23 de dezembro de 1936:
Observei os gatinhos que não queriam sair da minha cama e apenas fiquei examinando as coisas que ficariam.
O quadro com o autógrafo do Newt, o diário da Leesa 1.0 e 2.0 ‒, sim, elas são pessoas diferentes e devem ser nomeadas de forma diferente.
Também estou deixando a caixa com a varinha das varinhas, ela estava bem mais protegida aqui do que na minha bolsa, e deixarei a luminária e meus broches, afinal, ficarei longe desse quarto por duas semanas e nada acontecerá.
Mesmo que Melissa tenha me avisado que sobre certas coisas em relação a Hogwarts, acredito que tudo ficará bem...
Mas não sei se ficarei bem, já que ainda consigo escutar as palavras sussurradas daquele pirralho, e isso está me deixando louca.
Não sei o que fazer... Talvez eu apenas esqueça sobre tudo que vivi com ele e siga em frente, isso seria o melhor para nós.
Mas não dá para fazer isso, ele é a peça fundamental do meu tabuleiro e não posso descartar o principal apenas por gostar dele!
Fiquei chocada demais com esse pensamento, o que estava pensando? Isso não deveria ter passado pela minha cabeça, não sou uma pedófila, e nem mesmo gosto da ideia de gostar de uma criança.
É até nojento ter esse tipo de pensamento, mas então, por que na minha cabeça ele não é uma criança quando ele fala aquilo comigo?
Ah! Sua burra, idiota, acéfala, otária... Isso já virou uma doença incurável? Até mesmo estou falando frases que aquelas pessoas falam.
Comecei a morder minhas unhas enquanto pensava nessa tragedia, tudo devido a algumas palavras e aceitações.
Preciso ficar longe daquele garoto até que esse sentimento suma, evapore e desapareça do planeta Terra.
_ Tudo ficará bem. - Respirei fundo e limpei minhas mãos na minha roupa.
Olhei para os meus gatinhos que me observavam o meu surto, mas o que posso fazer? Surtar faz bem para a alma.
_ Vocês realmente não querem vir? - Balançaram as caudas. _ Ok, fiquem aqui e protejam a nossa casa, combinado?
_ "Miau". - Alisei suas cabecinhas e uma ideia veio em mente, mas isso poderia esperar.
_ Coisas fofas. - Queria me jogar neles e os sufocá-los por conta dessa fofura, mas aí eles iriam morrer e não gosto dessa ideia.
Alguém bateu à porta, me tirando desses pensamentos e isso foi ótimo, às vezes odiava a minha mente.
Fui até a porta e a abri, vendo que era a Dorea e estava sorridente.
_ Está pronta? - Sorriu ainda mais.
_ O que você fez? - Ficou emburrada.
_ Nada. - Deu de ombros. _ Só estou ansiosa para contar as novidades.
_ Sobre a carta que você enviou para o seu pai? - Levantei a sobrancelha, a fazendo discordar.
_ Ele respondeu no mesmo dia, não se lembra? - Tem tanta coisa que não me lembro. _ Até mesmo falou que terá uma conversa com os outros e dará o veredito.
_ Sobre a Cedrella, Charis e Safira? - Concordou. _ Se eles não aceitarem o namoro e o possível casamento dos dois, diga que usarei tudo que tiver em minhas mãos para acabar com a família Black e depois a reconstruo novamente. - Peguei a mala e dei tchau mais uma vez para os gatinhos.
_ Papai não falará nada contra o Charis. - Ainda bem, não queria usar aquilo. _ Avisei que você tem um grande apreço pelo meu primo.
_ Ele não perguntou como conheço o Charis? - Descemos a escadaria.
_ Perguntar, perguntou. - Fez careta. _ Mas o irmão Pollux ajudou e ele é uma grande ajuda, ainda mais quando sabe do que você é capaz. - Abraçou-me de lado.
_ Mas seu pai punirá Cedrella? - Saímos do salão.
_ Cedrella cometeu um erro imensurável, então é possível. - Saímos do banheiro. _ Ainda mais quando fez aquilo tudo na presença dos meus primos e ainda tem o possível casamento dela com o Weasley. - Concordei, observando as paredes.
