Capítulo 9: Senhora Lupin
Com os pés firmes contra a debandada que a atingia, Tonks ergueu seu braço com a varinha e lançou jatos de feitiços de proteção sobre as cabeças dos convidados em pânico.
"Saíam daqui! Vão!" Ela gritou para a massa de corpos desfocados.
Um vento repentino varreu-os, levantando cadeiras e garrafas do chão, fazendo-as girar em todas as direções. Tonks se abaixou, cegada pela poeira e pela água que espirrava. Esfregando o cabelo para tirar dos olhos, ela olhou para cima a tempo de ver o teto do pavilhão amassar e explodir: fragmentos pálidos flutuando sobre a confusão como neve. A própria atmosfera parecia tremer: as luzes coloridas estavam se apagando, os vagalumes caindo para serem esmagados sob os pés. A força do Ministério havia virado o casamento de cabeça para baixo e agora estava sacudindo tudo.
Remus gritou em seu ouvido, desesperado, um filete de sangue carmesim manchando sua testa pálida, "Mude seu rosto! Faça isso agora!"
Nada, nem o caos que os engolfava, nem os gritos que iluminavam a noite, nem mesmo a adrenalina de soldado percorrendo seu corpo, podia entorpecer a memória das últimas palavras dele para ela; como se ele as tivesse cravado em seu peito com uma faca cega. Tão estupidamente idiota. Cerrando os dentes quando uma luz branca e intensa inundou a cena, Tonks escolheu olhos, nariz, maçãs do rosto ao acaso. O feixe estava enfeitiçado e Tonks lutou contra a tontura enquanto olhava para ele, tentando contar as figuras em silhueta formando uma linha à sua frente: uma dúzia, muitos para arriscar uma luta aberta.
Atrás de Remus e Tonks, alguém - um dos gêmeos, ela achava - gritou, "Vamos, podemos enfrentá-los!"
"Não dêem a eles uma desculpa para nos jogarem todos em Azkaban!" Bill gritou de volta, lutando para abaixar o braço do irmão.
A luz diminuiu. Estampado no bolso do peito de quase todos os intrusos estava o emblema do Departamento de Execução das Leis da Magia, mas essa era a única parte de seus uniformes familiar para Tonks. Botas com pontas de prata espiavam por baixo de robes de seda preta forrados com esmeralda, varinhas eram seguradas por luvas de couro preto brilhante e capacetes reforçados por magia tornavam cada cabeça idêntica. Os únicos dois Aurores presentes - Finlay e McDougall - olharam, um pouco incertos, para seus novos colegas reluzentes. Um homem, mais jovem que Tonks, deu um passo à frente, seus saltos batendo no chão dourado da pista de dança. Ele tinha olhos grandes, bochechas sem pelos e um sorriso faminto.
"De joelhos."
Ninguém se moveu.
"De. Joelhos."
Dedos arranhando e cutucando sondaram seu canal auditivo e um zumbido agudo fez com que ela se dobrasse, embora Remus permanecesse imóvel e impassível ao seu lado. Ela ouviu os outros caírem no chão atrás deles e soube que eles deviam seguir, embora desprezasse a sensação do chão sob seus joelhos.
"Varinhas onde possamos vê-las. Um metro à sua frente no chão."
Escondendo a boca com o cabelo, Tonks sussurrou três palavras: a primeira criou uma cópia de sua varinha, a segunda desiludiu a verdadeira contra a carne de seu antebraço, e a terceira a prendeu lá. Ela deslizou a varinha falsa obedientemente pelo chão. Os oficiais estavam ocupados demais mexendo em seus novos distintivos para notar.
"Este casamento foi encerrado pelo Ministério da Magia."
"Sob a autoridade de quem?" Perguntou Arthur.
"Minha. Obviamente," o jovem respondeu asperamente, "mas cabe a nós, não a vocês, fazer as perguntas. Estamos caçando um indivíduo suspeito de assassinato e temos motivos para acreditar que membros desta reunião têm informações sobre seu paradeiro."
"Não conhecemos nenhum assassino," disse Bill. "Você veio ao lugar errado."
O jovem enunciou cada sílaba como se fossem linhas de uma peça. "Eu serei o juiz disso. Harry Potter é um visitante regular desta casa, não é? Bem, ele é procurado para questionamento sobre seu papel na morte de Albus Dumbledore."
