Capítulo 28 - Ciúmes

.

Amanhã.

Seria amanhã o dia pelo qual passei as últimas semanas reclusa de tudo, estudando. Amanhã era o dia da prova de vestibular que definiria o meu futuro, encerrando o fim do colegial e o começo de uma fase na universidade.

Bom, ainda faltava algumas semanas para o ano letivo e minhas notas eram boas o suficiente para não me preocupar por ficar pendurada em alguma matéria. Praticamente eu havia passado no colegial. Agora era só focar em passar na universidade que sempre sonhei cursar e que ficava próximo o suficiente para não mudar de minha casa para algum alojamento. Iria poder voltar para casa no fim da tarde, continuar com meu emprego de meio período e ficar perto de Sasuke.

Ele iria fazer a prova também, e isso me confortava de certo ponto a angustia que sentia por sua ausência. Tudo para que no fim ficássemos juntos sem nenhuma preocupação. Tudo iria sair... perfeito.

Perfeito.

Fechei meus olhos e suspirei profundamente. Sentia minha cabeça doer e só era dez da manhã, sinal claro de meu cansaço e da noite em claro estudando. Tinha consciência que minha cara estava horrível e as olheiras eram tão visíveis que qualquer um com uma distância de dez metros poderia notar. Me sentia terrivelmente cansada, meu humor não era bom, e ficar isolada dentro da biblioteca no intervalo era a melhor opção, ainda mais quando não tinha a mínima vontade de ver a cara de Karin.

Estudar me fazia esquecer que talvez ela pudesse estar com todos e com Sasuke no intervalo. E por falar em Sasuke, eu também não havia o visto hoje e muito menos respondi a mensagem que ele havia mandado para mim a uns cinco minutos, perguntando aonde estava. Sabia que estava sendo infantil por não o responder, mas não queria falar com ninguém. Passar na universidade de Tóquio com uma nota máxima para que a diferença de valor na mensalidade fosse pequena para que pudesse pagar todo mês era minha prioridade. Eu tinha que dar o meu melhor, pois sabia que uma nota menor mamãe não conseguiria custear minha vida acadêmica numa faculdade de prestígio com o salário que ganha junto com o meu. E deixá-la vender a casa e se mudar para um pequeno apartamento de dois cômodos estava fora de cogitação. Pois nunca iria permitir que ela fizesse aquela besteira, por mais que ela argumentasse que meu futuro era importante.

Um teto para morar também era importante.

Abri meus olhos e voltei a prestar a atenção na matéria que estava estudando e não demorou para que logo me concentrasse. Mas a concentração se esvaiu quando ouvi passos vindo atrás de mim e um puxar de cadeira ao meu lado me fez levantar a cabeça ao mesmo tempo que a voz de Ino se fez presente, me pegando de surpresa:

- Aqui está você. – Sentou-se na cadeira, virando seu corpo todo para mim, seus olhos azuis me fitando, um pequeno sorriso em seu rosto.

- Ino? – Era notável a surpresa em minha voz, pois não esperava ela ali. - O que faz aqui?

Ela sorriu mais e fitou por alguns segundos os meus livros abertos para depois voltar a atenção em mim.

- Vim terminar o intervalo com você.

Terminar o intervalo comigo?

Pisquei os olhos.

- Ah... – O que havia acontecido para ela está aqui? Ino detestava a biblioteca e pelo jeito que se acomodava, depositando um copo com tampa e canudo de algum refresco e um pacotinho de biscoito em cima da mesa, me fez notar que ela estava mesmo decidida. - Eu... eu estou estudando... a prova é amanhã.

- Eu sei – ainda sorrindo empurrou o copo e o pacotinho de biscoito para mim. – Trouxe para você.

Meus olhos fitaram o alimento a minha frente e depois olhei para ela, o cenho pouco franzido.

- Para mim?

Ela assentiu com a cabeça.

- Uhum. Eu notei o quanto está se esforçando para estudar e eu sei que conhecendo você não iria descer para o intervalo comer. Sabe, saco vazio não para em pé. E aposto que não comeu nada até agora.

Realmente estava muito surpresa por sua presença e ainda mais surpresa com seu gesto gentil. Ela ainda lembrava de mim e isso fez um calorzinho circular meu coração, mas não o suficiente para mandar embora aquele sentimento de solidão.

Eu abri a boca para responder, mas meu estômago acabou por avisar o quanto eu mal havia me alimentado.

Ino soltou uma risadinha e meu rosto ficou quente.

- Pelo jeito eu estava certa.

- Ahn... obrigada pela gentileza.

Eu me sentia tocada com seu gesto, ainda mais agora que estava decidida em me afastar. A sua presença a minha frente, agindo como se nada tivesse acontecido, como se eu nunca tivesse me afastado me fez ter uma vontade de chorar. Mas não chorei. Mesmo sabendo que a sua presença tinha muitos significados para mim. Ino era a minha melhor amiga. A minha favorita, e só agora eu tinha consciência do quanto eu senti falta dela.

Suspirei profundamente e desviei minha atenção para o copo e Ino logo explicou o que era:

- É uma vitamina de banana e maçã.

Peguei o copo e levei o canudo a boca, o gosto logo agradou meu paladar.

