Deveria me assustar com essa cena? Deveria, mas felizmente leio e vejo coisas que são mais impressionantes que isso.

Olhei para cima e tinha um teto perfeito ali, então de onde saí? Será que fui sequestrada e tudo que passei agora foi fruto de uma dosagem super alta de drogas?

Mas será que a Yasmin também está aqui, ou ela vai começar a entrar em desespero e me salvar como uma princesa de armadura brilhante?

Devo fingir que desmaiei? Não sei como fazer isso já que nunca desmaiei de fato, mas posso tentar.

_ Quem é você? - Quem sou eu? Bom, me faço essa pergunta todo o dia no espelho.

Apoiei nos meus braços e vejo que todos estavam me olhando e a sala estava bem cheia, talvez estivessem querendo comer essa mulher morta...

Será que todos aqui são canibais e tenho que fugir antes que eles tentem me engordar como a bruxa do João e Maria?

Ah, só de pensar em correr e planejar minha fuga já me deu preguiça, devo apenas morrer e pedir a Deus que não seja doloroso.

_ Responda-me. - Olhei para a pessoa sentada na cadeira da cabeceira e fiquei paralisada no lugar.

Devo ter morrido e isso é o meu paraíso por sofrer muito na Terra, devo começar a agradecer a Deus por ter me dado o privilégio de poder ver esse homem em carne e osso?

Quero começar a chorar agora mesmo, essa é a melhor morte que poderia ter!

Os olhos vermelhos como sangue estavam me olhando como se a qualquer momento fosse me matar e seus lábios avermelhados eram hipnotizantes.

Seus cabelos arrumados e divididos na lateral era um charme, até mesmo os pequenos cachos nas pontas me faziam suspirar, deve ser macio ao toque.

Suas sobrancelhas estavam quase se unindo pela curiosidade, mas nunca chegavam a se tocar. Ele é incrivelmente lindo, até mesmo o nariz era perfeito.

Faço meus olhos continuarem observando o homem que só apertava a varinha que poderia ser marfim, mas sei que não era.

Até às mãos brancas e lisas eram maravilhosamente perfeitas, esse homem era totalmente perfeito e posso morrer em paz, mesmo já estando morta.

Mas fiquei um pouco surpresa por ele estar usando terno e isso me fez crer que não estamos em 1995, talvez estejamos em 1970?

Ele tem 44 anos? Mas ele está tão conservado, posso ficar assim o dia todo, mas a varinha no meu pescoço me impedia de continuar analisando esse Deus grego.

Sentei-me na mesa e pensei em todos os motivos para não começar a surtar e dizer o quão lindo ele era.

_ Me chamo Maëlle. - Pelo menos consegui falar meu nome, viva!

Olhei para os lados e todos estavam me olhando, como se eu fosse alguém de outro mundo. Talvez fosse... Isso era uma possibilidade.

Tento sair da mesa pelos buracos vazios, mas a ponta da varinha começou a me incomodar, então apenas fiquei sentada nas minhas pernas, enquanto o esperava decidir o que faria comigo.

_ Quem a deixou entrar aqui? Como você conseguiu passar pelas barreiras da mansão Slytherin? - Slytherin? Uau, pensei que aqui fosse a mansão Malfoy.

_ Meu senhor, se me permite a dizer... - Olhei para o lado esquerdo e observo o possível Severus.

Cabelos médios e negros, nariz grande, mas não feio e sua pele era tão branca que parecia doentia, mas talvez fosse pelas roupas pretas que usava.

Fiquei imaginando o que a Yasmin faria se estivesse aqui, talvez ela se jogasse em cima dele e tentasse tirar a força o amor que ele sentia pela Lily...

Espera, se Severus está aqui, isso quer dizer que já estamos em pelo menos 1979.

E 79, o meu querido e amado Lorde, teria 52 e dependendo do mês, teria 53, e mesmo assim, continua conservado. A magia das trevas só tem benefícios, adoro ela.

_ Fale. - Deu a ordem e achei aquilo tão fodidamente sexy, até a voz era carregada de poder e soberania.

Mas sei que tudo que posso fazer é continuar gravando em minha mente como esse homem era e nada mais, além disso.

_ Talvez ela seja alguém a mando de Dumbledore para ver o que iríamos fazer com a trouxa. - Trouxa... Olhei para a mesa e agora entendi.

Eles estavam em mais um de seus passatempos preferidos, matar trouxas e sabe, infelizmente, sou uma.