"Preposterous!" Molly gritou. "Nunca ouvi uma mentira tão ultrajante em toda a minha vida!"
"Cale a boca, mulher."
Ele sacudiu a varinha e Tonks ouviu um gemido abafado quando a boca de Molly se fechou. Tonks virou o pescoço para olhar ao redor e viu que a raiva quente que fervilhava dentro dela era compartilhada por todos: Arthur estava feroz atrás de óculos quebrados, segurando Molly firmemente pelos ombros; os gêmeos e seu amigo Lee cerraram os punhos, as juntas estalando; Ginny, de rosto vermelho de fúria, segurava a mão de Gabrielle Delacour, que tremia; Bill e Fleur, colados pelo ombro, trocavam olhares sombrios; Muriel empinou o queixo orgulhosamente, suas penas de flamingo milagrosamente ainda intactas; e Hagrid franzia a testa tão profundamente que suas sobrancelhas negras e espessas se encontravam no meio. Para alívio de Tonks, Harry, Ron e Hermione não estavam em lugar nenhum. Flanqueado por dois outros oficiais, o jovem começou a caminhar entre eles, como se cada olhar fosse um aplauso.
"Ninguém sai daqui até estarmos satisfeitos. Entreguem-nos tudo o que sabem sobre Potter. Queremos saber seus hábitos: para onde vai, quem vê, o que tem feito pelas costas do Ministério."
Eles pararam zombando na frente de Fleur. A varinha de Tonks ficou quente contra sua pele. A mão direita de Remus se contraiu em direção à manga oposta.
"A noiva corada. Não é bem a noite de núpcias que você tinha em mente, é, princesa?"
Fleur cuspiu sua resposta em francês feroz. Os homens riram.
"Acho que essa aqui precisa de um interrogatório individual, chefe," disse um deles.
"Posso me voluntariar?" Disse outro.
"Ah, não se preocupe - todos nós teremos uma chance."
O campo ecoou com gritos de indignação. Tonks e Remus saltaram de pé assim que Bill - que havia se lançado para pegar sua varinha - foi arremessado para trás. Sua coluna se contorceu, seu corpo se contorceu, suas cicatrizes eram brancas brilhantes contra seu rosto avermelhado enquanto ele gritava de agonia. Tonks puxou sua varinha, mas tropeçou quando o chão mudou sob seus pés. Um estalo como um raio atravessou a pista de dança dourada e o jovem cambaleou, seu crucio quebrando, sua varinha voando de sua mão para ser apanhada por -
"Chega!"
Era Finlay. Ele segurava a varinha desarmada no alto enquanto McDougall levantava o feitiço de tremor. Os oficiais hesitaram, incertos se deviam apontar suas varinhas para os Aurores ou para os convidados furiosos.
"De volta aos joelhos, todos vocês," disse Finlay, sua varinha percorrendo cada um dos presentes ao casamento, "varinhas de volta ao chão onde possamos vê-las. E você - " ele disse ao jovem, "acalma-se."
O jovem marchou em direção a Finlay, quadrando os ombros e empurrando o rosto próximo ao dele. "Me devolva minha varinha."
"Somos o Ministério da Magia. Não lançamos maldições imperdoáveis em inocentes," Finlay abaixou a voz, "nem os assediamos, porra. Estamos aqui para investigar um assassinato. Controle a si mesmo e a seus homens."
McDougall se dirigiu à sala, "Não haverá mais tortura esta noite. Dou minha palavra. Nenhum de vocês está sob suspeita e, contanto que cooperem conosco, tudo isso acabará em breve. Se Potter for inocente, vocês não têm nada a temer em nos contar tudo o que sabem. Se ele for culpado, tenho certeza de que concordam que ele merece todo o peso da lei sobre sua cabeça. Então, por favor..." ele sinalizou com as mãos para que voltassem ao chão.
Lentamente, com cautela, a Ordem obedeceu. Finlay devolveu a varinha ao jovem.
"Eu tenho mais patente que você, sabia," ele rosnou. "Todos nós temos. Os Aurores estão acabados."
Finlay e McDougall pareciam perturbados: apesar das palavras fortes, estavam em menor número, cinco para um, e sabiam disso. Os joelhos de Tonks começaram a doer.
"Separem cada um e registrem seus nomes e endereços," o jovem latiu. "Vamos começar o interrogatório. Eles sabem onde Potter está, eu posso sentir isso."