- É muito bom, obrigada.

- Não há de quê.

Sorri comprimido, dando outro gole da minha vitamina.

- Sabe... – ela começou, me fazendo olhá-la. – Eu também notei que você anda afastada de todos. No começo eu achei estranho e levantei algumas hipóteses na minha cabeça, mas com o tempo eu vi que você estava mesmo focada para passar na universidade e não quis incomodá-la com minhas teorias. Sei que isso é importante para você.

Ela não havia notado que me afastei por causa de Karin, mas fiquei na minha.

- É – minha voz saiu baixa. – Andei estudando muito.

Silêncio.

- Eu ainda não descartei as minhas teorias e se elas estão certas, eu peço desculpas.

- Desculpas? Por quê?

- Por que não fui uma boa amiga nessas últimas semanas.

- Ino...

Ela me interrompeu, continuando a falar:

- Eu notei o quanto você e o Sasuke andam afastados...

- Ele está estudando muito - a interrompi também, querendo desesperadamente mudar o assunto. Não queria falar de Sasuke que possivelmente entraria no tema Karin. Não queria que Ino soubesse o quanto estava sendo infantil.

- Eu sei, mas continuando; eu também notei que você ficou distante depois que a Karin apareceu. – Bingo. Meu coração acelerou. Não. Não. Não. – E olhando para sua expressão nesse momento, agora tenho certeza que minha teoria estava certa. A Karin te incomoda?

Minha nossa!

Ela realmente havia notado.

Como pude ser tão tonta para achar que Ino não notaria? Ainda mais ela que era sempre atenta a detalhes?

- Por... por que está me... me perguntando isso? - Eu havia gaguejado miseravelmente.

Eu realmente era digna de pena.

Ino franziu o cenho, o rosto mais sério.

- Por que nenhuma garota gosta de ver outra garota praticamente sentando no coloco de seu namorado. - Aquilo foi exatamente um tapa bem no meio da minha cara. Prendi a respiração, paralisada. - Olha, confesso que a Karin é legal. Gosto dela. É divertida, mas acho ela pouco avoada. Não concordo em algumas de suas atitudes e muito menos o jeito que ela trata o Sasuke como se fossem íntimos.

- Ela é a melhor amiga dele - confessei timidamente, abaixando meus olhos para meus livros.

- Isso não é desculpas - em seguida tocou meu ombro, fazendo minha atenção voltar para si. - A Karin ultrapassa a linha permitida de amizades.

- Mas ela o conhece a muito mais tempo do que eu.

- Mas você é a namorada. - E apontou o dedo para mim. - Você está na categoria de mais importante do que ela. Você não enxerga, Sakura? Você está bancando a boba por permitir uma situação assim. Se fosse eu no seu lugar já tinha armado um barraco e mostrado quem é que manda.

- Não é tão fácil assim, Ino. Não quero bancar a namorada chata.

- Você não estará bancando a namorada chata. Apenas mostrando a Karin o seu lugar.

Suspirei pesadamente.

- Pensei que você gostasse dela - murmurei baixinho.

- Eu gosto, mas também gosto de você e a conheço a mais tempo do que ela para você ser minha prioridade. E como minha prioridade, eu tenho que dizer que você precisa conversar com o Sasuke, ser honesta e dizer que a Karin te incomoda. Por que eu sei que você está se mantendo calada como da outra vez.

- Mas...

- Não tem, mas. - Me interrompeu, franzindo novamente as sobrancelhas. - Olha só para você? Está aqui sozinha e infeliz.

- Estou estudado - quis contra argumentar, mas sabia que ela estava certa. Eu me sentia sozinha e muito infeliz.

- Está sim. Mas eu sei que cinquenta por cento é pretexto para fugir. E novamente eu me vejo de mãos atadas sem poder te ajudar por que é você que tem que dar o primeiro passo. Você e o Sasuke são namorados. A honestidade num relacionamento é a base de tudo, se não, tudo desanda. – E agarrou minhas duas mãos. - Amiga, por favor, eu digo isso por que eu gosto muito de você e não quero vê-la sozinha se afastando de todos por causa de algo que se pode ser resolvido com um diálogo honesto. E só você pode resolver essa situação.

Ino estava coberta de razão. Eu tinha consciência disso, mas eu tinha medo de me abrir e Sasuke acabar se afastando mais ainda. Ainda mais agora que estávamos afastados por causa dos estudos. Não sabia o que seria de mim se perdê-lo.

Acho que... morreria.

- Tudo bem. - Disse, depois de dois segundos em silêncio. - Eu vou falar com ele depois da prova de amanhã.

Era um bom plano, não podia me preocupar assim antes dessa prova e depois der tudo errado. Isso não.

Ino suspirou, balançando a cabeça para os lados.

- Você é muito cabeça dura, mas não vou pressioná-la.

- Obrigada – sorri, sentindo-me pela primeira vez em dias que eu não estava tão sozinha como pensava.

. . .

Na sala do consultório de Mei, eu me via deitada no sofá, olhando o teto. Estava assim havia vinte minutos e nenhuma palavra havia saído de minha boca. Eu estava travada por dentro, a mente a algumas horas atrás na minha conversa com Ino. Ela havia tirado um pequeno peso em meus ombros e me feito enxergar que não estava sozinha. Mas agora... depois que ela havia ido embora... o peso havia voltado novamente.

