_ Estou sempre a sua disposição e não irei morrer, ou desaparecer, sempre estarei com você. - Beijou o cantinho do meu olho.

_ Será que devo acreditar?

_ Se nem o seu feitiço de apagar a minha memória funcionou... - Chegou mais perto do meu rosto. _ Duvido que algo aconteça para que eu não possa cumprir as minhas palavras. - Deveria ter fugido daqui quando ele falou isso, mas não fiz.

_ Acredito. - Sussurrei, ele estava perto demais. _ Confiarei nas suas palavras, só dessa vez.

_ Fico honrado, minha coelhinha. - Deitei a cabeça em seu ombro e falei:

_ Não sou sua.

_ Ainda. - Fez desenhos estranhos nas minhas roupas.

_ Você se acha.

_ Muito. - Sorri e fechei os meus olhos. _ Se sente desconfortável? - Neguei, mas pensei melhor.

_ Eu que deveria estar perguntando isso. - Sussurrei.

_ Não me sinto desconfortável. - Não sei se posso acreditar. _ Estou encostado na cama, está bom assim. - Concordei. _ Está um pouco melhor?

_ Só me sinto suja por terem me tocado. - Apenas por pensar naqueles minutos, me sinto doente.

_ Tenho doce. - Franzi o cenho e tive que olhá-lo. _ Caramelo, quer?

_ Você está gastando o dinheiro? - Bufou.

_ Você me deu para gastar. - Ele tinha um ponto, mas não queria que ele desperdiçasse com coisas inúteis.

_ Pedirei que coloquem mais um pouco na sua conta.

_ Ainda tem bastante. - Levantei-me e me sentei na cama, o vendo ir até a mesa de cabeceira, abrindo a gaveta.

_ Dinheiro nunca é demais. - Sempre é bem-vindo.

_ Sei que sim. - Pegou a balas de caramelo e me ofereceu.

Peguei a bala e lembrei das balas de caramelo que tinha no escritório do Godric.

_ Obrigada. - Coloco a bala na boca. _ A Nagini está bem?

_ Sim, ela está caçando. - Tirei meus sapatos. _ Gostei do uniforme. - Mordi a bala.

_ Não tem muita coisa que represente a minha casa. - Comentei e continuei nesse tópico. _ Sua cor favorita é verde?

_ Não, é vinho. - Interessante.

Deitei-me no canto da cama e ela continuava o mesmo quando a fiz mais macia.

_ Você foi ao Beco Diagonal, não foi? - Fechou a gaveta.

_ Sim, você me ensinou como ir lá, caso tenha se esquecido. - Deitou-se ao meu lado. _ Por quê? - Pegou minha mão, brincando com os meus dedos.

_ Você comprou livros das artes das trevas? - O olhei.

_ Talvez, por quê? - Não me olhou.

_ Seus olhos ficam vermelhos quando está com raiva e isso quer dizer que falta apenas um passo para seus olhos ficarem completamente assim. - Apertou minha mão e a colocou em cima dos seus olhos.

_ Isso é um problema? - Perguntou baixinho.

_ Está me perguntando se odeio ou gosto de seus olhos vermelhos? - Balançou a cabeça. _ Não ligo para a cor dos seus olhos, apenas quero que eles me reconheçam.

_ Você quer ser reconhecida pelas coisas que faz, ou ser reconhecida por quem você é?

_ A segunda opção. - Me virei para si e observei minha mão.

Ela não deveria estar toda ensanguentada? Então por que nem sangue tinha nela?

_ Você me curou? - Sorriu de lado e concordou.

_ Seu pescoço, lábio e a sua mão estavam sangrando. - Ele já sabia o básico da magia... Era realmente um prodígio. _ Seu rosto estava todo arranhado e não queria ver você daquele jeito, então a curei. - Beijou minha mão. _ Também limpei suas roupas e você, você está limpa. - Meu coração bateu mais forte e isso era estranho.

_ Obrigada. - Voltei ao assunto e disse: _ Não quero ser a pessoa que salvou todos e se esqueceu de se salvar.

_ Você olha demais para os outros e se esquece de você.

_ Não, uso muito as pessoas e esqueço de mim. - Riu.

_ Certo, e um dia terá uma pessoa que colocará a sua segurança em primeiro lugar. - Revirei os olhos.

_ Por que uma pessoa faria isso? - Ficou me observando. _ Salvar a sua própria pele não é melhor? - Não quero que as pessoas morram me protegendo e não quero que aconteça o mesmo que aconteceu com o Dragon.

_ Se você pensa assim, não posso fazer nada, mas apenas se lembre das minhas palavras. - As chamas ficaram tremulas. _ O mundo pode estar em chamas. - Beijou as costas da minha mão. _ Mas você nunca irá encostar nelas, você estará em um lugar alto e verá todos morrerem queimados.

_ Ainda me pergunto o porquê disso, não quero que as pessoas se preocupem comigo...

_ Mas veio aqui para ser salva.

_ Andei com as minhas pernas e não prejudiquei ninguém.