Chutando pedaços de bola de espelhos e rolando garrafas de champanhe
, os oficiais se aproximaram deles. Finlay se afastou e foi em direção a Remus e Tonks, mas qualquer alívio que ela pudesse ter sentido morreu assim que uma faísca de reconhecimento se transformou em suspeita em seu rosto.
"Você," ele disse, olhando para Remus. "Eu sei quem você é."
"Então já deve saber que nada do que fizer me fará falar."
Tonks o cutucou.
"Nada de toques," Finlay respondeu asperamente. "O que um lobisomem tem a ver com um casamento?"
"Tanto quanto os Aurores têm a ver com espalhar mentiras."
"Você sabe que eu poderia jogá-lo em Azkaban com um estalar de dedos, não sabe?"
"E eu poderia impedi-lo com a mesma facilidade."
"Tente, l - "
"Certo, já chega!"
Tonks voltou seu rosto ao normal e se levantou. Três feitiços estuporantes vieram em sua direção, mas ela os desviou facilmente, pressionando uma mão de advertência no ombro de Remus para mantê-lo no lugar. Finlay ficou boquiaberto.
"Tonks? Varinhas para baixo! Ela é uma Auror!"
O jovem riu com desdém. "Ela?"
"Isso mesmo," disse Tonks, alto, "e estou oficialmente me colocando em serviço. Não gosto da maneira como esta investigação está sendo conduzida."
"A menos que você tenha autorização do Ministro ou do Subsecretário Sênior, pode se ajoelhar com os outros ou sair."
"Metamorfomagos me dão arrepios," acrescentou um segundo oficial.
"Vou lidar com isso. Ela faz parte do meu departamento," disse Finlay.
"Posso garantir que cada uma dessas pessoas é confiável," Tonks disse em voz baixa para Finlay, quando o barulho dos questionadores aumentou o suficiente para que pudessem falar, "nenhuma delas tem a menor ideia de onde Harry Potter pode estar."
"Você não pode saber isso com certeza. Isso é sério, Tonks. Eu sei que parece loucura, mas novas evidências surgiram da noite em que Dumbledore foi assassinado e todas apontam para Potter. Mas o que você está fazendo aqui? Por que não estava na reunião com Thicknesse?"
"Que reunião?"
"Você não recebeu a convocação?"
Tonks balançou a cabeça.
"Por que não estou surpreso? Por que você não pode...por uma vez...?" Mas ele parou, levantando os olhos brevemente para o céu, antes de começar novamente com um suspiro. "Scrimgeour renunciou. A pressão foi demais para ele. Thicknesse é o novo Ministro da Magia e quer falar com todos os Aurores pessoalmente. Esta noite. Seria completamente anti-profissional para você se juntar a esta investigação. É melhor você se apresentar."
"Não," disse Remus.
Finlay virou-se para ele. "Não diga a ela o que fazer, lob - "
"Cale-se, não deixe que os outros te ouçam!" Tonks sibilou, agarrando seu braço. "Venha comigo."
Ela o arrastou para longe de Remus em direção a um poste quebrado do pavilhão e para a grama, lançando um feitiço de abafa em seu caminho. Quando Finlay olhou para ela, ela viu o mesmo desgosto que ele usara ao olhar para o lobo morto e ensanguentado no escritório deles.
"É verdade, não é? Você e ele?"
Ela sustentou seu olhar, deixando-o confirmar o que suas palavras não podiam.
"O que aconteceu com você, Tonks? O que diabos deu errado?"
"Não há nada de errado comigo. Eu apenas nunca deixei o Ministério sugar minha capacidade de pensar por mim mesma."
"Há uma diferença entre pensar por si mesmo e abandonar a sanidade por completo! Os lobisomens estão em aliança com os Comensais da Morte, você não pode - "
"Os únicos em aliança com os Comensais da Morte são seus novos amigos lá atrás," disse Tonks, apontando o polegar na direção deles.
"Eu não gosto deles mais do que você, mas pelo menos estão do lado do Ministério. Thicknesse os nomeou pessoalmente."
"E quem você acha que nomeou Thicknesse? De que lado você acha que ele está?"
"Thicknesse foi a escolha natural de sucessor, então não me venha com suas conspirações paranoicas, Tonks. Você estava certa antes, mas não desta vez. O Ministério precisa de lealdade se quiser ter sucesso nesta guerra e eu, ao contrário de você, levo meu trabalho a sério e pretendo fazê-lo da melhor maneira possível."