Falar era fácil, lidar com a situação em que me encontrava era pior. Tudo que eu quero era que tudo voltasse a ser como antes. Mas eu sei que mesmo se eu tentasse, nada iria ser como era antes, pois Karin ainda estaria lá.

Ela ainda iria ser o meu problema.

Odeio ela.

Suspirei, saindo de meus devaneios.

Virei meu rosto para o lado e lá estava Mei com a sua paciência de dar inveja, sentada em seu sofá de couro marrom aconchegante, as pernas longas cobertas por uma calça de alfaiataria estavam cruzadas. Ela me fitava, observando cada reação, cada gesto que eu fazia, esperando o momento que eu iria me abrir.

Desviei meus olhos e os fechei com força, sentindo a angustia em meu peito e um frio trêmulo em meu estômago. E eu tive consciência ali que ficar calada não iria resolver nada. Omiti meus problemas para a pessoa que estava a minha frente disposta a me ajudar não iria deixar tudo nos conformes.

Ino como sempre estava certa. Eu tinha que me abrir. Mei não iria me julgar... ela nunca me julgou. Por que então que eu não contei a verdade a ela antes? Por quê?

Por que eu tinha que ser essa pessoa tão esquisita?

Por que eu não sou que nem todo mundo? Por que eu não conseguia lidar com meus problemas sozinha sem a ajuda de um especialista? Por quê? Por quê?

Eu me odiava naquele momento por ser uma pessoa fraca. Odiava por não ter as respostas que precisava.

Odiava ser eu.

Já podia sentir meus olhos molhados, mas não iria permitir que as lágrimas escapassem. Estava cansada de chorar, eu não podia chorar.

- Eu menti – minha voz saiu rouca e baixa.

Abri meus olhos, enxergando tudo embaçado. Esperei, e o silêncio a seguir permitiu que obtivesse meu autocontrole novamente e controlei aquelas lágrimas.

- Eu não disse a você o que realmente estava acontecendo comigo – continuei, fitando o teto branco do consultório. - Ocultei muitas coisas.

- Você se sente confortável para me contar agora? – A voz de Mei soou tranquila, me perguntando.

- Não muito. Mas estou sufocada como se tivesse uma corda enrolada no meu pescoço arrancando todo o meu ar... Aquela garota... Eu não gosto dela. – Olhei para Mei e ela me fitava atenciosamente como uma boa profissional. – Ela é a melhor amiga do Sasuke e... ela é insuportável. Ela age tão intimamente com ele como se ela fosse a namorada. Ela praticamente se joga em cima dele como se eu não existisse. Como se eu fosse cega e não estivesse vendo nada.

Fechei meus olhos novamente e aquelas cenas nojentas me vieram a mente, causando-me náuseas.

- E ele? - Mei perguntou.

- Ele acha tudo normal. - Abri meus olhos novamente. - São amigos a muito tempo. Uma vez ele disse que é o jeito dela. Mas eu sei que ela faz tudo de propósito. É uma cobra.

- Já conversou com ele sobre essa amiga?

Neguei com a cabeça.

- Ele parece tão animado com ela que preferi ficar calada. E depois tinha a prova do vestibular e preferi focar nela e tentar fingir que nada acontecia, mas...

- Isso está a sufocando e você agora não sabe como lidar com tudo isso – ela respondeu antes que minha voz soasse, dizendo as palavras exatas como se estivesse lendo o que se passava em minha cabeça.

Olhei para ela novamente, agora me sentando no sofá.

- Sim.

- Bom, essa menina está invadindo um espaço que é seu, por isso que sente ameaçada. É normal que sinta ciúmes nessas ocasiões...

Franzi o cenho.

- Ciúmes?

- Sim. Você está com ciúmes de seu namorado com a amiga dele. E é normal num relacionamento alguém sentir ciúmes, querer zelar e preservar algo que se tem muito apreço. Eu aconselho a conversar com seu namorado, uma conversa honesta sobre o quanto a amiga dele a incomoda. Você não pode guardar esses sentimentos para si, Sakura, pois uma hora esses sentimentos virão à tona como uma avalanche e você será a prejudicada nisso tudo no final. E você e seu namorado saírem machucados com palavras que as vezes não deveriam ser ditas e um relacionamento harmonioso pode acabar se tornando cinzas.

- A Ino me disse quase a mesma coisa.

- Se ela disse isso é por que ela realmente se preocupa com você e quer sua felicidade.

- Amanhã é o dia da minha prova de vestibular. Para falar a verdade, eu vou prestar para duas universidades. A diretora me aconselhou que é bom ter uma segunda opção.

- E nisso ela está certa. É sempre bom ter um plano reserva em nossas vidas quando a primeira opção não vir a calhar. Mas como você se sente diante disso?

- Estou pouco nervosa. - Olhei para as minhas unhas roídas. - Quero muito passar na universidade de Tóquio... muito mesmo. É o meu sonho. - Voltei a olhá-la. - Mas preciso passar com uma nota máxima. Minha condição financeira não é boa para arcar com uma universidade de prestígio, então estou dando o meu melhor. O Sasuke também vai fazer a prova para ela. Andamos pouco afastado por causa disso... quero muito que nós dois passamos. Iremos fazer medicina juntos.

