Desço a escadaria e escuto Dorea falando:
_ Ela está demorando demais, devemos invadir aquela sala? - Parecia aflita, o que fez escapar um riso dos meus lábios.
_ Estou bem. - Cheguei até eles. _ E eles acreditaram em mim. - O que me fez agradecer o Veritaserum, algo que nunca acreditei que diria.
_ Sério? - Pareciam até trigêmeos com as sobrancelhas levantadas e com a pergunta em comum.
_ Sim. - Olhei para trás, vendo a escada voltando ao normal. _ Fui induzida pela poção da verdade. - Os empurrei para que saíssemos dali, e os livros me seguiam.
_ Ah, então você contou tudo. - Dorea suspirou aliviada _ Isso é bom.
_ E devido a isso eles serão expulsos. - Charis quase tropeçou nos próprios pés, mas ninguém percebeu.
_ Isso! - Gritaram de felicidade.
_ Devemos comemorar. - Safira tomou o braço de Charis, que ficou envergonhado por alguns segundos.
_ Cerveja amanteigada por minha conta. - Tossiu, quase mudando a cor dos cabelos, mas apenas me olhou. _ Mas como traremos a professorinha?
Dorea parecia esperançosa, o que me fez revirar os olhos pela sua agitação fora do normal. Então apenas continuei descendo a escadaria e eles vieram atrás de mim, igual a carrapatos.
Bom, ter pessoas confiando em mim era algo que estava sendo fácil de assimilar, mas essa aproximação e esse sentimento de ter a obrigação de confiar neles, era algo difícil ainda.
Tenho medo deles me traírem ou que tudo isso seja apenas um desejo íntimo do meu coração, dava medo, mas tenho que vencer isso e confiar.
Suspirei e os observei, conversando enquanto minha mente viajava mais uma vez para pensamentos mórbidos e estranhamente atraentes.
Acho que estou pensando mais que antes, talvez isso seja bom, ou não, não sei ainda.
Respirei fundo e vou até a parede da esquerda, sentindo os olhares dos três em mim, o que não me incomodou no momento, apenas dou batidinhas na parede, a fazendo abrir para mim.
_ Venham. - Não olhei para trás. _ Devemos ir para o segundo andar. - Passo pela passagem.
_ Ainda me surpreendo por você saber dessas passagens. - Safira comentou. _ Seria tão mais útil saber onde elas ficam. - Continuo caminhando, vendo a luz no fim do túnel.
_ Não sei onde elas estão. - Saio em frente do banheiro do segundo andar. _ Vem. - Entro no banheiro, sem observar o lugar, e abro a porta do meu salão, entrando nele.
Eles não demoraram para entrar e ver o quão magnifico meu salão é, até mesmo suspiraram em admiração.
_ Esse é o salão comunal da quinta fundadora? - Ector gritou, me fazendo surda nesse processo. _ Tem até um bar, devemos ficar aqui...
_ Não. - Olharam-me. _ Só vim trocar de roupa e deixar os meus livros. - Dei de ombros. _ Vou matar aula. - Os dois únicos certinhos me olharam. _ O quê? - Falei algo que não devia?
_ Você é parente da quinta fundadora? - Dorea colocou a mão na boca e tentou não rir. _ Falei algo de errado, prima? - Virou-se para ela.
_ Sim. - Abanou o rosto que estava ficando vermelho e me olhou.
Porém, antes de responder, vou até a escadaria e começo a subir os degraus, sentindo a minha consciência dizer para não contar, mas já estávamos aqui e eles eram os meus amigos, não é?
Subo o último degrau e olhei para trás.
_ Sou a quinta fundadora. - Continuei o meu caminho em direção ao meu quarto.
Entro no meu quarto, colocando meus livros no lugar e tiro minhas roupas, colocando uma roupa quente e confortável.
E antes que pudesse sair do quarto, escrevo um bilhete para o papai, pedindo outro broche, o que foi rápido e fácil.
Então a única coisa que deveria fazer era chamar o Penny... Bom, se ele não estivesse ocupado, ele apareceria.
_ Penny? - Um pop soou no meu quarto.