"Proteger os inocentes faz parte do trabalho, não faz? Então não deixe esses bandidos prenderem ninguém."
"Incluindo seu namorado lobisomem? Ele está longe de ser inocente, Tonks."
Tonks o agarrou pelos ombros sabendo, de alguma forma, que Remus a estava observando.
"Não seja um idiota preconceituoso, me escute! Somos amigos há anos, eu e você, você tem que confiar em mim desta vez."
Finlay se afastou dela. "Como posso confiar em você quando você está com ele...me dá nojo só de pensar nisso. A Tonks que eu conhecia nunca seria tão ingênua. Ele é perigoso! Ele só vai te trair. Melhor ele em Azkaban do que na sua cama, envenenando sua mente contra o Ministério - "
"Imperio."
Ela nunca havia lançado o feitiço antes, não sabia que ia fazer isso até que já estava saindo de sua boca, mas alguém tinha que tomar seu lugar; alguém tinha que proteger Remus, proteger todos eles, e que outra escolha ela tinha? O que for preciso para vencer, foi o que ela jurou a Remus. Formigamentos quentes dispararam do tronco de seu cérebro, descendo pela coluna, seu braço, e entrando em sua varinha; como se seu próprio fluxo sanguíneo estivesse se fundindo com o núcleo. A raiva desapareceu do rosto de Finlay. Sua testa relaxou. Sua boca se abriu, vazia. Ela sentiu sua vontade render-se à dela, como uma corda frouxa a ser amarrada em qualquer forma que escolhesse - então ela se contraiu e Tonks ouviu uma voz distante em sua própria cabeça, saia, enquanto ele tentava lutar contra seu controle. Mas ela era forte demais.
Você fará tudo e qualquer coisa ao seu alcance para garantir que nenhuma pessoa neste casamento seja ferida ou presa.
Ela se sentiu suja quando levantou o feitiço, como se tivesse aberto o crânio dele e mergulhado os dedos na gosma enrugada dentro.
"Me desculpe. Eu tive que fazer isso," ela sussurrou.
Finlay a deixou e voltou aos interrogatórios sem uma palavra. Tonks o observou ir e encontrou o olhar de Remus. O olhar que ele deu a ela parecia sem fundo. Fez ela estremecer, fez a ferida em seu coração sangrar novamente. Ela desejou poder gritar para ele que seu bebê não seria um lobisomem, mas, mesmo que fosse, ela o amaria tanto quanto o amava; que ela estava com o coração partido e horrorizada e furiosa com ele; que ela estava absolutamente aterrorizada também.
Tonks colocou a mão em seu estômago, estabilizando-se. Ela não podia perder seu emprego. A Ordem precisava dela por dentro. Ela descolou sua varinha de seu antebraço e Remus balançou a cabeça, entendendo instantaneamente, mas Tonks não ia obedecê-lo. Ela desapareceu para casa primeiro, correndo através das urtigas para abrir a porta da frente e invocar suas vestes de Auror. Ela lutou com elas, virando-as de cabeça para baixo para puxá-las sobre sua cabeça, moedas tilintando no chão. Então ela mergulhou de volta na luz do luar manchada e desapareceu novamente, desta vez em um beco de cheiro acre em Whitehall. Respirando os vapores de gasolina e piscando para a luz vermelha brilhante dos táxis, Tonks fechou suas vestes para esconder suas pernas nuas e fez seu caminho para a entrada do Ministério da Magia.
O átrio estava escuro, sua penumbra interrompida apenas pelas velas nos suportes que lançavam uma luz pálida e dançante no chão negro e líquido. Tonks tirou seus anéis e os colocou no bolso enquanto caminhava. Ela precisava se preparar, mesmo com um bebê em seu ventre; encontrar uma maneira de convencer Thicknesse de sua lealdade. Tonks subiu correndo a escadaria de mármore serpenteante, esquecendo de bater na porta de mogno grandiosa antes de entrar. Como um par de figuras de cera, dois rostos olharam para cima da mesa no centro da sala, cercados pelas luzes da cidade que brilhavam através das paredes de vidro encantadas. Os olhos de Thicknesse mal eram visíveis sob a sombra de sua testa e suas vestes eram tão escuras quanto o chão sobre o qual o corpo de Scrimgeour deve ter sido arrastado naquela mesma noite. Dolores Umbridge, em contraste, parecia brilhar em um tom rosa pastel.
