O caminho em direção ao Distrito Haruno era perturbado pela voz alta da criança loira, que agitava seus braços ao contar a história de como conheceu seu novo amigo, o mesmo que tentava esconder as bochechas vermelhas pelas exclamações exuberantes dirigidas a sua pessoa.

Quanto mais perto ficavam do Distrito Haruno, mais notório era a diferença dele em comparação ao resto de Konoha.

Enquanto a Vila brilhava em luz e harmonia. A rua que separava o Distrito do resto de Konoha não tinha nenhum brilho. Tudo era sem cor e sombrio.

Havia um grande muro que parecia feito de ferro e aço preto, escondendo o Distrito Haruno dos olhos alheios e do restante do mundo. Não havia nenhum sinal de vida perto dos portões enormes e majestosos.

As três crianças encararam a rua a qual separava o Distrito do resto de Konoha e não poderiam deixar de pensar como parecia a entrada para o inferno. Não havia nem uma pequena planta no chão ou uma alma viva fora dos portões e isso começou a assustar dois garotos e deixar o último mais curioso.

Naruto, que tinha parado de segurar a mão de Sasuke quando começaram a sair da academia, procurou rapidamente a pequena mão quente de sua alma gêmea e a outra agarrou a de seu irmão que olhava fascinado para o portão sombrio. Não chegando a notar olhos esmeraldas o observando friamente de relance.

O pobre jovem Uzumaki não estava mais tão entusiasmado em conhecer a casa de sua melhor amiga como estava a uns vinte minutos.

Eles nem entraram no lugar e todo o ambiente já causava calafrios pelo seu corpo. Sua voz saiu um pouco trêmula ao tentar sussurrar em voz baixa para Sasuke.

- Né, T-teme! - Naruto apertou sua mão com força, chamando a atenção do jovem Uchiha.

- O que, Dobe? - Sasuke o encarou com um rosto irritado, tentando esconder que também estava com um pouco de medo dos sentimentos que o lugar causava.

Parecia que a morte morava por trás daqueles portões.

Naruto iria dizer que não estava mais com vontade de estudar e que seria melhor eles irem brincar no parque, mas naquele momento específico, sua amiga virou o rosto em sua direção e o olhou com atenção.

Seu rosto era inexpressivo, mas seus olhos esmeraldas o observavam como se perguntassem "Vai continuar ou vai ficar?"

Era como se Sakura-chan estivesse dando uma escolha para Naruto. A criança de cabelos dourados não sabia o que significava esse sentimento opressivo em seu peito, mas sentia que se não seguisse sua amiga para além daqueles portões, não haveria mais uma "Sakura-chan" para o olhar com esmeraldas brilhantes cheias de carinho.

- Estou ansioso para conhecer sua casa, Sakura-chan! - Naruto estava com medo e aterrorizado, mas ter sua amiga sempre ao seu lado era mais importante do que qualquer medo irracional de um portão velho.

Ele foi recompensado por um encolher de ombros indiferentes e esmeraldas o observando de relance. Seu rosto poderia estar em branco, mas Naruto sentia que havia uma faísca de exasperação divertida em seus lindos olhos esmeraldas.

Ele reafirmou sua determinação e apertou as mãos de seu irmão e de Sasuke. Qualquer coisa, ele sabia que sua amiga o iria proteger e que poderia empurrar Minato para o perigo iminente.

Seu irmão era forte e saberia escapar.

O tal irmão olhou engraçado para o medo camuflado de seu pequeno irmãozinho. Estava na cara que o lugar o deixou assustado junto com o jovem Uchiha.

Já Minato, ele estava em êxtase ao sentir a presença de selos cobrindo o enorme portão. O chakra que cobria sutilmente o lugar o deixava intrigado e Minato estava segurando a vontade de apenas tocar o portão e tentar desvendar os selos que o cobrem.

A pequena Haruno suspirou e tentou se preparar mentalmente para o que estava por vir.

