Diana sentiu que dormiu por horas na sua primeira noite no Castelo Negro. A caminhada no meio do gelo parecia não tê-la afetado, mas bastou se acomodar em uma cama para sentir a necessidade de recuperar a energia. Por isso, ela aparentemente foi a última pessoa a acordar para o novo dia. Não que a situação não tivesse uma difícil, triste e violenta explicação.

Ao escapar da tentativa de motim, Jon tinha pesarosas e dolorosas contas a acertar. Afinal, a vida de um representava a sentença de morte de tantos outros. Robb presenciou o irmão tomando a mesma decisão que ele quando ainda tinha quem lhe seguisse. "O homem que dita a sentença deve brandir a espada", sempre ouvira seu pai, Ned Stark, dizer. Mas ouvir é muito diferente e mais fácil do que colocar em pratica. Não é simples e não se torna mais simples com o tempo, especialmente, quando um daqueles que recebe a pena capital é tão jovem.

Depois de todo o processo macabro e a retirada dos corpos, Jon lhe confidenciou que Olly pertencia a uma família assassinada por 'selvagens' em uma tentativa frustrada de invasão e foi quem cravou a faca no seu peito durante a rebelião. Em contrapartida, Robb confessou ao irmão que havia decapitado um dos seus principais aliado durante a Guerra dos Cinco Reis por ter desrespeitado as suas ordens e matado dois meninos Lannister, praticamente da mesma idade que Olly.

Alheia a tudo isso, Diana se apressa a abandonar os seus recintos no Castelo Negro e se depara inicialmente com Cavaleiro das Cebolas, Sir Davos.

_ Sir Davos, eu fiquei para trás nos assuntos do dia?

_ Não, minha senhora. O dia começou com assuntos pesarosos, mas necessários para a continuidade da Patrulha da Noite. O Senhor Comandante e seu irmão presumiram que a senhora se beneficiaria muito mais de algumas horas de descanso após uma viagem tão grande. – Davos tenta explicar a situação da melhor forma que encontra.

_ Eu entendo. – o rosto abatido da amazona chama a atenção do antigo pirata.

_ O senhor Robb Stark se juntou a alguns recrutas para um treinamento no pátio do castelo. Talvez, seja algo mais aprazível, princesa, neste começo de dia.

_ Sim, eu adoraria treinar após todos esses dias de viagem. Vou buscar os meus pertences e lhe encontro em alguns minutos no pátio.

O Cavaleiro das Cebolas sequer teve tempo para formular uma resposta e observou a jovem desaparecer rapidamente de sua frente. Ele tentou encontrar alguma indicação durante a breve conversa de que ela deveria se juntar a pratica do dia, não que passasse por sua cabeça impedi-la após a demonstração de força no dia da chegada.

Desde que voltara ao Norte, Robb parara de sentir frio pela primeira vez ao apanhar a espada, o escudo e treinar pela primeira vez na sua segunda vida. Ele estava ciente que estava longe de ter a força e destreza de outrora, só que estava confiante o suficiente para praticar com alguns novatos da Patrulha da Noite. Ainda assim, o nortenho teve dificuldade nas primeiras tentativas e precisou escapar de alguns golpes de jovens integrantes da Patrulha da Noite. Havia muito trabalho a ser feito antes de poder utilizar o antigo apelido de batalha, 'Jovem Lobo'.

Em um instante, Robb sente uma espada se chocar a sua proteção peitoral ao se distrair com a chegada de Diana. O antigo Rei do Norte necessita de alguns segundos para se recuperar e nota os olhares nada inocentes disparados contra a sua acompanhante de viagem. Por isso, ele teve a oportunidade de distribuir alguns golpes e mudar a prioridade dos recrutas.

_ É bom ver que você já está forte para treinar, Robb. – comenta Diana ao encontra-lo novo dia.

_ É bom que você não tenha me visto treinar, então. Eu já fui muito melhor... – ele procura sorrir e recuperar o folego após os exercícios de batalha.

_ Tenho certeza que é só uma questão de tempo para voltar a ser o que era. Você já terminou? Eu também gostaria de praticar, nunca passei tanto tempo parada. – ela convida apanhando uma das espadas a disposição dos combatentes.

_ Se você pretende começar, eu já terminei, princesa. – o Stark mais velho ainda vivo dispara e acaba por confundir a amazona. – Mas, eu acho que eles não se importam de lhe fazer companhia, mas se lembre, Diana... São recrutas, a maioria está se familiarizando com as armas e a prática de combate.

_ Eu terei cuidado.

Robb precisa se conter para não rir largamente quando todos os recrutas se alegram com o convite e aceitam prontamente o pedido da amazona, sem imaginarem o que teriam pela frente. Em poucos minutos, Diana é a única a permanecer em pé e os lamentos, queixas e muxoxos são ouvidos a distância. Jon e o selvagem ruivo aparecem sobressaltados no pátio do castelo.