"Devo admitir," começou Umbridge, "ouvi rumores sobre sua falta de pontualidade, mas você parece ter se superado esta noite. Os Aurores foram convocados para se apresentar ao Ministro há horas."
Tonks lutou para
controlar os músculos faciais e deslizou os olhos para Thicknesse em vez disso.
"Wotcher, Ministro."
Ele inclinou a cabeça, mas não falou.
"É indelicado pairar," disse Umbridge.
Tonks puxou uma cadeira, arrastando as pernas pelo chão, sentindo satisfação com a expansão das narinas de Umbridge ao som.
"Chá?" Umbridge trincou.
Uma mesa-bandeja saiu das sombras, carregando um bule fumegante do mesmo rosa doentio que a fita enrolada em um laço no topo da cabeça de Umbridge. Tonks se recostou na cadeira e bateu os calcanhares das botas sob a mesa.
"É um pouco tarde para mim, na verdade. Vou ficar saltando pelas paredes."
Umbridge arqueou uma sobrancelha depilada, mas seu sorriso plácido permaneceu fixo. "Eu dificilmente consigo imaginar. Talvez um pouco de água em vez disso?"
"Não," Tonks respondeu, adotando um sorriso idêntico.
"Alastor Moody também preferia dispensar as formalidades, não é?"
Embora a boca de Umbridge estivesse virada para baixo em uma pantomima de simpatia, seus olhos brilharam de triunfo com o susto que Tonks não conseguiu disfarçar.
"Claro, todos nós ficamos profundamente consternados quando soubemos de seu trágico falecimento. Alguém poderia até chamar isso de...o fim de uma era. Alastor Moody foi o último de uma velha guarda, parte de uma geração de Aurores cujas individualidades e idiossincrasias eram glorificadas - glorificadas, ouso dizer, ligeiramente em detrimento de algumas das outras qualidades nobres que o cargo de Auror exige. Não me entenda mal, minha querida, eu não sonharia em negar sua grande contribuição para o nosso Ministério da Magia, mas estamos vivendo em um tempo diferente agora: um tempo em que os Aurores não devem aspirar ao renegadismo, mas servir como uma parte eficiente e integrada de um sistema mais amplo. Todos nós tínhamos grandes esperanças para Rufus Scrimgeour, mas, infelizmente, ele também provou ser um remanescente daquele velho mundo, incapaz de implementar as reformas que este governo tanto precisa."
"Onde está Scrimgeour agora?" Tonks perguntou, o mais suavemente que conseguiu.
"Aposentado. Nem todos conseguem lidar com as pressões de um alto cargo. Receio dizer que o Ministro me informa que seu antecessor foi bastante descooperativo durante o processo de transição - não é mesmo, Pio?"
"Teimoso, recalcitrante. Ele não nos deu nada."
A pele de Tonks formigou.
"Onde você estava esta noite?" Perguntou Umbridge.
"Em um casamento."
"Ah, sim. O mais velho dos Weasley e a garota francesa. Bastante gente que se considera amiga de Harry Potter compareceu a esse casamento, não é?"
"Alguns."
Umbridge inclinou-se para frente, suas pequenas unhas pousadas na mesa. "Você sabia que novas evidências surgiram ligando Harry Potter à morte de Albus Dumbledore?"
"Você sabia que tortura é um crime?" Tonks soltou. "Porque foi isso que seus novos oficiais estavam fazendo."
"A lei é o que o Ministério faz dela," disse Thicknesse.
Concorde, sua idiota. Tonks sabia que deveria concordar, mas seu pescoço era teimoso demais para se dobrar.
"Nossos novos oficiais são profissionais," disse Umbridge. "Eles não questionam a organização que os emprega, ao contrário de certos membros do Departamento de Aurores. Sinceramente," ela pausou, inclinando a cabeça coroada de laço para um lado, "nunca entendi o motivo de empregar tantos de vocês. Aurores não mantêm a ordem pública. Eles não mantêm a paz em nossas ruas. Eles não fazem nada para subjugar os elementos indesejáveis que inundam nossa sociedade, mas concentram seus esforços na crença antiquada de que há bruxos das trevas escondidos em cada esquina. É mais prudente, mais...corajoso até...desviar fundos para expandir os departamentos que podem melhor servir às necessidades da nossa nação neste momento difícil."
