de nos encontrarmos, e optamos por cancelar tudo. Ainda mais depois que Sasuke havia ficado ruim de sua bronquite novamente. Claro que fiquei super preocupada com seu estado de saúde e odiei toda aquela friagem que me impossibilitava de visitá-lo e de ter o deixado doente. Mas conversamos sempre por telefone, mensagens e fiquei mais aliviada quando ele me deu a notícia de que estava melhor, a crise não havia sido tão forte assim.

E posso dizer que quando ele veio me buscar hoje de manhã em sua reluzente motocicleta preta para irmos à escola juntos, não pude deixar de sentir um certo alívio por vê-lo melhor. Ficamos alguns minutos no portão de minha casa namorando e matando a saudade de uma semana e alguns dias sem nos vermos. E eu amei aquele momento. O meu dia havia começado bom, mesmo com aquele tempo pouco ruim, fazendo meus dedos dos pés congelarem dentro dos meus sapatos.

Mas me sentia feliz.

E sim, eu estava complemente apaixonada por meu namorado. E esse fato era visível para todo mundo.

Ino e Hinata me questionavam curiosas por meu sorriso bobo quando estávamos em nosso confessionário, vulgo o banheiro. Mas eu não era a única, as duas também eram só risinhos, principalmente a Hinata. Acho que algo de bom aconteceu com ela nessas duas semanas de férias.

- Conta tudo, Sakura – disse Ino, encostada com o quadril no lavabo. – Como foi o natal juntinho do Sasuke?

Hinata deu pulinhos, ansiosa.

- Ain. Conta. Conta. Também estou super curiosa.

Reprimi um sorriso, sentindo meu rosto quente quando as imagens do meu maravilhoso natal me vieram a mente, tudo havia sido... perfeito.

- Foi bom. – Desviei meus olhos para o chão por alguns segundos, sentindo a atenção de minhas amigas em mim. - O Sasuke passou a véspera na minha casa e eu e minha mãe passamos o dia de natal na casa dele com a família.

- O que ele te deu de presente? – Ino era muito direta, até hoje me surpreendia com essa qualidade. - Ele te deu um presente, não deu?

Eu podia sentir o anel no meu dedo na minha mão direita e um friozinho gostoso circulou meu estômago. Me surpreendi que nenhuma das duas haviam reparado nele.

Ergui minha mão e mostrei o anel. Era nítido a surpresa no rosto de cada uma.

Hinata abriu a boca, as mãos em cada lado do seu rosto.

- Que lindo!

- O Sasuke te deu esse anel? – Perguntou Ino, segurando a minha mão bem perto de seu rosto para enxergar a pedra solitária com mais atenção.

Mordi meu lábio e assenti com a cabeça.

- Uhum.

- Kawaii, Sasuke é tão fofo.

- É muito bonito, e parece ser caro – e os olhos azuis de Ino me fitaram, surpresa. – Essa é uma pedra de rubi? Isso é joia de verdade.

- Eu sei – murmurei, puxando a mão para mim novamente e fitando o anel em meu dedo, me sentindo a pessoa mais especial do mundo.

Aquele anel deveria ter custado uma fortuna, demorei um tempo para perceber. Mamãe só faltou ter uma síncope, os olhos arregalados quando decretou que a joia era verdadeira, ela conhecia essas coisas. E é claro que Sasuke subiu um monte de degraus no conceito de mamãe, não por ele ter me dado algo valioso, mas sim por ele ser tão... romântico.

- Você é tão sortuda, Sakura – disse Hinata. - Está na cara que o Sasuke é louquinho por você.

- Estou com inveja. – Hinata deu um empurrão em Ino. – Ai.

- Toma vergonha, Ino.

- É uma inveja branca, ok? A Sakura merece muito – e me fitou. – É uma inveja boa, tá amiga.

Sorri comprimido, achando engraçado o jeito que Hinata reprimia Ino quando ela exagerava em sua franqueza.

- Tudo bem, Ino.

- O Sai apenas me deu uma caixa de bombom, flores vermelhas e saímos no dia de natal e comemos bolo numa confeitaria. Eu achei romântico.

- Naquele temporal? – Perguntou Hinata, as sobrancelhas erguidas.