_ Minha princesa. - Fez uma mesura, quase me fazendo abraçá-lo por sentir saudades. _ O que o Penny pode fazer para você?
_ Entregue essa carta ao meu pai. - Estendi a carta. _ É urgente. - Pegou com todo o cuidado. _ Espero respostas. - Urgente... Dava vontade de rir dessa "urgência".
_ Sim, minha princesa. - Sumiu, me deixando a sós com os meus pensamentos de novo.
Mas dessa vez não pensei muito, apenas girei meu anel para me dar forças e respirei fundo, como se tudo pudesse se resolver com isso.
_ Vamos lá. - Saio do quarto, deixando tudo para trás, até a tristeza e o meu passado que tentavam me seguir de qualquer modo.
E mesmo sabendo que isso duraria um dia, era melhor que nada, não é?
Vamos lá, Leesa, um passo de cada vez...
Desço o último degrau e os vejo rindo, me fazendo sentir algo estranho no peito por ver isso, será que meus amigos sentiram isso quando viram alunos em seus salões?
_ Demorei?
_ Não. - Disseram.
_ Devemos fazer uma reverência ou algo desse tipo? - Safira tentou arrumar os cabelos bagunçados pelo Charis, mas ela ficava linda de qualquer jeito.
_ Não, apenas sejam vocês mesmos.
_ Faço isso muito bem. - O olhei, vendo que estava agarrado a uma garrafa de Hidromel... _ Nem vem, essa garrafa é minha nova amante. - Ector sempre dispersava a penumbra da vida, mesmo sabendo que ele fazia isso para esconder a sua.
_ Não ganhará cerveja...
_ Não escute ele, querida. - Abraçou ainda mais a garrafa. _ Ele está falando coisas desconexas e não existe ninguém entre nós. - Beijou a garrafa. _ Você é única.
_ Você fala isso para todas. - Dorea riu. _ Devemos ir? - Mudou de assunto. _ Devemos ser os primeiros para não ser muito suspeito. - Apenas concordei, mas observei Charis que olhava meu brasão.
Cheguei mais perto dele e perguntei.
_ Quer saber o que significa?
_ Mais tarde. - Concordei.
_ Vocês vão à frente. - Estranharam. _ Vocês precisam se mostrar na frente do professor responsável. - Concordaram. _ Encontro vocês lá.
_ Você fez uma passagem que dá para sair? - Safira ficou animada.
_ Sim. - Várias... Eu acho. _ E um dia mostro as passagens para vocês, mas agora, vão.
_ Sim, senhora. - Tento tirar minha bota e jogar no moreno. _ Desculpe, professorinha, você não é velha.
_ Tem apenas mil anos. - Dorea riu e semicerrei os olhos, correndo atrás de si. _ Socorro! - Correu de mim. _ Primo, me salve! - Charis deu um passo para o lado, o que a fez abraçar o Ector.
Os dois se observaram e já estava procurando pipoca para observar mais um casal em ascensão, apenas que o Metamorfomago não gostava que alguém roubasse seu protagonismo no romance.
_ Parem de gracinha e vamos. - Puxou a Lufana e eles saíram primeiro, o que acabou com o clima.
_ Adeus, querida. - Beijou a garrafa e a deixou em cima da bancada. _ Voltarei para pegá-la. - Piscou e apenas cruzei os braços, vendo aquela melodramática.
_ Se a professorinha deixar a gente voltar. - Zombou.
_ Não, não faz isso comigo. - Correu até mim, quase se ajoelhando no chão e agarrando a barra da minha roupa. _ Faço tudo que você quiser, beijo os seus pés. - Felizmente não fez isso. _ Mas não me peça para ficar longe da minha Mel. - Tão dramático.
_ A darei como presente se você passar em suas provas finais. - Ficou radiante.
_ Ok, obrigado. - Revirei os olhos. _ Devo dá-la um coelho de presente?
_ Não, tenho animais demais.
_ Ok, penso em outra coisa. - Iria falar algo com a loira, mas saiu da sala que sua boca falasse mais rápido que seus pés.
