_ Como eu lhe disse, meu nome é... - Brienne tentava desesperadamente cumprir a missão dada por Sansa e convencer Sor Brynden Tully, o famoso Peixe Negro, a juntar-se as forças Stark no Norte, mas o homem não mostrava pretensão de abandonar a sua própria guerra.

_ Brienne de Tarth, eu sei... Eu conheço o seu pai. - Peixe Negro cortou a conversa e passou a caminhar pelas muralhas do castelo da família Tully nas Terras Fluviais em meio ao um cerco dos Lannisters e Freys.

_ Ele sempre falou muito bem do senhor.

_ E, se estivesse aqui, eu diria o mesmo que estou dizendo a você. Se acha que vou abandonar o lar da minha família confiando na palavra do Regicida, você é uma tola! – grita o cavaleiro Tully, chamando a atenção dos demais soldados.

_ Vocês não conseguirão resistir ao cerco por muito tempo! – Brienne tenta retomar a conversa com o mínimo de ponderação.

_ Nós resistiremos mais tempo do que o seu amigo com uma mão tem!

_ ELE NÃO É MEU AMIGO! - brada Brienne diante do homem que deveria levar ao Norte como aliado.

_ Não? Quem permitiu que cruzasse o cerco e entrasse no castelo? Quem lhe deu essa armadura e essa espada com um leão no cabo? – o Peixe Negro questiona novamente as suas intenções.

_ Sor Jaime cumpriu a palavra à sua sobrinha, Catelyn Stark. Me mandou procurar Sansa, como Catelyn queria. Ele me deu esta espada para protegê-la. É o que fiz e continuarei fazendo até morrer! - A mulher se impõe e faz com que o cavaleiro apanhe e se concentre na carta escrita pela integrante de sua família.

_ Ela é exatamente como a mãe dela. Eu não tenho homens suficientes para ajudá-la a tomar Winterfell. - Brynden Tully desfaz a sua resistência ao diálogo com a enviada de Sansa, mas explica que não poderia ser tão útil quanto pensado na reconquista de Winterfell.

_ Você tem mais que ela possui.

_ Ela quer a sua casa de volta. Entendo isso. Mas esta é a minha casa. E se Jaime Lannister quiser... Ele que a tome como todos fazem!

O velho guerreiro devolve a carta, dá as costas aos dois mensageiros do Norte e se encaminha as muralhas de Correrio. Com o cair da noite, Brienne compreende que o prazo concedido por Jaime Lannister para convencer as tropas dos Tully a deixar o Castelo e partir para o Norte estava chegando ao fim.

A missão estava fadada ao fracasso. Ela somente poderia comunicar o resultado a Sansa e permanecer para ajudar na batalha que se sucederia em breve. Justamente, o pior dos cenários previstas na última conversa que tivera com o seu antigo prisioneiro e atual amante da rainha dos Sete Reinos.

Em uma manobra, Jaime Lannister libera Edmure Tully para que o verdadeiro senhor de Correrrio tome posse e abra os portões por conta própria. Com o chamado de Edmure, alguns oficiais optam por desrespeitar a vontade de Peixe Negro e entregar o comando ao senhor que estava de volta. Ao notar toda a tramoia articulada pelo Regicida, o experiente guerreiro se dirige para o local mais distante do Castelo, às beiras do rio na companhia de Brienne e Podrick.

_ Vocês poderão fugir por aqui! – indicou o Peixe Negro!

_ Venha conosco! – Brienne e Podrick entram na pequena embarcação e esperem para que o guerreiro também tome um assento.

_ Eu fugi do Casamento Vermelho, não fugirei mais. Este é o lar da minha família!

_ Sua família está no Norte! Venha conosco... Não morra por orgulho podendo lutar pelo sangue! – ela tenta convencê-lo sem quebrar a promessa que fez a outro membro da família Stark.

_ Você serve e servirá Sansa muito melhor do que eu jamais serviria. – o cavaleiro revela o pesar por não poder contribuir com a causa.