"Ordem e disciplina," murmurou Thicknesse.
"Eu não poderia ter colocado melhor, Ministro," respondeu Umbridge, extasiada, antes de fixar olhos frios de volta em Tonks, "Agora, querida - "
"É Auror Tonks."
"O quê?"
"Meu nome. Para você."
Umbridge deu uma risadinha tilintante.
"Oh, mas não é," ela disse, sedutoramente. "Não mais. Atualizei seu arquivo pessoalmente. Certamente você entende que não pode continuar se chamando Auror Tonks quando, na verdade, você é, de fato, Senhora Lupin?"
Ela exibiu um pedaço de pergaminho e deslizou-o pela mesa. Tonks leu apenas a primeira linha. Era uma imitação pobre de sua própria caligrafia, encabezada por um nome que ela não reconhecia.
Eu, Nymphadora Lupin, por meio desta...
"Sua carta de demissão. Muito mais civilizado dessa forma, não acha? Tudo o que você precisa fazer é assinar."
Tonks não aceitou a pena rosa oferecida a ela. Ela bateu a palma na carta e ela se encolheu até virar cinzas.
"Você está maluca se acha que vou me demitir."
"Então, não me resta outra escolha senão informá-la de que seu emprego no Ministério da Magia foi encerrado, com efeito imediato, por conduta imprópria grave. Você não poderá pegar seu último pagamento. Deve devolver toda a propriedade do Ministério que está em sua posse. Deve sair das instalações imediatamente."
"Você adorou isso, não foi?"
"Garota tola. Você realmente achava que íamos ignorar uma Auror se casando com uma besta mestiça?"
Tonks se levantou de um salto. Umbridge recuou.
"Vai se ferrar, sua abutre, uma gota de saliva do meu marido vale mais do que toda a sua vida miserável," Tonks chutou a mesa pesada e depois bateu os punhos na superfície, "e um dia será seu traseiro sendo chutado daqui para a cela encharcada de urina em Azkaban que você merece, e nesse dia espero que saiba que foram os Lupin-Tonkses que te colocaram lá. E você," ela rosnou para Thicknesse, "nem está tentando resistir, está? Aposto que o chão ainda estava pegajoso de sangue quando você ocupou o lugar dele."
"Seu pai é o chamado 'nascido trouxa', Edward Tonks, não é?"
Tonks congelou.
"Sim. Sim, eu pensei isso," Umbridge continuou. "Em minha nova função como Chefe do Comitê de Registro de Nascidos Trouxas, conduzirei uma pesquisa sobre como pessoas como Edward Tonks obtiveram segredos mágicos. A menos que seu pai possa provar que tem pelo menos um parente bruxo, serei forçada a concluir que ele obteve poder mágico ilegalmente e aplicar a punição que considerar mais apropriada. Posso sugerir, portanto, que você se abstenha de fazer ameaças e saia sem causar problemas."
As mãos de Tonks estavam firmes enquanto ela colocava um anel após o outro em seu dedo de casamento.
"Melhor ser a vadia de um lobisomem do que a escrava do Ministério."
Ela se virou e abriu a porta com força.
"Senhora Lupin?"
Tonks a abriu com força.
"Essas vestes são propriedade do Ministério."
Uma mão mostrou o dedo do meio por sobre o ombro, enquanto a outra rasgava os fechos no pescoço, e Tonks pisou sobre as vestes enquanto elas caíam a seus pés. Em seu vestido de veludo, ela começou sua última caminhada pela escadaria de mármore. As pessoas no átrio pararam e olharam para cima. Ela não se permitiu lembrar de quem tinha sido - a estudante radiante de orgulho quando Nana Tonks lhe disse que ela ia ser a bruxa James Bond; a novata tenaz e sonhadora; a Auror Tonks de vinte minutos atrás que não saberia se reconhecer sem seu trabalho - porque pensar assim seria chorar e ela morreria antes de deixar que eles tirassem uma única lágrima dela. Ela respondeu a cada olhar com um olhar desafiador: podiam olhar, zombar, sentir pena dela o quanto quisessem, ela não se importava, ela ia trazer este palácio de hipocrisia aos seus joelhos. Ela, seu marido e seu filho crescendo forte dentro dela.