- Claro. – Ela cruzou os braços. - Um temporal daquele não impede quando duas pessoas apaixonadas querem ficar juntas.

- Mas caiu uma nevasca naquele dia, Ino. – Disse lembrando-me do temporal de neve. - Quase não fui à casa do Sasuke por que as ruas estavam ruins. O noticiário na TV dizia para as pessoas ficarem em casa.

Ino apenas ergueu suas sobrancelhas bem-feitas para cima, daquele jeito sabichona.

- Mas você foi a casa dele, não foi?

- Fui.

Ela erguei o dedo para cima e depois apontou para mim.

- Mas um motivo para declarar que o amor sempre vence qualquer coisa, até mesmo uma nevasca.

Hinata e eu acabamos rindo com as teorias de Ino.

- O que foi, gente? Falei alguma besteira por acaso?

- Não, Ino – respondi, minha voz soando risonha. - Você é simplesmente demais.

- Eu sei boba – e tocou meu nariz, piscando o olho para mim, extremamente convencida. - E você Hinata, como foi o seu natal?

- Eu passei em casa com a minha família. – Ela estava listando as coisas nos dedos. - Ganhei presente dos meus pais e dos meus tios. Comi muita comida. Ouvi muitas músicas natalinas, repetindo a cada quarenta minutos. E vi a neve cair pela janela.

- E o que mais?

Hinata apenas ergueu os ombros com as palmas das mãos para cima.

- Só isso... ah! – Ergueu um dedo indicador agora. - Eu fiz um boneco de neve e o nomeei de Shion e depois o destruí com muitos chutes.

- Minha nossa – murmurei, indignada com o modo natural que ela havia declarado aquilo.

- E o Naruto? – Ino perguntou, franzindo um pouco o cenho.

- O que tem ele?

- Vocês...

- Ino, eu não vi o Naruto no natal e muito menos ganhei um presente dele.

- Caramba. Eu pensei que depois do nosso encontro de casais você dois fossem se entender.

Ino estava claramente frustrada por seu plano de ajuntar Naruto e Hinata não ter dado certo. Também não consegui evitar um pequeno sentimento de frustração por Hinata, ela gostava de Naruto a muito tempo e eu também pensei que os dois se entenderiam logo, pois foi isso que Naruto deixou transparecer. Eu sabia que ele gostava da Hinata, aquilo era óbvio. Ou eu que imaginei demais?

- Bom – começou Hinata, os olhos fitando seu pé que traçava uma linha imaginaria no chão -, você me perguntou sobre o meu natal. Mas não me perguntou como foi meu ano novo.

Ergui minhas sobrancelhas, observando Hinata comprimi os lábios, prendendo um sorriso, misteriosa.

- Aconteceu algo no ano novo? – Perguntei, a curiosidade me corroendo.

Como resposta ela ergueu seus olhos cinza para nós e sorriu com as mãos na boca, dando dois passos para trás.

- Sua malandra – disse Ino, surpresa. - Escondendo o jogo da gente. Pode ir abrindo o bico.

- Calma – ela riu um pouquinho.

- O que aconteceu no ano novo?

- Eu encontrei com o Naruto no templo Sengakuji e a gente saiu para comer algo e...

- E? – Ino e eu dissemos em uníssonos.

Ela olhou para nós duas, abriu a boca e depois fechou. Em seguida deu uma risadinha antes de sua voz soar com um gritinho histérico.

- Ele me beijou.

Ino e eu nos entreolhamos ao mesmo tempo e demos gritinhos agudos e histéricos também. Abraçamos Hinata e ficamos nós três pulando abraçadas dentro do banheiro, gritando como loucas.

- Não acredito! – Gritou Ino, eufórica. - Até que fim!

- E aí, estão namorando? – Perguntei, contagiada com toda aquela adrenalina de euforia.

- Calma, eu não sei. Apenas ficamos naquele dia e... Fiquei morrendo de vergonha depois.

- Hinata...

- Estamos conversando bastante pelo telefone – explicou.

- Não se viram mais depois disso? – Perguntei.

