Capítulo 26 - Aluna Nova
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Na terça-feira Senju High School havia adquirido mais um aluno novo, Karin. Não foi surpresa quando a encontrei nos domínios do colégio, correndo até mim e Sasuke quando chegamos de motocicleta naquela manhã. Ela usava o uniforme que caía perfeitamente nela, seus cabelos estavam soltos e usava uma tiara na cabeça, e sim, ela estava muito bonita.
Karin sorria enquanto agarrava o braço de Sasuke – esquecendo completamente da minha presença -, dizendo o quanto estava animada por estudar ali, deixando-o no meio entre mim e ela.
- Eu estou perdidinha por aqui – ela disse com aquela animação irritante. – Pensei em perguntar aonde ficava às salas de aula, mas não conheço ninguém.
- Então presumo que você ficou nos esperando – Sasuke respondeu, soltando seu braço das mãos de Karin.
- Claro, você é a única pessoa que conheço... ops – e seus olhos castanhos por trás dos óculos de grau me fitaram. – Não pense que estou excluindo-a, pois só nos conhecemos ontem. Você me entende, não é?
Apenas forcei um sorriso e assenti com a cabeça.
- Claro.
- Own – e depois fitou Sasuke. – Ela é tão lindinha.
- A Sakura é maravilhosa – e a mão de Sasuke segurou a minha, entrelaçando os nossos dedos.
Ainda mantive o meu sorriso postiço no rosto, desviando meus olhos para o chão. Eu podia sentir um certo desconforto por ver aquela garota agir e falar com Sasuke com toda aquela intimidade e o desconforto só aumentou no decorrer aquele dia.
Karin não estava na minha turma e sim na de Sasuke, e posso dizer que todo mundo caiu de amores por ela. Era isso que eu via quando estávamos todos juntos na hora do intervalo. Karin agia e falava de modo alegre e espontâneo, daquele jeito que chama a atenção de todo mundo, principalmente com seu humor irônico que arrancava risada de todos.
E não era diferente de Ino e Hinata, as duas estavam encantadas por ela, a amizade era certa, pois pelo que entendi, Karin havia se sentado perto das duas na aula e a amizade nasceu. Não consegui evitar de sentir sendo jogada pelos escanteios, um verdadeiro estepe. Eu era a única naquele meio que não estava se divertindo. Para falar a verdade, eu me sentia pela primeira vez - depois de todos ali terem se tornado meus amigos – deslocada.
Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, que sentimentos ruins eram aqueles que sentia, pois todos gostavam de Karin, menos eu. E o pior, era que ela não havia me destratado, havia me tratado bem, com adjetivos em diminutivos que eu estava odiando com todas as minhas forças.
Mas diante disso tudo eu percebia algo de diferente no modo como ela me tratava, era diferente dos outros. Parecia algo forçado, como se quisesse me expelir para fora sem que ninguém percebia, apenas eu. Era como se tivesse mensagens ocultas para mim por meio daquelas gentilezas e palavras em diminutivos para comigo. Ou talvez seja apenas coisa da minha cabeça, pois tudo havia ficado diferente depois que ela surgiu. E eu não lidava muito bem com mudanças.
Então fiquei na minha. Quieta. Não comentei com ninguém sobre o quanto Karin me incomodava, muito menos com Sasuke. Ele de alguma forma estava animado com a presença dela, não queria chateá-lo por saber que não gostei de sua melhor amiga. Era uma situação muito chata.
E por falar em Sasuke, ele não havia mudado em nada comigo, era o mesmo de sempre, atencioso e gentil, atento e captando qualquer coisa de diferente em mim. E era por isso que meu esforço tinha que ser perfeito para ele não perceber nada. Seus olhos negros me fitaram - ele também estava de óculos o que eu achava fofo -, e sua mão que estava por baixo da mesa segurou a minha e a apertou e isso me confortou, mas não tirou o incômodo que a presença de Karin causava em mim.
E esse incômodo se estendeu pelo resto da semana e aumentava quando percebi que Karin tinha assuntos com todo mundo, menos comigo. Ela gostava de videogame ganhando a atenção dos meninos. Ela conversava sobre Okinawa e os outros amigos que haviam lá, ganhando a atenção de Sasuke. Ela gostava de moda ganhando a completa atenção de Ino e adorava músicas coreanas e de um certo grupo também, ganhando atenção suprema de Hinata.
Karin parecia perfeita para aquele grupo, se encaixava plenamente, diferente de mim que não sabia jogar videogame, nunca havia estado em Okinawa, não sabia nada sobre modas e muito menos curtia músicas coreanas.