Ela passou por Yaxley (caminhando impunemente, liderando um grupo de jornalistas na direção do escritório do Ministro), funcionários de manutenção com vestes azuis (desbastando a velha fonte), um homem chorando, segurando uma caixa contendo um cacto e uma moldura de foto (escoltado até a saída por seguranças). Kingsley saiu do elevador, seguido de perto por Dawlish e dois oficiais da Execução das Leis da Magia. Ele a viu, mas Tonks se forçou a não encontrar seu olhar: ele era a última esperança da Ordem, ela não podia manchá-lo com familiaridade.
"Que decepção," ele disse ao passar, provocando risos de seus companheiros.
Algo se pr
endeu no cabelo de Tonks e se mexeu para se esconder atrás da orelha. Quando ela chegou ao nível da rua, alcançou e puxou um pequeno pergaminho.
Acabei de descobrir que os oficiais foram enviados para a casa de seus pais. Nenhum Auror presente.
"Não," Tonks gemeu.
Sem dar atenção aos trouxas bêbados no ponto de ônibus e cambaleando na curva, ela desapareceu. Segundos pareceram horas. Seu interior estava derretendo, seus pulmões colapsando, mas ainda assim ela impulsionava suas células a irem mais rápido. Ofegando por ar, ela chegou à rua deserta e forçou os olhos a olhar para o céu, implorando para que o crânio com a língua de cobra não estivesse pendurado lá. Estava vazio, nenhuma luz verde brilhava, mas Tonks não confiava em nada: ela correu até a porta da frente e a arrombou, irrompendo na sala de estar pronta para matar qualquer um que ousasse levantar uma varinha contra seus pais.
"Mãe?! Pai?!"
A sala estava quieta. Apenas um segundo olhar revelou que algo estava errado: pedaços de vidro quebrado no tapete, o tapete amassado, molduras na lareira caídas. Tonks subiu as escadas, os joelhos quase cedendo, a garganta rouca enquanto gritava por eles.
"MÃE! PAI!"
"Dora?" Uma voz rouca soou atrás da porta do quarto deles.
"PAI!"
Ela caiu no quarto. Seus pais estavam deitados na cama. Ted se levantou em posição sentada, gemendo, mas Andromeda não se moveu. Ela estava encolhida de lado, com o cabelo caído sobre o rosto. Tonks subiu de joelhos na cama em direção a ela.
"Mãe? Você está bem?"
Seus olhos se moviam sob as pálpebras e ela murmurou, "Nymphadora?"
"Sou eu. Sou eu. Estou aqui," disse Tonks, alisando o cabelo úmido dela para trás da orelha antes de olhar de volta para Ted, "O que aconteceu?"
"Era uma noite normal, como qualquer outra," disse Ted, sua voz tão fraca que fez o coração de Tonks se partir ao ouvi-lo, "Eu havia preparado um bom estrogonofe de carne e devemos ter cochilado no sofá porque a próxima coisa que soubemos foi que houve uma batida na porta. Eu pude perceber que algo estava errado imediatamente, claro. Nossos feitiços de segurança deveriam impedir estranhos de chegar até a casa, mas esses caras não tiveram problemas em destrancar a porta e entrar direto. Eles se chamavam de Execução das Leis da Magia, mas eu nunca tinha visto nenhum deles na minha vida. Eram oito. Todos jovens e arrogantes, usando esses uniformes novos e brilhantes. Disseram que estavam aqui para nos interrogar sobre o paradeiro de Harry Potter. Dissemos que não sabíamos de nada, mas eles não paravam de perguntar e perguntar. Quando continuamos resistindo, eles... bem, eles nos torturaram..."
Tonks engoliu um soluço, apertando o edredom com força.
"Espero nunca..." Ted continuou, as palavras tremendo, "nunca ouvir o som de sua mãe gritando... assim... nunca mais na vida..."
"Oh, Pai... Pai..."
Tonks se agarrou a ele, enterrando-se na lã macia de seu suéter e sentindo sua bochecha contra a dela, áspera como sempre costumava ser quando ele a colocava na cama e a beijava de boa noite quando ela era pequena.
"Sinto muito... eu deveria ter estado aqui... eu deveria ter estado aqui..."
"Fico feliz que não estivesse, querida. O Ministério caiu, não caiu?"