Sei que voltarei, mas ainda me sinto triste por ir embora assim, sem me despedir dos meus amigos.
Meli não me diz nada, apenas fala que está tentando resolver algo, mas nunca resolve e isso está me matado.
_ Tchau, Meli. - Hogwarts vibrou e Dorea sorriu.
_ Nunca me canso disso. - Olhou em volta, esperando alguma coisa que também esperava.
_ Nem eu. - Suspirei, mudando de assunto. _ Lembro que seu irmão falou que não poderia se casar com uma sangue-ruim...
_ Ele, e não o Charis. - Amassou sua capa com os dedos. _ E podemos não a chamar de sangue-ruim? - Olhou em volta. _ Tenho medo do Charis ouvir e acabar nos matando.
_ Não se preocupe, ele não está mais aqui. - Hogwarts está um pouco mais poderosa e os 15 segundos de visões voltaram. _ Mas o que você quer falar?
_ Vou contar no trem. - Concordei e olhei para as suas mãos, sentindo falta de algo. _ Entreguei a minha mala para o bicolor. - Franzi o cenho.
_ Se ele não fosse o seu namorado, iria falar que era bullying. - Riu, jogando os cabelos loiros para o lado.
_ Conheço aquele idiota desde criança. - Sorria enquanto falava. _ Lembro que ele falou que nunca teve um apelido, e a coisa que me chamou mais atenção na época não foram os seus cabelos rebeldes, mas os seus olhos bicolores. - Suas bochechas ficaram rosadas. _ Então o chamei de bicolor, mas esse apelido ficou perdido e o comecei a chamá-lo de babaca.
_ Porque ele ficava com muitas garotas.
_ Sim, não sei se domei a "fera". - Apertou ainda mais a capa. _ Mas acho que ele não vai me trair, ou vai? - Ficou insegura.
_ Se você colocar na cabeça que ele pode te trair, ele acabará fazendo isso. - Como se eu soubesse de algo desse tipo. _ Um passo de cada vez, Dorea.
_ Certo, um passo de cada vez. - Ficou mais confiante, enquanto soltava a barra de sua capa.
À medida que a saímos do castelo, o corredor de pedra se estende diante de nós, marcando o início de uma jornada que ainda desconheço, mas que estou ansiosa para saber.
Quando saímos finalmente, a luz do sol, filtrada pelas torres imponentes do castelo, brilhavam suavemente sobre a grama coberta de neve, criando padrões de sombras e luzes que dançavam na superfície branca.
O contraste entre o calor do sol e o frio penetrante da neve confere uma sensação única ao ambiente, uma mistura de calor reconfortante e frescor revigorante.
_ Bom dia, senhoritas. - Slughorn saiu de uma das passagens que dava acesso ao lado de fora e nos cumprimentou.
_ Bom dia, professor. - Dissemos.
_ Uma manhã gelada, não acham? - Concordamos. _ Ah, senhorita Granger, vi uma grande capacidade em você nas últimas aulas. - Isso não era perfeito? _ Acho que posso abrir um lugar em minhas reuniões mensais. - Isso me surpreendeu.
_ Está falando do seu clube, senhor? - Fingi confusão.
_ Sim, esse mesmo. - Sorriu, arrumando seu terno marrom. _ Sempre acho joias raras e você é uma que precisa ser lapidada com calma.
_ Agradeço por suas palavras, senhor. - Pensei que já fosse uma joia lapidada.
_ O que acha de começar a frequentar as minhas reuniões em 1937? - Isso não seria útil para o momento.
_ Que tal em 1938? - Chutei uma pedrinha no caminho. _ Assim as pessoas não ficarão me olhando torto por ser a mais nova a entrar no seu clube. - Tentei arrumar meus cabelos.
Mas o vento que me fazia ter calafrios, fazia meus cabelos dançarem ao ritmo da brisa fria, voando livremente no ar gelado como se fossem pequenas bandeiras de seda preta.
