Parou e me olhou com um rosto enlouquecido. Talvez tenha acabado de assinar a minha sentença de morte e dessa vez, não ligo.
Já quis tantas vezes que alguém me oferecesse um abraço em meus momentos conturbados, que se ele fizer qualquer coisa, apenas vou aceitar.
Mas pelo menos ofereci um abraço ao Lorde deste mundo, a pessoa que todos temem.
_ Não resolve, mas talvez resolva para você. - Parecia assustado e não queria vê-lo assim.
Saio da cadeira e me aproximo devagar dele, mesmo escutando os sons que a Nagini fazia e a qualquer comando poderia me matar, não parei meus passos.
Mas vê-lo assim era estranho, posso ter 1,60 centímetros, mas ele era um poste, um poste que precisava de pelo menos de um abraço para saber que poderia dominar o mundo sem fazer nada com o Potter.
Levantei meus braços e tentei ver se ele iria se distanciar, ou levantar a varinha, mas não fez nada, então apenas o abracei.
Mesmo que minha cabeça chegasse apenas um pouco acima da metade de seu peito, não era desconfortável como pensei que seria.
Olhei para ele e apenas estava o abraçando, ele não me tocava e não tentei pressioná-lo.
_ Você pode ganhar a guerra se não fizer o garoto a sua Horcrux, pode ganhar a guerra se deixar Lily Potter viva, pode ganhar sua guerra se não tentar matar o elfo do Regulus.
Mordi meus lábios e pensei se deveria continuar essa conversa, ou apenas tentar trazê-lo a nossa realidade. Uma realidade estranha.
Mas escolhi continuar a conversa, fugir de algo não era bom e nunca será.
_ Você pode e deve ganhar a guerra, mas não deve matar aquele garoto como a profecia quer.
_ Por quê? - Segurou meus braços. _ Por que está dizendo isso?
_ Porque acho injusto ver a pessoa que dedicou anos de sua vida morrer pelas mãos de um adolescente que não sabe mais que três feitiços. - Suspirei e tentei me distanciar, mas não deixou.
_ Não dei permissão para sair de perto de mim. - Falou ríspido. _ Você ainda não me contou a profecia. - Certo.
Segurei meu celular mais forte e tentei relembrar a profecia que aquela doida fez, e não foi muito difícil lembrar uma profecia que essa pessoa estava no meio.
_ Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... Nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar do sétimo mês...
_ Já s... - Não o deixei continuar.
_ E o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece...
_ Isso já sei e não quero sab... - Pisei no seu pé e o vejo me olhar com raiva. _ Sua...
_ E um dos dois deverá morrer na mão do outro, pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar...
Havia terminado e pensava no porquê essa profecia tinha que ser tão grande? Mas se ela fosse curta não daria para pisar nos pés desse homem.
O que poderia ter me matado sem terminar a profecia... O que seria uma pena.
Até mesmo pensei que seria empurrada ou ele iria gritar, ou dizer qualquer coisa.
Mas tudo que fez foi continuar me olhando, como se estivesse esperando algo de mim.
Talvez fosse isso mesmo, mas o que ele queria? Posso estar em um mundo mágico, mas ainda não tinha bola de cristal.
_ Você é bruxa? - Abro a minha boca para negar, mas não sabia se havia ganhado poderes ao entrar nesse mundo.
_ Não sei. - Sussurrei. _ Na minha realidade não existia poderes e tudo que tínhamos sobre magia, eram livros. - Não falou por um tempo.
_ Então a magia sumiu de seu mundo? - Iria discordar.
_ Podemos colocar assim, então não sei se tenho magia. - Vai me empurrar agora? _ Talvez eu seja apenas uma trouxa. - Falei e uma de suas sobrancelhas se ergueram.
_ O que quer dizer?
_ Não tenho magia. - Ou tenho. _ Mas tenho o futuro e sei de tecnologias importantes para a evolução humana.
Talvez ele me perguntasse para que iria querer isso, além de saber o futuro, a tecnologia era apenas para os trouxas, mas ela seria de ajuda se fosse usada por eles.
Mas não sei se devo pontuar os benéficos e malefícios da tecnologia, estando assim, o abraçando.
Porém, posso contar para ele como o mundo estará em alguns anos em relação a investimentos. Era boa em geopolítica e administração.
Uma de suas mãos saiu do meu braço e seus dedos tocaram meu queixo, o apertando.
