_ Está pronta para ir? - Suspirei e concordei, pegando sua mão e a entrelaçando.

Fomos até a lareira do tamanho de uma porta e respirei fundo, tentando não me sentir ansiosa para ver pessoas que me prejudicam nas duas vidas – sim, era confuso.

Pegou um punhado de pó e entramos na lareira, me lembrando daquele dia.

_ Ministério da magia. - Jogou o pó no chão e desaparecemos da mansão Malfoy.

O ministério estava lotado e pessoas e mais pessoas saiam das lareiras, ou de outros lugares.

Porém, até o momento não mudou nada, os pisos negros continuavam exatamente como antes.

As pessoas sorriam por educação, mas reviravam os olhos quando davam as costas e todos estavam com pressa.

Sim, tudo estava igual, porém, quando saímos da lareira e andamos para algum lugar, me fazendo perceber que o ministério era diferente do que conhecia, bom, em partes.

Já que não tinha a estátua do Lorde com os seus inimigos mortos em seus pés ou até mesmo Dementadores sobrevoando o lugar sem a necessidade de sugar a felicidade alheia.

Ou o ministro dando boas-novas sobre o mundo bruxo que só progredia com todas as medidas que focavam não só nos bruxos, mas nos seres das Trevas.

E mesmo tendo vencido a guerra em 1981, uma pequena guerra interminável continuava acontecendo naquele mundo.

Porém, a Lady não sabia sobre isso e sempre pensava que tudo tinha acabado, algo que sabemos que não.

Contudo, esperava que tudo tivesse terminado depois que desapareci, a Lady necessitava de descanso e ela merecia isso, gostava dela.

Suspirei, afastando esses pensamentos quando entramos em uma sala escura e sem móveis, apenas continha uma porta e alguns aurores em torno dessa porta, que logo quando nos viram, ficaram apreensivos e sacaram as varinhas.

_ Senhor Malfoy, o que faz aqui? - Um dos aurores perguntou. _ E ela... - Ficou surpreso e ele não era o único. _ Necromancia? - Semicerrou os olhos. _ Não, o sensor do ministério apitaria, isso, como é possível? - Franziu o cenho.

Apertei a mão do Dragon, que logo entendeu, já que não queria dar explicações a esse bando de gente que só queria contar meias verdades para o resto do mundo.

Mas sem eles, essa porta não abriria e não podíamos dar uma pequena surpresa ao Potter.

Porém, esse auror nunca me tocou – era isso que as memórias me diziam –, mas ele sabia quem eu era e isso só indicava que via meu sofrimento com os próprios olhos, ou escutava de alguém.

_ Mandei uma carta para o novo chefe dos aurores e deve estar em suas mãos agora. - Falou com aquela voz esnobe. _ Então, libere a entrada.

Os aurores se olharam e não deram lugar, isso seria mais difícil que pensei, afinal, a família Malfoy não era como antigamente, que falavam e todos obedeciam.

Então, a única coisa que podíamos fazer era, se sentar e esperar.

Mas aqui não tinha uma cadeira para sentar e não queria sujar o meu vestido me sentando no chão.

E com certeza não daria para transfigurar algo, já que sinto uma pedra de runa em algum lugar por aqui.

_ Vocês realmente não vão nos deixar passar? - Apertaram a varinha e meu noivo simplesmente sorriu, pegando a sua varinha em seguida.

Os aurores nem mesmo viram o feitiço sendo lançado, apenas perceberam que algo aconteceu quando estavam grudados nas paredes negras desse lugar.

... Não tinha uma pedra de runa aqui?

Olhei para ele sem saber como perguntar sobre isso, mas não foi preciso de muito para perceber minhas perguntas não faladas.

_ O quê? - Guardou sua varinha em seu terno.

_ Aqui tem uma pedra de runa e se bem me lembro, não pode fazer nenhum feitiço se for para prejudicar os outros, ou a pessoa que a pedra protege. - Soltou minha mão e foi até um dos aurores, me fazendo ir até ele.

_ Você está certa, mas isso não se aplica a mim, na verdade, não se aplica a nós. - Pegou a chave no bolso do auror e sorriu, balançando aquele objeto. _ Simples, não?

_ Como fez? - Voltamos para a porta.

Alisou minha bochecha, roçando seus dedos nos meus lábios e quase tive vontade de mordê-los.

_ Culpe o papai, ele mudou todas as runas desse lugar. - Girou a chave, me fazendo tremer pela falta de magia que existia no outro lado.