Vamos ter que esta atentas a presença deles no Distrito e depois que forem embora.

Eu sei. Vai ser perigoso depois de hoje.

Perigoso para nós, não para eles. Nunca esqueça disso, Outer.

Sakura ignorou o aviso e tentou manter a mente clara diante da sua atual situação.

- Vamos - A pequena Haruno tomou a frente do grupo e caminhou tranquilamente.

Os garotos não tiveram oportunidade de perguntar como iriam entrar, porque ao chegarem perto daquele enorme e majestoso portão maléfico aos olhos de duas crianças, os portões começaram a abrir sem ninguém os tocar.

No momento em que os portão foram abertos por um comando invisivel, dois pares de olhos azuis celestes e um par de olhos negros como carvão, começaram a arregalar de espanto e surpresa diante do brilho das luzes, assim como o tanto de pessoas que andavam pela grande rua que se estendia sem fim dentro do Distrito Haruno.

Eles seguiram a criança Haruno, notando como o portão fechou sozinho depois que entraram.

Parecia que havia fantasmas o abrindo e fechando.

Eles pensavam que o portão os levaria para o inferno, mas agora perceberam que o levaram para um outro mundo.

As ruas brilhavam com diversas luzes coloridas, as pessoas andavam por todos os lugares sem direção, bebiam em grandes copos e dançavam em plena praça que o pequeno grupo passava por perto.

As pessoas pareciam enfeitiçadas por magia.

Tudo era tão brilhante e a música era tocada em todos os lugares. As pessoas riam, conversavam, bebiam e dançavam com alegria.

Era semelhante a um mundo de fantasia.

Sakura soltou um suspiro cansado pelos olhares de admiração daqueles três.

O Complexo Haruno era construído em duas partes. A primeira, era onde existia o comércio e todo tipo de negócios como bares, restaurantes, lojas e bordéis. Embora os seus bordéis, por serem de alta classe e os mais famosos, ficavam em uma parte considerada mais nobre do Distrito comercial. Essa primeira parte era a única onde os forasteiros poderiam entrar e desfrutar livremente pelo Distrito Haruno.

Claro, apenas com permissão ou pagando uma alta taxa para entrar.

Contudo, a segunda parte do Distrito Haruno, era onde o Clã Haruno vivia e era conhecido por ele como o verdadeiro Complexo Haruno. Onde tinham suas casas e lugares reservados unicamente para quem era do Clã Haruno.

Era a parte mais perigosa de todo o Distrito Haruno.

O que Naruto, Minato e o pequeno Uchiha viam com olhares surpresos e admirados pela exuberância do lugar, poderia parecer um mundo de fantasia a seus olhos ingênuos, mas por trás de cada sorriso, risadas e movimentos de dança, haviam Shinobis que tinha suas mão cobertas de sangue para pagar aquelas bebidas, comidas e companhias.

O cenário fantasioso que vislumbraram como surreal era ilusório e cruel, porque escondia a escuridão que existia por trás de cada sorriso e gesto.

Um exemplo bem claro era alguns membros do seu Clã e outros de fora, olhando para eles como se fossem brinquedos e comida que poderia ser descartada.

Olhavam para o seu pequeno grupo com intenções de destroçar seus corpos e mentes.

Sakura tirou o seu capuz, que escondia suas curtas madeixas rosadas e ficou na frente dos três, virando sua cabeça levemente para trás.

- A partir daqui, me sigam e não digam nenhuma palavra. Ouviram? - Sakura esperou a confirmação deles antes de prosseguir.

Minato observou com cautela e de forma calculista como os olhares dirigidos a seu pequeno grupo, que antes eram impróprios para crianças, tornaram-se cautelosos depois que Sakura tirou o capuz e mostrou suas madeixas rosadas.

Não havia mais intenção por parte deles de se aproximarem de seu pequeno grupo, pelo contrário, eles viravam as caras ou abriam espaço para eles passarem.