- E se por acaso um de vocês não passar na universidade de Tóquio?

Aquela pergunta fez meu coração disparar.

- Nós temos que passar. Eu tenho que passar.

Pois eu não sabia o que seria de mim se tivesse que ficar longe de Sasuke.

. . .

Os problemas pareciam não ter um fim, quantos mais concelhos eu tinha mais enrolada eu ficava. Eu tinha medo de agir e tudo der errado no final sem chances de voltar atrás. Tinha medo de dizer as palavras erradas e Sasuke não me querer mais. Ainda me pergunto o que um garoto tão lindo viu numa garota como eu? Eu não tinha nada de especial. Era apenas uma garota estranha para os olhos da sociedade. Eu realmente valia a pena?

Fitei meus pés enquanto caminhava com passos lentos pela calçada, indo em direção ao ponto de um ônibus.

- Sakura!

A voz conhecida soando ao longe me trouxe de volta a realidade, me fazendo parar e olhar para trás.

- Gaara... – era inevitável a surpresa por encontrá-lo assim tão de repente.

Ele se aproximou em passos rápidos e logo estava a minha frente com um pequeno sorriso no rosto, fazendo leves ruguinhas se destacarem nos cantos de seus olhos.

- Oi.

- Oi – tentei retribuir o sorriso e animação, mas acho que fracassei. Como eu era uma miserável.

- Nossa, não imaginava encontrá-la por aqui, isso é uma surpresa para mim.

- Para mim também – e não estava mentindo, era a primeira vez que o encontrava que não fosse dentro da loja da dona Chiyo.

Voltei a caminhar com Gaara me acompanhando agora, ao meu lado.

- Então, o que faz por aqui sozinha?

- Estou vindo da minha sessão de terapia.

Gaara levantou as sobrancelhas.

- Terapia?

Eu havia falado demais.

- Ahn... sim – voltei a fitar o caminho a minha frente, tendo consciência do olhar de Gaara em mim. – Tenho algumas sessões por semana.

- Você está com algum problema? Quer dizer, qualquer coisa eu posso ajudar.

Voltei minha atenção para ele e balancei a cabeça para os lados, forçando um sorriso.

- Não. É apenas rotina. Não precisa se preocupar.

- Entendo.

Silêncio.

Eu sabia que não era uma boa companhia, geralmente eu me sentia uma péssima companhia para qualquer um. Mas Gaara era sempre tão gentil, sempre elaborando um diálogo que sempre morria por minha deficiência de manter um ultimamente. Eu estava deixando as minhas frustrações falassem mais alto e transparecer para qualquer um, e não queria que Gaara percebesse o quanto estava mal.

- E você? – Comecei, o fazendo me olhar. – O que faz por aqui?

- Estou vindo da casa do meu primo. Sabia que ele é recém-formado em medicina?

- É mesmo?

Gaara assentiu com a cabeça e olhou para frente.

- Ele se especializou em ortopedia e conseguiu uma vaga para atuar num hospital grande em Okinawa. Fui me despedir dele. A tia Chiyo está bem triste, é o neto favorito dela.

- Não sabia que a dona Chiyo tinha um neto médico. – Aquilo foi uma surpresa para mim.

Gaara me olhou.

- É por que o Sasori é bem reservado... – em seguida apontou para frente. – Olha!

Segui com um olhar aonde ele apontava, uma pequena barraquinha móvel estacionada do outro lado da rua.

- Você quer tomar um sorvete?

- Ahn?

Sorvete?

O Tempo era frio apesar do céu está límpido e azul com o sol brilhando naquela tarde, mas o calor que ele proporcionava não era o suficiente para se ver livre de qualquer casaco.

- Vem – ele segurou a minha mão e me puxou até a barraquinha. – Eu pago.

Eu mal havia processado o seu pedido antes de ser levada por ele, apenas deixei ser guiada.

Não queria tomar sorvete, apenas queria ir para casa estudar e evitar que minhas lágrimas viessem. Eu não sabia por quanto tempo eu poderia segurá-las. Mas não podia dispensar o Gaara, ainda mais por que nessas últimas semanas ele havia se tornado um bom amigo.

Ele não me levou mais para minha casa depois do trabalho, meus argumentos contra conseguiram convencê-lo daquela loucura, mas em compensação, ele me acompanhava até o ponto do ônibus e fazia companhia para mim até que minha condução chegasse. Gaara era gentil apesar de mascarar sua gentileza com sua pose de encrenqueiro que não está nem aí para o mundo.

Ele comprou dois sorvete de morango e me entregou um.

- Obrigada – sorri comprimido segurando o sorvete.

Ele apontou para o banco que ficava entre a calçada e a grama da praça com brinquedos de escorrega, gangorra e balanço. Dirigimos para lá e sentamos um do lado do outro no banco que pegava todo aquele sol, tentando esquentar o frio do final de inverno.

Provei o sorvete e não senti gosto algum. Meu paladar era amargo, assim como estava minha vida.

Amanhã.

Amanhã depois da prova eu iria falar com Sasuke como Ino e Mei me orientaram...