O ambiente escuro e categórico, me fez dar alguns passos para trás, mesmo que meus pensamentos fossem: acabe logo com isso!

Mas as memórias estavam me fazendo recuar e meu corpo obedecia apenas por medo de algo que não sofreu.

Não sou assim, medrosa, mas estava sendo pelas memórias que estavam impregnadas em minha mente, quase me fazendo sufocar com o frio que saia daquela fresta.

Respirei fundo e fechei meus olhos, desferindo um tapa em meu rosto que fez Draco me abraçar, sem saber o motivo desse ato.

_ Tudo bem, estarei com você. - Sussurrou. _ Mas não faça isso consigo. - Agarrei em suas roupas e o cheiro de álcool misturado com maçã verde, me acalmou.

Mas continuei nessa posição, me sentindo amada e protegida nos braços do loiro.

O mundo poderia acabar, mas sabia que era apenas olhar para o lado que o medo sumiria, já que ele estaria ali, ao meu lado para tudo.

Respirei fundo novamente e dei batidinhas em suas costas, o fazendo se distanciar de mim.

Porém, tive que contar o motivo disso, mesmo que ele não tenha perguntado.

Seus olhos não saíram dos meus e cada palavra que saia da minha boca, era um alívio em meu coração.

É, acho que é assim que funcionava um relacionamento.

_ Podemos voltar em outro... - Neguei e o puxei para irmos.

Não queria voltar aqui de novo e se tivesse que voltar, era bem provável que as memórias me afundariam em um lago lamentável de conflitos.

E estava certa em não voltar, já que esse lugar era mais horroroso do que podia me lembrar.

As ondas do mar se quebrando eram violentas, e o frio cortante zunia nos meus ouvidos, me dando calafrios.

Contudo, os Dementadores não existiam, mas a tristeza permeava o ar de tal forma que me deixava zonza.

Olhei em volta e a entrada para Azkaban estavam bem a minha frente.

Era apenas uma porta de ferro e se olhasse para cima, poderia ver o vislumbre do triângulo que essa prisão era.

Continuei minha caminhada para entrar nesse lugar insalubre, sem me importar com os aurores que estavam observando a nossa movimentação.

O portão se abriu e nem mesmo teve aquela pergunta: por que estão aqui?

Bom, acho que eles podiam adivinhar que se a pessoa passou por aquela porta, era que tinha autorização para entrar nesse lugar. O que não deveria acontecer, mas não estou reclamando.

Entramos naquele lugar com a porta rangendo atrás de nós, apenas para me fazer segurar ainda mais forte a mão do homem ao meu lado, que me observava de esguelha.

Continuei observando e as celas não estavam vazias, conhecia alguns rostos e outros eu tinha o prazer de ver que estavam ali, mofando na cadeia.

_ Qual cela? - Perguntou um auror que estava escondido na penumbra.

_ Potter. - Dragon respondeu e o homem apenas acenou, nos levando para algum lugar daquela prisão.

O ambiente frio não se foi, mas se intensificou e as lamúrias doíam os meus ouvidos, quase quebrando meu coração no processo.

Talvez, se não fosse por tudo que passei, estaria aqui, em uma dessas salas habitadas por pessoas que a maioria não sabia a história.

Suspirei e continuei a minha caminhada para uma cela tão funda quanto o desespero que passei naquele lugar.

Poderia ter um pouco de tortura, mas sei que continuaria sendo pouco para tudo que me foi causado.

Contudo, a única coisa boa era que eles não estavam no último andar dessa prisão, já que não queria subir escadas.

_ Chegamos, cela 170531. - Deu um chute na porta, fazendo que a pessoa resmungasse. _ Todo seu.

Deu alguns passos, desaparecendo da minha vista, nem mesmo me dando a chance de observá-lo, mas Draco continuou ao meu lado, o que me fez esquecer dos sentimentos em meu peito.

Desfaço as nossas mãos entrelaçadas e me aproximo da porta, que continha uma pequena grade para ver a pessoa.

_ Gina? - Quase correu até a porta, mas parou quando viu meu rosto. _ Como? - Colocou a mão em sua cabeça, puxando seus cabelos desgrenhados como se estivesse realmente enlouquecido.

_ Não estou feliz em vê-lo, mas me sinto melhor o vendo assim. - Sorri. _ Você é tão patético. - Correu e agarrou a grade, mas não tive medo dele, ou de sua raiva.