- Não. Eu fui para a casa do meu avô nesse final de semana e hoje ainda não o vi. Meu coração acelera quando imagino encontrá-lo novamente – e suas mãos foram até as bochechas. – Acho que estou corando.

E de fato seu rosto estava vermelho. Fofa.

- É só questão de tempo para ele pedi-la em namoro. Ou você pode pedi-lo em namoro como eu fiz com o Sai.

Hinata franziu o cenho, abaixando as mãos.

- Não tenho essa cara de pau que você tem, Ino. E além do mais, eu quero seguir o modo tradicional do garoto pedir a garota em namoro. Quero deixar as coisas irem naturalmente.

- Você está certa Hinata, a paciência é uma virtude.

- Obrigada, Sakura - e depois me abraçou. – Vai que o Naruto seja tão romântico como o Sasuke.

- Duvido. – Disse Ino, agora fitando suas unhas pintadas de azul. – O Naruto é do tipo bem lerdinho.

- Agradeço se você não maltratasse o meu futuro namorado.

Ino ergueu as mãos para cima, em sinal de rendição.

- Uau. Futuro namorado?

Hinata apenas deu de ombros.

- Por que não?

- Naruto não é idiota, Hinata. – Eu disse, atraindo sua atenção para mim. - Ele sabe muito bem o que está fazendo.

- Você sabe de algo que eu não sei, Sakura?

- Apenas intuição.

Ino passou um braço em meus ombros.

- Ai, Sakurita. Você é a criatura mais fofa que existe, sabia?

Sorri.

- E vocês duas são as minhas melhores amigas.

. . .

As aulas ocorreram lentamente e pouco tediosas, os professores passavam matérias novas e conversavam sobre as inscrições e provas para as universidades que aconteceriam em poucas semanas. Aquele final de ano letivo era o mais corrido. Eu tinha consciência de que meu tempo seria zero se eu quisesse passar na universidade de Tóquio e cursar o meu tão sonhado curso de medicina.

E por falar em faculdade, eu havia lembrado da prestigiada universidade que Sasuke pretendia entrar, não falamos sobre isso ainda. E eu não queria tocar naquele assunto, pois uma angustia tomava conta do meu coração quando imaginava que poderia me separar dele.

Não conseguia mais me imaginar viver sem o Sasuke ao meu lado. Ele havia sido o anjo na minha vida que veio me resgatar da escuridão. Ele havia me mostrado o quando a vida poderia ser colorida e não completamente cinza. Sasuke me trouxe alegria, me trouxe amigos e me fez enxergar a vida de um jeito diferente. E imaginar que poderíamos nos separar em um momento não tão distante me fazia despencar um degrau para dentro daquele poço. E eu não queria voltar para aquele lugar.

Eu não queria mais ser invisível.

E para evitar sentir aquele medo insuportável eu preferi ficar na ignorância, viver os momentos bons e imaginar que ficaria assim para sempre. Era mais fácil escapar do que me fazia querer voltar ao meu mundo cinza.

O sinal do término do intervalo soou, me levantei assim como todos os outros. Saí da sala acompanhada de Naruto e Neji, ambos conversavam sobre um futuro trabalho de grupo que o professor de biologia havia passado e que era para ser entregue na próxima aula da semana que vem.

- Quer fazer o trabalho com a gente, Sakura? – Naruto perguntou, me fitando.

- Eu?

- Sim. Eu você e o Neji.

- Ahn, tudo bem.

Neji olhou para Naruto, o cenho pouco franzido.

- Olha, só vou dizer que se você não colaborar, apenas será um trabalho de dois, eu e a Sakura.

- Queeeê? Neji, eu sempre faço meus trabalhos. – Naruto parecia ofendido.

- Tá – e depois olhou para mim. – O Naruto tem o costume de ficar na aba de qualquer um, por isso que evito fazer trabalhos com ele.

Naruto contornou Neji e ficou ao meu lado, me deixando no meio entre os dois.

- Sakura, diz para esse otário se eu fiquei na sua aba quando fizemos o trabalho de biologia na sala, diz, diz?

- O Naruto é bom em biologia.

- Viu só, cabeludo – e sorriu para mim, pousando a mão em meu ombro. – Valeu, Sakura.