- É a primeira vez que nos encontramos que não seja na loja.

- Sim. – Gaara também havia notado aquele detalhe.

- Você me parece triste.

Triste...

Desviei meus olhos para o meu sorvete cor-de-rosa com o resto da calda de chocolate, a respiração ficando mais acelerada e foi aí que não aguentei mais. A primeira lágrima surgiu em seguida da segunda e da terceira. Não consegui mais evitar, não conseguia segurá-las mais depois de dias sem derramá-las.

Chorei, deixando as minhas lágrimas jogarem para fora todo o meu sentimento de tristeza. Chorei pelos dias que me sentia sozinha. Chorei pela pressão que me encontrava em entrar numa boa faculdade com uma nota impecável. Chorei por que eu não conseguia ter o controle de mais nada.

- Sakura! – Gaara ficou de pé num impulso, não vi seu rosto, mas pela sua voz eu sabia que ele estava apavorado.

Deixei meu sorvete cair no chão e levei minhas mãos ao meu rosto, inclinando meu corpo para frente, descontrolada em meus sentimentos.

- Sakura o que aconteceu? – A voz desesperada de Gaara soou mais uma vez, agora sua mão tocava meu ombro. - Eu fiz algo de errado?

Balancei minha cabeça para os lados e tentei controlar minhas lágrimas, mas não consegui.

Em poucos segundos senti Gaara mais próximo e logo eu fui envolvida por seus braços, me apertando, contra si.

- Ei? O que foi? – Ele perguntou baixinho, me apertando mais um pouco.

- Na-na-nada – minha voz saiu entre soluços, me afastei e ele me soltou.

Solucei algumas vezes e sequei meus olhos com as costas de minhas mãos, agora tomando um pouco mais de controle.

- Me-me des... descul... culpe.

- Que isso...

Funguei a coriza e abri meus olhos, ainda soluçando vez o outra. Fitei de relance Gaara e ele me olhava com a expressão séria e preocupada.

E o silêncio se fez presente entre a gente. Estava morrendo de vergonha e queria desesperadamente sumir daqui. Queria chegar em casa e me jogar em minha cama e nunca mais sair dela. Mas não podia sair assim correndo pela rua sem chamar atenção, sen ninguém ver o quanto eu estava sendo uma idiota.

- Você quer me contar o que está havendo? – Gaara perguntou cautelosamente.

- Não é nada.

- É por causa do seu namorado?

Voltei minha atenção para ele e logo fiquei de pé, ele fez o mesmo.

- Me desculpe, Gaara, mas preciso ir.

- Sakura, espere! – Ele segurou o meu pulso, me fazendo volta-se para ele. – Eu sei por que está assim. É por causa dele, não é?

Franzi meu cenho, o coração acelerado. Funguei e suspirei.

- Não é por causa de ninguém – disse, entrando na defensiva.

Gaara estava atravessando uma linha proibida para mim. Não queria mais ficar ali, eu tinha que ir embora.

- É claro que é por ele. – Declarou, convicto. - Aquele cara não te merece.

Aquela declaração que Gaara afirmava com tanta convicção, com tanta certeza, fez uma raiva crescer dentro de mim, tomando lugar do sentimento bom que sentia por ele naquele momento.

- Você não tem o direito de se intrometer na minha vida – e puxei meu pulso de seu aperto.

Mas Gaara foi mais rápido novamente e segurou meus ombros com suas duas mãos, ficando perigosamente próximo de mim.

- Sakura... – olhava no fundo dos meus olhos – eu gosto de você.

Não.

- Gaara...

Ele continuou, uma expressão decidida no seu rosto, a mesma expressão que Sasuke fez quando se declarou a mim e me beijou.

Meu Deus, isso não pode está acontecendo.

- Gostei de você desde a primeira vez que a vi.

Balancei a cabeça para os lados. Aquilo não estava certo.

- Não...

Ele tocou o meu rosto, aproximando o seu rosto do meu.

- Me dê uma chance...

- Que merda é essa aqui!

Aquela voz alta e irritada, fez Gaara recuar e aproveitei para tomar meu espaço pessoal e observar com os olhos arregalados e surpresos a última pessoa que eu imaginava está ali.

- Sasuke – minha voz saiu num sussurro, observando sua expressão séria, o cenho e a boca crispada numa ira que numa vi nele antes.

Sasuke terminou de atravessar a rua com passos rápidos e pesados, olhou para mim e depois para Gaara, se colocando a minha frente, tampando toda a minha visão com suas costas largas.

- O que caralhos você pensa que está fazendo com a minha namorada, seu otário?

Gaara soltou uma risada debochada.

- Você ainda tem coragem de chegar aqui com essa marra e exigir algo depois que deixa a Sakura sozinha por semanas? O otário aqui é você. Tu não merece a garota que tem.

Sasuke apontou o dedo para Gaara.

- Segura a tua onda se não...

- Se não o que, Meirmão? – Gaara o peitou, aproximando mais de Sasuke, preparado para uma briga. Meu coração batia tão forte que parecia que iria sair pela minha boca. Estava vendo que aquilo não iria sair algo bom. – Você deixa a garota sozinha por aí, largada, para fazer sei lá que...

- A Sakura não é da sua conta.