_ A encontro em Hogsmeade. - Deu alguns passos para trás e saiu.
Respirei fundo, tentando esquecer da agitação atual, mas eles eram animados demais e isso drenava a minha energia. Acho que não aguentaria isso por sete anos, já que precisava de paz e eles não pareciam entender isso.
Olhei em volta e percebo que estou sozinha, sem elfos ou Melissa, apenas eu e eu... Girei meu anel novamente e me sinto um pouco melhor.
Não estou sozinha, não mais e devo me acostumar com isso, devo esquecer o passado, afinal, vida nova, novos amigos e recomeços.
Não será aquilo que vai me impedir, eu só preciso deixar a magia do little lord fazer a função dela e depois posso matar aquelas pessoas como agradecimento por me ajudarem a ganhar um pouco de confiança dos professores.
O que encurtou o tempo para fazer isso, já que ao invés de sete anos, posso fazer isso em um ou dois anos.
Entretanto, sairemos daqui primeiro e depois penso sobre isso.
Saio do salão, indo em direção da saída do banheiro, já que a passagem já me esperava.
Passo pela passagem e continuo andando para sair dela.
Saio da passagem e o vento da manhã bateu no meu rosto, me fazendo tremer um pouco, mas era gostoso.
O cheiro da manhã era agradável e o povoado estava todo a vapor, e mesmo longe do centro, conseguia ouvir as pessoas gritando e rindo.
Desço um pequeno morrinho e continuo a minha caminhada para encontrar os quatro.
Mas meu olhar é imediatamente atraído para as lojas que se estendiam ao longo da rua principal.
Os vitrais coloridos das vitrines brilham sob a luz do sol da manhã, convidando os visitantes a explorar seus tesouros mágicos.
Entre as primeiras lojas que avisto está a conhecida taverna Os Três Vassouras, sua fachada de madeira antiga e janelas adornadas com lanternas mágicas exalam uma atmosfera acolhedora e convidativa.
O som abafado de vozes animadas e risadas contagiantes escapa pelas portas entreabertas, o que me fez ver a Dorea parada por ali.
_ Você chegou. - Sorriu e me entregou uma caneca. _ A Madame me deixou trazer a caneca.
_ A Madame Rosmerta?
_ Rosmerta? - Ficou confusa. _ Não, essa é a filha dela. - Bebi um pouco da cerveja e o gosto amargo e doce me fez fazer careta. _ Não gostou?
_ Não sou muito fã de coisas alcoólicas. - A entreguei a caneca de volta, não queria ver isso nunca mais.
_ Mas isso aqui não tem quase nada de álcool. - Observou o líquido amarelado e branco, o tomando em seguida.
_ Meu paladar discorda. - Não sei como eles gostavam disso. _ Da próxima me dê vinho. - Piscou surpresa. _ Gosto de vinho. - Será que ele também gostava ou era apenas a sua cor favorita?
_ Ok. - Voltou para o estabelecimento para entregar a caneca, mas Ector logo saiu correndo, vindo até mim.
_ Professorinha, você cuidou bem da minha Mel? - Pegou minhas mãos.
_ Nem toquei nela. - Como poderia tocar na esposa de alguém?
_ Ela é tímida. - Tive que rir, enquanto vi os dois saindo do estabelecimento.
_ Vamos nos sentar perto do lago. - A cacheada comentou. _ Aí não corremos o risco de algum linguarudo falar da professorinha. - Agora que reparei que estava de braços dados com o Corvino.
_ Isso, e podemos comprar alguns doces antes de ir. - Semicerrei os olhos, vendo uma ótima oportunidade fazer esse Black o meu cofrinho.
_ Vamos lá. - Dorea apareceu e me perguntou aonde estávamos indo e falei.
_ Vamos. - Puxou meu braço. _ Adoro a Dedosdemel. - Correu na frente de todos e tive que correr junto, ou meu nariz sofreria drásticas consequências.
_ Tem certeza de que é o Marius que ama doces? - Gritei, e parou de correr, rindo.
_ Mamãe privou a gente de doce, dizendo que estávamos sendo mau exemplo para aquelas pestes. - Deve ser os filhos de seu irmão.