_ Não sou nada do Dumbledore.

Nem gosto daquele velho manipulador, até a minha tia que não entende muito de Harry Potter não gostava daquele velho.

_ Então como veio parar aqui? Onde as barreiras são impenetráveis. - Boa pergunta, infelizmente não sei.

_ Responda logo o nosso senhor, sua imunda! - Voz estridente e palavras chulas, com certeza era a Bella.

Olhei para trás e a vi rangendo os dentes, ela estava linda naquele vestido apertado e cabelos domáveis e tão negros quanto as roupas que vestia. Sério, por que todos são bonitos? Que inveja.

_ Não sei como parei aqui, estava em Paris e estava tentando ir para o meu quarto para fazer as malas. - A ponta da varinha não saiu. _ Mas a porta giratória travou e apenas caí em um buraco que se fez no chão e estou aqui.

_ Que ano? - Severus era inteligente.

Talvez ele tenha analisado as roupas que estou usando, ou como estou falando como uma pessoa dos Estados Unidos e não do Reino Unido.

_ Respondo-o. - Concordei, senão morria.

_ 2022. - Alguns prenderam a respiração e outros me olharam abismados. _ Não tinha nenhum vira-tempo comigo, então não sei como estou aqui.

A varinha saiu do meu pescoço e não consegui dar um suspiro aliviado, isso daria a entender que estou mentindo, então apenas fiquei o observando e ele fazia o mesmo.

Não poderia conferir se meu celular veio junto, já que se me mexesse por um centímetro se quer, iria morrer com um Avada.

O que posso fazer? Claro que posso contar tudo que vai acontecer no futuro, não sou uma viciada em HP à toa, mas o mundo seria ditatorial e fascista...

Lembro da minha tia me perguntando o motivo de gostar tanto do lado das trevas, já que eles eram como a Alemanha na Segunda Guerra.

E a única coisa que dizia era que eles tinham um objetivo muito melhor que o lado da luz, que só quer proteger os seus amigos. Que até mesmo ganharam a guerra pelo poder do amor e amizade.

Sempre ficava chateada com isso, os livros sempre faziam os vilões carismáticos perderem para idiotas, mesmo que os objetivos, ideologias fossem a pior possível, eles tinham carisma e um bom argumento.

E esse argumento me vencia sem pensar duas vezes.

_ Como é o mundo de 2022? - Uma merda, iria dizer isso, mas pensei na pergunta que estava me fazendo.

Ele quer saber do mundo bruxo e não sei muito sobre isso, já que tudo acaba quando Delphini vai para Azkaban e o resto é tudo fanfic.

A primeira coisa que deveria dizer é que a maioria dessas pessoas morreriam, mas como posso dizer isso sem morrer?

O lado que sempre gostei é tão cansativo e cheio de bandeiras vermelhas sinalizando minha morte, devo começar a gostar dos mocinhos...

Não, eles são chatos e sem graça, prefiro morrer.

_ Responda o nosso senhor, seu verme ambulante. - Já fui chamada de coisa pior.

_ Bella! - Não gritou, apenas fez sair essa palavra entre seus dentes e todos abaixaram a cabeça.

_ Desculpe. - Falou em bom-tom, penoso, mas um tom audível.

Respirei fundo e mexi nos dedos, não sabia como iniciar essa resposta, o que devo dizer? Se mentir, vou morrer e se falar a verdade, vou morrer.

Era realmente aqui que sempre quis estar? Parece tão destrutivo para a minha saúde mental, vou acabar enlouquecendo.

_ Parece que é algo que o senhor não irá gostar de saber, meu senhor. - Olhei para a pessoa ao lado de Severus e não reconhecia.

Cabelos presos em um pequeno rabo de cavalo, olhos negros e fundos, pele branca como se estivesse fugindo do sol por ter medo... Não conhecia.

_ Regulus, parece que ela não o está reconhecendo. - Deus, Regulus Black está bem na minha frente. _ Acho que reconheceu agora, você conhece todos?

Voltei a olhá-lo e concordei, mas o seu pequeno sorriso de canto de boca começou a crescer, talvez esteja imaginado que todos estavam em livros de história e estavam.

Mas por motivos totalmente diferentes do que estava imaginando.

_ Por que a senhorita não pode dizer sobre o futuro? - Severus, cala a boca!

_ Talvez não possa falar para que o futuro não mude. - Alguém do lado direito falou.

