Diana demorou alguns segundos para entender a reação instantânea e tão emotiva do seu companheiro de viagem. Mas, ao escutar o nome Sansa, ela compreendeu tudo. Robb estava reencontrando a sua irmã depois de muito tempo e a amazona sabia o quanto o paradeiro dos seus familiares importava para o antigo Rei do Norte.

Após longos minutos, ela notou que os olhares recaem sobre si e encontra os olhos marejados do Jovem Lobo. Robb mantinha um dos braços sobre os ombros da irmã recém-chegada e lhe puxa para perto gentilmente pela mão. "Diana, a princesa de Temiscira, que me trouxe de volta". A filha de Hipolita ainda estava digerindo a pomposa apresentação que Robb fazia a sua irmã, quando foi surpreendida por um abraço da jovem Stark. "Obrigada por salvar meu irmão". A única reação possível foi corresponder ao gesto de gratidão da moça da melhor forma que pode.

¬_ Então, a princesa Diana também é uma guerreira?! – Sansa comenta tentando se recuperar da emoção do reencontro – Arya vai surtar quando descobrir que a sua lenda favorita é real... Ela... – a fala de Sansa é cortada pelo irmão mais velho.

_ Sim, Arya... O que aconteceu com ela? Durante a guerra, eu recebi suas cartas, mas não havia nada sobre Arya.

_ Eu vi Arya pela última vez no dia da prisão de nosso pai. De alguma modo, ela conseguiu escapar da Fortaleza Vermelha. – Jon e Robb se entreolham felizes, o relato fazia justiça a personalidade da menina mais rebelde do Norte – E acredito que até conseguiu sair de Porto Real. Brienne a encontrou na estrada há algum tempo... Ela estava na companhia de um homem, que parecia lhe proteger. Estava bem, mas vestida como um menino e de cabelo curto.

_ Isso faz sentido. E Brienne não sabe para onde ela foi? – comenta Jon disfarçando um ligeiro sorriso pela postura de Arya.

_ Não, Brienne contou que a procurou por três dias e ela simplesmente desapareceu. De novo. – explica Sansa.

_ Brienne de Tarth, não é? Uma mulher muito, muito alta... Eu me lembro dela. Ela apareceu com nossa mãe no acampamento de guerra. Nossa mãe mandou Brienne escoltar o Regicida até Porto Real em uma tentativa de libertar você e Arya. – relembra Robb – Ela está a aqui por isso?

_ Sim, ela chegou a Porto Real nas vésperas do casamento de Joffrey, mas, eu já estava casada com Tyrion. Então, ela não poderia simplesmente me tirar de lá e... – a revelação muda totalmente o semblante de Robb, que se revolta e interrompe o relato da irmã.

_ Aqueles malditos lhe forçaram a se casar com o anão? Eu cheguei a acreditar que ele era o único ser decente daquela desgraçada família... – brada o Jovem Lobo.

_ E você não está errado, Robb. Tyrion não é como os outros Lannister e tentou me proteger de tudo aquilo... E, ele nunca... Nós nunca... Foi um casamento falso. – a garota procura superar o desconforto de todo o contexto e se explicar aos irmãos.

_ Então, o que aconteceu em Winterfell? Briene lhe ajudou a escapar, Sansa? – Jon busca avançar o assunto para saber se estariam correndo perigo de encarar alguma retaliação por parte dos novos Senhores do Norte.

_ Sim, ela me salvou dos homens de Ramsay... Mas, eu fugi com a ajuda de Theon.

_ Theon? Então, ele está ainda vivo? Onde? Quando eu puser as minhas mãos nele... – é a vez de Sansa interromper o acesso de raiva do irmão.

_ Robb, ele também era prisioneiro de Ramsay, foi torturado por anos e...

_ E o que? Ele ter sofrido não apaga que ele traiu a nossa família e invadiu a nossa casa... Isso não faz com que Rickon e Bran voltem a vida, Sansa!

_ Ele não matou Rickon e Bran! – Jon e Robb se voltam a nova informação sobre os irmãos menores – Eles fugiram e... Theon confessou que não conseguiu encontra-los. Ele matou dois órfãos e queimou os corpos para que não reconhecessem.

_ Eles estão vivos, então?! – questiona Jon, tendo a fala praticamente corroída pela voracidade do antigo Rei do Norte

_ Ele assassinou dois meninos inocentes que não tinham nada a ver com a sua loucura apenas para mostrar que tinha poder? Isso me parece ainda pior... Theon merece todo o mal que caiu e cairá sobre ele...

_ Robb, tente se acalmar! – Diana se manifesta pela primeira vez e procura acalmar o mais velho dos Stark – Não deixe que o ódio domine um momento de reencontro com os seus. – o rapaz parece refletir sobre o pedido da amazona por alguns momentos, enquanto Jon informa a Sansa sobre a situação caótica também na Patrulha da Noite.

Com o último relato sobre a rebelião e a recuperação do irmão, Robb troca um último e demorado abraço com Sansa antes de deixa-la a vontade no seu quarto temporário no Castelo Negro. Todos tinham muitas informações para assimilar e Sansa se mostrava exausta depois de tanta energia dedicada a luta pela sua liberdade e a emoção redobrada ao reencontrar não apenas os irmãos, bem como uma guerreira que teria salvado a ambos.