Minato poderia até diferenciar alguns Harunos do restante de outras pessoas que os rodeavam e percebeu como alguns o olhavam de forma analítica. Os Harunos que ele identificou e supôs que eram do Clã Haruno, miravam para o seu pequeno grupo, mais especificamente para Minato, Naruto e Sasuke com olhares de morte.

Eles não pareciam contentes por os três garotos estarem em companhia de Sakura.

Minato chegou a pensar que eles estavam sendo vigiados desde o momento em que apareceram em frente aos portões do Clã sanguinário.

Para um Clã que era famoso por suas personalidades violentas, cruéis, frias e possessivas, não era uma grande surpresa seu grupo ser observado no momento em que entraram pelos portões do Distrito Haruno.

Durante o caminho, Naruto, que tinha soltado a mão de Minato e caminhava somente ao lado de Sasuke com os outros dois à frente, teve seu ombro batido com força por um adulto e sua mão foi pega pelo homem estranho.

Antes que Naruto podesse gritar para o idiota o largar, Sakura apareceu na sua frente e colocou a mão por cima do purso do homem desconhecido e o olhou friamente.

- Solte e desapareça.

O homem começou a rir da ousadia da criança. Dava para ver que ele estava alterado e bêbado. Era um forasteiro dentro do Distrito.

- Quero ver você me fazer, pequena vadia! - Ele riu no rosto da criança Haruno, pegando uma faca em sua outra mão que estava escondida em suas roupas.

Naruto iria gritar pelo insulto dirigido a sua melhor amiga, Sasuke iria tentar defender Haruno do homem adulto e Minato estava prestes a cortar a mão do homem que continuava a segurar seu irmão de forma brusca.

A pequena cena deles começou a atrair a atenção das pessoas ao redor, mas nenhuma mostrou estar interessada em ajudar, pelo contrário, parecia que estavam assistindo uma peça de teatro divertida.

Isso, até que a peça acabou rapidamente.

O homem mostrou sua mão livre com a faca que pegou em suas roupas na frente do rosto da criança de cabelos rosados e olhos esmeraldas em ameaça.

Naruto, que era o que estava mais próximo da situação, foi o único do pequeno grupo deles, além do homem estranho, que ouviu o som de algo quebrando.

Em um momento para outro, o homem mostrou um rosto de dor ao sentir seu pulso que era segurado pela criança Haruno, ser quebrado sem nenhuma empatia ou misericórdia, mas antes de soltar um milésimo grito de sofrimento, sua mão que tinha uma faca apontada para o rosto da criança foi puxada e descartada com um movimento habilidoso.

Na mesma rapidez que Sakura desarmou o homem e quebrou seu pulso, ela pegou o rosto do homem com seus cabelos desengonçados e o empurrou com uma força assustadora ao chão.

Porém, Sakura não terminou apenas com um simples golpe.

Agarrando a parte de trás do pescoço do homem com força desumana, ela o bateu outra vez no chão, causando uma rachadura que logo foi manchada pelo sangue da vítima. Essa que permaneceu deitada inconsciente.

Para finalizar, Sakura o chutou com brutalidade para o outro lado da rua, mostrando o rosto destruído do homem, que tinha sangue por todo o rosto desfigurado e um nariz claramente quebrado.

Ela olhou ao redor para ver se alguma pessoa iria tentar outra brincadeira com alguém de seu pequeno grupo, mas as pessoas voltaram a fazer o que estavam fazendo com indiferença ao homem inconsciente no chão.

- Vamos embora - Sakura acenou para os meninos que tinha olhos surpresos para a cena que aconteceu.

Eles não pareciam estar com medo do ocorrido, pelo contrário, Naruto estava com estrelas de admiração nos olhos azuis celestes. O Uchiha tinha em suas piscinas negras, um olhar analítico como se tentasse analisar a manobra que ela usou e Minato tinha um sorriso sanguinário e divertido que foi logo escondido por seu característico rosto de garoto angelical.