Agarrei o seu casaco, querendo desesperadamente puxá-lo para bem longe. As pessoas que passavam olhavam para a gente, curiosos. Não iria demorar para que acionassem algum guarda e ambos saírem encrencados.

- Sasuke...

- Não é da minha conta – a voz de Gaara soou alta, e depois abaixou o tom, soando agora cortante: - Sabia que a Sakura foi assediada na rua?

- Quê?

Gaara soltou outro sorriso debochado.

- Pela sua cara, você não sabia.

- Gaara, para com isso.

O que ele pensa que está fazendo?

Sentia todo o meu corpo tremer por dentro e minhas mãos estavam tão gelada que mal podia sentir meus dedos.

Sasuke virou-se para mim, o cenho franzido.

- Isso é verdade, Sakura?

- Claro que é verdade. – Gaara respondeu por mim. - A loja andou cheia ultimamente e todos estavam saindo tarde da noite. Se eu não tivesse aparecido na hora... algo pior poderia ter acontecido a ela.

Sasuke continuou me fitando, ignorando Gaara completamente.

- Eu preciso falar com você.

- Falar com ela. – Debochou Gaara. - Você abandonou ela.

Sasuke virou-se para ele e o empurrou, fazendo Gaara cambalear alguns passos para trás.

- Vai cuidar da sua vida.

Gaara o empurrou de volta com a mesma violência.

- Eu já estou cuidado dela.

- Parem vocês dois – fiquei no meio entre os dois, minha boca tremendo, eu estava começando a perder o controle de mim novamente. Agora não. - Gaara por favor, vai embora.

Gaara parecia uma outra pessoa, um bicho raivoso em tempo de voar em cima de Sasuke e o estraçalhar. Apenas permaneci com minhas duas mãos no peito de Sasuke, o impedido de avançar para cima dele e os dois começarem as trocas de socos.

- Ele não a merece, Sakura – disse Gaara, agora me fiando, dando alguns passos para trás. – Para falar a verdade, também não a mereço. Mas pode contar comigo quando precisar.

- Garanto que ela não vai precisar – disse Sasuke.

Gaara abriu um sorriso de lado, debochado.

- Assim como ela não precisou das outras vezes – e virou as costas e foi embora.

Sasuke forçou para ir atrás dele, mas o impedi.

- Para, Sasuke. Deixa ele.

Sasuke voltou-se para mim com toda a ira.

- Você está gostando desse cara?

Franzi as sobrancelhas, sentindo uma dor no coração por suas desconfianças em mim.

- Não estou gostando de ninguém. – Por mais que estivesse com uma vontade insuportável de chorar, consegui deixar a minha voz soar fria e seca.

- Eu ouvi quando ele se declarou a você. O que faz aqui com ele?

- Eu o encontrei por acaso – respondi, odiando ter aquele tipo de discursão na rua aonde todos pudessem ver. - Você chegou quando iria dispensá-lo. Agora fale mais baixo, está todo mundo olhando.

Sasuke pareceu notar o tom alto que usava comigo e se controlou. Segurou minha mão de repente e me puxou para o meio da grama da pracinha, tomando um bom afastamento de todos. Ele parou quando ficamos por detrás de uns brinquedos de escorrega que as crianças costumavam brincar e me soltou. Virou-se todo para mim, o rosto ainda sério.

- Por que não atende as minhas ligações?

- Estava com a minha psicoterapeuta. – Abracei meu corpo com meus braços para controlar meus tremores. – Tenho terapia hoje, esqueceu?

- Não.

Mordi o lábio e desviei meus olhos para o chão.

- O que faz aqui? – Perguntei, hesitante, o coração agora apertado. - Pensei que estivesse com a Karin.

- Por que estaria com a Karin?

Ergui meus olhos e fitei seu rosto, o cenho ainda franzido.

- Por que vocês são melhores amigos?

Ele apertou os olhos para mim.

- Você está sendo irônica.

- Irônica – sorri amarga e soltei meu corpo dos meus braços.

- Sim, você está sendo irônica. Eu te procurei. Te liguei. Fui a clínica para te pegar e você já tinha saído e quando ando pela rua para ver se a encontro, a vejo com outro cara.

- O Gaara é só um amigo.

- Que gosta de você, porra – sua voz aumentou dois graus.

- Mas não gosto dele da mesma forma.

Ele tocou meu rosto com seu dedo.

- Ele estava tocando seu rosto, eu vi.

Sasuke estava acusando-me de uma coisa que eu não tinha culpa. Eu havia sido pega de surpresa com aquela declaração de Gaara, e Sasuke ter flagrado na hora havia sido uma fatalidade do destino. Como ele pode ficar tão furioso comigo por Gaara ter tocado meu rosto sabendo que a amiga dele fazia pior?

Uma onda de fúria tomou conta de mim, e minha respiração ficou pesada e não aguentei.

- Assim como eu vejo a Karin tocando em você? – Soltei o que estava entalado na minha garganta. Disse com toda a ironia que conseguia produzir.

Sasuke merecia.

E eu vi quando sua expressão mudou da água para o vinho. Se antes ele tinha o controle de me encurralar, agora o controle estava comigo.

- O quê?

