2022:

A vista da Torre Eiffel era a coisa mais impressionante que já pude ver na minha vida, mas quando você já está quase dois meses nesse lugar, a Torre vira um lugar-comum e qualquer.

As ruas não eram mais fotografadas e não corria por aí, a cada segundo, era interessante e empolgante no começo, mas agora é tudo... Normal.

Mesmo que minha melhor amiga discordasse completamente de mim, ela sabia que não estava aguentando mais esse lugar, não era nem mesmo pelo cheiro horroroso que tinha nos metrôs.

Nem mesmo eram os ratos que víamos por aí, era normal e nem mesmo me importava com isso.

Mas queria viajar para outro lugar, queria ir para um lugar novo para ter uma sensação melhor desse mundo.

_ Você não vai tomar seu café? - Olhei para ela e dei de ombros. _ Sei que preferia um cappuccino, mas os franceses iriam olhar estranho.

_ Que olhassem, odeio café. - Revirou os olhos.

Yasmin era minha melhor e única amiga que tinha, ela aguentava minhas reclamações e eu aguentava as dela, mesmo sendo reclamações bobas, sempre a incentivava a continuar.

Porém, tinha coisas que mesmo falando a mais verdadeira das verdades, ela não acreditava. Yasmin ficava linda com os seus cabelos castanhos naturais, mas ela preferia o ruivo como chamas laranjadas.

E até mesmo me incentivava a pintar meus cabelos para mudar o castanho escuro deles, infeliz ou felizmente não posso, alergia me impedia.

_ Você está no mundo da lua novamente? - Olhei para os seus olhos verdes. _ O que tanto pensa enquanto está aqui? Em Paris. - Olhou em volta.

_ Ir embora. - Bufou e continuou tomando seu café. _ Podemos ir? Quero visitar outro lugar. - Ficou me olhando e sorriu.

_ Deixe-me adivinhar, você quer visitar Londres para sentir um pouco melhor de seu amor impossível? - Não é impossível, nos meus sonhos pelo menos.

_ Iria falar para gente voltar para casa, estou sentindo saudades das minhas terras. - Riu. _ Não ria, minha vó deve estar surtando por não me ter por perto.

_ Ela deve estar bem feliz com o dinheiro que ganhou na mega sena. - Isso não poderia discordar. _ Mas me dê um motivo satisfatório para voltarmos para o Brasil.

_ Não vi a Ladybug até agora, acho que eles não são de verdade. - Ficou surpresa e começou a rir, chamando atenção de todos. _ Não ria de mim. - Fiquei com vergonha de todos esses olhares.

_ Mal, você é inacreditável, mas estava pensando em realmente ir para Londres, podemos visitar alguns lugares interessantes. - Contornei a borda da xícara com os meus dedos. _ Talvez você veja a pessoa que fez o Tom Riddle, como que ele se chama mesmo? - Havia dois.

_ Christian? - Concordou. _ Ele já deve estar namorando ou até mesmo ter se casado. - Beberiquei o café e o gosto horrível invadiu minha boca.

_ Mas tem aquele que fez o Voldemort, ele é bem bonito. - Não estava errada. _ E você gosta de pessoas mais velhas, o que acha? - Olhei para ela e ficou esperando minha resposta.

_ Lufana, você acha que encontraremos essas pessoas na rua como uma de suas fanfics? Sabe que é impossível, não é? - Limpou a boca.

_ Nada é impossível, mas sei que mesmo eles sendo lindos, você não os quer. - Concordei. _ Você quer o Tom Riddle, ou o tio Voldy. - Continuei concordando. _ Ficará solteira a vida toda e virgem.

_ Sabe que não me importo com isso, não sinto nada. - Dei de ombros. _ Talvez eu seja assexual.

_ Mas você sente algo pelo Tom e o tio Voldy. - Era verdade...

_ Então sou demissexual e meu coração é totalmente daquele homem. - Suspirei sonhadora e deixei a xícara no pires.