As ruas que eles passavam começaram a ficar menos lotadas e as pessoas mais escassas. Todos pararam ao se depararem com outro enorme portão negro, esse que tinha alguns desenhos intrincados em sua estrutura.

Como da última vez, o portão abriu-se sozinho em um comando silencioso.

Sakura continuou em frente, mas aumentou seus sentidos e foco total ao seu entorno. Eles passaram pela parte mais fácil do Distrito, agora era a parte mais difícil até sua casa.

O verdadeiro Complexo Haruno.

Eles agora estavam em um território repleto de outros Harunos.

Qualquer som ou movimento estranho poderia ser perigoso nesse lugar.

Perigoso para nós que tivemos a ousadia de trazer forasteiros para dentro do Complexo Haruno sem autorização dos anciões, Outer!

E o você queria que eu me ajoelhasse para aqueles velhos pedindo permissão, Inner? Se quisermos ser respeitadas e subir na hierarquia, não podemos ficar sendo um tipo de cachorrinho em uma coleira com dono. Esse era um movimento que já planejamos fazer antes.

Sim, mas foi quando você tivesse conseguido mais poder dentro desse maldito Clã, Outer!

Sei que está preocupada, Inner, mas sabemos que eles iriam fazer algum teste em qualquer momento que eu estivesse despreparada. Trazer eles para dentro do Complexo, é um desafio e uma armadilha para os anciões do Clã Haruno.

Ter um ambiente controlado é bem melhor do que ser pega de surpresa.

Então, só precisamos esperar que esse seu plano improvisado e perigoso funcione. Será que eles caíram na armadilha ou não, Outer?

O aviso na fala de Inner mostrava o perigo em que Sakura estava.

Minato sentiu Naruto apertar sua mão com força, parecendo querer pegar algum conforto pelo contato. O mais velho Uzumaki entendeu, afinal, antes era tudo brilhoso e repleto de pessoas, mas agora, as ruas repletas de casas que se estendiam à frente deles era sombria e causava arrepios enquanto andavam.

Minato percebeu que diferente da outra parte do Distrito Haruno, Sakura caminhava mais devagar e seus olhos, embora impassíveis, eram mais frios e focados em seu entorno. Como se esperasse um ataque a qualquer momento.

Minato manteve sua postura relaxada, mas todos os seus músculos estavam tensos na preparação para qualquer perigo.

O lugar já mostrou que era perigoso e estava fora do regime de Konoha. Mesmo sendo dentro da Vila e fizesse parte dela, o Clã Haruno era quem comandava e ditava as regras dentro do seu Distrito.

O Terceiro Hokage não tinha poder neste lugar.

Dentro do Distrito Haruno, até mesmo os Anbus que vigiavam Naruto todos os dias, não tinham permissão de entrar. Kakashi o avisou sutilmente em seu caminho até os portões, em um momento em que Minato disse que tinha esquecido algo na academia, que ele e os outros Anbus não poderiam acompanhar Naruto dentro do Distrito.

Se eles tentassem entrar para seguir o jovem Uzumaki, os Harunos iriam ver essa ação como um desrespeito e poderiam atacar sem restrições, o que causaria uma confusão sem limites.

Porém, Kakashi avisou que eles não iriam tentar nada com Naruto ou Minato e Sasuke enquanto eles estivessem sendo escoltados por um próprio membro do Clã sanguinário. Pelo que Kakashi contou a Minato, entrar com um membro do Clã Haruno já era uma autorização por si própria. Contudo, alertou que embora nenhum Haruno tentaria matar seu irmão ou um deles, não queria dizer que não cogitaram fazer outra coisa no lugar.

Os Harunos eram imprevisíveis e gostavam de derramar sangue como diversão macabra.

Haviam algumas crianças Harunos sentadas nas calçadas, em cima das casas ou em um recanto conversando entre elas. Havia alguns adultos andando pelas ruas ou saindo e entrando em suas casas tranquilamente. Havia alguns velhos reunidos em um grupo pequeno em volta de uma mesa na calçada, jogando baralhos ou um jogo que tinha dados.