- Não se faça de inocente, Sasuke. – Apontei o dedo, tocando seu peito, a voz aumentando a cada frase dita, as magoas e sufocamento e ira tudo em cada palavra. - Eu entendo que ela é a sua amiga de anos, mas não suporto o jeito como ela faz de tudo para tocá-lo. Para distrair sua atenção toda para ela como se você não tivesse namorada. – E bati em meu peito. - Como se eu fosse invisível e não tivesse notando o quanto ela está dando em cima de você. – Sorri descontrolada. - E parece que você é cego ou se finge de cego por que não enxerga que ela gosta de você e está fazendo de tudo para tomar você mim.

- Sakura...

- Eu não a suporto, Sasuke. – Gritei. - Não a suporto e fiz de tudo, juro que fiz de tudo para não ser uma a namorada chata, mas não suporto essa situação. – Minha visão começava a embaçar, sabia que as lágrimas estavam vindo, eu estava desmoronando mais uma vez. - Não suporto ver meu namorado que diz que me ama de risinhos e com outra garota. Eu não quero você perto dela. Não quero que você fale com ela. Eu quero ser egoísta pelo menos uma vez na minha vida e ter você somente para mim. Não quero dividi-lo com outra garota. Não quero!

Eu respirava com força. Sasuke estava me olhando, paralisado, processando todo o meu desabafo. Eu havia falado, finalmente eu havia dito o que eu tanto guardei dentro de mim, e estava aliviada. Era como se eu tivesse vomitado uma bola que estava entalada em minha garganta. E para a minha surpresa ele comprimiu os lábios, prendia um sorriso.

Meus olhos arregalaram, surpreso.

- Por que você está rindo?

- Você... – sorriu, os olhos negros que me fitava estavam brilhando. - Você está com... ciúmes.

Pisquei os olhos, incrédula, observando seu rosto iluminado com algum tipo de efeito que ele via naquilo tudo que estava acontecendo naquele momento.

Ele se aproximou mais, tocando meu braço.

- Você está com ciúmes de mim.

- Você está achando engradado? – Questionei, dando um passo para trás, me desvencilhando de sua mão. - Eu sou mesmo uma idiota.

Dei as costas para ele, iria ir embora. Era óbvio que Sasuke estava debochando de mim, sua reação era sem fundamento.

- Você não é idiota, Sakura. – Ele segurou meu braço, me virando para sua frente, me olhando agora mais sério. - Eu estou fascinado.

- Como?

- Você disse que me ama, mas nunca a vi enciumada. Itachi uma vez me disse que o ciúmes sempre está relacionado ao amor. Eu a amo e morro de ciúmes de você. Mas... eu sempre tive um pouco de insegurança se você me amava da mesma forma que te amo. Você é sempre tão fechada que as vezes é difícil de notar o que realmente sente. Estou me sentindo importante para você agora.

- Você é estranho.

- Admito que sou estranho e tenho gostos estranhos.

Pisquei algumas vezes, processando o óbvio.

- Só falta dizer que provocou tudo isso com a Karin só para eu sentir ciúmes de você.

- Não. Não provoquei nada, mas sempre quis ver sua reação. Suas bochechas ficam coradas e você fica tão linda corada. Estou me apaixonando por você de novo agora. Eu precisava saber que gosta de mim tanto como eu gosto de você.

- Você está escutando o que você está dizendo?

- Você percebeu o que você fez? – Ele respondeu minha pergunta com outra pergunta. - Conseguiu jogar todas as frustrações para fora, tudo o que você estava escondendo de mim.

Parei.

Tudo parecia fazer sentido. Parecia que o véu que cobria meus olhos havia desaparecido.

Franzi mais as sobrancelhas, não querendo acreditar no que as teorias me apontavam.

- Você... você me testou esse tempo todo?

Sasuke não seria capaz de fazer isso. Ele não fez isso.

- Eu sou um babaca. – E segurou minhas duas mãos, sua expressão denunciando a sua arte. - Me perdoe. Mas eu vi que você estava se fechando novamente. As provas do vestibular estava se aproximando e isso meio que complicou tudo e ajudou ao mesmo tempo com meu plano. Juro que foi a única opção que achei para fazer você dizer o que estava havendo. Confesso que estava morrendo de saudades de você, e lamento por não está com você no dia que você precisou. Mas eu precisava fazer você ser honesta comigo. Ser honesta com você e parar de se reprimir.

- Eu estou sentindo uma vontade enorme de apertar o seu pescoço.

- Está brava?

- Estou furiosa – gritei e o empurrei. – Você me fez passar um inferno esses últimos dias só para agradar o seu ego. Você é um idiota! Um babaca egoísta.

Ele segurou a minha mão novamente, puxei de volta, mas ele não soltou, levou o dorso a seus lábios e o beijou.

- Me perdoe.

Tentei puxar minha mão mais uma vez, mas ele foi mais rápido e puxou meu braço e me abraçou apertado. Lutei contra seu abraço, queria bater naquele garoto e descontar a raiva que estava sentindo dele.

- Me larga...

- Me desculpe, eu te amo.

- Me solta... – E as lágrimas escaparam de meus olhos.