Não sei se era o Rabastan ou Roldolphus que falou, mas não me importava, já que todos nessa mesa deve ter entrado na fila da beleza milhares de vezes.

Cabelos negros peteados para trás, ombros largos e barba cheia, e olhos verdes como a pessoa do seu lado.

_ Não me importo se vai mudar, só quero saber o que acontece. - Você é chato. _ Diga-me, o que acontece com todos aqui?

_ Só se você jurar que não vai me matar ou pedir para alguém me matar, ou pedir a Nagini para me dar um bote. - Ficou surpreso e riu.

_ Você quer negociar? Justo comigo? - Ué, se não fosse com ele com quem iria barganhar? _ Tudo bem, juro pela minha magia. - Um círculo vermelho rodeou seu pulso.

Isso era bom? Não lembro qual cor ficava o juramento e não posso perguntar se funcionou, posso perder minha cabeça antes de completar a pergunta.

_ O senhor quer que todos escutem? - Girou a varinha entre os dedos e apenas fez um movimento de mão, fazendo que todos se levantassem.

Mas antes de ir, todos fizeram uma mesura e disseram um boa noite para o seu Lorde.

Esperei que todos saíssem, enquanto mexia nos meus dedos. Essa posição já estava doendo minhas pernas e minha bunda.

_ Posso me sentar na cadeira? Minha bunda está doendo. - Olhou-me de cima a baixo e concordou. _ Obrigada. - Saio da mesa.

Mexo as minhas pernas para circular um pouco de sangue e me sentei na cadeira ao lado, depois de alguns segundos.

_ Desculpe, mas que ano estamos? - Retirei o celular do bolso e tentei ligar, não esperava que ele ligasse e me mostrasse o wallpaper de capivara dançante.

Mas o som que se fez na sala de reuniões vazia fez meu rosto queimar em vergonha.

"Ca-py-ba-ra, capybara, capybara..."

Desliguei o celular e sorri envergonhada para o homem que me olhava assustado. Esqueci que meu wallpaper era vídeo e tem som.

_ Desculpa. - Falei tentando não pensar na vergonha.

_ Capivara? - Quero me enterrar e nunca mais ver esse wallpaper. _ Você é estranha. - Meu personagem favorito me odeia.

Pelo menos meu rosto não podia ficar vermelho com facilidade como a Yasmin ou a minha tia, afinal, sou parda.

_ Estamos em 1981. - Fiquei surpresa.

Regulus não deveria estar aqui, vivo e bem, deveria estar morto naquele lago cheio de inferi. Mas ele estava bem e realmente entrei em uma realidade alternativa.

_ Que mês? - Se for novembro, posso dizer que tudo está diferente.

_ Outubro, 10 de outubro. - Aniversário do Naruto... _ Você sabe algo da profecia? Severus e Regulus só descobriram uma parte.

Certo, isso também mudou e talvez a profecia que eu saiba, ele não saiba, esse mundo é uma doideira.

_ Olha, estou bastante surpresa que estejamos em 1981, já que Regulus não deveria estar vivo. - Comecei bem? _ Ele deveria ter morrido em 1979, e como o senhor mesmo disse, estamos em 1981.

_ Uma emboscada da Ordem o matou? - Neguei. _ Quem? Regulus é um Comensal excelente e perder um bruxo assim, seria como perder um dos meus dedos.

Pelo menos é sincero, Regulus era bom, mas não essencial.

_ Você tecnicamente o matou, já que ele roubou o medalhão da Sonserina devido a uma tentativa de assassinato contra o elfo dele.

_ Se me lembro bem, o elfo se chama Monstro?

Concordei prontamente e tentei ver se estava pronto para o restante da conversa. Mas ele apenas continuou me olhando, como se minhas palavras não fossem nada.

_ Ele deu o medalhão para o elfo e disse para destruir, já que deveria ser importante para você. - Mexi nos meus dedos. _ Porém, o elfo não conseguiu e Regulus morreu pelos Inferi.

_ Como sabe disso? - Girou a varinha entre os dedos.

_ Sua vida e dos seus inimigos estão registradas em livros, sei de tudo que possa imaginar, mas vejo que certas coisas estão erradas.

Concordou e esperava que ele começasse a gritar, ou me jogasse um Crucius, mas tudo que fez, foi empurrar o corpo da trouxa para o chão com ajuda de sua magia.

O barulho foi alto e vejo pelo canto do olho algo deslizando pelo chão, era a Nagini.

