21 outubro de 1936:

Não me conhece? Isso é um pouco triste, Leesa. Mas tudo bem, me lembro muito bem o que você me disse e vou vê-la novamente, nem que para isso eu tenha que virar o mundo de cabeça para baixo.

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Já tinha semanas que esse homem não me mandava bilhetes e pensei que nunca mais falaria comigo, e até mesmo agradeci a Merlim por isso, afinal, não quero me lembrar do passado, a Leesa 2.0 fez isso por um motivo e não quero acabar com a ação mais inteligente e louvável dela.

Não quero ter nada com essa pessoa, então esse seria o último bilhete que leria.

_ Você pode ir, não tenho nada para mandar para o seu mestre. - Piou e foi embora pela janela que a sala precisa criou.

Antes de queimar esse bilhete, tive que cheirar o perfume que saia desse papel, era um cheiro bem estanho, mas era bom. Menta e pera, combinações nada propensas a serem boas, mas no final, se tornou um cheiro refrescante e agradável.

Mas preferia cheiro de livros, ainda mais os novos... Girei o meu anel e queimei o bilhete.

Olhei para o lado, vendo os alunos na sala precisa e respirei fundo, vamos voltar para as disciplinas.

Fui até um dos alunos e observei o que estava fazendo, quase me sufocando com a saliva devido aquela poção.

_ Isso está errado. - Apontei para o erro óbvio. _ Amortentia não faz com esses ingredientes, corrija. - Tremeu e não falou, mas começou a refazer a poção.

Ele sabia que não adiantava brigar comigo, ainda mais que ele e os outros estavam aqui por quase dois meses, observando como os instruo com maestria.

Claro, alguns ainda teimavam comigo e queria socar a cabeça dessas pessoas no livro mais próximo, mas o livro não merecia isso.

Contudo, existiam outros que me surpreenderam com a proficiência e a capacidade de me entender e colocar em prática.

Bom, tirando esses alunos que tinha prazer em explicar, os sétimos e os quintos anos estavam pirando pelas provas de maio e junho, meses que eles não queriam que chegassem, mas sabiam que chegariam.

Porém, fiquei surpresa pela Dorea zombar da situação desses alunos, já que me disse que quase não passou e agora estava rindo da desgraça alheia.

Bom, era melhor rir agora ou iria chorar ainda mais quando pensasse que no próximo ano ela estaria no lugar deles, e talvez eu sinta saudades das loucuras dela.

Mas até hoje não contei nada muito relevante para ela e ela não ficou em cima de mim para responder suas perguntas, o que foi ótimo.

Mas o que não era ótimo era esses alunos de hoje...

_ Nossa. - O garoto sorriu e até ficou pomposo em suas vestes azuis.

_ Está certo? - Estava fazendo um trabalho de poções, algo que quase pensei que fosse trabalho de Herbologia.

_ Não. - Sorri. _ Refaça do começo. - Ficou horrorizado e mudei de direção, vendo a mesa flutuante.

Ainda não usei a mesa flutuante, aquilo não foi feito para mim e acho que essas mesas avulsas eram mais atraentes do que uma mesa flutuante, ainda mais que pessoas poderiam cair de uma altura considerável e quebrar algum membro, ou morrer.

Isso me trouxe calafrios involuntários, como se isso já tivesse acontecido, apenas não estava lembrada...

Bom, mudando de assuntos, os alunos estavam apenas estudando e quando tinham alguma dúvida, eles me chamavam.

Porém, os outros estavam fazendo poções e já tivemos algumas explosões, mas nada grave ao bastante para ser levado para a Madame Syella.

_ Ela é pior que a minha mãe. - Sussurrou, enquanto chorava e mesmo longe, a sala me mostrava tudo com perfeição.

_ Não me chame de velha. - Gritei, o vendo se assustar.

_ Ela chamou a minha mãe de velha? - Segurei o riso e parei ao lado de uma garota.

_ Não coloque tanto, vai acabar explodindo e é movimentos leves e não agressivos. - Juro que se ela continuasse, a colher iria quebrar no meio. _ Você está fazendo pão? - Mexeu levemente a poção arroxeada. _ Isso, continue assim.

Olhei para o outro lado da sala e tinha alguns tentando fazer o feitiço Patronum, o que fez meu olho tremer, mas fui firme e forte.

_ Levante mais o braço e pense na coisa mais feliz que você já vivenciou. - Vou até eles.

_ Não acho que tenho uma lembrança feliz. - Não a julgava, não consigo fazer um Patronum.

Mas precisava mudar isso, porém, se até lá eu não conseguir fazer um Patronum, preciso ter algo que me ajude a combater os Dementadores e os Lethifold.

Contudo, apenas esqueci isso por algum tempo e falei:

_ Tentaremos fazer uma lembrança feliz, tudo é possível, até mesmo uma pessoa sem amor sentir amor. - Pisquei e ela sorriu.

Logo vou até a outro aluno e escuto pronunciando o feitiço errado, algo normal para um primeiro ano.