Esses últimos dias eu estava me sentindo um peixe fora d'água, mas tentei com muito custo disfarçar. Não queria que ninguém percebesse o quanto Karin era desagradável para mim, não queria que ninguém descobrisse o quanto eu queria que ela desaparecesse de volta para Okinawa.
Eu me sentia a pior pessoa do mundo. Horrível por pensar assim. E a cada dia que passava aquele sentimento ruim só crescia dentro do meu coração. E foi por esse motivo que comecei a me afastar aos poucos sem dar muito a entender. Usava a desculpa dos estudos e não estava mentindo, pois, a pressão do vestibular que estava se aproximando me fazia dar tudo de mim se quisesse entrar numa universidade.
Na sexta-feira eu me sentia tão cansada que eu queria que aquele dia acabasse logo, ficar longe de tudo daquela escola. E quando o sinal do intervalo tocou eu não desci para comer com os outros, fui direto para a biblioteca, o meu refúgio que havia passado tempos sem eu dar as caras. E foi inevitável não sentir uma pitadinha de solidão, mas eu sabia que eu era a causa por estar li.
Era uma decisão minha.
Não estava no clima para ficar escutando ou vendo Karin ser o máximo o tempo todo. Minha respiração acelerava só de imaginar ter que socializar com ela ou vê-la ser amigável o bastante com Sasuke. E o pior daquilo tudo era Sasuke agir como se fosse a coisa mais natural do mundo, como se estivesse acostumado por Karin só falar enquanto tocava-o.
Aquilo era insuportável.
Mordi o lábio e fechei os olhos. Estava sentada numa das mesas da biblioteca e o silêncio do local seria bom para esvaziar os meus pensamentos ruins. Suspirei, abrindo os olhos e tentei ignorar meus problemas e focar no que eu iria fazer ali. Abri minha mochila e tirei os livros, pousei na mesa e o abri na página que havia parado ontem à noite e comecei a estudar. Dez minutos depois eu estava completamente envolvida com o tema, esquecendo tudo ao meu redor que nem percebi quando a cadeira ao meu lado havia sido puxada e alguém ter sentado.
- O que faz aqui sozinha?
Dei um pulo na cadeira, meu coração indo até a garganta e depois voltando ao lugar. Virei meu rosto para o lado, assustada, e vi Sasuke me fitando com as sobrancelhas arqueadas para cima, comprimindo um sorriso.
- Sasuke! – Eu respirava rápido, a mão no peito, sentindo os meus batimentos cardíacos acelerados. – Você me assustou.
- Desculpe, pensei que havia me notado.
- Não – murmurei tirando a mão do peito e pousando na mesa. – O que foi?
- Eu vim atrás de você, já que não desceu para o intervalo.
Desviei meus olhos para o livro aberto.
- Ah! – Folheie a página e voltei meus olhos para ele. – Eu vim estudar um pouco.
- Estudar?
- Sim.
Sasuke continuou me fitando, analisando cada detalhe do meu rosto e foi inevitável não corar com isso.
- Por... por que está me olhando assim?
- Aconteceu alguma coisa?
A sua pergunta havia me deixando em alerta e acho que isso não passou despercebido por ele.
- Não. Por que a pergunta?
Sasuke tirou um fio de cabelo que estava no meio do meu rosto e o alinhou com os outros em seu lugar. Aquele pequeno gesto havia feito meu coração acelerar mais.
- Por que você está diferente.
Dei de ombros e umedeci meus lábios.
- Eu estou normal – forcei um sorriso, e desviei meus olhos para o livro novamente.
Senti a mão de Sasuke segurar meu queixo e me fazer voltar a fitá-lo mais uma vez, ele estava sério.
- Me fale qual é o problema? – Meus olhos abriram mais. – Alguém está te chateando? Tem algum engraçadinho que está mexendo com você? Pode falar para mim que eu vou dar um jeito.
Balancei a cabeça para os lados, negando.
- Não há problema algum.
- Mentirosa.
- Sasuke...
- Sakura – ele me interrompeu, a voz mais séria do que nunca -, eu sei que tem alguma coisa de errado. E acho que passamos da fase de esconder algo, não é?
Era óbvio que Sasuke iria perceber algo, ele sempre estava atendo a mim e havia ficado mais atento depois daquele dia que todos haviam me feito de piada. Não podia culpá-lo, pois ele não tinha culpa. A culpa era minha e da implicância que estava sentindo de sua amiga, mas não podia contar isso a ele. Eu não tinha o direito de obrigar ele a não falar nunca mais com Karin. Não tinha o direito de o fazer deixar de ser amigo dela. Isso era erado, e eu novamente estava me sentindo horrível.
Suspirei, desviei meus olhos dos dele novamente, sentindo lá no fundo as primeiras lágrimas querendo surgir. Elas não podiam parecer agora, não na frente de Sasuke. Ele não podia saber dos meus sentimentos mesquinhos.