_ Então, volte para servir ao seu rei! – Podrick arregala os olhos pela informação revelada e o Peixe Negro mostra confusão – Você disse que enquanto estiver vivo a guerra continuará, não é? Então, venha conosco e sobreviva... Robb Stark está vivo!

O barulho da invasão ao Castelo de Correrio se torna cada vez mais próximo e Brynden Tully gasta alguns segundos para avaliar todas as suas possibilidades. Morrer como defensor da casa de sua família ou acreditar na palavra de uma desconhecida? Ainda assim, ele prefere apostar na teoria mais improvável que ouvira nos últimos anos a se deixar ser vencido pelo Regicida.

Ele viu quando o 'Jovem Lobo' foi morto, teve seu corpo conduzido até um desfiladeiro e jogado ao mar pelos malditos Freys. Como Robb Stark poderia ter resistido a tudo isso? Como seria possível? Ao adentrar a navegação, ele compartilha os remos com o jovem escudeiro e tratam de partir de Correrio o quanto antes. Ele tinha uma nova missão pela frente, provavelmente, a sua última missão de sua vida.

Com o retorno do grupo comandado por Jon Snow e Sansa com apenas algumas centenas de novos soldados aliados, Robb voltou a se culpar pelos erros cometidos durante o seu reinado. Se boa parte das casas nortenhas virou as costas para os últimos herdeiros de Ned Stark, a responsabilidade era inteiramente sua por não conseguir corresponder ao legado do próprio pai. Por isso, o Jovem Lobo recebeu em silêncio a missão de liderar e resguardar ao comboio do Povo Livre que não poderia lutar e seria protegido pela Patrulha da Noite no Castelo Negro.

Os dois irmãos procuraram convencer Sansa a integrar esse grupo e retornar a proteção dos antigos irmãos de Jon, mas a jovem foi irredutível: queria estar frente a frente de Ramsay novamente e ver a sua queda. A princesa de Temiscira se surpreendeu com a coragem demonstrada por uma moça que sequer dominava as formas básicas de combate, decidindo, então, permanecer com os demais soldados e conhecer o terrível inimigo antes da batalha. No entanto, ela assegurou novamente as crianças, idosos e mulheres com crianças que seria a sua guardiã quando a hora chegasse.

Ao cumprir o dever determinado por Jon, o antigo Rei do Norte não acompanhou o primeiro contato com o usurpador de Winterfell. Mas, ao retornar de Castelo Negro, ele foi impactado com todas as consequências desta pequena e detestável reunião antes da grande batalha. Diana, que sempre demonstrou compreensão e gentileza para com todos os seres vivos desde que a conhecera na Ilha Paraíso, não conseguiu esconder o asco tomado daquele homem após poucos minutos na sua presença.

"Ela é uma boa mulher, sua irmã. Aguardo ansiosamente tê-la novamente na minha cama. E ainda me apossarei desta impressionante e desconhecida 'dama de companhia'. E vocês são todos homens bonitos. Meus cães estão desesperados para conhecê-los... Não os alimento há sete dias, imagino que partes comerão primeiro".

A ameaça de Ramsay Bolton não chegou aos ouvidos da irmã caçula, mas foi plenamente captada pela filha de Hipolita. A crueldade dos homens ainda era algo pouco familiar para a Princesa das Amazonas, que começava a se questionar cada vez mais se a mãe estaria certa: "os homens não merecem a nossa ajuda". E essa reflexão se tornava muito mais indefinida ao pensar que homens que estava a considerar justos e confiáveis, como Jon e o próprio Robb, também agiam com violência em determinados momentos. A vida fora de Temiscira não era nada simples.

Tanto a revolta do Jovem Lobo quanto os pensamentos turbulentos da guerreira precisaram esperar pelo Conselho de Guerra. O antigo Senhor Comandante da Patrulha da Noite estava convencido que atacar e tentar surpreender os invasores de Winterfell seria a única possibilidade, ainda que a vitória parecesse incerta pelos números.

_ Se ele fosse inteligente, esperaria dentro de Winterfell – ponderou Jon.

_ Não é do feitio dele. Ele sabe que o Norte está observando tudo. Se as outras casas sentirem sua fraqueza, não terão mais medo. Ele não pode permitir isso, o medo é o seu poder - ressaltou sor Davos.