Subo meus pés para a cadeira e abraço minhas pernas, ainda não queria perder meus pés.

_ Sobre a profecia, tenho que saber até que parte o senhor sabe para poder ajudar. - Voltou a prestar atenção em mim. _ Talvez a profecia que sei não seja aquela que você está procurando.

Girou novamente a varinha entre seus dedos, aquilo era algo bem evidente de que estava ansioso ou estressado.

_ Eles me disseram que quando entraram no pub em Hogsmeade, Dumbledore estava com uma mulher e foram para um lugar mais reservado.

_ O pub deve ser Cabeça de Javali. - Ficou curioso. _ É onde o irmão de Dumbledore é dono.

_ Isso é uma coisa interessante de se saber. - Vou ficar viva. _ Mas a profecia que me contaram foi que uma criança nascida nos últimos dias de julho de 1980 iria me derrotar.

Provavelmente era a mesma profecia que conheço e que todos conheciam, então nem tudo mudou, o núcleo desse mundo ainda era o mesmo. Apenas que alguns eventos são diferentes.

_ Disse que será do sexo masculino e que seus pais tinham me desafiado três vezes e sobreviveram. - Corajosos.

_ Falou mais alguma coisa? - Concordou. _ O quê?

_ Regulus disse que o garoto teria um poder que desconheço e que não sou capaz de compreender, e se mais de uma pessoa nascesse no final de julho, deveria escolher a criança que irá me derrotar.

Terminou de falar e ficou me olhando, como se quisesse saber se a profecia era a mesma que sempre escutei e era.

Poderia dar a profecia a ele de bandeja e muitas coisas poderiam acabar, mas queria contar certas coisas.

_ Por que você está procurando algo que só pode se concretizar se você for atrás dessa criança? - A varinha parou e seu olhar me queimava. _ Profecias são mutáveis, senhor. Elas só se realizam quando a seguimos.

_ E como você pode ter tanta certeza de que se eu não procurar essa criança, não vou perder?

Tinha uma boa pergunta, mas já fiz essa pergunta tantas vezes na minha vida que já sei a resposta de todas as perguntas que ele poderá me fazer.

_ Porque você perde se ir atrás desta criança. - Levantou-se e a cadeira caiu, fazendo um barulho maior que do corpo que já estava no chão.

Seus braços me prenderam na cadeira e seu rosto estava próximo ao meu, poderia ver seus cílios negros fazendo pequenas sombras em sua pele.

Mas poderia ver que não tinha nenhuma espinha ou imperfeição, era assim que uma pessoa que saiu de um livro deveria ser. Perfeito, mas com um passado traumático.

As baforadas de ar quente me fizeram afastar um pouco a minha cabeça, mas não tinha escapatória para seu semblante raivoso.

Sua mão agarrou meu queixo e me fez voltar com meu rosto para perto de seu, estava doendo, mas era uma pequena dor suportável.

_ Por quê? - Sibilou. _ Por que irei perder?

Poderia ver todas as minhas memórias, mas o mais interessante era que ele queria saber disso saindo da minha boca.

Devo estar louca por achar isso atraente.

_ Porque o garoto virará uma Horcrux, descobrindo no futuro um jeito de te matar. Você morre em 1998, para sempre. - Suas pequenas unhas cravaram no meu queixo.

_ Quando? - Sua voz era apenas um sussurro.

_ Nesse ano, nesse mês para ser mais exata. - Minha voz estava saindo estranha. _ Você irá desaparecer e só irá retornar em 1995.

Soltou meu queixo e já estava me preparando para um Crucius, mas tudo que ele fez foi rir, simplesmente começou a rir de todas as coisas que falei.

Talvez nada disso venha acontecer, mas ele não deveria levar mais a sério a possibilidade de...

_ Você está rindo de nervoso. - Continuou rindo e sua face ficou estranha, ele queria chorar? _ Você acha que é injusto perder para um bebê, já que batalhou tanto para chegar aqui.

Talvez só esteja estressado com tudo que está acontecendo, também ficaria estressada se me falasse que vou perder todo meu dinheiro apenas porque tenho irmãos e eles querem a minha parte.

Na verdade, já estive assim, rindo para não chorar e tentando saber o que estava sentindo, e nesses momentos só queria que alguém me abraçasse e dissesse que tudo iria passar, mesmo sendo mentira.

Distanciou-se de mim e mexeu nervosamente em sua varinha, como se ela fosse a única salva-vidas disponível no momento.

_ Você quer um abraço?