_ Estão esquecendo de alguma coisa? - Ajeitei o colar.

_ "Miau".

_ Então vamos. - Abro a porta e eles foram à frente, mas logo corri atrás deles, descendo a escadaria rapidamente. _ Mamãe! - Gritei e escutei passos apresados. _ Mamãe, poderia me fazer uma trança e chamar o tio Victor? - Desci o último degrau.

_ Leesa? - Ficou chocada. _ Mon bijou é tão fofa. - Veio até mim e me abraçou. _ Que vontade que tenho de morder você.

_ Está me sufocando. - Dei batidinhas em seu braço.

_ Me perdoe, mas você está tão fofa vestindo esse vestidinho e você é tão pequena. - Me abraçou novamente. _ Coisa fofa. - Esfregou sua bochecha na minha.

Isso não acabaria tão cedo e quase chamei o papai para me socorrer, se não estivesse escutando seus passos.

_ O que está acontecendo? - Olhamos para ele. _ Leesa?

_ Ela não é a coisa mais fofa, meu senhor? - Apertou meu nariz, me fazendo ver um anel em seu dedo anelar.

Ele era bastante bonito e o desenho era um floco de neve com as pontas contendo safiras, nada muito extravagante, mas perfeito para a mamãe que gostava de coisas simples.

_ Papai, você tem bom gosto para anéis. - Tossiu. _ Foi você quem fez, não foi?

_ Foi. - Disse baixinho.

_ Parabéns para os dois. - Sorri e puxei a mamãe para a sala e papai veio atrás de nós. _ Poderia fazer uma trança?

_ Claro. - Ela me sentou na poltrona e ficou atrás de mim.

_ E papai, poderia chamar o tio Victor? Acho que a minha anemia voltou. - Concordou sem questionar e estava caminhando para fora da sala, mas a mamãe o fez parar perto de nós.

_ Leesa, o que são essas marcas? - Merda, esqueci disso.

_ Nada, elas vão sumir. - Não agora, pelo menos. _ Não se importe mui... - Mamãe saiu de trás de mim e se ajoelhou na minha frente, o que me assustou um pouco.

_ Claro que me importarei, mon bijou. - Acariciou meu rosto. _ Amamos você e só queremos o seu bem.

_ Sua mãe está certa, se você quiser, posso matar essa pessoa agora mesmo. - Era bom ter pessoas que poderia confiar.

_ Obrigada. - Gostava desse tipo de sentimento. _ Mas não é necessário...

_ Não é necessário? Minha princesa, essas marcas em seu corpo parecem ser de tortura. - Estava irritado e apertou a poltrona. _ Foi aquele seu avô? Vou matá-lo agora mesmo! - Quase se foi.

_ Espera! - Agarrei a sua mão. _ Não foi ele. - Não tenho nenhuma marca daquela época.

Acho que devo isso a Leesa que mudou as memórias daquelas pessoas, ou não teria apenas essas marcas de tortura.

_ A pessoa que a fez não nasceu ainda, então é difícil matar essa pessoa.

_ Então posso matar os ancestrais dele. - Como se fosse simples.

_ Não! - Soltei sua mão. _ Quero matar aquela pessoa com as minhas próprias mãos, entende? - Suspirou e saiu da sala. _ Papai, não faça nada. - Gritei, me agarrando no braço da poltrona.

_ Chamarei o Victor, pare de pensar no pior. - Gritou de volta e minha atenção foi para a mulher a minha frente.

_ Mamãe, você está triste? - Alisei seu rosto, mas sua concentração estava nos meus dedos.

_ Sempre me perguntei quem deu esse anel, foi aquela pessoa que deu a luminária? - Fez que o meu anel se adequasse no meu dedo.

_ Sim, ele me deu como presente de aniversário.

_ Mon bijou é tão forte, não senti nenhum feitiço em seu corpo. - Franziu a testa. _ Me desculpe, deveria me atentar mais a você e saber o quanto você sofreu nesses anos. - Neguei. _ Isso dói o meu coração e não consigo imaginar o quanto dói em você.

_ Estou bem, já passou. - Crispou os lábios.

_ Mesmo você falando que passou e que não dói mais, sei que deve doer quando você vê o seu corpo ou quando você se lembra. - Seus olhos brilharam. _ É devido a isso que você odeia o barulho? - Cada vez que falava, ela ficava mais triste. _ É por isso que você só dorme com a luz acesa?