- Eu... – testei a minha voz e ela soou boa para continuar: - Eu apenas estou me sentindo sufocada por causa da prova do vestibular.
Menti.
- Entendo. – Respondeu depois de um minuto em silêncio. - Também estou estudando para entrar na universidade de Tóquio.
Aquela frase havia me pego de surpresa e voltei minha atenção para ele.
- Você vai prestar vestibular para a universidade de Tóquio? E a universidade de Oxford?
Sasuke relaxou na cadeira e depois suspirou alto.
- É um tiro alto e incerto, tenho poucas chances de ser aprovado. A universidade de Tóquio é boa o suficiente para me especificar em neurocirurgião e é mais perto. – E o canto de sua boca ergueu-se para cima, num meio sorriso de lado que eu amava, passou o polegar em minha bochecha. – E além do mais, não quero ficar longe de você.
E assim, num passe de mágica, todas as minhas inseguranças evaporaram no ar. Sasuke iria cursar medicina em Tóquio para ficar perto de mim. Ele havia escolhido a mim do que a sua universidade dos seus sonhos. Não pude deixar de conter uma onda de felicidade tomar conta de mim. Isso queria dizer que eu era realmente importante para ele, tão importante quanto ele era para mim. E naquele momento eu percebi que eu faria qualquer coisa por aquele garoto.
Comprimi um sorriso de felicidade e agindo por impulso beijei a sua bochecha.
Sasuke me fitou surpreso, e um sorriso cresceu nos seus lábios.
- Acho que você errou o caminho da minha boca.
Soltei uma pequena risadinha e desta vez fiz a sua vontade, ele merecia.
Ele merecia tudo.
Fechei meus olhou e beijei a sua boca. Foi um pequeno e singelo selinho rápido e logo me afastei.
- Assim está melhor?
- Quase.
E sua mão segurou atrás de minha cabeça e me puxou de encontro a sua boca mais uma vez, me beijando com vontade e calorosamente que me deixou sem ar. Com uma de minhas mãos em seu braço eu me afastei, piscando os olhos e respirando depressa. Olhei para os lados percebendo que ninguém havia presenciado o nosso beijo.
- Estamos na biblioteca.
- Com essa estante nos ocultando.
- Mas é proibido.
E como resposta ele me roubou um selinho e adorei a sua ousadia, o que me fez lembrar na terça-feira de manhã quando veio me buscar em casa, se desculpado mais uma vez por ter esquecido que eu iria sair cedo no trabalho e apareceu no horário normal encontrando a loja de doces fechada. Ele se lamentava – mesmo eu dizendo que estava tudo bem -, e para compensá-lo namoramos um pouquinho no portão da minha casa antes de ir para o colégio.
- Suigetsu e Juugo vão estar cidade nesse sábado, está afim de conhecê-los? – Perguntou, segurando a minha mão e levando até os lábios e a beijou. - Daremos um passeio na cidade. Que tal?
Suigetsu e Juugo eram seus amigos que moravam em Okinawa, se eles iriam está na cidade então...
- Presumo que a Karin também vá, não é?
- Sim. – Respondeu, olhando as nossas mãos que se entrelaçavam. - Ela que está promovendo o encontro. Confesso que estou com saudades daqueles idiotas. – E seus olhos negros me fitaram. - Por quê? Você se incomoda com a Karin?
Meus olhos arregalaram, e meu coração acelerou duas batidas. Disfarce. Disse para mim mesma. Sasuke não pode saber que você quer ver a sua amiga pelas costas.
- Ah, não. Eu... eu só perguntei por perguntar mesmo – sorri forçado, odiando-me por não ter conseguido controlar a minha língua.
- A Karin tem aquele jeito toda abusada e intrometida, mas ela é uma boa pessoa. É só o jeito dela mesmo. Acho que com o tempo você se acostuma...
- Tudo bem, Sasuke – o interrompi, não querendo dar pistas para ele desconfiar. - Ela é sua melhor amiga, não precisa se explicar.
- Então você vai?
O que eu digo? Queria ir, mas não queria ficar mais de uma hora perto de Karin sendo insuportavelmente espontânea e que me fazia sentir mais horrível do que eu me sentia ultimamente.
- Não vai dar – comecei, mas lembrei que não teria de mentir dessa vez. - Tenho sessão com a minha psicoterapeuta as dez da manhã.
- Eu vou com você e nos encontramos com eles depois.
Mordi o lábio e balancei a cabeça para os lados, negando.
- Me desculpe. – E desta vez a mentira teria que colar. - Eu realmente quero passar nessa universidade, Sasuke e... já me programei todo esse final de semana. Vou pegar pesado nos estudos agora.