Neji apenas revirou os olhos e apressou os passos, deixando eu e Naruto para trás.

Descemos as escadas e encontramos com o restante do grupo no pátio, Ino e Hinata conversavam animadamente enquanto Sai e Sasuke olhavam algo no celular.

Sasuke foi o primeiro a nos notar e piscou para mim, sorri como uma boba apaixonada.

- Oi.

- Oi.

- O amor é tão lindo – comentou Ino, sorrindo para mim e depois para Hinata e Naruto, ambos estavam corados. – Não é Sai?

- Uhum – resmungou Sai com os olhos vidrados no celular.

Ino franziu o cenho e deu um tapa em seu braço, chamando sua atenção.

- O que foi, Ino?

- Nada. – E depois ela desviou o olhar para nós. – Gente que tal irmos almoçar no Joker's Rockets? Vai ser a primeira vez que sairemos juntos depois dessa temporada de neve grotesca e também para comemorarmos a volta às aulas.

- Eca, Ino – disse Hinata fazendo uma careta. – Comemorar a volta às aulas?

- Ah, é só um pretexto para sairmos, não quer dizer que iremos comemorar a volta às aulas. É só um título.

- A Sakura trabalha hoje, Ino – disse Sasuke, segurando a minha mão para sairmos daquela rodinha.

Ino parecia frustrada.

- Que droga, hein.

Sorri comprimido.

- Desculpe, segunda-feira.

- Até amanhã – disse Sasuke e me puxou em direção ao estacionamento. Apenas acenei para as minhas amigas, me deixando ser levada por ele.

- Se você quiser ir com eles eu não me importo de ir ao trabalho sozinha.

Sasuke me fitou e me puxou para mais perto e passou seu braço agora por meus ombros, me aconchegando ainda mais contra seu corpo enquanto andávamos.

- E perder meus quarenta minutos com minha linda namorada por um monte de comidas gordurosas? Deixo para uma próxima.

Reprimi um sorriso, observando o cachecol que havia feito enrolado em seu pescoço. É a segunda vez que o vejo usando-o e isso me inflava por dentro, um sentimento bom.

- Fico grata por eu ser mais interessante do que uma comida gordurosa.

E o canto de sua boca ergueu-se para cima.

- Seus beijos também são interessantes. – Corei com seu comentário, e seus olhos fitaram a minha boca. – Quer ir a algum lugar antes para namorarmos um pouquinho? Estou com saudades.

- Está frio.

Sim, um frio em meu estômago com a possibilidade de muitos beijos e mãos bobas em certos lugares. Era tentador.

Continuei:

- Mesmo que quisesse não vai dar, eu vou pegar mais cedo no trabalho, pois sairei mais cedo. O noticiário disse que cairá uma tempestade de neve no começo da noite e tenho certeza que a dona Chiyo irá fechar a loja mais cedo.

Sasuke simplesmente suspirou e antes de chegarmos em sua motocicleta estacionada uma voz feminina soou:

- Sasuke!

Olhamos para trás ao mesmo tempo, e alguns metros afastada de nós havia uma garota de cabelos ruivos amarrados num rabo de cavalo, usava óculos de grau e estava muito bem agasalhada em roupas da moda.

Pisquei algumas vezes e senti a mão de Sasuke sair de meus ombros, virando todo o seu corpo para trás.

Quem era ela?

- Karin? – A voz de Sasuke soou surpresa.

Ergui meus olhos e o fitei, ele a conhecia. Voltei minha atenção a garota e ela sorria abertamente e veio correndo. E tudo aconteceu rápido demais para conseguir processar a tempo. E num piscar de olhos a garota estava agarrada a Sasuke, o abraçando pelo pescoço, deixando um lastro de seu perfume adocicado no ar.

Eu apenas fiquei olhando, paralisada.

- Karin... – Sasuke a segurou pelos braços e a afastou um pouco de si, olhando seu rosto. - O que você está fazendo aqui?

- Surpresa! – Sorriu ainda mais, suas mãos em seus ombros. – Não gostou de me ver? É assim que me recebe depois de meses sem nos ver? – E cruzou os braços e fingiu um bico, a voz soando fina e infantil: – Assim eu fico chateada.