Tudo parecia tranquilo e em harmonia, mesmo assim, a impressão que Minato tinha era que ele estava entrando em um campo de batalha.

Nenhum deles olhava para qualquer um do seu pequeno grupo, mas Minato sentia que havia milhares de olhos os devorando nas sombras que cobriam o Complexo Haruno em todo o seu esplendor.

Esperando uma única brecha para atacar e cortar suas cabeças.

Desfilando pela rua a qual eles passavam, uma mulher exuberante de cor preta e logos cabelos negros andulados, caminhava majestosamente na direção a qual eles vinham.

Naruto, Minato e Sasuke encararam deslumbrados pela enorme beleza da mulher exótica. Ela usava um kimono de cor dourada com detalhes em preto e prata, que realçava o tom de sua pele escura, a qual brilhava em um lugar tão sombrio. Seus longos cabelos balançavam ao vento e no momento em que seus olhos fitaram as pequenas crianças, eles não poderiam deixar de pensar como aquela mulher parecia uma deusa com seus olhos verdes claros.

Os mesmos olhos verdes que assemelhavam as esmeraldas da pequena Haruno.

A mulher sorriu lindamente ao passar por eles e piscou um olho verde divertido para o grupo de crianças deslumbradas por sua presença.

Sua figura sumindo pelas ruas a distância.

- Parem de perderem tempo e vamos - Sakura os chamou chateada, ela teria uma conversa com Kyoko depois que retornasse ao bordel. Mulher astuta.

Ainda caminhando pela rua, seu grupo parou quando um pequeno dado de jogo rolou pelo chão e parou em frente aos pés da pequena criança de cabelos rosados.

Eles estranharam Haruno ter parado por algo tão simples como uma peça de jogo, mas sua amiga não se moveu do lugar, como se esperasse alguem vim pegar ou pedir o dado ao seu pés.

O som de uma bengala tocando o chão junto ao som do tic tac de um relógio antigo repercutiu pela rua, assustando dois garotos e deixando um terceiro cauteloso.

- Nossa! Então ele veio parar aqui? - A voz trêmula pela idade de um velhinho que surgiu atrás das crianças subitamente e assustou os três, fez-se presente - Acho que joguei muito forte e acabou indo longe demais.

Por algum motivo, parecia que a fala do velho tinha um significado oculto. Naruto e Sasuke acabaram atrás de Minato e Sakura, tendo o senhor de idade olhando fixamente e unicamente para a única Haruno do grupo.

A mesma que permaneceu calada diante do velho, o analisando friamente e esperando sua próxima ação.

O senhor de idade avançada era de baixa estatura e mantinha uma postura curvada, sendo apoiada por uma simples bengala de madeira. Suas vestimentas eram compostas por um kimono de cor branca com cinza, tendo detalhes em prata e um colar com uma gema negra em volta do pescoço o decorando. Seu rosto era todo enrugado, parecendo ter mais de cem anos de idade. Todavia, não foram esses detalhes que chamaram a atenção das crianças, mas sim, seus olhos totalmente brancos arregalados.

Ele era cego.

Mas, por algum motivo estranho, as crianças sentiam que ele os olhava profundamente, tão profundo que enxergava suas almas ao invés de corpos físicos.

O som de um pássaro dando voo foi ouvido, assim como o mesmo tic tac de um relógio antigo à distância.

A voz do velho retornou como um prelúdio da morte, era enrugada como seu rosto e antiga como a história do mundo a qual viviam. Levava consigo um peso da carência da vida e a podridão dos mortos.

O cheiro forte que o velho exalava fizeram Naruto e Sasuke quererem tapar seus narizes. Minato também estava tendo dificuldade por conta do ranço que sentia da pessoa a sua frente. O cheiro exalado do velho tocava um sino nas memórias de sua cabeça, mas ele não conseguia lembrar qual era a origem do cheiro.