_ Matei você! - Gritou, fazendo sua voz reverberar em todas as direções. _ Lembro de ter guardado sua cabeça e dado seu corpo para os aurores. - Riu, mas apenas continuei o observando com seu olhar enlouquecido.

_ Sim, você me matou. - Seus olhos verdes não eram iguais aos meus. _ Mas quem está nessa cela imunda e com um cheiro horrível, não sou eu. - Sua boca espumou.

_ Juro que quando eu sair daqui, matarei você, sua puta! - Gritou novamente, me fazendo rir, quase fazendo Draco avançar.

_ Sabe, Potter, como você está se sentindo no meu lugar? - Meu sorriso se foi. _ Como se sente vendo que sua vida foi arruinada por mim? - Balançou o corpo contra a grande.

_ Matarei você e darei... - Puxei sua roupa maltrapilha, fazendo seu rosto ficar espremido grande.

_ Olha aqui, seu desgraçado. - Já tinha perdido toda a compostura. _ Mesmo que você saia e tente me matar, voltarei e o matarei com muito prazer, e mesmo que nessa realidade não possa fazer isso, sei que tem outras que já comeram seu fígado no café da manhã.

_ Você, não é...

O empurrei, o fazendo se desequilibrar nos próprios pés, e quase me fez rir com essa cena.

Sei que outras variantes estão tentando de todos os modos acabar com esse homem, mas nessa realidade não fiz nada e ele já estava assim.

E sei que existia aquela realidade em questão, que a vingança contra esse homem não era mais nada do que uma diversão para si.

Aquela mulher era mais poderosa que toda essa estrutura comandada por alguém que desconheço.

_ Você ficará para sempre neste lugar, remoendo o passado e pensando se deveria ter feito diferente. - Estalei a língua. _ Sua esposa pedirá o divórcio e seus filhos terão vergonha da pessoa que se tornou.

_ Não, isso é impossível, você está mentindo... Sim, está mentindo. - Tentou se consolar, mas não me importei com suas lamúrias.

_ Seu filho, Albus, provavelmente será meu genro e mesmo que ele tenha seu sangue, sei que ele é melhor que você. - Arrumei meus cabelos. _ Tudo que você conquistou com a derrota do meu Lorde, caiu com sua soberba e pela falta de empatia que conseguiu durante os anos.

Olhar para ele daqui, era muito melhor do que olhar enquanto estava acorrentada, ou quando os papéis estavam invertidos.

Mesmo que tudo que estivesse fazendo fosse por puro ódio das memórias em minha cabeça, queria que a pessoa que me perseguia naquela realidade estivesse na mesma situação, ou até pior.

Não sou tão vingativa quanto as minhas variantes, apenas que não gosto desse homem igual a elas.

_ Potter, torcerei todos os dias para que você morra e apodreça com os vermes que habita em você. - Toquei a grade. _ E serei feliz, diferente de você. - Negou.

_ Você não será feliz. - Zombou, balançando a cabeça freneticamente. _ Sim, você continua na cela e posso escutar seus gritos. - Gargalhou. _ Você conseguiu um pouco de magia para me deixar louco... - Revirei os olhos.

_ Tudo bem, continue pensando assim, apenas saiba que seu reino de tirania terminou. - Esse seria meu adeus, mas suas palavras seguintes me fizeram entender um pouco de sua obsessão.

_ Foi seu sangue que fez isso comigo, não é? - Franzi o cenho, tentando raciocinar sobre isso. _ Se não fosse por ele... - Tentou me puxar, mas fui mais rápida em meus movimentos.

Porém, suas mãos continuaram tentando me alcançar, como tentáculos presos em minha pele.

Dragon se aproximou de mim, me protegendo desse homem que não poderia me fazer nenhum mal, além de gritar asneiras.

_ Tire suas mãos dela! - Berrou, ecoando sua voz por essa prisão. _ Ela é minha... - Gargalhou. _ Meu sangue está em suas veias. - Fungou, agarrando as grades. _ Ela é minha, meu sangue, minha, meu sangue, preciso dele, preciso de mais sangue... - Continuou, mas apenas prendi minha respiração.

Esse homem, Potter, estava viciado no meu sangue e tudo isso aconteceu por sangue (?)

Pensei que ele gostasse de me torturar por todos esses anos, mas tudo que ele gostava era de me ver sofrer e ter sua fábrica interminável de sangue aos seus pés.

