2 de agosto de 1936:
Ainda não tive a coragem de levantar da cama e tomar aquela poção, não conseguia parar de rebobinar a noite passada.
"Obliviate"
"Quem é você?"
Por que dói? Já sabia que isso aconteceria, então não deveria estar feliz que funcionou? Então por que dói? Por que todos os momentos que passei ao lado dele, parecem ser mais vividos e simples?
Mas não era isso que eu queria? Queria que ele me esquecesse e fiz, consegui o que planejei, mas o que isso me trouxe?
Sabia a resposta, mas apenas me virei na cama e observei aquela luminária que já fez muito por mim, tentando tocá-la para voltar para aquela felicidade que tive.
Porém, pensar no passado não era bom para a alma e devido a isso, deveria engolir esses sentimentos e me levantar mais uma vez.
Não posso ficar deitada na cama o dia todo, apenas por fazer a coisa certa, ou por pensar que tive que obliviar uma cobra...
Sou uma pessoa horrível e não quero sair daqui nunca mais, mas se eu não sair, não poderei ir para Hogwarts.
E é Hogwarts, o lugar que passei anos da minha vida querendo ir. Bom, ajudei a construir, mas não estudei nela...
Suspirei e me sentei na cama, dando pequenas batidinhas na minha bochecha e a motivação já estava me deixando ansiosa. Afinal, quem liga se perdi a única pessoa que me entendia? Posso encontrar outras.
Ou posso ser a única pessoa que me entenda, o que é muito melhor.
Saio da cama e retiro os meus anéis, os colocando em cima da mesa de cabeceira.
_ Vocês dois. - Olharam-me. _ Comecem a se despedir. - Tony caiu da cama, batendo seu rostinho no meu tornozelo. _ Não posso levar você para Hogwarts, meu amor. - O peguei do chão. _ Mas papai me prometeu que cuidaria bem de você. Você entende, não é? - Começou a chorar. _ Não chore, ou ficarei chateada. - O abracei.
_"Miau!". - Começou a chorar e não sabia o que fazer, parecia que estava matando-os.
Tudo estava dando errado e quase me joguei no chão para chorar também, mas apenas respirei e pensei positivo.
_ Tudo bem, levarei os dois comigo, mas você... - Cutuquei o Tony. _ Será um gato, não posso levar um Chupacabra para escola. - Continuei cutucando. _ Entendeu bem, mocinho? - Sorriu e o deixei no chão. _ Vocês são tão manipuladores. - Revirei os olhos.
Vou até a minha bolsa e retiro de lá, um vestido de uma criança de pelo menos dez a onze anos. Era um vestido simples e de um azul-claro, mas o colarinho era branco e daria para usar o broche que papai me deu.
Não precisaria usar luvas e isso até que era algo bom, já que sempre esquecia de usar quando saia de casa.
Contudo, esqueço disso e continuo pegando minhas roupas e as coloco em cima da cama, junto de um par de sapatos preto sem salto e meias.
Porém, a última coisa que retiro da minha bolsa foi a poção, a bendita poção.
A poção que me faria uma criança, bom, pelas contas e cálculos que fiz, tinha que tomar a poção toda e se tomasse apenas um pouco, voltaria a ter 26 anos.
Já que ela fazia a pessoa retroceder em dois, em dois anos, e se eu retrocedesse de 28 para 10 tão rápido, meu corpo não aguentaria e acabaria morrendo e não quero isso.
Deixo a poção em cima da cama, indo até o banheiro para tomar banho, pensando nos meus últimos momentos com meu corpo de 1,70.
Entretanto, não sentirei falta de ter seios medianos, de ter coxas grosas ou de ter pés que só cabem em sapatos de numeração 37 a 39.
Isso com certeza não sentirei falta.
Retirei minha camisola e a calcinha, indo direto para o chuveiro e o ligando.
Será que vou ter que diminuir os meus anéis? Como será a família Granger? Espero que não sejam esquisitos.
Mas isso tudo só estava me deixando mais nervosa, ansiosa para colocar tudo que pensei em prática, já que levei tempo para chegar aqui, para chegar o dia que colocaria a primeira coisa em prática.
Contudo, meus dentes batiam uns nos outros, meu corpo não estava tremendo por fora, mas tremia por dentro.
Era como se estivesse sentindo calafrios, mas esses calafrios viraram tremores, e isso era apenas a primeira coisa que estava fazendo e já estava assim. Ansiosa.
Imagina quando terminar a minha vingança, o que sentirei? Felicidade? Alívio? Ou medo?
Felicidade, com certeza será felicidade.
Desligo o chuveiro depois de alguns minutos e não uso toalha para me secar, estava com pressa. Faço o feitiço para secar o meu corpo e tranco a porta do quarto com a minha magia.
Sinto se o Abaffiato ainda estava presente no quarto e estava.
Vou até a cama e respiro fundo, pegando a poção e percebendo que minhas mãos tremiam um pouco, mas isso não me impediu de destampar o vidrinho da poção e beber um pouco do líquido aquoso e nojento.
Pensei que nada aconteceria, mas meu corpo formigava e meu ossos estalavam, meus músculos estavam rígidos, mas dava para aguentar, não estava tão ruim.
