Capítulo 6
"And right now
I have you
For a moment I can tell I've got you
Cause your lips don't move
And something is happening
Cause your eyes tell me the truth
I've put a spell over you[1]"
Spell, Marie Digby
Depois que Brienne conseguiu se acalmar, Jaime e ela ficaram conversando um pouco sobre a armadura que ele dera a ela e seus planos para iniciar seu treinamento, assim como o dele no uso da mão esquerda no manejo de uma espada; mas, é claro, que também compartilharam beijos e carícias.
Tudo era muito novo para Brienne no que tangia a esse assunto, porém a jovem se sentia como se conhecesse Jaime a sua vida toda.
Após algumas horas juntos, ele finalmente a acompanhou de volta a seu quarto. Ambos queriam continuar juntos por muitas horas mais, porém acharam que era melhor dar a noite por encerrada antes que fossem pegos.
— Jaime, eu nem sei como te agradecer por esse presente — Brienne falou pousando Oathkeeper sobre sua cômoda. A armadura ficara no quarto de Jaime, pois seria impraticável que a movessem no meio da noite. — Foi o melhor presente que eu já ganhei na vida. De verdade. E não me refiro só à armadura e à Oathkeeper, mas também ao fato de poder treinar com você. Isso vai ser realmente incrível.
— É sério que esse é o melhor presente que já ganhou? — ele perguntou estreitando uma sobrancelha e, percebendo que ele diria alguma bobagem, Brienne assentiu com a expressão mais neutra possível. — Pensei que o melhor presente que você já tinha ganhado fosse ter me conhecido.
— Esse foi provavelmente meu décimo presente favorito ou décimo segundo — ela respondeu sorrindo divertida. — Preciso fazer uma lista pra me decidir, mas acho que vai depender se você tiver me irritado no dia ou não.
— Ora, sua... — o cavaleiro se aproximou dela e a beijou apaixonadamente. — Discutiremos isso melhor depois do café da manhã. Durma bem, Bri. Sonhe comigo.
Jaime lhe deu um último beijo e estava prestes a sair do quarto dela, quando Brienne o segurou pelo braço e, em um ato impulsivo, o puxou de volta.
— O que fo...? — A jovem o silenciou com um beijo e, toda vez que ele tentava se afastar, ela repetia o gesto. — Se continuar assim, acabarei passando o resto da noite aqui — Jaime murmurou em meio aos beijos, abraçando-a.
— E qual seria o problema nisso? — Brienne questionou ofegante e com o rosto afogueado. O cavaleiro arregalou os olhos em surpresa e finalmente conseguiu se afastar dela o suficiente para analisar seus gestos.
— Bri, você... — Brienne não desviou os olhos dos dele, embora estivesse extremamente vermelha e sentindo-se constrangida.
— Eu não quero que vá embora. — Ela voltou a aproximar seus rostos. — Quero que fique comigo. — Brienne o beijou novamente.
— Você entende o que isso significa? — Jaime questionou tentando trazê-la de volta a realidade. — Detesto ser a voz da razão nesse caso, mas...
— Eu sei o que estou fazendo, Jaime — a jovem retrucou começando a afrouxar o laço da camisa dele.
— Sabe mesmo? — ele indagou surpreso e, por incrível que pareça, Brienne corou mais ainda.
— Bem, nunca fiz isso exatamente, mas sei o que acontece entre um homem e uma mulher depois que se casam. — Jaime arregalou os olhos. Não esperava por isso. — As criadas não são muito discretas no que se refere a esse assunto.
— E você tem certeza de que quer que eu fique? Logo estaremos casados. Não há pressa...
— Eu sei. Mas eu quero isso, eu quero estar com você hoje; então, a menos que não me queira... — Jaime riu em um tom baixo.
— Essa possibilidade não existe.
— Então, fique comigo — ela pediu encarando-o de maneira decidida.
— Pra sempre — Jaime concluiu voltando a beijá-la e guiando-a em direção à cama.
Quando a jovem já está acomodada na cama e o corpo dele está sobre o dela, Jaime se afastou para terminar de remover sua camisa com a ajuda de Brienne. A seguir, seus olhos seguem em direção à mão direita de ouro, que seu pai mandou fazer para substituir a que ele perdera, e a jovem nota isso.