_ Está falando errado, pronuncie com "V" e não "U". - Olhou-me e ficou corado.

_ Pensei que fosse Uingardium Leviosa. - Fez sua franja esconder seus olhos.

_ A pronúncia do professor é mais carregada e acaba fazendo que escutemos o "U", ao invés do "V". - Que, na verdade, é um "W", mas não vamos entrar nesse assunto do "W" com som de "V". _ E está tudo bem, estamos aqui para aprender.

_ Por que ela é mais carinhosa com as crianças? - Revirei os olhos com a sala me fazendo ouvir isso. _ Estamos sendo torturados.

_ Consegui! - Vejo uma Lufana fazendo um Patronum perfeito e isso me pegou de surpresa. _ Olha que fofo, professorinha. - Sim, virei a professorinha deles.

E se antes só tinha 20 pessoas, o número triplicou e não posso falar que odiei, era satisfatório ensinar e ver todos – maioria – indo bem pela minha explicação.

Todavia, isso me fazia ganhar pessoas que iriam trabalhar para serem meus vigias, meus espiões das trevas.

E claro, já estou dando forma a minha guerra, mas não sei como fazer uma e mesmo lendo vários livros me dizendo exatamente como fazer... Não sei como colocar isso em prática, nem sei que tipo de guerra estou formando, é uma guerra mundial? Guerra global? Guerra total? Ou guerra revolucionária?

Mas o mais importante era: o que precisa para acontecer uma guerra?

São essas e várias outras perguntas que não sei como desenvolver na prática, porém, meu pai saberia me responder, mas perguntar isso para ele era estranho.

Pelo menos já tenho pessoas comigo, só falta a peça principal...

Mas até agora não implementei nada em Hogwarts, não fiz nenhuma estratégia ou ação, estou apenas dando aula e sendo uma boa garota, mas chegará um dia que essas pessoas irão me procurar para fazer algo.

E será nesse dia que vou sorrir e mostrar o que sou capaz de fazer, mas até lá, posso ser uma pessoa normal que segue as regras, mesmo não seguindo.

Bom, vamos voltar ao assunto principal novamente, ou vou acabar morando na minha cabeça.

_ Parabéns, Pandora. - Ela estava no terceiro ano e era ótima em DCAT. _ Seu gato é lindo. - Acariciei o gatinho e o vejo ir até a sua dona.

_ Não parece os seus gatinhos? - E falando neles, eles estavam sendo mimados pela Dorea.

_ Sim, se parece. - A parabenizei mais uma vez. _ Descanse um pouco. - Dei batidinhas em seu ombro.

_ Ok. - Olhei para o lado e vejo um Corvino colocando algo que não devia na poção, o que me fez correr e gritar:

_ Não coloque isso... - Explodiu mais um caldeirão e voou estilhaços para todos os lados, mas a sala protegeu os alunos e a mim. _ Santo Merlim, alguém se machucou? - Vou até o garoto.

_ Não! - Disseram e fiquei aliviada, me aproximando do garoto que estava cinza e com cabelos em pé.

_ Acho que não deveria inventar maneiras de melhorar uma poção fracassada. - Tossiu, saindo fumaça pelas orelhas.

_ Inventar poções está tudo bem, mas tem um limite do que podemos inventar. - Limpei o garoto e o curei. _ Na próxima você será melhor, apenas continue tentando. - Antes que pudesse responder, fui chamada.

_ Professorinha, me ajude. - Vejo Ector e ele não estava olhando para mim, e sim, para a Dorea que brincava com os gatinhos.

Vou até ele, ficando atrás de si, o fazendo não perceber o meu movimento e isso quase me fez lembrar do meu pai.

_ Se você continuar a olhando assim, ela vai acabar percebendo. - Olhou-me de esguelha e suspirei. _ Amor não correspondido? - Fez um muxoxo.

_ Professorinha, não viaje. - Apenas falei o que penso. _ Estou com problemas em história, me ajude. - Era sobre a Rebeliões dos Duendes. _ Até hoje não entendo essa matéria.

_ Ok... - Começo a explicar sobre a revolta/rebelião.

E pensar que isso mudou, um pouco, mas mudou, já que Gringotts foi construído mais cedo, os duendes presos por seus donos fugiram e se aliaram ao banco.

Já esses duendes do banco, eles fizeram a quebra de contrato dos escravizados e os deram emprego e moradia.

Contudo, como que em alguns países já existiam as varinhas, ficou mais fácil de obter varinhas para os duendes, mas eles perceberam que as varinhas não davam vazão para 100% dos seus poderes e eles as quebraram como forma de afrontamento aos bruxos, o que achei fantástico.

Mas o que mais me surpreendeu foi que os dois rebeldes, Urge e Louis não morreram de uma forma trágica igual a minha realidade.

E até os vampiros, mutantes e bruxos que fizeram uma bagunça nessa rebelião na minha dimensão, foram abandonados.