_ Você os odeia tanto assim? - Nem pensou e balançou a cabeça.
_ Ainda mais a pequena diaba ou a Banshee. - Tremeu e encolheu o pescoço. _ Aqueles gritos são insuportáveis. - Isso me fez lembrar de algo.
_ Teremos que aguentá-la. - Parou e ficou horrorizada.
Meus passos pararam um pouco mais a frente nessa rua de paralelepípedos e a vejo fazer uma conta nos dedos.
_ Não! - Gritou e todos ao nosso redor nos olharam. _ Me tire daqui e me mande para Durmstrang. - Colocou as mãos na cabeça.
_ Não grite. - Examinei ao nosso redor. _ Está chamando atenção de todos. - Ficou chateada, mas seu humor melhorou em um passe de mágica.
_ Eu só aguentarei por um ano e você por seis. - Fez uma dancinha estranha de girar nos próprios pés.
_ Você terá que aguentar ela a vida toda e eu por seis. - Ficou emburrada de novo e entrou na loja de doces, e a segui.
O aroma doce e tentador de caramelos, chocolates e outras iguarias mágicas pareciam fluir das próprias paredes, convidando os transeuntes a entrarem e explorarem suas maravilhas.
As prateleiras estavam repletas de frascos de vidro brilhantes, contendo uma variedade infinita de doces mágicos que se estendem até o teto, cada uma exibindo seus tesouros de maneira tentadora.
_ Charis, você vai pagar os doces também? - Peguei alguns doces que nunca vi na vida.
Acho que passar doze anos em um lugar inóspito tem suas desvantagens.
_ Pode pegar o que quiser, tenho mesada para gastar. - Isso feriu e agradou meu ego.
_ Escutaram o que o rico falou, galera? - Peguei uma cesta. _ Podemos pegar até a loja que ele vai comprar. - Zombei.
_ Aí, sim. - Ector estava com os braços cheios de doces. _ Gosto tanto de você, mas prefiro a Mel. - Se pudesse, daria um tapinha no ombro do Corvino. _ Sabe como que é, né?
_ Claro. - Suspirou e foi atrás de alguma coisa ou pessoa.
Continuo colocando coisas estranhas que deveria experimentar. Até mesmo o sapo de creme de menta estava entrando na cesta. Bom, deve ser refrescante, afinal de contas, é menta.
Espero todo mundo terminar de pegar os doces na loja colorida.
_ Vamos? - Ector e Dorea não escutaram e continuaram pegando mais coisas. _ Posso ter uma mesada gorda, mas não é tanto. - Pegou os dois pela orelha.
_ Desculpa. - Disseram.
Vou até o atendente que sorria docemente e coloquei a cesta no balcão, deixando o platinado pagar a conta, já que a única coisa que queria era o meu saco de doces.
_ Vocês querem me falir? - Cinco cestas eram demais para ele?
_ Não. - Sim.
_ Isso nunca mais acontecerá. - Que trágico. _ Quanto deu? - Tudo já estava em sacos...
Isso me fez perceber que isso parecia um passeio em família, o que era um pouco assustador.
_ Setenta galeões. - Não é caro... Para mim.
_ Aqui. - Entregou o dinheiro e peguei o meu saco, saindo da loja sem olhar para trás.
O sol, emergindo timidamente entre as nuvens matinais, lançava seus raios dourados sobre a paisagem de Hogsmeade, mas mesmo com sua luz reconfortante, parecia insuficiente para dissipar o frio outonal que pairava no ar.
O mês de outubro trazia consigo uma brisa gelada que fazia com que até mesmo os raios do sol parecessem impotentes contra o ar frio que permeava a atmosfera.
Caminhamos em silêncios em direção à margem do lago, já que o cenário ao nosso redor era de tirar o folego.
Ele refletia a serenidade e a calma que envolviam o ambiente. A água do lago repousava tranquila, refletindo o céu nublado acima, como um espelho sereno que guarda os segredos e mistérios desse mundo.
Vou até uma das pedras que ali tinham, me acomodando nela, sentindo o frescor da superfície fria contra minha pele.