_ E a sua fraqueza também. Seus homens são forçados a lutar por ele. Se sentirem a situação virar contra Ramsay...

_ Não são os homens que me preocupam. São os cavalos. Sei o que os cavaleiros podem fazer conosco. Você e Stannis nos cortaram como mijo na neve. - Tormund relembrou a derrota na chegada de Stannis quando ele e o Povo Livre estavam muito perto de acabar com a Patrulha da Noite.

_ Não se preocupe, cavamos trincheiras nos nossos flancos para não nos acertem como Stannis os acertou para lá da Muralha. Assim, eles não poderão nos atacar pelos lados - explicou Robb, enquanto buscava raciocinar com clareza e ser útil para seus aliados.

_ Deixaremos que nos ataquem. Eles tem os números, nós precisaremos ter paciência. Se deixarmos ele se infiltrar no centro, ele virará. Depois o cercaremos por três lados. - complementou o Cavaleiro das Cebolas.

Tormund sinaliza positivamente e a última conversa antes da grande batalha se encerra para os demais Conselheiros de Jon, mas a expressão compenetrada de Sansa mostrava claramente que a discussão estava longe de ser finalizada.

_ Então, você encontrou o inimigo e desenhou o seu plano de batalha. - Sansa se pronuncia pela primeira vez diante dos irmãos e de Sansa desde o fatídico encontro com Ramsay.

_ Sim, se isso adianta. – comenta Jon.

_ Vocês só tiveram uma conversa com ele e ficam articulando planos de como derrotar um homem que não conhecem. Eu vivi com ele, sei como sua cabeça funciona. Sei como ele gosta de machucar as pessoas. Vocês cogitaram alguma vez que eu posso ter algo a dizer? – emenda a jovem

_ Você tem razão. Se quer dizer algo minha irmã, esse é o momento. - Robb aconselha em um tom bastante grave.

_ Se acham que ele cairá na sua armadilha, estão enganados. Ele é quem prepara as armadilhas!

_ Ele está confiante demais! - rebate Jon.

_ Ele brinca com as pessoas. É melhor do que vocês nisso, pois é só o que faz.

_ Certo, e o que eu tenho feito? Brincado com vassouras na segurança de nossa casa? Lutei além da Muralha contra gente pior que Ramsay Bolton. Defendi a Muralha de gente pior que Ramsay Bolton. – exclama Jon.

_ VOCÊ NÂO CONHECE ELE!

_ Você está certa, Sansa. Então me diga. O que devemos fazer para vencer? Como resgataremos Rickon? - brada o ex-integrante da Patrulha da Noite.

_ Nós não conseguiremos resgatar Rickon. Para os outros, Rickon é o único filho legítimo de Ned Stark ainda vivo, o que faz dele uma ameaça muito maior do que Jon, um bastardo, ou eu, uma garota. Enquanto ele viver, Ramsay será contestado em Winterfell, o que significa que ele não viverá muito.

_ Nós não podemos desistir do nosso irmão! - Jon se incomoda com a frieza de Sansa e qualquer reação de Robb é desencorajada por um sutil movimento de Diana, envolvendo a sua mão.

_ Escutem-me, por favor. Ele quer que vocês cometam um erro!

_ Claro que quer! O que deveríamos fazer diferente? - Jon volta a questionar.

_ Eu não sei nada de batalhas. Só não façam o que ele quer que façam!

_ Sansa, isso é óbvio demais. - rebata Robb, retornando a discussão entre os irmãos.

_ Se tivessem pedido meu conselho, eu teria sugerido não atacar até termos uma força maior, ou isso também é óbvio?

_ Quando teremos uma força maior? Suplicamos a todas as casas, você estava comigo em cada conversa! Peixe Negro não pode ajudar. Temos sorte de ter estes aliados!

_ Não é o suficiente, vocês sabem disso! – ela volta a reclamar dos números reunidos.

_ Não é, mas é o que temos! Batalhas mais improváveis já foram vencidas... – Robb tenta contornar a situação entre os irmãos.