Apenas parecia que fiz um longo exercício e esse era o dia seguinte, com o corpo dolorido.
Continuei esperando algo grandioso acontecer, mas não aconteceu nada...
Agora vamos para o segundo gole e dessa vez terei 24 anos, mas mais uma vez nada aconteceu.
Tomei mais um gole e dessa vez apenas senti um pouco de dor nas articulações, nada que me fizesse gritar.
Antes que tomasse novamente, observei Tommy e Tony que estavam me observando com certa cautela, como se a qualquer momento fossem sair do meu quarto para pedir ajuda.
_ Ficará tudo bem. - Esperava que sim.
Vinte, agora terei vinte anos...
Mas não estava preparada para a dor que surgiu.
Meu corpo doeu e me curvei para frente, meus pulmões buscavam ar e meus olhos doíam tanto que pensei que soltariam do crânio, mas não gritei ou cai nesse chão que era tentador.
Afinal, agora só tenho 20 anos, só retrocedi oito anos e deveria aguentar essa dor para as próximas que virão.
Ainda mais que essa dor parecia aquelas vezes que o nervo embolava e doía tanto que você não conseguia gritar, só fazia massagem no local para voltar ao normal.
A dor era parecido com isso.
Mas com o passar dos segundos, apenas prestei atenção no meu corpo que continuava igual, mas sei que isso mudaria.
Bebi mais uma vez, fazendo meu corpo ter 18 anos, mas não pensei que tudo fosse piorar drasticamente.
Até mesmo tive que me sentar no chão e respirar fundo, ou não aguentaria.
Isso doía tanto que estou quase pensando que estou sendo torturada novamente, mas sei que não estou, apenas tenho que aguentar, preciso aguentar.
Apenas preciso respirar fundo e soltar o ar devagar. Isso, boa garota.
_ "Miau." - Tentou vir até mim, mas o Tony o impediu. _ "Miau!". - Ficou irritado.
_ Está tudo bem, Tommy. - Gaguejei. _ Só preciso me acostumar e tudo ficará bem. - Sorri e sequei o suor da minha testa.
Deveria ter tomado banho depois que fizesse isso, mas já foi e agora vamos continuar.
Olho para a poção e a bebo novamente, sentindo as mudanças de ter dezesseis e parece que estou sentindo a varinha do Potter ferindo a minha pele novamente.
As cobras em minhas costas estavam agitadas e me causavam desconforto, porém, isso me lembrou de algo. Será que o little lord também está sentindo essa dor?
Merda! Não posso pensar em outras pessoas enquanto meus ossos estão diminuindo, quase me fazendo desmaiar.
Porém, apenas me joguei para trás, tentando não apertar tanto o vidrinho da poção, enquanto socava minha mão no chão para ver se o meu cérebro prestava atenção naquela dor.
Mas isso me fez recordar de algo, será que as minhas cicatrizes sumirão? Já que não me lembrei disso quando estava fazendo a poção, mas se as minhas cicatrizes sumirem, os cortes do meu pulso também não irão sumir?
E para descobrir isso, preciso ter quatorze e sentir mais dor, mas tudo bem, tudo para um bem maior, uma frase que papai e Dumbledore falavam.
Sentei-me no chão e sinto minhas costelas doerem pelo movimento, queria continuar deitada, mas deitada poderia acabar entornando a poção.
Por que minha vida é tão complicada? Não teria minha resposta e nem sei se queria, apenas observei a poção e a bebo mais um pouco.
Prendo a respiração e parecia que meu corpo estava sendo queimado vivo... Nunca mais! Jamais beberei uma poção desse tipo e se a Leesa do futuro tomar, espero que morra engasgada.
Porém, só preciso tomar mais duas vezes e acabou. Acabou...
Mas podia sentir que diminuí consideravelmente e tudo em mim se tornou menor, isso era tão estranho.
Contudo, meus pensamentos e crenças não diminuíram, mas o meu corpo, sim. Espero que meu corpo se acostume em questão de segundos, não quero parar o meu dia para tentar organizar os meus membros e minhas funções motoras.
Olho a poção e tomo coragem para terminar esse sofrimento, e mais uma vez a dor apareceu.
_ Só mais uma vez. - Tentei secar o suor que estava fazendo os meus olhos arderem. _ Última. - Bebo o restante da poção.
Dez... Tenho dez anos. Joguei-me para trás e não tinha forças para fazer nada, nem mesmo para segurar o vidrinho da poção.
O que o fez rolar dos meus dedos, já que meus músculos estavam tencionados e doía duas vezes mais que antes.
Minha caixa torácica subia e descia rapidamente e me sentia um pouco desconfortável. Parecia que alguém estava sentado em cima dos meus pulmões e chutava o meu estômago para que vomitasse tudo que estava nele.
Mas não poderia ficar assim, então, levanto minhas mãos devagar e vejo o quão pequenas elas eram. Era assim que eu era quando era uma pirralha? E só pela mão, já sei que sou uma pessoa fofa.