Meu rosto foi virado de um lado para o outro, como se estivesse analisando todas as minhas imperfeições.
_ Quantos anos tem?
_ Quantos anos você acha que tenho? - Alisou meu queixo. _ Senhor.
_ Seu rosto não tem espinhas como os adolescentes, não tem pele ressacada ou oleosa...
_ Espero que isso sejam elogios. - Fez um tsc por interrompê-lo. _ Continue. - Semicerrou os olhos.
_ As sardas pequenas e quase invisíveis são de sol, seu rosto parece de uma adolescente que não saiu da puberdade, mas suas palavras têm mais maturidade que uma garota de dezoito anos.
Ele sabia analisar as pessoas como ninguém, era impressionante e me deixava um pouquinho feliz por saber que tudo que li era verdade, ele era inteligente, mas tinha problemas com o emocional.
Mas também tenho e, na verdade, o mundo todo tem, apenas que alguns escolheram caminhos estranhos para cuidar das emoções.
_ As olheiras são fundas, mas não faz você ser tachada como velha e seus olhos podem rivalizar com os verdes, já que parecem verdes dependendo da luz.
_ Por que está me analisando tanto?
_ Porque quero. - Não tinha reposta para isso. _ E posso analisar e achar defeitos de quem eu quiser, sou o Lorde de todos e você... - Estalou a língua. _ Não pode ter mais que 20 anos.
Era um elogio e tanto vindo deste homem, mas estava errado.
_ Agradeço o elogio, mas está errado. - Estava surpreso. _ Tente novamente, senhor. - Riu com escárnio.
_ Você está toda cheia de si, mas não deve saber nem mesmo a minha idade. - Resposta errada.
_ 52 anos, nasceu em 31 de dezembro de 1926. - Sorri, enquanto falava. _ Sei tudo sobre o senhor.
Apertou meu queixo e percebi que falei demais, mas não fez nada.
_ Vinte e dois? - Neguei. _ Está entre 20 e 30? - Concordei. _ Pelo menos é uma idade apropriada.
Apropriada para o quê? O que essa cabecinha mirabolante está pensando, enquanto alisava minha orelha que só tinha os furos e não brincos?
_ Não usa brincos...
_ Alergia.
Por que ele está assim? Como se estivesse analisando uma pretendente para se casar com um de seus subordinados. Espera! Ele queria isso? Não quero me casar com ninguém, só se for ele, mas isso é impossível, Bella gostava dele...
_ Não quero me casar. - Falei e sua mão parou. _ Com seus Comensais, não quero me casar com eles. - Sua mão voltou a alisar minha orelha.
_ Nunca pensei nisso, você está pensando demais e quero que você continue me falando sobre o futuro.
_ Mas já falei o necessário e o resto é resto. - Dou de ombros e abaixo meus braços, tentando sair de seu aperto. Mas não consigo.
_ O que você está tentando fazer? - O que mais seria?
_ Estou tentando manter uma distância apropriada do senhor, talvez a minha presença já esteja o irrita... - Beliscou minha orelha.
_ Quem decide isso sou eu. - Autoritário e chato. _ Onde morava? - Estou em uma entrevista de emprego?
_ Brasil, mas estava viajando com a minha amiga e acabei aqui. - Fez um muxoxo. _ O senhor já está casado? - Era pequeno, mas tinha um pequeno sorriso em seus lábios.
_ Me casei no futuro? - Neguei. _ Então por que a pergunta? - Como chegamos nessas perguntas tão íntimas?
Podemos rebobinar e pensar que falta menos de 21 dias para ele morrer? Ou podemos ficar conversando e descobrindo sobre nós?
_ Pensei que você já estivesse tendo um caso com a Bellatrix. - Olhei para o lado e sua mão forçou meu rosto a voltar a olhá-lo. _ Você tem uma filha com ela.
Deslizou sua mão pelo meu braço e fez que voltasse ao seu antigo lugar, o abraçando. Talvez esse homem possa ser o Lorde, temido por todos e até mesmo por mim, mas só quisesse que alguém fosse corajoso o suficiente para fazer isso.
Abraçá-lo e dizer que foi burro por pensar em matar uma criança que estava bem explícito que seria sua ruína.
_ Quando leu sobre isso, o que sentiu?
_ Não me lembro, li sobre isso há anos. - Apertei meu celular. _ Talvez não tenha sentido nada. - O que deveria ser normal.
Concordou e se distanciou, me deixando alguns minutos com os braços levantados, mas os abaixei depois de perceber.