Tonks se recostou e assentiu, controlando a respiração. "E já estão se movendo contra os nascidos trouxas. Você não pode ir trabalhar e tem que sair desta casa. Foram capangas do Ministério esta noite, mas pode ser Bellatrix na próxima vez."
Andromeda soltou um suspiro suave.
"Você vai morar comigo e Remus."
Ted balançou a cabeça. "Vocês dois precisam de seu espaço."
"Vamos arranjar espaço! Pai, seja realista - não há outro lugar para vocês irem!"
"Isso não é totalmente verdade..."
Ted estendeu a mão em direção à mesa de cabeceira, gemendo com o esforço. Seus dedos mexeram na maçaneta da gaveta, ele retirou uma pasta e a entregou a Tonks.
"Organizei esses documentos antes de nos juntarmos à Ordem, achei que poderiam ser úteis em um dia chuvoso. Diria que está chovendo torrencialmente esta noite, não acha?"
Tonks abriu a pasta para encontrar um par de pequenos livretos roxos que reconheceu como passaportes trouxas, com os nomes Hugh e Sylvia Larkin, e uma pilha de papéis finos estampados com linhas de letras quadradas.
"Você comprou uma casa através do sistema trouxa," ela disse, folheando os documentos.
"Os Comensais da Morte são completamente ignorantes quando se trata de burocracia trouxa, nunca vão descobrir. Vamos nos esconder em Cromer. Sempre sonhei em viver à beira-mar."
"Muito bem, Pai," Tonks começou a se levantar da cama, tentando não balançar sua mãe enquanto ia. "Agora vamos embora. Vou ajudar você."
"Sua mãe não pode aparatar neste estado, Dora. Não há feitiço que possa ajudá-la, ela precisa descansar. E, para ser sincero, não tenho certeza se consigo ficar de pé ainda."
Tonks passou os dedos pelos emaranhados amarelos do cabelo. "Vinte minutos a mais. Mas é só isso."
Ela correu de volta para o jardim, pulando ao ouvir o barulho de uma raposa no arbusto e cobrindo a casa com novos feitiços de proteção. Os feitiços não garantiriam mais do que alguns minutos extras para escapar se o Ministério voltasse, mas eram melhores do que nada. De volta ao interior, ela apagou as marcas da invasão: alisando o tapete com o pé, endireitando as molduras, desaparecendo o vidro quebrado. Ela sabia que era bobo, mas não tinha certeza se conseguiria se despedir de outra maneira. Quando restavam quinze minutos do tempo prometido, ela se sentou no sofá e abaixou o rosto nas mãos. A adrenalina que a havia impulsionado durante a noite começava a desaparecer, deixando um choque dolorido em seu lugar. Memórias recentes a cercavam como predadores.
"Oh Tonks. Nunca há um momento perfeito..."
"Está tudo bem, meu amor... você pode me contar. Eu não vou ficar com raiva de você. Eu estive ausente por tanto tempo e você - você estava tão sozinha."
"A lei é o que o Ministério faz dela."
"Eles... bem, eles nos torturaram..."
Tonks xingou baixinho e descobriu que não conseguia parar. Ela girou os anéis no dedo e ansiou por Remus. Queria ele por perto, queria sua mão quente em seu estômago, queria que ele beijasse sua cabeça dolorida. Mergulhando fundo em suas reservas de força, ela lançou um patrono e observou enquanto o lobo deslizava, suas patas movendo-se no ar, saindo pela janela e desaparecendo na noite. Não levava mensagem: apareceria para Remus no canto do olho, rápido demais para qualquer um, exceto ele, notar. Um farol. Um ramo de oliveira. Um vislumbre de luz para que ele soubesse que não estava sozinho, para dizer-lhe que viesse a ela assim que pudesse.
Quando Tonks voltou para o andar de cima, seus pais estavam dormindo. Ela os cobriu com um cobertor e sentou-se na beirada da cama, ouvindo o tique-taque do relógio. Ela se lembrou de um feitiço que havia aprendido durante o treinamento de cura. Não sabia se funcionaria ou se era possível tão cedo, mas tentou mesmo assim. Movendo a ponta da varinha sobre seu estômago, ela procurou até ouvir algo. Embora amplificado pela magia, era apenas um som fraco; como o bater mais suave de asas de papel. Não era um verdadeiro batimento, mas estava lá de qualquer maneira. Tonks inclinou a cabeça para trás, sem fôlego com uma súbita, brilhante e dolorosa esperança.