Entretanto, não foi apenas isso que mudou, porém, acho que fiz muito bem para os duendes do que pude imaginar, e acho que foi por isso que Caspra não tirou a bênção depois do meu pequeno surto.

Acho que ter estudado mais sobre essa realidade valeu a pena, mas não adiantava muita coisa, afinal, as informações que li em 1981 e 993 que a tia Narcisa escreveu não me ajudaram em nada.

_ Por que você explica tão bem? - Pisquei, retornado à realidade. _ Isso é meio que injusto, fiquei desde o primeiro ano tentando entender essa revolta/rebelião/revolução. - Falou tanta barra que a minha cabeça ficou confusa.

_ Apenas resumi algo que entendi, deveria fazer isso. - Fui para outro lugar, não queria prologar a explicação.

_ Professorinha. - Quatro pessoas de casas diferentes me pararam e tinham aqueles olhinhos de cachorro que caiu da mudança.

_ O que foi? - Cruzei os braços, enquanto os via se olharem.

_ Somos os vices-capitães do nosso time de quadribol. - Um grifinório comentou. _ E queríamos pedir algo a você.

Sim, existem Grifinórios e eles entraram de penetra, mas me juraram que não contaria nada para ninguém.

Mas não os "salvei", eles vieram com suas próprias pernas e mesmo assim, eles parecem gostar de ter uma cobra os domando.

_ Isso é um pouco estranho, não acham? - Sorri. _ Vocês são rivais, mas estão aqui me pedindo algo.

_ Acho que é mais sobre a necessidade e urgência do nosso pedido. - Um corvino confidenciou. _ A gente percebeu que essa sala é comandada por você, professorinha. - Acenei.

_ Correto.

_ E devido a isso, também vimos que podíamos ir um pouco além com o nosso pedido. - Sorriu o Sonserino, quase me fazendo estrangular essas pessoas.

_ Parem de enrolação. - Meu sapato batia no piso, os fazendo se apressar para dizer o que queriam.

_ Professorinha, por favor, compre novas vassouras para nós e nos deixe treinar com os nossos times aqui, quando a professorinha não estiver dando aula. - Um Lufano implorou.

_ Acham que sou rica? - Olharam-se e disseram:

_ Sim. - Não estavam errados, mas ainda me sentia pobre.

_ Mas o que ganharia dando vassouras novas a vocês? - Levantei a sobrancelha.

_ Alegraria os nossos corações? - O Lufano comentou.

_ E refaço a pergunta, o que ganharia com isso?

_ Talvez a Sonserina ganhe...

_ Mas a maioria dos Sonserinos não gostam de mim. - O que me deixava um pouco aliviada.

_ Professorinha...

_ Se um dia isso mudar. - Algo que não vai acontecer. _ Dou a melhor vassoura a vocês. - Ficaram chorosos e um pop foi ouvido por todos.

_ A comida chegou. - Debby chegou com os outros elfos do castelo, e aquelas pessoas chorosas abriram um belo sorriso e foram até os elfos.

_ Debby! - Gritaram de felicidade.

_ Nossa salvadora!

_ Nossa rainha. - A reverenciou.

O motivo disso? A Debby trazia comida e isso era um sinal explicito de pausa, então quando ela chegava era como se eles estivessem na copa mundial de quadribol e só faltava um ponto para a Inglaterra vencer.

Inacreditável.

_ Como já está tarde e amanhã alguns de vocês têm aula... - Amanhã era sábado e alguns iriam a Hogsmeade. _ Vocês estão liberados.

_ Viva! - Disseram e apenas revirei os olhos.

Queria apenas entrar na minha sala e ir direto para o meu quarto para enviar uma carta aos meus "pais". Já que eles me enviaram uma carta me avisando que devido a Batalha de Cable Street, Bastian ficou um pouco ferido, mas nada grave.

Mas queria saber o que ele estava fazendo no meio daquelas pessoas, ainda mais que não fazia sentido nenhum para ele estar ali, mas sei que não saberia de mais nada.

Bom, pelo menos não mandaram uma carta dizendo que encontraram uma pessoa "adequada" para mim...

Olhei para todos que se sentavam e comiam enquanto conversavam e girei o meu anel, saindo da sala precisa enquanto deixava os meus gatinhos para trás e eles sabiam onde iriam me encontrar, eles sempre sabiam.

E todos gostavam deles, os achavam uma gracinha e mesmo se eles encontrassem alguém que não gostassem deles, Hogwarts poderia protegê-los, como ela me protegia.

Antes que pudesse continuar nessa narrativa em minha cabeça, uma passagem se abriu para mim e passei por ela. As passagens sempre me levavam até a entrada do banheiro, mas nunca na minha sala e isso era interessante.

Ao sair da passagem e prestes a adentrar o banheiro, sinto uma mão firme agarrar-me pelo braço, detendo-me bruscamente.

Antes que pudesse reagir, sou virada abruptamente para encarar o rosto da pessoa que me deteve.

_ O quê... - Seu olhar é penetrante, denotando uma intensidade que me deixa momentaneamente sem palavras e medo.