A voz quebrada e rouca do velho voltou acompanhada com o sentimento de larvas subindo pelos ouvidos das crianças.

- Às vezes, um jogador iniciante é muito confiante e arrogante, acaba jogando muito forte sua peça de jogo, esperando a vitória e ele acaba caindo muito distante - O velho os olhou com seus olhos esbranquiçados e vazios, com uma voz arrastada. A cada palavra, ele dava um passo à frente - Você poderia pegar meu dado no chão, querida?

O sorriso que veio junto ao pedido, mostrou dentes pretos e amarelos, assemelhando-se a uma faca quebrada usada para matar. Era um sorriso que tinha um objetivo de ser gentil, mas acabou sendo algo macabro.

Mas, o velho realmente tinha intenção de sorrir gentilmente?

A pergunta foi dirigida à única pessoa que o velho dirigia seus olhos cegos, Sakura. Mesmo com uma aparência debilitada, ele dava a sensação de alguém superior que esperava que seu subordinado curvar-se em submissão.

Naruto não sabia porque, mas queria pegar o dado no lugar de Sakura-chan, mas uma força invisível o fez ficar parado sem poder mexer um músculo. Era como se uma sombra impedisse seus movimentos e seu peito começasse a sufocar com a sensação opressora. Ele só conseguiu acalmar seu estado trêmulo, quando sentiu a mão de seu novo amigo apertando a sua com força em sinal de apoio.

Sasuke podia sentir que o velho à sua frente e todo o lugar gritava perigo. Suas pernas não se moviam, era como se mãos invisíveis o segurasse no lugar.

Antes que Sakura pudesse responder, a sombra alta e grande de um homem apareceu como um sussurro sem som ao lado do velho macabro, uma mão com cicatrizes em seu ombro.

O velho não deu sinal de reconhecer a nova presença.

As três crianças ficaram assustadas pela presença repentina do homem.

Minato colocou seu corpo mais a frente de Naruto e Sasuke, analisando em seguida o homem à sua frente.

O homem estranho tinha o físico robusto de um shinobi de alto calibre. Cabelos longos e rosados escuros, quase vermelhos nas pontas, amarrados de maneira simples e caindo em seu ombro de forma fluida. Usava um kimono vermelho de mangas largas e da cor vermelha como sangue, sendo decorado em detalhes dourados intrínsecos por todo o kimono, esse a qual era aberto na frente mostrando o amplo peitoral do sujeito. Enfeitando sua orelha direita, havia um brinco longo ligado a outro com uma gema negra, a mesma que se assemelhava ao do colar que o velho usava em seu pescoço.

Porém, o que chamou atenção dos três garotos, foram as piscinas douradas como o sol em chamas no seu dia mais quente. Elas eram frias e mostravam crueldade em suas profundezas. Acompanhadas por um sorriso divertido e afiado nas bordas.

Ao falar, sua voz era melodiosa e preguiçosa, mas havia um tom perigoso que a acompanhava em cada palavra dita.

- Ojichan! Você não deveria incomodar minha Sakura-chan com pedidos insignificantes, ela está com seus "colegas" da academia agora - O homem disse, apertando sua mão em um aviso silencioso no ombro do velho.

O velho não parecia nenhum pouco preocupado com a nova presença e seus olhos leitosos assustadores ainda permaneciam na pequena Haruno.

- Oh! É mesmo? Então poderia pegar o dado antes de ir brincar com seus "colegas", querida? - O velho respondeu com uma pergunta de volta, uma ameaça velada por trás de suas palavras. Parecia que ele não desistiria.

Para a surpresa de todos, que pensavam que aquela conversa iria continuar por um tempo, uma risada divertida acompanhada de um sorriso vazio veio da pequena Haruno.

- Como eu poderia ir embora com os meus "amigos", querido Tio, sem ajudar um ilustre membro do nosso estimado Clã? - Sakura deu um passo à frente e se abaixou para pegar o dado, seus olhos estavam escondidos por suas madeixas.