_ Sabe de algum jeito para voltar?
_ Não, e provavelmente um vira-tempo não daria certo, já que nossa realidade não é a mesma. - Estou presa aqui e percebi isso agora.
Abracei meu corpo e olhei para a Nagini que estava apenas paralisada e estufada com a comida que estava em seu corpo, provavelmente não poderá se mexer por alguns dias.
_ Você vai atrás do garoto? - Alisou seus cabelos para trás e a perfeição se desfez, mas seu visual rígido estava despojado.
_ Não, vou seguir seu conselho, garota que caiu do céu.
_ Tenho um nome. - Concordou. _ Não tenho um lugar para ir ou roupas, então se não for incômodo...
_ Tudo bem, a mansão tem muitos quartos e posso pedir algum elfo que compre algo para você vestir. - Tão atencioso. _ Mas você vai ter que trabalhar para me pagar a moradia e roupas. - Retiro o que disse.
_ Aceita pix? - Não ri, por favor, não começa a rir.
_ Aceito o quê? - Devo elevar a brincadeira? Mas ele é tão inocente no mundo moderno.
_ Ou você aceita xerecard? - A palavra saiu em português, mas não me contive e comecei a rir.
Rir na frente do pior inimigo do mundo era mais emocionante do que imaginei, era como se qualquer risada fora do tom fosse me levar a guilhotina, e olha, acho que pode.
_ Desculpa, é que você disse para pagar e não tenho dinheiro. - Estava com braços cruzados e me esperava explicar. _ Então ofereci dinheiro virtual. - Mostrei o celular. _ Mas também ofereci outra coisa para pagar.
_ E o que seria essa nova forma de pagamento? - Aproximei-me dele e cruzei os braços igual a ele.
Seus olhos foram para outra direção do meu corpo, mas não estava me importando muito. Mesmo a blusa de malha sendo totalmente fechada, dava para ver o volume dos meus seios, mesmo sendo medianos.
_ Não sei quanto tempo vou ficar nesse mundo, talvez mais algumas horas ou até mesmo meses, anos, milênios. - Nesse mundo nada fazia muito sentido. _ Mas não tenho dinheiro que esse tempo aceita, e preciso de dinheiro para sobreviver.
_ E?
_ Posso ajudá-lo em certas coisas. - Mesmo não sendo experiente, na prática, existia x-vídeo e até mesmo livros, sou quase uma especialista.
_ Sobre o futuro? - Zombou.
Acho que a Yasmin se estivesse aqui já estaria rindo como uma hiena e dizendo: quem mandou dizer que nunca daria o cu? Olha agora, como a palavra tem poder.
E falando nela, acho que se eu ficar nesse mundo posso sentir saudades, é claro, mas ela entenderia que estou bem melhor aqui do que naquele mundo hipócrita...
Eles entenderiam, certo?
_ Estava dizendo que dormiria com você, mas já que você está tentando me fazer uma consultora do futuro, não vou negar. - Sorri e saio de perto dele, indo até a porta. _ Vem, estou com fome, e você é o anfitrião.
Girou a varinha e falou alguma coisa com a Nagini que nem mesmo se mexeu, mas o seu dono veio até mim e abriu a porta, me levando para algum lugar desta mansão.
Ele foi na frente em silêncio, fazendo que minhas brincadeiras de antes fossem ridículas, talvez tenha exagerado.
Esse homem era um ranzinza que provavelmente só transou com a Bella por pensar que ela era a única que iria querê-lo.
Tecnicamente era, mas olha, tem eu bem aqui e se ele estivesse na forma ofídica, iria querer ele ainda.
Ele tinha língua bifurcada, dois pênis e olha, ele era frio, só vi vantagens.
_ Não tenho nada com a Bella. - Me tirou dos pensamentos. _ Ela e o Roldolphus são bastante apaixonados.
Isso era uma novidade que nunca pensei em escutar, Bella sempre amou esse homem e não posso dizer que ela está errada, mas se ele não tinha ninguém, posso tentar?
Já estou aqui e posso me molhar um pouquinho nessa água poluída.
Entramos na sala de jantar e era muito mais iluminada do que a que estávamos antes, mesmo que a iluminação seja pedras que saiam luz e não velas.
_ São pedras da luz, uma invenção do Rabastan. - Ótima ideia, se eu voltasse para o meu mundo, posso levar isso e economizar na conta de luz. _ Necessita de magia. - Retiro o que pensei.