_ Você tem certeza que não precisa de mais nada? Eu poderia... – Jon tenta fazer com que a meia-irmã se sinta bem-vinda e segura novamente entre os seus.

_ Eu sei, Jon, mas não precisa. O lugar é muito bom... – o Senhor Comandante fita a jovem e desdenha da tentativa de elogio – Acredite, eu não preciso de nada mais.

¬_ Se quiser qualquer coisa, me avise. Meus aposentos ficam na porta a direta e Robb está logo adiante... E eu vou pedir para que acomodem Brienne e o escudeiro logo ao lado. Eu vou deixa-la descansar agora...

_ Jon! – ele volta alguns passos e encara a nova hóspede – Onde você vai?

_ Eu preciso organizar algumas coisas após a rebelião e... – ela interrompe para esclarecer a sua pergunta.

_ Não, eu não quis dizer... O que você vai fazer agora, mas o que pretende fazer a partir de agora.

_ Então, você me fez a pergunta errada. O que nós faremos? Se eu não cuidar de você, o fantasma de nosso pai voltará para me matar... Ele já mandou Robb de volta. – os dois riem baixinho da brincadeira com o retorno inexplicável do irmão mais velho.

_ Foi engraçado. Tem certeza que ainda é você ai dentro? – o Senhor do Castelo Negro revira os olhos pela provocação, mas cede a brincadeira – Certo. Então, o que nós faremos?

_ Não posso mais ficar aqui. Não depois de tudo que aconteceu. – ele pensa sobre o juramento e, literalmente seu coração já havia parado em função da Patrulha da Noite. De certo modo, ele já não se sentia mais preso às juras de uma ordem que colocou fim a sua existência. Ainda que por segundos.

_ Só há um lugar para voltarmos. Nossa casa. – cita Sansa.

_ Então, devemos ir até lá e dizer para os Boltons partirem?

_ Não, nós recuperamos a nossa casa.

_ Sansa, nós não temos um exército... E, faremos como a princesa Diana propôs: não vamos deixar que assuntos pesarosos dominem um momento de feliz reencontro.

A jovem respira fundo e cede ao pedido de Jon por um pouco de mais tempo para assimilar tanto. Ela concorda com um gesto de cabeça e Jon se aproxima para se despedir com um beijo terno em seu rosto antes de fechar a porta. Ela não era a única que precisaria lidar com alguns demônios, afinal. Jon ainda era o Senhor Comandante da Patrulha da Noite, de qualquer maneira. Ao menos, por enquanto.

Já Robb e Diana retornam para o pátio do Castelo Negro e contemplam os exercícios de treinamento dos recrutas da Patrulha da Noite. Desta vez, o exercício recebeu o reforço de um jovem ainda desconhecido, mas que já contara com a eterna gratidão do Jovem Lobo. Brienne já estava terminando de ajustar os seus pertences no local ocupado pela Patrulha e recomendou que o escudeiro aproveitasse a oportunidade para aprender ainda mais sobre o manuseio de espadas, escudos e lanças.

_ Em Winterfell, eu e meus irmãos costumávamos passar horas e horas praticando assim. Meu pai exigiu que todos aprendessem desde muito cedo. – Robb abriu um sorriso saudoso ao lembrar das lições e das brincadeiras com as espadas de madeira.

_ Você citou apenas os seus irmãos. Suas irmãs não foram ensinadas a lutar? – Diana lhe encara com uma expressão curiosa.

_ Diana, você precisa definitivamente conhecer a Arya! – ele fala sorrindo, mas volta a apresentar uma fisionomia mais serena na tentativa de explicar os costumes de Westeros e, sobretudo, do Norte – Acho que Sansa não gostaria destes assuntos, mas Arya sempre tentou bisbilhotar as nossas lições.

_ Você acha? Isso quer dizer que nunca perguntou à ela? – Diana cruza os braços com uma expressão zangada e Robb sente uma ligeira vontade de rir deste novo lado dela.

_ Meu pai nunca perguntou se as meninas queriam aprender a lutar, mas não lembro de tê-lo visto proibir Arya de ficar às voltas com nosso treinamento. – ele explica – Diana, esses são os costumes de Westeros... Não se espera que uma garota se interesse por espadas, cavalos e lutas. – ela lhe encara ainda mais irritada – Eu disse que são os costumes, não disse que são justos.

_ E não são mesmo! Não proibir alguém de fazer algo está longe de servir de incentivo.

_ Você está certa. Alguns dos nossos costumes são estupidos. Mas, isso não acontece apenas em Westeros, como em todos os lugares. – ele tenta explicar alguns conceitos estranhos a quem viveu unicamente na Ilha Paraíso.

_ Então, nós devemos começar a derrubar esses costumes pouco a pouco. – Diana abandona o humor irritadiço e sorri discretamente ao sugerir uma ruptura tão drástica com o mundo que ele sempre conheceu de maneira estupidamente simples. E, ele se deixou contagiar pela sensação de boa esperança. Ao menos, por enquanto.