_ Corvos são burros. Por que desafiar uma amazona? – dispara o selvagem.

_ Acho que eles estavam treinando apenas, Tormund... E não creio que entendam o que é uma amazona... Eu mesmo não compreendo muito bem.

_ Vocês, sulistas, não sabem de nada.

Jon observou o irmão mais velho de braços cruzados e com uma expressão divertida no rosto. Talvez, ele e o Povo Livre tivessem razão sobre como aquela desconhecida poderia ser de grande ajuda quando a Grande Guerra chegasse. Diana, a Princesa das Amazonas, ele precisava tirar algum tempo para saber mais sobre a sua visitante. O Senhor Comandante até gostaria disso, mas teve os seus planos adiados pelo tocar da trombeta e o aviso de "cavaleiros se aproximando".

Imediatamente, ele ordenou que Robb e Diana retornassem aos aposentos até que tivesse certeza do que se tratava. Ele sabia que muitos senhores do Norte estavam insatisfeitos com o Povo Livre deste lado da Muralha e a presença inexplicável do antigo Rei do Norte não ajudaria em nada em uma situação mais tensa. O irmão até relutou, porém cedeu ao notar que não era um pedido, mas uma ordem. E na sua nova vida, Jon estava muitos níveis a acima em questão de hierarquia.

Sem visão para o portão ou o pátio do Castelo Negro, Robb não conseguia se acalmar e nem mesmo Diana foi capaz de encontrar argumentos para amenizar o seu estado. Por isso, Robb não presenciou a chegada de uma mulher extremamente alta em uma reluzente armadura, o seu provável e jovem escudeiro e uma moça em trajes surrados. O Senhor Comandante da Patrulha da Noite piscou três ou quatro vezes para ter certeza antes de soltar o conhecido nome.

Sansa. Ainda abismado, Jon começa a descer vagarosamente as escadas até o pátio, sendo seguido por Tormund. Ele dá alguns passos em direção a meia-irmã e para a poucos metros, sem saber necessariamente como reagir. Qualquer tipo de embaraço é desfeito, quando ela rompe com a distância e se joga nos seus braços. Ele somente pode se apressar em retribuir a calorosa recepção, cada vez mais desnorteado pelo cenário montado a sua frente.

Durante a sua infância, Jon se recordava de se sentir querido e acolhido por praticamente toda a família Stark. Sansa e Catelyn eram as exceções, ainda que compreendesse todo o desprezo oriundo da Senhora de Winterfell. "Nós nunca deveríamos ter deixado Winterfell", é a segunda frase que direciona a recém-chegada, dentro dos seus aposentos no Castelo Negro.

_ Você não gostaria de poder voltar ao dia que partimos? Eu queria gritar comigo mesma: não vá, sua idiota. – ele concorda com um sorriso triste ao recordar do passado não tão distante – Eu passei muito tempo lembrando como fui estupida com você, Jon. Eu queria poder mudar tudo... Eu era horrível, admita.

_ Algumas vezes, você era horrível. – ele ri brevemente pela fala da garota e se surpreende com o "pedido de perdão". Ele reluta, mas acaba aceitando as desculpas da jovem por problemas que parecem irrelevantes no seu presente. Jon vira um gole de cerveja ainda perdido nas próprias lembranças e demora a notar o novo pedido de Sansa. – Tem certeza? – ela sinaliza positivamente com a cabeça, só que quase se afoga com os primeiros goles. – Você está bem? Ótimo! Então, já pode vir comigo, eu tenho algo a lhe mostrar.

Sansa atravessa o corredor no encalço de Jon, enquanto procura se familiarizar com o novo cenário a sua volta. Rapidamente, ela nota que Brienne e Podrick estão terminando de ajeitar tudo ainda no pátio e interrompe a sua inspeção com a indicação de Jon, que estavam chegando aos dormitórios. Ela vira mais uma vez e a porta a sua frente é aberta. A jovem ruiva não tem tempo hábil para desvendar o que estaria a sua espera no respectivo cômodo, já que dois braços lhe tiram do chão e seu nome é pronunciado diversas vezes.

Lagrimas alheias começam a cair no seu rosto quando reúne coragem para encarar o rosto... Ela já reconhecera o timbre, mas custa a acreditar nas suas recordações. Não poderia ser, ele não poderia estar ali. Todavia, Robb está vivo, respirando fortemente próximo a ela e aparentemente bem. Quando o irmão afrouxa o abraço e lhe devolve ao chão, os dois se fitam pela primeira vez em muito, muito tempo.

_ Robb, você... Como isso é possível?! Você... Disseram que você não sobreviveu ao Casamento Vermelho!

_ Não importa, mas eu estou aqui.