_ Mamãe...

_ Não, eu deveria saber dessas coisas. - Apertou minha mão. _ Sou uma falha como sua mãe, me perdoe, mon bijou. Vou ficar mais atenta dessa vez. - Estava segura de suas palavras.

_ Como você poderia saber disso tudo? Aconteceu quando nem a conhecia, e não saio contando para o mundo sobre essas coisas.

_ Mas você deu sinais. - Isso a destruía e não sabia como fazer que ela não se preocupasse desnecessariamente.

_ Poderia ser apenas uma mania, você não tem culpa, mamãe. - Nem você e nem o papai.

Beijei sua testa e ela deitou sua cabeça no meu colo, me permitindo ver o Tommy e o Tony sentados no sofá.

_ Mas, por favor, me perdoe. - Não tinha nada para se desculpar, mas se falasse isso, ela continuaria falando sobre isso. _ Serei melhor daqui em diante.

_ Tudo bem. - Acariciei seus cabelos e escuto passos vindo de trás, mas não olhei para trás.

_ Minha princesa. - Victor apareceu e se ajoelhou, beijando minha mão.

_ Tio Victor. - Passei a chamá-lo assim desde que papai o chamou para visitar mais vezes a mansão.

Antes me esquecia de chamá-lo assim e apenas o chamava de senhor, mas acho que assim está melhor.

_ Você diminuiu, tomou alguma coisa? - Colocou sua maleta no chão.

_ Uma poção que me faria isso. - Não queria dar detalhes. _ Mas acho que voltei a ter anemia.

_ E você poderia me dizer como não percebeu um feitiço no corpo dela? - Victor ficou sem entender.

_ Mas o meu feitiço rastreia qualquer feitiço ou anomalia em seu corpo.

_ Qualquer coisa? - Perguntei e concordou.

Mas ele não descobriu sobre o meu sangue, juramento e sobre o feitiço que coloquei no meu corpo.

_ Isso quer dizer que a minha filha é mais forte que você? - Mamãe já tinha tirado a sua cabeça do meu colo e me olhou surpresa.

_ O que isso significa? - Fiquei sem entender.

_ Você é mais forte que bruxos de nível quatro. - Mamãe confidenciou.

_ Nível quatro? - Isso deveria ser bom?

_ Bruxos com um núcleo além do normal, porém, o meu senhor é um bruxo de nível dois. - Levantou-se.

_ Dumbledore também. - Confidenciou.

_ Então, sou mais forte que o tio Victor? - Tombei a cabeça e mamãe quase surtou de novo.

_ Talvez. - Tio Victor se levantou e ficou ao meu lado.

_ Farei um feitiço, então deixe sua mente completamente vazia. - Concordei com o papai.

Fez um círculo transparente, mas poderia ver o contorno dele e era estranho. Papai tentou colocar esse círculo na minha testa, mas ele se dissipou no ar... Isso deveria acontecer? Não estou entendendo mais nada.

_ Ela não é uma de nível dez. - Sorriam e tentava raciocinar como chegamos nessa ocasião.

_ Não sou uma bruxa comum? - Não sabia que bruxos tinham níveis, talvez seja a época.

_ Você não é quase um aborto. - Como a Mérope?

_ Que bom. - Não tinha animação na minha voz.

Fez outro círculo e esse era branco.

_ Esse é do nível nove?

_ Fui um pouco além, esse é do nível cinco. - Tentou aproximar o círculo na minha testa e a magia se dissipou.

_ Incrível. - Falaram.

_ Minha filha tinha que ser poderosa mesmo, vamos para o nível três. - Era um círculo cinza que também se dissipou.

_ Será que a mon bijou é mais poderosa do que o senhor? - Estava feliz, feliz até demais.

_ Já podemos passar o título de Lady das Trevas para ela. - Victor sorriu. _ Você é fraco.

_ Pelo menos é a minha filha, imagina se fosse outra pessoa. - Não era isso que ele falou quando tiramos a foto.

_ Você a mataria. - Dissemos e ele riu.

_ Não posso negar. - Fez um círculo preto. _ Esse é o segundo grau, se isso se dissipar também, não consigo medir o seu núcleo. - E não demorou muito para se dissipar e alguns vasos de flores quebraram em um estouro.