_ Mas eles a prejudicaram. - Não consegui discordar. _ Coelhinha, você pode ter mais um trauma devido a isso e eles não merecem nada além da morte.

_ Não quero matar ninguém ainda. - Seu semblante ficou sério.

_ Mas não falei que seria você. - Alisou minha mão com o seu dedão. _ Você não precisa fazer todo o trabalho sozinha, já falei isso.

_ Cala a boca. - Fechei meus olhos, como se isso fosse impedi-lo de continuar. _ Não quero receber sermão justo hoje.

_ Mas você sabe que estou certo. - Nos cobriu.

_ Sim, infelizmente. - Suspirei e cheguei mais perto de seu corpo. _ Não deixe que aquelas pestes me acordem, não quero sentir nervosa e inquieta.

_ Tenho que contar algo. - O olhei e esperei que falasse. _ Você está tão fofa sendo uma criança. - Apertou minha bochecha e fiquei chocada com sua ação.

_ Devo agradecer o elogio? - Nunca sei o que falar quando me elogia.

_ Não, você nunca precisa fazer isso. - Beijou minha mão e olhou para o anel. _ Você está o usando bastante.

_ O que quer dizer? - Fiquei confusa.

_ Pedi que colocasse um feitiço calmante no anel e ele está quase se esgotando. - Em sua mão surgiu uma luz azul e fiquei surpresa.

_ Sua magia tem cheiro de pera. - Fiquei me sentindo quentinha.

_ Você consegue sentir o cheiro dela? - Parecia confuso.

_ Sim, mas prefiro outro cheiro.

_ Qual?

_ Livros novos. - Olhou-me surpreso e riu. _ Gosto desse cheiro e não sabia que esse anel tinha um feitiço.

_ Você não consegue sentir nada? - Perguntou sorrindo e a luz azul de sua mão sumiu.

Como poderia dizer a ele que não conseguia sentir mais nenhuma magia devido a uma escolha? Bom, um dia ele descobre.

_ Não, nem meus pais sabiam disso. - Bom, eles iriam falar sobre isso se soubessem.

_ Isso quer dizer que fui ao lugar certo...

_ Foi você quem fez o feitiço, se não fosse, você não saberia como recarregar o anel. - Beijou o anel.

_ Minha coelhinha é tão inteligente e merecia um prêmio.

_ Quero o prêmio. - Sussurrei e nossas testas se encostaram.

_ Hoje não, hoje não é um dia para isso. - Então que dia seria?

_ Tom. - Entrelaçamos as nossas mãos. _ Seja o meu porto seguro. - Piscou e não zombou de mim.

_ E você será o meu?

_ Até o dia que eu parar de respirar. - Sorriu e alisou a minha bochecha, gostava de suas carícias.

_ Isso não acontecerá porque não morreremos, coelhinha. - Como pode ter tanta certeza?

_ Tom. - Fechei meus olhos, estava cansada.

_ Sim?

_ Quando Potter quebrou as minhas pernas, desisti naquele momento. - Já desisti muitas vezes. _ Ele não era meu inimigo e poderia morrer em paz.

_ E agora ele é. - Concordei.

_ Mas sabe o porquê de ter desistido? - Ficou esperando. _ Ninguém viria ao meu auxílio, por isso que sempre faço tudo sozinha, porque ninguém virá para me ajudar.

_ Prazer, me chamo ninguém. - Fiquei surpresa e ri. _ Sou seu porto seguro, sou sua sombra, sua marionete, sou tudo que você quiser e apenas peço que me deixe estar ao seu lado. - Apenas espero que você não entre no meu...

_ Só se você me ajudar a tirar o que aconteceu comigo da minha cabeça, não quero ter algo me privando. - Alisou minha testa e seus olhos voltaram a ser vermelhos.

_ Você pode se lembrar, mas não terá essas reações, pensará que é algo feito com outra pessoa, mesmo sabendo que não é. - Não sabia que uma criança poderia ser tão poderosa. _ Mas seu corpo pode se lembrar e a fará ter pequenas ações impensadas. Está tudo bem assim?

_ Claro. - Bocejei. _ Gosto dos seus olhos vermelhos.

_ Boa noite, coelhinha. - Beijou minha mão.

_ Boa.

───※ ·❆· ※───

Abracei ainda mais o meu travesseiro que era confortável e quentinho, muito quentinho. Mas o cheiro do travesseiro não era de lavanda, era de livros novos.

Era um bom cheiro.

Esfreguei minha bochecha e sinto o travesseiro tremer, me fazendo ficar confusa. Travesseiros não tremiam, ou tremiam?

_ Leesa, você é tão fofa. - Franzi a testa e comecei a tocar no travesseiro, sentindo uma mordida na mão, o que me acordou para perceber meu nome saindo de sua boca.

_ Você me chamou de Leesa? - Não abri meus olhos.

_ Então o seu nome é Leesa? - Se fez de sonso. _ Apenas a chamei de qualquer nome e acabei acertando. - Seu riso ficou anasalado.

_ Little lord, não sou tão burra assim, você já sabia o meu nome. - Isso era certo. _ Como?