_ Você tem uma visão além do possível, senhorita. - Sempre tento saber o que não sei. _ Grandes coisas acontecerão em seu futuro, só espero que sejam boas. - Sorriu e apenas concordei, me despedindo dele.
Realmente, grandes coisas acontecerão, mas não comigo e sim, com o mundo.
Respirei fundo, sentindo o ar gelado cortar meus pulmões, uma sensação quase dolorosa que acompanha os dias mais frios.
Cada inspiração era como uma facada de frio, mas sabia que bastava entrar no trem para que essa sensação mudasse.
Enquanto minhas mãos tremiam ligeiramente, me concentrei nessa ideia reconfortante, e me dirigi rapidamente para a plataforma da estação, ansiosa para escapar do clima implacável do lado de fora.
Mas fui impedida de continuar por um garoto que era um dos meus alunos do quinto ano.
_ Ah! - Suas sardas ficaram mais aparentes. _ Meu pai quer agradecer por me ajudar em meus estudos, rainha. - Rainha?
_ Não precisa...
_ Se ele quer agradecer, não custa nada. - Dorea, por favor. _ Por favor, Tiny, vá em frente. - Ela realmente conhecia todo mundo.
_ Ok. - Correu, fazendo seus cabelos castanhos ficarem arrepiados, e tive que olhar para a garota ao meu lado.
_ Sério, Dorea?
_ Onde está a sua coruja? - Mudou de assunto, mas não me importei.
Sei que ela apenas queria me mostrar que os filhos irão contar para os pais de como eles passaram de alunos medianos para alunos de alto nível.
Porém, não queria que pessoas ficassem agradecendo algo que apenas fiz devido aos meus objetivos.
_ A mandei para a casa do meu pai, afinal, vou lá. - Concordou. _ A vejo no dia 31?
_ Sim. - A madeira da plataforma rangia sob meus passos, enquanto me aproximava da entrada do vagão.
Ao alcançar a porta, o calor acolhedor do interior do trem envolveu meu rosto, um contraste reconfortante com o ar gelado do lado de fora.
_ Esse é o pai do Tiny. - Apresentou um homem robusto e loiro. _ Ele é o bilheteiro.
_ Certo. - Tiny apontou para mim, o fazendo arrumar suas luvas. _ Bom dia. - Sorri.
_ Meu filho falou sobre a senhorita em suas visitas em Hogsmeade e devo agradecer por colocar juízo nessa criança. - Bagunçou os cabelos de seu filho.
_ Não fiz nada de mais. - Realmente não fiz. _ Seu filho é inteligente e só precisava de um empurrãozinho.
_ Você é modesta, já estava perdendo a esperança dele passar do quinto ano. - Não é para tanto.
_ Ainda não passei, mas acho que consigo passar. - Falou baixinho, mas seu pai não escutou.
_ Me chamo Nick. - Tirou o chapéu e estendeu a mão. _ Prazer. - Apertei sua mão.
_ Prazer, senhor Nick. - Dorea ficou sorrindo. _ Me chamo Leesa, Leesa Granger.
_ É um grande prazer conhecê-la. - Isso foi melhor que o esperado. _ Nos vemos em breve. - Soltou minha mão e concordei.
_ Até. - Acenei para os dois e caminhei para encontrar minha cabine, o que demoraria um pouco, já que estava cheio.
Mas o ar estava quente o suficiente para que não me importasse com isso e o aroma reconfortante de doces me fazia ansiar para me sentar logo.
_ Tão influente. - Sorriu, quando conseguiu me alcançar e voltou a me abraçar.
_ Não mais que você. - Ficou envergonhada. _ Caspra me perguntou quem redigiu aquele contrato excelente. - Ficou surpresa. _ Falei que foi a minha futura administradora.
_ Vou administrar o quê? - Entramos no último vagão.
_ Tudo que for possível administrar e não se preocupe, seu salário será bem generoso. - Abro a porta e lá estava os três.
_ Bom dia, rainha. - Disseram.
_ Por que estão me chamando de rainha? - Entrei na cabine e coloquei a minha mala no lugar.
_ Porque você parece algo inalcançável. - Fechou a porta e se sentou ao meu lado.