Bom, pelo menos isso terminou, já estava ficando cansada e continuo sem entender nada.

_ Acho que descobrimos o motivo de nenhuma varinha gostar de você. - Revirei os olhos, já sabia o motivo disso, mas não falei.

_ Você não é sensitivo? - Victor perguntou. _ Você poderia sentir a cor da alma dela. - E lá vamos para mais uma coisa que pensava saber, mas não sei mais.

Lembro do Caspra falando que meu pai era sensitivo, mas para mim, sensitivo era apenas pra saber se uma pessoa tinha magia ou não.

_ E o que isso significa? - Perguntar não dói.

_ Significa que ele pode sentir como é a alma da pessoa. - Mamãe explicou. _ Se ele sentir cheiro de rosas, quer dizer que sua alma está se desenvolvendo, se sentir cheiro de mel, quer dizer que a alma já é antiga. - Então vai dar mel, mas sempre que penso em uma coisa, dá outra.

_ O problema é que já tentei fazer isso. - O olhamos. _ Mas o cheiro que sinto vindo de sua alma é fumaça e podridão. - Uau, sou uma pessoa horrível.

_ E o que significa?

_ Não sei, por isso que nunca contei nada sobre isso.

_ Se a nossa princesa é tão forte que nem você consegue sentir o cheiro da alma dela, isso quer dizer que não posso fazer muita coisa para resolver os possíveis problemas que se escondem dentro dela.

_ E como podemos resolver isso? - Isso estava se complicando demais para o meu gosto.

_ Bom, você disse que tinha um curandeiro, mas ele pode não ter visto alguma coisa. - Não consigo me lembrar se ele falou algo desse tipo.

_ Então, o que você está dizendo é que ela precisa de uma pessoa compatível com sua magia? - Papai raciocinou, me fazendo entender um pouco da conversa.

Minhas cicatrizes levantaram suspeitas e a vinda do Victor foi crucial para pontuar o meu nível magico, algo que ainda não sabemos.

Mas devido a esse nível, descobri que tenho uma alma que não pode ser sentida.

Bom, dá, mas é podre e não sabemos o significado, apenas que agora, temos outro problema.

_ Sim, e eles devem compartilhar a magia em um ato de solidariedade.

_ Não conheço ninguém. - Tentei não lembrar de uma pessoa.

_ E como seria essa pessoa? - Mamãe perguntou.

_ Bom. - Cruzou os braços. _ Ela vai se sentir bem perto dela, se sentir confortável e será como uma conexão.

_ Tipo almas gêmeas? - Papai ficou irritado.

_ Não, é mais como se pudessem ter um vínculo mais forte do que apenas amizade. - Tentei não revirar os olhos. _ A magia da pessoa fará bem a nossa princesa e a magia dela fará bem a pessoa.

_ Como almas gêmeas. - Papai pontuou.

_ Não, almas gêmeas você precisa ficar com a pessoa destinada ou você morre, isso não tem nada a ver com ela já que a princesa pode achar essa pessoa e não sentir nenhum sentimento romântico.

_ Mas enquanto não encontramos essa pessoa, você poderia ver essas cicatrizes e a possível anemia? - Mamãe voltou ao assunto inicial, quase me fazendo agradecê-la.

_ Claro. - Apontou sua varinha para mim e perguntei para ele.

_ Essa pessoa será como um calmante? - Por favor, diz que não. _ Ele me fará sentir bem e me entenderá?

_ Podemos colocar dessa forma, ele é como um remédio que irá estabilizar o seu humor e você fará o mesmo com essa pessoa, mas não pense que isso será uma manipulação de sentimentos, ele apenas acalma você, mas você pode continuar...

_ Odiando? - Estalou os dedos e concordou.

_ Mas para que tudo isso aconteça, você precisa aceitar a magia dele. - Merda.

_ Entendo.

_ Bom, você não tem anemia, não mais. - Fiquei surpresa. _ Mas precisa comer mais e essas cicatrizes não irão sumir, sinto muito, minha princesa. - Já sabia sobre isso.

_ Tudo bem. - Tento sentir meu núcleo e a magia das minhas veias, mas continuavam se recuperando, porém, conseguia fazer um pouco de magia.