- Eu... eu estou feliz em te ver... - Sasuke parecia sem ação, atordoado. Aquela garota era um verdadeiro furacão. - Estou surpreso que esteja aqui.

Ela voltou a sorrir novamente, descruzando os braços e seus olhos pousaram pela primeira vez em mim, e sua sobrancelha esquerda ergueu-se.

- Quem é ela? Amiga nova?

Senti a mão de Sasuke agarrar a minha, me trazendo de volta a realidade, me puxando para mais perto.

- Esta é a Sakura, a minha namorada.

Nunca em minha vida iria imaginar em me agarrar a uma simples palavra. Parecia que o termo Namorada fosse um escudo para mim contra aquela garota que havia caído de paraquedas bem a nossa frente.

Ela era linda, suas roupas combinavam perfeitamente com ela e sua pele de porcelana contrastava com as pequenas e razoáveis sardas que a deixava fofa.

E eu pude ver quando o sorriso aberto dela morria aos poucos com aquela notícia, mas mesmo assim ela manteve um pequeno sorriso nos lábios pintados de cor-de-rosa. E por um flash de segundos eu percebi também quando seus olhos castanhos avermelhados me olharam de cima a baixo de um jeito que me fez parecer uma atração de circo.

Odiei aquele olhar.

- Namorada? – Ela piscou e fitou Sasuke, um sorriso postiço. - Eu não sabia que estava namorado.

- Por que faz tempo que não nos falamos. – Sasuke respondeu, e depois me fitou por um instante, apertando a minha mão. - Sakura, essa é a Karin, minha amiga de Okinawa.

- Melhor amiga – corrigiu, com um dedo esticado para cima. – Prazer em conhecê-la, Sakura.

Seja simpática, disse para mim mesma. Ela é a melhor amiga de Sasuke.

Forcei um sorriso.

- O prazer é meu... Karin.

- A sua namorada é uma gracinha, Sasuke.

Será que era impressão minha ou aquela garota estava forçando uma simpatia para mim? Seria implicância minha se eu disser que não gostei do jeito que ela havia se referido a mim como se eu não estivesse presente? De repente eu comecei a odiar o adjetivo gracinha, mas engoli atravessado. Ela era a melhor amiga de Sasuke e eu a namorada.

- Como estão o Juugo e o Suigetsu? – Sasuke perguntou, estendendo a conversa.

Karin revirou os olhos, entediada.

- Aqueles idiotas vão bem. Juugo entrou para o time de natação, e Sui continua irritante como sempre. Ele ficou mais chato depois que você foi embora. – E novamente o biquinho se fez presente em sua boca. – Você abandonou a gente legal.

- Desculpe, mas terceiro ano é bem complicado. A pressão para entrar na faculdade é muita.

Karin tocou seu braço.

- Espero que consiga entrar na Oxford – sorriu. - Eu sei que é o seu sonho de se tornar o doutor Uchiha.

Sasuke apenas sorriu de lado.

- Tem muito chão pela frente ainda.

Desviei meus olhos para os meus pés, sentindo algum tipo de incômodo se apossar em meus ombros. Não pude deixar de ficar supressa com aquela informação. Aquela garota sabia de mais coisas sobre o Sasuke do que eu. Ele havia comentado com ela sobre a sua tão sonhada universidade que queria frequentar, diferente de mim, ele nunca havia tocado no assunto comigo. Eu senti uma pitada de inveja daquela garota, e por um momento eu quis que ela desaparecesse.

- Você ainda não disse o que está fazendo por aqui, Karin!?

- Você não vai acreditar. – Ela pausou, fazendo um pouco de mistério. – Eu vou estudar aqui.

Ergui meus olhos para ela, surpresa com a notícia, observando seu rosto se iluminar e o sorriso aberto de canto a outro.

- O quê? – A voz de Sasuke soou surpresa. - Como assim? Você vai morar em Tóquio?

- Uhm – ela assentiu com a cabeça. – A minha mãe aceitou uma proposta irrecusável num escritório de advocacia e estamos de mudanças. Vou começar a estudar aqui a partir de amanhã.

- Uau. Isso é... demais.