Não sei como ele começou a se viciar, ou quando ele começou a engolir meu sangue, mas isso era tão estranho.

Meu sangue negro queimava as pessoas que não a pertenciam, ou quando o mandava queimar, porém... Ah, certo, meu sangue estava impossibilitado de exercer sua função, já que tinha runas.

Então, o Potter deve ter me agredido e o sangue voou para seu rosto, o fazendo engolir aquele líquido, e tudo começou a aí.

Sua obsessão por mim.

Contudo, ainda não entendo o porquê dele me deixar morrer.

_ Se sou sua. - Dragon ficou sem entender, mas não me impediu. _ Se o meu sangue é seu. - Aproximei-me daquele homem. _ Por que me deixou morrer?

_ Não sabia que você iria morrer. - Mordeu os lábios quebradiços e socou sua testa nas barras de ferro. _ Se soubesse, teria a impedido. - Fechou os olhos. _ Voltei no tempo. - Dragon me apertou. _ Mas você sempre morria...

Draco foi até ele e se não fosse pela porta, teria socado seu rosto ou até mesmo matado ele com suas próprias mãos.

_ Você voltou no tempo e a fez reviver todo o sofrimento por sua irresponsabilidade? - Agarrou a cabeça do Potter. _ Sua obsessão por ela era apenas para o seu próprio benefício? Você a matou apenas para que... - Soluçou, me fazendo aproximar de si e abraçar suas costas. _ Ela não merecia vivenciar tudo de novo apenas por um ato egoísta.

_ Não foi um ato egoísta. - Fechei meus olhos. _ Foi um ato imoral e nojento. - Mas ele não percebe que me dando essa solução, posso matá-lo sem deixar rastros.

As runas que estavam aqui não me impediam de manipular meu sangue, apenas me impedia de fazer magia, já que o Tio Lucius deve ter feito as mudanças das runas apenas no ministério.

E mesmo meu sangue sendo mágico que continha magia em cada célula, ele não estava impedido por essas runas... Isso era perfeito.

Sinto meu sangue em seu corpo, borbulhando e clamando para estar comigo.

Fechei meus punhos, apertando o Dragon no processo e a lamúrias do Potter se foi, tornando gritos de dor e sufocamento.

_ O quê? - Draco se distanciou, vendo Potter fazer alguma coisa que não sabia.

Continuei com os meus olhos fechados, me afastando do Draco para que ele não me derrubasse no processo.

Suas mãos me puxaram para perto, e continuei ouvindo os gritos de Potter, chamando atenção dos aurores que tentavam entender o que estava acontecendo.

Mas tudo que fiz nesse momento foi explodir sua cabeça para que ele não me atrapalhasse nesse mundo.

O estouro foi alto, rápido e certeiro, fazendo que uma chuva de sangue soasse pelo ambiente calmo.

E dessa vez abri meus olhos, presenciando o corpo caindo no chão sem cabeça.

_ Essa foi por você. - Leesa.

_ Vocês precisam sair daqui. - Era aquele auror de antes. _ Agora! - Concordamos e entrelaçamos as mãos enquanto saímos dali, ouvindo os gritos dos outros detentos.

Porém, a minha concentração ficou no loiro, já que sua raiva não desapareceu, mas talvez tenha diminuído com as minhas palavras e ações.

_ Você foi fantástica. - Tive que sorrir, sabia que ele tinha percebido que fui eu.

_ O que achou da minha pequena vingança? - Parei, antes de sair por aquela porta.

_ Perfeita. - Sorri com seu aperto em meus dedos. _ Vamos sair daqui.

_ E esquecer de tudo que aconteceu? - Perguntei, sendo puxada para os seus braços.

_ Podemos aprender com isso, para que pessoas como ele, não sobrevivam nesse mundo. - Beijou meus lábios. _ Vamos fugir daqui, mon petit, para construirmos um lugar sem toda essa merda.

_ Já tenho esse lugar ao seu lado. - Não era o momento para romance, mas tinha a certeza de que, antes de Potter partir, aqueles dois estavam lá, observando silenciosamente.

Embora pudesse ter ido aos outros para compartilhar a minha dor, não sentia a necessidade.

Potter foi um aviso suficiente, porém, se eles não entenderam, posso esperar a vingança dos dois, mesmo sabendo que isso nunca aconteceria.

Mas agora não queria nada mais além de sair desse lugar e viver com a minha família, vivendo a cada dia nesse pequeno mundo que o loiro criou para nós.