A magia do meu núcleo estava se adequando mais rápido, o que me fez fazer um feitiço para esconder as minhas cicatrizes.

Mas o que me aliviava mesmo era que eles pensavam que os cortes no meu pulso eram apenas mais cicatrizes.

_ Estou cansado. - Victor pegou sua maleta e se sentou no sofá com os meus bichinhos. _ Vou ficar aqui por um tempo.

_ Faça o que quiser. - Revirou os olhos e mamãe tirou os meus cabelos dos meus olhos.

_ Seu cabelo está tão grande, quer que cortar? - Ficou atrás de mim.

_ Sim.

_ Penny, me ajude. - Penny apareceu e ficou esperando os comandos de sua dona. _ Cortarei o cabelo da nossa princesa e quando as mechas caírem no chão, você os queima, ok?

_ Penny fará o que a madame ordenou.

Mamãe pegou a varinha e começou a cortar os meus cabelos, o que me fez lembrar de certas pessoas, mas a única pessoa que sentia saudades no momento era a titia e não sei o porquê.

Sinto cheiro de queimado, mas era apenas o cabelo que Penny queimava.

_ Muito melhor. - Fez a trança e sinto que meus cabelos estavam medianos novamente.

_ Obrigada, Penny. - Sorriu e saiu da sala.

Olhei para todos e suspirei enquanto arrumava a minha bolsa no meu corpo.

_ Espero que vocês fiquem bem. - Girei a anel de coelhinho no meu dedo.

_ Ficaremos, e iremos visitá-la de vez em quando. - Semicerrou os olhos. _ Então, por favor, não bata a porta no nosso rosto, ok? - Sentou-se no braço do sofá perto do Victor.

_ Meu senhor, saia imediatamente daí. - Ficou chocado, mas obedeceu ao que a mamãe disse. _ Existem tantos lugares no sofá e você quer logo se sentar no braço? Por Merlim.

_ Desculpe. - Pediu, mas ficamos rindo. _ Parem de rir. - Falou emburrado.

_ Acho que estou vendo uma coleira no seu pescoço. - Victor zombou. _ Vinda, você é a única que coloca juízo nele.

_ Mas, Victor, ele já tem juízo. - Ficou confusa.

_ Você colocou ainda mais. - Riu e papai revirou os olhos.

Sorri pela pequena confusão e senti a mamãe beijando o topo da minha cabeça.

_ Prontinho, mon bijou. - Concordei e me levantei, tentando não me importar com a despedida.

_ Acho que será melhor para você deixar os dois aqui. - Falou sobre os meus bichinhos. _ Sua magia ainda está fraca e deu para perceber o esforço que você fez para esconder as suas cicatrizes. - Então ele percebeu.

_ Ele tem razão, mon bijou.

_ Posso transformar o Antônio em uma coruja. - Antônio foi até ele e bateu em sua perna. _ O que foi?

_ Ele quer ser um gatinho, o transforme em um gatinho. - Saiu de perto dele sorrindo.

_ Ok, um gato, entregarei eles em um dia qualquer. - Deu de ombros.

_ Tem certeza? - Perguntei em dúvida, não queria ficar sozinha em um lugar estranho.

_ Tenho, sair com esses dois pode ser um pouco problemático. - Tinha razão.

_ Tudo bem. - Vou até os dois. _ Vocês ficarão aqui por mais alguns dias, papai vai levar vocês até mim, ok?

_ "Miau". - Parecia chateado, mas o Tony o empurrou.

_ Se comportem. - Os beijei. _ Vejo vocês por aí, e mandarei uma carta. - Abraço a mamãe e depois abracei o papai.

_ E eu? - Sorriu. _ Até algum dia, minha princesa. - O abracei e falei:

_ Não mate ninguém que eu não mataria. - Acenou e dou alguns passos para trás, saindo da sala.

_ Você não comeu nada. - Papai gritou, deveria comer, mas não estava com fome, estava ansiosa demais para comer.

_ Até algum dia. - Gritei e saio da mansão, tentando não me sentir desconfortável com a luz.

Porém, o dia estava agradável e daria para caminhar com tranquilidade, apenas que queria minha magia antes que chegasse naquela família, o que uma caminhada ajudaria.

Vamos andando, será melhor e caminhar um pouco não mata.