- Me desculpe. – E me apertou mais forte, seu cheiro que eu amava invadiu minhas narinas, relaxando meu corpo aos poucos. Como senti saudades dele, como eu o amava. - Eu sou um babaca mesmo, mas eu te amo. E odeio quando você se fecha para mim. Odeio me sentir de mãos atadas sem poder fazer alguma coisa. Eu juro que essa foi a maneira que achei para fazer você ser honesta comigo. Você havia mudado de repente e fingia que tudo estava bem. Me desculpe.

Relaxei e me rendi aquele abraço, rodeando meus braços em volta de sua cintura e o abracei de volta, afundando meu rosto em seu peito e inspirando seu cheiro, os olhos fechados.

- Por favor não faça isso novamente. – Murmurei baixinho. - Não permita que eu sinta esse sentimento de novo. Odeio ele.

- Só se me prometer que será honesta comigo – ele se afastou o suficiente para segurar meu rosto com suas duas mãos. – Quero que me conte tudo, tudo mesmo. Tudo o que a aborrece, que a chateie. Não me esconda nada.

Assenti com a cabeça, concordando e fungando a coriza.

- Me promete que nunca vai me deixar?

- Nunca vou te deixar. - Beijou a minha testa. - Não consigo deixá-la por que a amo.

- Eu também te amo – confessei -, muito

E foi questão de segundos para sua boca tocar a minha. O beijo que esperei por semanas, um beijo que me trazia segurança. Finalmente eu me sentia em paz. Sasuke arrancou o peso que estava em meus ombros. Minhas mãos entrelaçaram seu pescoço, o trazendo mais para mim e me entregando aquele beijo cheio de sentimentos, um beijo de reconciliação depois de uma terrível briga.

- Desculpe por não ter sido honesta com você – disse assim que nos separamos.

Sasuke me beijou mais uma vez.

- Não precisa se desculpar, só peço que confie em mim.

- Eu confio – disse baixinho, como uma boba apaixonada.

Sasuke me olhou atentamente e não deixei de corar com o modo como ele me fitava.

- O que foi?

- Aquele cara... não gosto do jeito que ele te olha. Não quero você perto dele.

- Nós trabalhamos juntos, não tem como evitar.

- A partir de amanhã ele vai se mancar quando me ver na porta da loja te esperando.

Mordi o lábio, comprimindo um sorriso, o rosto emburrado que ele fazia era fofo.

- Tudo isso é ciúmes?

- Estou cuidado do que é meu. E aliás, o que exatamente aquele cara estava dizendo por você ter sido assediada?

- Não é nada. O Gaara apareceu e está tudo bem.

- Não está não. Eu deveria ter ido buscar você.

- Isso não é uma obrigação sua.

- Você é minha namorada.

- Ok. Já que você está querendo que sejamos honestos, também quero fazer um pedido.

- Quantos você quiser, minha linda – e beijou meus lábios, sorri.

- Quero que você tenha consideração por mim quando estiver com a Karin. Não quero vê-la o tocando a cada cinco segundos.

Ele me beijou mais uma vez.

- Vou falar com ela. – Sorriu. – As ações da Karin pode incomodar à primeira vista, mas ela é uma boa pessoa – fiz uma careta - de verdade. Não vou pedir para ser amiga dela, mas que releve um pouquinho. A Karin está passando por um momento delicado de sua vida e eu sinto que eu devo apoiá-la, pois ela me ajudou muito no passado. Foi a primeira pessoa que estendeu a mão quando todos me davam às costas por me achar estranho.

- Que tipo de situação ela está passando?

- É um assunto dela. Desculpe não poder compartilhar com você. Mas Karin só age assim para não passar a impressão do quanto está mal. Ela odeia que as pessoas sintam pena dela.

Pena dela? O que pode está acontecendo com ela para que pudesse despertar a pena alheia? Quer dizer, a minha pena? Pois naquele momento, pena era o que eu não sentia daquela garota.

Mas, não queria ficar brigada com Sasuke, e já estava decidida a me afastar de Gaara por sua atitude de hoje. Faltava pouco para o colegial acabar e com o fim do colegial eu não seria mais obrigada a conviver com Karin.

Só faltava um mês para o ano letivo terminar.

Um mês.

Suspirei, me dando por vencida.

- Eu... eu vou tentar relevar a Karin.

Sasuke sorriu, e observei o alívio em sua expressão. Notei naquele momento que Karin era importante para ele.

- Obrigado.

Forcei um sorriso, mais calma agora dos meus sentimentos. Torcia para que depois de hoje eu visse alguma mudança no comportamento daquela garota.

- O que vai fazer agora? – Ele perguntou, de repente, mudando o assunto.

- Estou indo para casa. Quero estudar mais um pouco para a prova de amanhã.

- Quer ir para a minha casa?

- Sua casa?

- Sim, uma última revisada juntos para a prova de amanhã.

- Ahn, talvez.

Ele ergueu as sobrancelhas.

- Talvez?

Soltei uma risadinha.

- Será que você não aceita uma resposta inserta?

- Tenho problemas em aceitar esse tipo de resposta – disse, entrando na brincadeira. – Então, sim ou não?

Revirei os olhos, um tédio fingido.

- Ok, eu aceito.

E como resposta ele sorriu, um sorriso que aqueceu meu coração.