Parou e me levou até a cadeira disposta ao lado da cadeira da cabeceira, arrastou ela e esperou me sentar. Até que ele era um cavalheiro e tanto, felizmente está solteiro.
Arrumei-me na cadeira e esperei ele se sentar, não tinha nada na mesa ainda, mas sei que apenas com um comando seu, teria várias comidas na mesa.
_ Já sei sua idade e onde morava. - Não sabe a minha idade. _ Tinha namorado? Ou era casada? Viúva? - Certo, já entendi o que está tentando fazer.
_ O senhor me achou interessante? - Concordou. _ Mas não tenho magia e nem mesmo posso viver para sempre.
_ Posso arrumar isso e isso nunca foi um problema. - Claro que é.
_ Você não quer matar todos os trouxas do mundo? - Concordou novamente. _ Sou uma.
_ Por enquanto. - Suspirou e cruzou as pernas. _ Não é todo dia que vejo uma mulher caindo no meio da minha mesa e atrapalhando minha reunião, ainda mais que não tem medo de mim, achei isso intrigante.
Tenho medo, sim, apenas sei esconder bem, mas saber que ele me acha intrigante era ótimo.
_ Então você me achou intrigante e me quer?
_ Antes que você acabe nas mãos do Dumbledore, ele iria gostar bastante de descobrir mais sobre o futuro. - Não era mentira. _ Então quero você de qualquer jeito, sendo minha prisioneira, minha esposa, minha prostituta ou minha Lady, tanto faz, só quero você.
_ Tenho que escolher agora? - Claro que vou ser sua esposa e sua Lady, não sou idiota.
_ Seria preferível, mas já que você acabou de me conhecer acho que posso esperar, você não vai fugir mesmo. - Errado não estava. _ Vamos comer?
Concordei e os elfos começaram a entrar para depositar a comida na mesa, pensei que iria aparecer como aparecia em Hogwarts, mas não era ruim.
Pelo menos vi que os elfos usavam roupas e pareciam estar sendo bem tratados, diferente do que imaginei que estariam.
Deixei o celular na mesa e fiz o que a etiqueta pedia, mesmo sendo uma pessoa de classe média baixa, tinha coisas em que era obrigada a saber.
Coloquei as coisas que mais me atraía e comecei a comer, pensei que ele iria tentar saber mais sobre mim, mas não aconteceu nada que pudesse nos fazer conversar.
Era silencioso e não era ruim, maioria das vezes comia sozinha e um vídeo de algum Youtuber era a melhor coisa para me tirar daquele silêncio.
Parei o garfo e o fiquei olhando, seus movimentos eram precisos e elegantes, mas parou e me olhou.
_ Não gostou da comida? - Discordei. _ Então o que houve?
_ Não gosto de comer em silêncio e provavelmente minha internet não vai funcionar para ver algum vídeo. - Olhei para o celular. _ Podemos conversar?
Largou os talheres e limpou a boca com o guardanapo, mas não falou nada que pudesse me fazer entender que aceitou meu pedido.
_ Você ainda não me respondeu. - Certo.
_ Não namoro, nunca fui casada e não perdi nenhum companheiro, então até o momento sou solteira. - Voltou a pegar seus talheres.
_ Você pontuou certo, até o momento. - Começou a comer e o segui. _ Não sou de conversar enquanto estou comendo, mas não é ruim. - Comentou e isso me impressionou.
Talvez ele só ficasse trancado no escritório, tentando desvendar os próximos passos da guerra que estava chegando ao fim.
Ou pegaria um livro em sua estante e começaria a ler para passar o tempo, e a monotonia de sua vida.
_ O que você estaria fazendo agora? - Bebeu um pouco do vinho. _ Sem ser...
_ Não estaria nem mesmo nessa sala de jantar, estaria no meu escritório, revisando os documentos que ainda não li. - Minha hipótese não estava errada.
Agora ele estava me olhando, como se eu tivesse entrado em um lugar que não deveria, um lugar que ele tenta esconder a sete chaves.
O silêncio que se estendeu me fez imaginar seu cotidiano, sem pessoas para conversar,
ou para sair para algum lugar divertido.
Apenas ele e seus próprios pensamentos incessantes, era solitário.
_ Ontem desejei algo. - Sussurrou, mas sua concentração continuava em mim.
_ E o que você pediu?
_ Alguém que me compreendesse.