_ Acho que você se comporta como uma. - Safira tentou deduzir.
_ Ou foi porque falei que você se parecia uma rainha de gelo e as pessoas ouviram. - Sentou-se no chão e deitou sua cabeça nas pernas de sua namorada.
_ Ele ganhou. - Charis bufou, enquanto me via fazer os feitiços de sempre. _ Como consegue usar magia se é apenas uma menina de doze anos? - Zombou, mas expliquei.
_ Sou emancipada legalmente e isso não mudou quando tomei a poção. - Retirei meu diário do bolso do meu sobretudo. _ Fiz alguns desenhos sobre a nossa marca.
_ A marca que o Charis nos contou? - Ector parecia animado para ver.
_ Sim, o coelho matando a cobra. - Todos, menos o Charis, ficaram confusos.
_ Como um coelho fofinho pode matar uma cobra? - Dorea falou bisbilhotando os meus desenhos, mas não a deixei a ver.
_ Bom, deixa para lá, me deem sugestões. - Ficaram pensativos, mas apenas fiquei observando o lado de fora.
_ Pode ser uma espada contendo uma coroa de rainha no meio dela, afinal, você é a rainha e somos sua espada. - Safira tinha um pensamento bastante bonito, mas era poético demais.
_ Não gosto de espadas. - Leesa 1.0 morreu por uma.
_ Por que não pode ser uma cobra-preta indo para cima e uma cobra branca indo para baixo? - Dorea deu sua opinião.
_ Não gosto de cobras...
_ Mas faria uma sendo morta por um coelho. - Pelo menos ela estava sendo morta.
_ Charis, a cabeça dela é um labirinto, não tente entender. - Dei o dedo do meio para o garoto. _ Prefiro os dedos do meu ursinho. - Dorea nem ligou. _ Gostava quando você me batia.
_ Por isso mesmo que não te bati.
_ Só na cama? - As bochechas da menina estavam avermelhadas e apenas revirei os olhos.
_ Vamos continuar? - Concordaram. _ Ótimo.
_ Li um livro sobre algo interessante, Leesa. - Charis falou e todos o olhamos.
_ Sobre?
_ Os trouxas, os juízes para falar a verdade, quebram as pontas de suas canetas quando sentenciam aquela pessoa a morte, porque uma caneta que decidiu a vida e a morte de alguém, não pode ser usada nunca mais. - Fiquei impressionada.
_ Isso é impressionante. - Examinei os meus desenhos. _ Então será uma caneta-tinteiro? - Negaram. _ Uma pena, então?
_ Com caveiras perto da ponta. - Ector falou.
_ Você gosta de caveiras? - Deu de ombros.
_ E como a pena terá um significado tão profundo, no meio dela pode estar por um fio, como se estivesse se sustentando por pouco e seremos esse fio para você. - Meu coração errou uma batida. _ Seremos a sua racionalidade para tomar decisões. - Safira comentou e todos concordaram.
_ Mas ela não pode ser uma pena comum, ela precisa estar no nosso pulso como se estivesse escrevendo o nosso destino, como você faz. - Dorea opinou. _ Porque você sabe a maioria dos destinos das pessoas.
_ Certo, então será uma pena. - Estava sem pena para escrever no meu diário, o que era contraditório. _ Faço um esboço e mostro para vocês depois.
_ E achei um livro sobre Dementadores no salão comunal. - Retirou do seu sobretudo e me entregou, o que me surpreendeu a sua rapidez.
Antes que pegasse o livro, guardei o meu diário e peguei o livro de capa de couro.
_ Você leu? - Alisei as palavras que não entendia, era latim?
_ Não. - Fiz careta. _ A escola o fez cair da prateleira e a única coisa que deu tempo para fazer foi ler o título e guardar.
_ Tudo bem, lerei quando tiver tempo. - Suspirei. _ Mas preciso aprender a ler latim. - Mostrei para ele.
_ Não é tão difícil, você consegue. - Ele poderia ler e fazer um resumo, não é?
_ Você sabe ler... - Negou e fiz beicinho, o guardando.