_ Como falei, vai ficar solteira a vida toda.

_ Não se ele aparecer bem na minha frente. - Deixei o dinheiro na mesa e a garçonete viu. _ Vamos?

Levantamo-nos e saímos daquela cafeteria, o cheiro de café estava impregnado nas minhas narinas, mas apenas me fazia sentir saudades de casa para sentir o cheiro de café que minha vó sempre fazia três vezes ao dia.

Mas sei que esse ser minúsculo de 1,52 centímetros não estava errada, deveríamos aproveitar nossas férias e viajar quanto países pudéssemos com o dinheiro que tínhamos.

Mesmo que nada do que ela está pensando se realize, será bom ver Londres de perto e não por vídeos.

_ Você fica brincando com os meus sentimentos, mas você é apaixonada pelo Draco e você... - Me interrompeu.

_ Posso vê-lo em Londres, não ele, mas você entendeu. - Estava sorrindo de orelha a orelha. _ Ou posso ficar com o Severus e...

_ Ele está morto, o personagem e o ator. - Olhou-me ressentida. _ Desculpa, também gosto do Sev.

_ Se o seu morreu, por que o meu não pode estar vivo? - Tinha um ponto indiscutível. _ Mas isso são coisas que só podemos sonhar, seria bem interessante estar lá, não é?

Interessante... Sim, seria interessante esquecer tudo que já passei e tudo que tenho que viver com menos de 25 anos, tenho que ser perfeita para a minha família, mesmo não sendo de fato.

Apenas queria que eles vissem que mesmo levando tanta porrada da vida, continuo sorrindo e tentando melhorar a cada dia, mas eles apenas... Não me olham como sou realmente.

Às vezes acho que sou invisível e que todos ao meu redor não conseguem me enxergar do jeito que quero, eles só enxergam as minhas imperfeições.

Eu só queria que eles me amassem, mas acho que nem isso mereço.

_ Seu pai te ligou? - Discordei e continuamos andando. _ Enviou uma mensagem pelo menos? - Sorri de lado.

_ Quando a gente desembarcou mandei uma mensagem dizendo que ocorreu tudo bem na viagem. - Olhei para baixo e ela me olhava com pura concentração. _ Mas tudo que ele fez foi visualizar.

Yasmin sabia tudo sobre mim, até às coisas que não queria contar para ninguém, ela era uma amiga especial que mesmo a conhecendo pela internet, era a melhor pessoa que já pude conviver.

_ Quando a gente chegar no hotel, vou comprar uma barra de chocolate e fazer você comer. - Ela me entendia tão bem. _ Apenas uma barra, aquele chocolate que você gosta é caro demais.

Bobagem dela, aquele chocolate não era caro... Apenas era pequeno demais para o valor que tinha.

_ Você vai sentir saudades daqui? - Perguntei e suspirou. _ Acho que posso sentir, mas não é tanto.

O sol da tarde estava se pondo, mas as ruas continuavam movimentadas, alguns estavam andando de bicicleta e outros estavam como nós, a pé.

Os carros passavam devagar e tudo parecia parado, como se o mundo estivesse desacelerando com cada batida do meu coração.

Meus sapatos pisavam no chão, mas o barulho estava estranho, como se tudo que meu ouvido capitasse fosse invenção da minha cabeça.

Respirei fundo e sorri pela sensação, não era a mais pura e gostosa que já vivenciei na vida, mas era uma boa sensação.

_ Acho que sim, aqui é um bom lugar. - Sim, um bom lugar. _ Mas você tem razão em algo. - Sempre tenho razão. _ Ficou chato. - Riu e concordei. _ Já vi o quadro da Mona Lisa tantas vezes que cada vez que entro naquele museu parece que o quadro diminuiu ainda mais.

Comecei a rir e não pude discordar, aquele quadro parecia maior nas imagens ou até mesmo nos vídeos. Mas era tão pequeno e a fila para ver era quase a fila de um mercado em promoção.