- E, não é? – Karin piscou o olho para ele. - Então eu pensei que, já que você conhece tão bem a cidade poderia me mostrar ela para mim num tour essa tarde. Que tal? – Em seguida ergueu os ombros para cima. - Estou completamente perdida.

- Então Karin, vai ter que ficar para uma próxima.

E novamente a voz fina e infantil se fez presente, a mão em seu peito:

- Não acredito que você vai fazer essa desfeita comigo?!

- Estou levando a Sakura para o trabalho.

- Ah...! – E seus olhos focaram em mim, percebendo que eu estava presente e que não era apenas uma barata expiatória. – A sua namorada... entendo.

E foi assim que de repente eu me senti a pior pessoa do mundo, um estorvo na vida de alguém. Eu era o empecilho que atrapalhava Sasuke de mostrar a cidade para sua amiga que não via a meses, do mesmo jeito que empatei de ele sair com nossos amigos a alguns minutos atrás. Por mais que eu tenha dito que ele poderia ter ido se quisesse, eu me sentia a obrigação dele, e odiei sentir ser um peso para os outros. E pelo olhar de Karin sobre mim, mesmo que ela não tivesse dito nada, mesmo que ela tenha me tratado com respeito, eu percebi em seu olhar a frieza que jogava para mim. Culpando-me por ter sido a estragadora de seus planos.

Eu me sentia estupidamente estranha, não sabia muito bem definir o que era aquele sentimento que estava sentindo. Era um certo tipo de angustia que corroía nas bordas, querendo avançar para o meio. Era incômodo, principalmente a forma como aquela garota se dirigia a Sasuke, com tamanha intimidade. Mas eu sabia que os dois eram amigos, ela o conhecia a mais tempo que eu, e foi por isso que tomei a minha decisão.

- Vai com ela – minha voz soou baixa, antes mesmo de concluir meus pensamentos, chamando a atenção dos dois. Odiei na mesma hora aquela decisão, mas continuei: – Ela é a sua amiga, não conhece a cidade. Meu trabalho é perto, não precisa se incomodar comigo.

Sasuke abriu a boca para falar, mas a voz daquela garota soou primeiro, num tom que me deu ânsia:

- Ain, obrigada, Saika – e colocou suas duas mãos nos meus ombros, aquele sorriso plastificado no rosto, mais largo que o normal. – Você é um amorzinho.

- O nome dela é Sakura, Karin. – Sasuke a corrigiu.

- Ah, desculpe – sorriu forçado, tirando suas mãos de mim –, eu sou péssima com nomes.

Ela não era, disso eu sabia.

Apenas assenti com a cabeça, concordando, querendo sair de perto daquela garota o mais rápido possível.

Sasuke aproximou-se mais de mim, me fitando atentamente. Fiz o possível para não transparecer que eu não havia gostado de sua amiga.

- Tem certeza que está tudo bem?

- Claro – sorri mínimo, sentindo sua mão agora afagar o lado do meu rosto e colocando uma mexa do meu cabelo para detrás de minha orelha. – Vai lá mostrar a cidade para a sua amiga.

E como resposta ele beijou meus lábios levemente e rapidamente antes de dizer:

- Eu te pego no final do expediente, ok?

Sorri novamente e assenti com a cabeça, sentindo-me pouco segura com seu carinho e meu rosto quente, pois podia sentir os olhos daquela garota em nós. Mas não quebrei o meu contato visual com Sasuke, era o nosso momento.

- Ok.

Ficamos nos olhando por alguns segundos até aquela garota nos interromper, agarrando a mão de Sasuke com as suas duas mãos e o puxar para longe de mim.

- Vamos logo, Sasuke. Ah, então essa é a sua motocicleta? – Ela apontou para a moto. - Eu sempre quis andar de motocicleta. Mas vai com cuidado porque, por mais que eu queira andar numa dessas eu tenho um pouquinho de medo.

Fechei meus olhos e me virei, mandando o comando para as minhas pernas e me afastei do estacionamento em direção ao portão de saída do colégio. Segui meu caminho sozinha, sentindo algo estranho apertar meu coração. E ganhou um pouquinho mais de força quando mais tarde naquele dia o Sasuke não veio me buscar como prometeu.