O sorriso do velho apagou com a submissão da criança Haruno e ele parecia perder o interesse rapidamente. Embora o homem ao seu lado sorria mais divertido como se esperasse algo interessante acontecer em seguida.

A criança de cabelos rosados pegou o dado e se aproximou do velho com a intenção de entregar, pegando a mão livre do velho a sua frente e colocando o objeto lá. Quando levantou a cabeça que estava em uma pose de submissão, apresentou unicamente para o velho e ao homem ao seu lado, a visão de esmeraldas resplandecentes que brilhavam perigosamente em um mar de escuridão e início de loucura, acompanhado por um sorriso tão vazio como a escuridão da noite mais sombria.

- Às vezes, Ojichan, o jogador iniciante só está testando o campo de jogo antes de mostrar suas verdadeiras cartas. Não deveria subestimar e pensar tão baixo deles, eles podem ser aqueles que no final do jogo… devoram suas peças sem hesitação ou misericórdia, Ojichan.

A voz saiu melodiosa e calma no meio da tensão que cobria o pequeno grupo, mas a tempestade esmeralda e o início de loucura naquelas piscinas brilhantes, diziam o contrário.

A mão pequena da criança que continuava por cima da velha, tendo o dardo entre elas, apertou com uma força enorme para alguém tão pequeno, causando um rasgo na mão do velho que logo começou a sangrar, antes de se retirar com o mesmo sorriso no rosto infantil.

Não havia nenhum medo dentro das esmeraldas que encarava os olhos esbranquiçados do velho à sua frente.

A jovem Haruno se virou para os outros e começou a caminhar em direção a sua casa.

- Vamos para casa - Antes de virar seu corpo completamente para ir embora, Sakura proferiu umas últimas palavras ao ancião de seu Clã - Deveria prestar mais atenção e ter cautela com novos jogadores, Ojichan.

Os meninos a seguiram sem hesitação em seus passos, olhando uma última vez para o homem estranho de cabelos rosados vermelhos e o velho que tinha uma expressão assustadora no rosto enrugado.

Antes que Naruto, Minato e Sasuke virassem seus corpos totalmente para seguir a pequena Haruno, o rosto do velho começou a abrir em um sorriso macabro.

O sorriso não era normal, crescia de forma anormal e assustadora, mostrando seus dentes pretos e afiados. Os olhos brancos arregalados miravam sem piscar na direção de todos eles. A mão a qual Sakura tinha depositado o dado e machucado, foi colocada próxima à boca horripilante em uma expressão de euforia maníaca, em que o velho aterrorizante lambeu o sangue da ferida que descia por seu braço e pingava no chão.

O sorriso transformou-se em um aspecto sanguinário manchado do próprio sangue.

A risada começou pequena, mas o velho enrugado começou a rir de forma descontrolada com sangue manchando seus lábios secos e dentes afiados em um largo sorriso.

A risada lembrava a de um louco perto da morte.

Os três correram até Haruno que tinha uma expressão impassível no rosto. A risada do velho louco continuou mais estrondosa, logo sendo acompanhada por alguns outros que estavam assistindo a cena.

Parecia um cenário horripilante.

Minato tentou esconder o sorriso animado e eufórico do sentimento que crescia em seu peito. Arrepios continuavam a percorrer seu corpo, mas não era de medo, mas sim, de adrenalina.

Os únicos momentos que ele sentiu essa sensação eufórica, foram no campo de batalha, onde ele poderia matar e destruir milhares de pessoas livremente, banhando-se no sangue delas.

Arrepios subiram pelos braços de Naruto e Sasuke, os dois garotos correram para ficar perto da única Haruno sã, que não parecia estar pronta para os matar ou comer simples crianças.

O som de uma bengala batendo no chão conduzia em harmonia o tic tac do relógio que acompanhava o som das risadas enlouquecidas.

Aquele lugar era como um hospício de loucos famintos por sangue.