Continuo me observando, mas não conseguia ver tudo e minhas mãos foram minhas aliadas, me fazendo sentir as costelas e isso me lembrou daquela época.
O que me fez bater meus joelhos um no outro, os sentindo o quão ossudos eram e quase chorei por isso.
Voltei a ter anemia? Será que as manchas que tinha apareceram também? Não, não quero ser um pimentão cheio de manchas!
Fiquei de bruços e pensei que doeria mais, mas não foi assim que aconteceu. Apenas senti que meus seios não existiam, sou uma tábua de passar roupa.
Perfeito, não gostava de ter seios grandes mesmo, mesmo sendo medianos.
Tento me levantar do chão, mas não consegui fazer isso rapidamente e era só o que me faltava, tenho que me arrastar até o banheiro?
Tento fazer um feitiço, mas nada saia dos meus dedos e me senti péssima com essa descoberta.
Respirei fundo e não pensei em coisas negativas, apenas faço minha magia sair e ir até a bolsa, entretanto, ela ficou vacilando e só pude revirar os olhos.
_ Você está de sacanagem com a minha cara, meu amor? - Observei a massa branca que tremia.
E isso me fez reparar que a minha voz ficou fina, mas não tão fina para ser algo irritante, mas era estranho ter uma voz desse timbre.
_ Por que você não está funcionando? Passamos tanto tempo juntas e você quer enfiar uma espada nas minhas costas?
Negou minhas palavras e acariciou o meu rosto.
_ Você sabe que apenas me fazendo carinho não resolverá, não sabe? - Distanciou-se novamente. _ Você pode pegar a bolsa em cima da cama? - Arrastou-se e trouxe a bolsa. _ Obrigada.
Retiro uma poção para reabilitar meu corpo, ainda mais que não poderia ficar o dia todo aqui.
Bebo o líquido gosmento e sinto meu corpo esfriar rapidamente e era uma sensação bom.
Sentei-me no chão e começo a me alongar, os estalos que meu corpo dava de vez em quando era um pouco prazeroso, não sei o porquê.
Levanto do chão e minhas pernas tremeram um pouco, mas não me fizeram cair. Tento andar um pouco e era estranho, parecia que eu era um bebê dando os meus primeiros passos.
Mas consigo pegar a bolsa e o vidrinho do chão, colocando um deles na cama e outro jogaria no lixo.
Vou em direção ao banheiro e antes de entrar no chuveiro, jogo o vidrinho no lixo. Entrei no box e ligo o chuveiro novamente, não sairia com cheiro nojento de suor.
_ "Miau!". - Olhei para o lado e vejo Tommy em cima do Tony.
_ Estou bem, meu amor. - Sorri, tirando o sabão do meu corpo. _ Ou você está se perguntando se sou eu?
_ "Miau". - Como se eu fosse entender o que está dizendo.
_ Espero que seja a primeira opção. - Continuo tomando banho.
Quando desliguei o chuveiro, peguei a toalha e comecei a me secar, a minha magia estava tentando se adequar nesse corpo, e como tenho dois tipos de magia, demoraria um pouco mais.
Porém, antes de voltar para o quarto, fiquei me examinando minhas costas pelo espelho e lá estavam elas, as cobras, o vira-tempo e até mesmo as cicatrizes. Isso quer dizer que meu corpo retrocedeu, mas nem tudo fez isso.
Olho para o meu antebraço que continha os cortes avermelhados e um negro. Ainda bem que isso não sumiu...
Antes de ir para a família Granger, tinha que fazer o feitiço para esconder as minhas marcas, as cicatrizes e os cortes, mas a única coisa que me impedida de fazer isso agora, era a minha magia.
Saio do banheiro e começo a colocar a minha roupa, o vestido batia nos meus joelhos e tinha bolsos escondidos nas laterais.
Coloco a meia e calço os sapatos, que serviram perfeitamente e fiquei aliviada, pensei que tivesse que pedir a mamãe para poder diminuir os meus sapatos.
Olhei em volta e lembrei que tinha que escovar os dentes e pentear os meus cabelos, mas estava com preguiça no momento.
Vou até a bolsa e retiro dela o broche de coelhos, os colocando no colarinho e vendo que realmente ficou bom. Papai sabia perfeitamente como fabricar joias fofas.
Coloco a caixa e as outras coisas nela, seja os diários, desenhos estranhos que fiz quando estava entediada ou até mesmo a minha luminária.
Vou até os meus anéis depois de colocar tudo na bolsa e coloco o anel do Dragon no meu dedinho, que se encaixou perfeitamente. Mas o anel do little lord ficou um pouco folgado e era algo que poderia resolver.
Arrumo a bolsa no meu corpo e vou em direção ao banheiro, parando para me ver pela primeira vez e até que estou bem fofa, minhas bochechas estavam um pouco fundas, mas ainda continha um pouco de gordura e poderia ser chamada de boneca.
Mas o que mais me chamou atenção foi os meus cabelos que estavam imensos. Achei que o cabelo diminuiria e não cresceria... Preciso cortar o meu cabelo, não gosto dele grande.
Escovo meus dentes e penteio o meu cabelo, terminando tudo que deveria fazer aqui.