Bom, não era exatamente uma mentira. Eu realmente tinha que estudar para entrar na universidade de Tóquio. Agora mais do que nunca, pois sabia que Sasuke pretendia entrar nela também, mas a programação havia sido elaborada naquele momento.
- Entendo.
Ele me pareceu pouco decepcionado, mas não poderia voltar atrás do que havia dito, teria que ir até o fim.
- Mas não se prive por mim – disse e sorri. – Você pode ver seus amigos. Mas eu me conheço bem o suficiente para saber que não serei uma boa companhia sabendo que minha cabeça iria está na programação de estudos.
Sasuke sorriu de lado.
- Relaxa. Você está certa. Eu também deveria está estudando, mas vou começar depois de amanhã. Farei que nem você, cairei de cara nos estudos.
- Me desculpe.
- Não se desculpe. – E afagou meu rosto com as costas de sua mão. – Você é um exemplo acadêmico e eu me sinto o arruaceiro tentando te desvirtuar.
Acabei soltando uma pequena risadinha com o jeito engraçado que falou, fazendo-o rir também.
- Eu te amo – eu disse simplesmente.
Ainda sorrindo ele me respondeu:
- Eu também te amo. Então, aceita tomar um chocolate quente depois do seu expediente?
- Só se for por minha conta.
Suas sobrancelhas ergueram-se para cima.
- Aí você quebra as minhas regras de cavalheirismo.
Eu abri a boca para retrucar, mas fui interrompida por Karin aparecendo como um furacão, fazendo meu sorriso morrer aos poucos. Novamente aquela garota. Ela segurava o celular e sorria para Sasuke.
- Achei você.
Sasuke tirou sua mão de mim.
- Karin...
- Olha o tem aqui... – ela o interrompeu dando a volta e o contornou, ficou atrás dele pousando o celular a sua frente, ficando com a sua frente colada nas costas de Sasuke.
E qualquer vestígio de humor que sentia havia descido pelo ralo. Karin estava agindo daquele jeito novamente, como se Sasuke não tivesse uma namorada. Ela só podia fazer de propósito.
Vozes falando ao mesmo tempo soou no celular, era uma chamada de vídeo. Olhei o display e havia dois garotos se espremendo para aparecer na tela, um de cabelos claros que batiam acima nos ombros e outro que parecia ser maior com cabelos ruivos.
- Caramba...! – Exclamou Sasuke, surpreso.
- Fala aí, brow!
- Abandou a gente, cara!
- Fala aí, tudo bem? – Sasuke perguntou, animando-se. Segurou o celular da Karin para falar com os garotos que pelo que Sasuke havia me descrevido uma vez eram seus amigos que moravam em Okinawa.
- Uchiha, existe celular nesse planeta.
- É isso aí. Se refugiou na toca e nunca mais deu as caras.
- Foi mal, mas aconteceram algumas coisas...
Karin se debruçou novamente por cima de Sasuke, pousando o queixo em seu ombro, ficando com seu rosto perigosamente próximo do rosto dele. E logo sua voz soou, falando com os garotos no celular, ignorando-me completamente.
E novamente eu me via paralisada, apenas observando a cena e aonde aquilo tudo iria dar. A telespectadora de uma garota praticamente se jogando para cima do meu namorado.
- Sui, ele nem imagina o que vamos fazer com ele amanhã.
Sasuke virou seu rosto e por uma fração de segundos eu imaginei que se Karin não tivesse ido para trás, algo muito desagradável poderia ter acontecido.
- O que...
- Que algazarra é essa? – A bibliotecária apareceu com uma cara nada boa. E posso dizer que adorei vê-la ali, sabia que era rígida sobre o silêncio do local. – Ou façam silêncio ou para fora daqui.
Karin tomou o celular de Sasuke e se ajeitou.
A bibliotecária deu mais outra olhada feia para ela e Sasuke e se afastou.
- Gente espera um segundo... – Karin disse para os meninos antes de tampar a tela em sua barriga. - Vamos lá para fora, Sasuke?
Sasuke se levantou e olhou para mim, debruçando seu corpo para que seu rosto ficasse próximo ao meu.
- Eu vou lá – disse e beijou meus lábios rapidamente. – O chocolate quente é por minha conta.
Em seguida sorriu e piscou para mim, saiu com Karin sem dar a chance para mim retrucar. Já Karin, apenas piscou para mim com um pequeno sorriso no canto de sua boca, um sorriso que para mim não foi amigável.
Mordi o lábio, fechando os olhos com força. E novamente aquele sentimento circulava meu coração. Apertei minha mão contra minha saia, perdendo todo o foco e ânimo de estudar.
Aquela garota havia conseguido com maestria me irritar.