_ Se Ramsay ganhar, não voltarei para lá viva. Vocês entenderam? – o tom decidido de Sansa gera assusta aos dois irmãos.

_ Nós nunca mais deixaremos que ele encoste em você novamente. – jura Jon Snow.

_ Nós somos seus irmãos e é nosso dever protegê-la. Eu não cometerei o mesmo erro de antes. – promete Robb.

_ Ninguém pode me proteger. Ninguém pode proteger ninguém – Sansa abandona a tenda montada para Jon, sendo seguida por Diana.

_ Sansa, espere... Eu dei minha palavra que protegeria você e parte do Povo Livre que não pode se defender. E estou disposto a cumprir a minha promessa!

_ Eu acredito que a sua intenção é a melhor, princesa. Mas ninguém pode conter um exército por conta própria.

_ Isso nós veremos, mas confie em mim. – a amazona busca transmitir algum otimismo para a jovem filha de Ned Stark antes de se encaminhar para o seu próprio acampamento.

_ Você acha que Sansa está certa? Estamos subestimando esse maldito de alguma forma? – o meio-irmão bastardo procura alguma convicção no familiar que teria mais experiência em combate com exércitos vivos.

_ Acho que precisamos desconfiar e tentar antever qualquer movimento daquele miserável. Stannis tinha mais homens e recursos que nós e foi destruído em tempo recorde, como Brienne nos contou. – pondera Robb.

_ E qual seria essa armadilha de última hora? Eu estive nos arredores de Winterfell, não há escavações ou qualquer mudança no terreno que possa nos surpreender.

_ Se ele é capaz de tudo o que Sansa nos advertiu, não tentará algo tão estratégico. Aquele bastardo deve tentar mexer com a nossa cabeça, algo capaz de nos desnortear e que está em seu poder... Rickon – o nome do irmão caçula é dito em uníssimo tom.

Diferente de boa parte dos membros do Povo Livre e dos soldados cedidos por outras casas, Robb vagou por todo o acampamento sem pretensão alguma de repousar. Ele estava divagando sobre a sua real missão nessa segunda chance em vida, todavia, não conseguia desfazer o mistério das palavras profetizadas pela Mulher de Vermelho no Castelo Negro ou vislumbrar qualquer possiblidade de triunfo na batalha que lhe esperava ao raiar do dia. Se fora permitido retornar para deter o "Rei da Noite", não poderia ser derrotado por um miserável usurpador em pleno Norte. Ou esse seria o seu novo destino em uma segunda vida?

_ Princesa, posso entrar? - Diana gesticula que sim com a cabeça e permite a sua aproximação - A senhora estava no Conselho de Guerra, mas não quis participar propriamente.

_ Eu não faço parte deste exército e não estarei na batalha, você sabe.

_ Ainda assim, tem algum conselho? – ele tenta diminuir a recente e dolorosa distância que passou a existir entre os dois.

_ Não perca. Aquele homem é diabolicamente cruel.

_ Se isso acontecer, não me traga de volta, Diana. - Robb é brutalmente sincero e desarma a amazona, que passa a encará-lo com genuína preocupação.

_ Eu terei de tentar, ao menos. – a amazona dispensa a reserva que estava impondo ao seu antigo companheiro de viagem e se acomoda muito mais perto dele.

_ Eu estou pedindo que não me traga de volta. – suplica o Jovem Lobo.

_ Eu não lhe trouxe de volta pela primeira vez por opção sua ou minha... Foram os Deuses que permitiram o seu retorno. – ela tenta explicar o inexplicável.

_ E como tem certeza disso?

_ Se os Deuses Novos e Antigos, como vocês chamam, não quisessem você de volta, como eu o trouxe de volta? Não tenho esse poder. Ainda não entendo muitas coisas, mas talvez precisem de você para uma parte do plano. Ou por que você, dentre todas as pessoas do mundo, chegaria a Temiscira?

_ Eu não também sei, mas me pergunto que tipo de Deus faria algo parecido. -

_ Acredito que aqueles que guardam Temiscira e Westeros. Aqueles que temos, Robb Stark.