Claro, a história do quadro ou até mesmo como foi feito era maravilhosa, mas era chato.

_ Depois de Londres devemos viajar para o México, quero ver as pirâmides. - Concordou prontamente.

Olhei para o meu reflexo que mudava a cada loja que passávamos, alguns nem mesmo mostrava a pessoa ao meu lado por meu corpo estar cobrindo o dela, e outros mostrava o quão feliz estava depois de alguns meses.

Meu sorriso não saia do meu rosto e aquilo era bom, me sentia bem por me ver assim.

_ Será que devo ir ao salão cortar meu cabelo? - Ele estava batendo na metade das minhas costas.

_ Não, acho que ele está bem assim e adoro que as pontinhas sempre são onduladas. - Não tenho culpa que ela sempre alisa o cabelo dela.

O hotel já podia ser visto, mas já podia imaginar o quão entediante que seria arrumar as malas e comprar as passagens para sair desse lugar.

Já posso começar a chorar?

Sinto ela parando e a olhei, o celular dela estava tocando e apenas dei um passo para trás.

_ Sua mãe? - Concordou. _ Sua mãe ficou rica?

_ WhatsApp, e seria um absurdo de caro telefonar do Brasil para Paris. - Por isso que falei que talvez ela tenha ficado rica. _ Vai à frente, talvez ela vá me pedir para comprar algo.

_ Como sempre. - Continuei andando e a vejo parar em uma esquina, ela tinha e não tinha um bom relacionamento com a mãe, mas pelo menos ela tinha uma.

Sou um fracasso de filha e devo me conformar com isso, pelo menos tenho uma vida boa que não preciso trabalhar como uma condenada.

Aceno para a pessoa que sempre carregava as malas dos hóspedes e espero um dos hóspedes sair da porta giratória, sempre que vejo uma porta assim me lembrava dos bancos.

A pessoa saiu e me deixou passar, antes que pudesse empurrar a porta, ela agarrou e não quis ir para frente ou até mesmo para trás.

Olhei para a recepcionista e gritei:

_ Ei, isso está pre... - Sinto meus pés sendo agarrados por algo e olho para baixo, antes de terminar minha frase.

Um buraco surgiu debaixo dos meus pés e tudo que pude fazer, foi gritar. Mas nenhum som saiu dos meus lábios, o meu corpo estava caindo em queda livre e a luz que o buraco proporcionava estava diminuindo.

O vento passava rapidamente pelos meus ouvidos, me fazendo arrepiar com a sensação fria, era agoniante. Talvez a Alice tenha sentido isso quando caiu na toca do coelho.

Mas não queria sentir isso... Enquanto estava pensando, a luz se distanciava e apenas a escuridão em minha volta me fazia companhia, estava começando a ficar com medo e deveria estar ficando com medo.

Quem em sã consciência, ao invés de continuar gritando ou entrar em pânico, ficava pensando o quão impressionante o buraco do hotel era fundo e escuro.

Será que assim que vou morrer? Ou será que vou ter que viver com os ratos-de-esgoto até que alguém me encontre?

Com certeza meu celular vai quebrar quando cair e vou acabar ficando paraplégica quando cair junto, ou talvez apenas morra com um traumatismo craniano.

Ok, estou vendo o pior lado, mas era a única solução possível que minha cabeça conseguia pensar e nenhuma delas saia viva daqui.

Escuto pessoas conversando e minha cabeça começou a doer, mas meu corpo começou a esquentar como se estivesse sendo queimado vivo, isso era horrível.

Queria gritar de dor, mas tudo que pude fazer, foi sufocar meu grito quando caí em cima de algo duro. Meus pulmões perderam o ar e os gemidos que saiam da minha boca fez que toda a falação fosse silenciada.

Acho que posso ter entrado na cozinha subterrânea ou algum lugar que tenha uma mesa, porque não consigo imaginar mais nada.

Abro meus olhos e a primeira coisa que vejo foi um corpo sem vida me observando com os olhos arregalados...