Título: Útil

Classificação: T

Disclaimer: Naruto não me pertence. Mas se a gente se organizar direitinho, dá pra comprar.

Sinopse: Eu sei que fiz o meu melhor, mas, de alguma forma, ainda não foi suficiente.


Em algumas noites, eu não consigo parar de pensar.

Meu corpo chega a estremecer com o impacto dos meus pensamentos. Eu olho para o quarto, a casa, tudo ao meu redor, e não me sinto merecedora.

Por vezes, eu penso em me levantar e sair. Nesses momentos complicados e noites difíceis, eu realmente acredito que o melhor que poderia fazer era ir embora. Sem destino programado, sem objetivo, só sair e sumir. Ir longe o suficiente para não deixar rastros, lembranças ou quaisquer que sejam os impactos que essa minha existência inútil possa causar.

Eu vejo, em um ritmo frenético de repetição, todas as vezes em que não consegui ser quem eu precisava ou queria ser.

Lembro da batalha na ponte, com Zabuza e Haku, em que tudo que consegui fazer foi assistir.

Eu me vejo chorando, desesperada, na floresta, durante o exame chunnin, querendo ter um pouquinho de coragem e ímpeto de pelo menos tentar fazer alguma coisa. E me sinto patética, por que sei, bem fundo dentro de mim, que não adiantaria ter qualquer atitude ali, por que eu não conseguiria ser realmente útil.

Relembro o ataque de Suna à Konoha, em que fiquei presa numa porcaria de jutsu de areia e não consegui sequer assistir.

Não consegui impedir Sasuke de ir embora, não consegui persegui-lo para trazê-lo de volta, sequer tive coragem de sair de Konoha para tentar. Só chorei, como uma criança, e implorei por uma promessa da qual me arrependo até hoje.

Sempre ciente da minha inutilidade latente, eu me esforcei. Tentei melhorar, tentei aprender e ser um pouquinho, ao menos um pouquinho, importante. Ter algum papel, conseguir fazer alguma coisa sozinha. E eu sei que fiz o meu melhor, mas, de alguma forma, ainda não foi suficiente.

Nunca foi.

Meus olhos se enchem de lágrimas toda vez que penso nisso, enquanto as memórias me assombram e a noite se torna pesada sobre meus ombros. Às vezes, eu me levanto, em silêncio, e observo a lua, as estrelas, qualquer coisa que possa me fazer desviar a atenção desses tormentos internos que me perseguem por tantos, tantos anos.

Mas, felizmente, a noite sempre acaba.

O sol nasce.

Você me abraça, preguiçoso pela manhã, e eu finalmente sinto que estou em casa. Seus olhos procuram os meus e seu sorriso se abre, num gesto lento, que me faz sorrir de volta.

Sinto seu coração bater, sua respiração amorna meu pescoço e você me murmura um bom dia daquele jeito arrastado, de quem não quer sair da cama. Eu fecho os olhos, sentindo meu corpo desarmar e derreter no teu abraço.

Parecendo saber por onde minha mente andava, você me agradece por tudo que te fiz, ao longo dos anos. Por ser sua amiga, por acreditar e me importar contigo enquanto o restante das pessoas apenas te via como um caso sem solução, um inconsequente. Por todas as noites que passei ao seu lado, no hospital, e por ter aceitado ir contigo naquele primeiro encontro, dois anos atrás.

"Sabe, sem você, eu não teria conseguido. Ainda bem que você estava aqui".

Eu quase choro ao ouvir, mas te dou um sorriso.

"Obrigada, Naruto".