_ Aquele duende me falou quando fui ao banco. - Caspra...

_ Então você sabe o meu nome há bastante tempo. - Continuei com os meus olhos fechados.

_ Sim, mas queria que você me falasse o seu nome.

_ Você aguentou bem. - Riu e me fez cafuné. _ Não faça isso, ou acabarei dormindo novamente.

_ Não ligo. - Beijou minha testa.

_ Você está muito beijoqueiro. - O observei.

_ Antigamente não podia fazer isso. - Como se agora pudesse...

_ Não se esqueça que só diminuí, mas continuo sendo mais velha que você. - Estalou a língua.

_ Não teria tanta certeza.

_ O que quer dizer? - Levantei a sobrancelha.

_ Nada de importante. - Puxou-me para mais perto e me abraçou. _ Você é quentinha.

_ Estou viva.

_ Isso é bom.

Ficamos assim por bastante tempo e acho que acabei dormindo novamente.

⊰᯽⊱┈──╌❊╌──┈⊰᯽⊱

_ Garoto insolente! - Pisquei e tento me acostumar com a luz, mas antes que pudesse abrir meus olhos sem lacrimejar, alisei a cama e ele não estava ali.

Tom não estava na cama e nem mesmo no quarto, então onde estava? Queria pelo menos me despedir, mas acho que ele deve estar tomando café da...

_ Você poderia falar mais baixo, ainda não sou surdo. - Little lord.

_ Começarei a contar os dias para você ir embora desse lugar. - Escuto passos pesados.

_ Faço de suas palavras as minhas. - Entrou no quarto e quando me viu acordada, ele sorriu e fechou a porta.

_ Bom dia. - Veio até mim e beijou as minhas bochechas.

Gostava quando fazia isso, me sentia um pouquinho especial.

_ Dia. - Sentei-me na cama e cocei os meus olhos. _ O que aconteceu?

_ Ela brigou porque a porta estava trancada. - Deu de ombros.

_ Desculpa. - Me senti culpada por ter feito isso.

_ Por que você está pedindo desculpas? Isso não faz o menor sentindo. - Alisou minha bochecha.

_ Mas por minha causa ela brigou com você. - Mexi no anel.

_ Você está preocupada comigo, coelhinha? - Revirei os olhos e mudei de assunto.

_ Tenho que ir. - Levantei da cama e calcei meus sapatos.

_ Posso fazer o seu cabelo? - Iria concordar, mas neguei, o vendo ficar com aquele rostinho de cachorro abandonado.

_ Vou tomar banho. - Dei uma justificativa.

_ É só não molhar os seus cabelos. - Continuaria discordando, mas acenei.

_ Tudo bem. - Sentei-me na cama, o vendo pegar o pente em cima da mesa de cabeceira e ficou atrás de mim.

_ Você diminuiu.

_ Virei uma criança, mas crescerei. - Espero.

_ Espero por isso. - Desmanchou a minha trança e começou a pentear os meus cabelos. _ Você continua usando trança, isso a faz se lembrar de mim? - Sim...

_ Como se eu fizesse isso por você, é apenas mais prático. - Parece que você está ao meu lado.

_ Sei, mas continua usando o anel que a dei. - Levantei a mão e o anel estava no meu dedo, igual ontem.

_ Ele me acalma nas horas mais precisas. - Agora sabia o motivo. _ E foi um presente, não posso desfazer dele.

_ Você tem a luminária ainda? - Estava fazendo muitas perguntas.

_ Está no meu quarto e tive que ligá-la com magia, já que a escola não tem eletricidade. - Começou a fazer a trança.

_ Está indo bem na escola?

_ Os professores acham que eu deveria pular de série, mas não farei isso. - Não é como se negasse isso por ele.

_ Tão inteligente.

_ Eu sei. - Riu. _ Você acha meus olhos como o feitiço Avada? - Como estava lendo livros de artes das trevas, ele deve saber qual é a cor desse feitiço.

_ Por quê?

_ Todos falam isso. - Balancei minhas pernas.

_ Não. - Terminou a trança e o olhei. _ Não acho que a cor dos seus olhos precisa ter um significado tão mórbido. - Alisou minha pálpebra inferior.

_ Então o que você acha deles? - Quase peguei suas mãos.

_ Você quer realmente a opinião de uma criança? - Mordi meus lábios e quase tive vontade de voltar no tempo para me bater.

_ Você já vai fazer dez anos, não é tão criança assim. - Mesmo sendo.

_ Ok, direi o que acho deles. - Beijou a ponta do meu nariz. _ Mas não hoje.

_ Você sempre fala isso.

_ Porque se eu disser, você não vai acreditar em mim e quero que você acredite. - Apertou minha bochecha. _ A vejo em 1938?

_ O vejo em 38, mas...

_ Cumprirei o que você me pediu, eu honro com as minhas palavras e só espero que você não leve para o coração. - Nunca levaria.

Levanto da cama e olho para ele pela última vez.

_ Até.

_ Até. - Desaparato dali e apareço no lugar que a passagem me trouxe ontem.