Ela leva suas mãos até o objeto com o intuito de removê-lo, pois está mais do que claro que, naquele momento, aquela mão é um incômodo para ele. Jaime fica um pouco envergonhado com relação ao fato de a jovem realizar esse ato, mas tudo que Brienne precisa fazer para tranquilizá-lo é tocar seu braço com todo o carinho e amor que sente.
A jovem remove a mão de ouro com cuidado e aproxima o coto de seu rosto para beijar o ponto onde a mão de Jaime foi cortada, deixando-o boquiaberto e ainda mais excitado.
— Você não sente nojo de mim? — ele perguntou com uma feição que se dividia entre a de uma criancinha surpresa e a de um cachorrinho que foi chutado muitas vezes e tem medo de confiar nas pessoas.
— Nojo? — Brienne questionou com os olhos arregalados, sem soltar o braço dele. — Jaime, eu amo você. Tudo em você. Não há por que ter nojo.
Sentindo um peso sair de seu peito, Jaime sorriu para ela e voltou a se abaixar para beijá-la.
— Obrigado. Eu também te amo, Bri.
Naquele momento, Jaime entendeu que o que havia entre Brienne e ele não se resumia ao que seus corpos sentiam ou ao amor que existia entre eles. Era algo que transcendia qualquer coisa que ele já vivenciara. Se almas existiam realmente, as deles já estavam unidas antes mesmo que tivessem nascido.
— O que foi? — ele perguntou enquanto recuperavam o fôlego. Brienne estava com a cabeça recostada sobre o peito dele e o fitava com uma expressão intrigada.
— Você. Está quieto demais. Isso não pode ser bom — ela disse e eles riram.
— Não é nada demais — Jaime respondeu acariciando o braço dela e lhe dando um beijo na testa.
— Então você pode compartilhar comigo — a jovem replicou arqueando uma sobrancelha para indicar que não seria vencida tão facilmente e Jaime deu um sorriso matreiro.
— Preciso me lembrar que nunca conseguirei esconder nada de você antes de decidir se quero mesmo recitar meus votos — ele brincou. — Você sempre lê minha alma. Devem ser esses olhos azuis estonteantes.
— Não vai conseguir nada com adulações, Lannister — Brinne murmurou beijando o queixo dele. — É melhor dizer logo o que está te incomodando pra que eu não precise te torturar com cócegas. — Ela ameaçou apertando a lateral da barriga dele levemente.
— Ok. Ok. Eu me rendo — Jaime concordou rindo. — Eu só estava pensando em como foi preciso eu alcançar uma certa idade e também perder minha mão para que pudesse seguir meu coração de verdade; e, ainda assim, tive que usar subterfúgios pra isso. Em outros tempos eu não poderia me casar com você mesmo que estivesse apaixonado; isso nunca seria permitido.
— Em outros tempos é bem provável que você não se apaixonaria por mim. Se ainda tivesse sua mão e... — Ele a calou com um beijo ávido e intenso.
— Parece que nesse sentido eu entendo das coisas melhor do que você, Bri.
— Como assim? — a jovem perguntou ofegante, ainda atordoada pelo beijo.
— Era nosso destino estar aqui desse jeito. Era meu destino te encontrar. Tendo minha mão direita ou não, aqui ou em outra realidade, íamos nos encontrar de qualquer jeito; e eu te amaria da mesma forma que amo agora. E não há quem vá me convencer do contrário.
Os olhos de Brienne ficaram marejados.
— Quando você fala desse jeito... É impossível não acreditar. — Jaime sorriu e voltou a beijá-la.
— Que bom. Espero que nunca mais duvide...
Os dois ainda conversaram por alguns minutos, mas logo acabaram caindo no sono. Se alguém lhes perguntasse, era quase certo que ambos responderiam que, se pudessem não teriam dormido, pois aquele fora o melhor dia de suas vidas.
— Bri — ele a chamou com um sussurro.
— Hm. — A jovem abriu os olhos ainda sonolenta.
— Eu preciso ir — Jaime explicou ajoelhado ao lado da cama, como o rosto próximo ao dela. Já estava vestido. — Não queria ir ou te acordar agora, mas, se não for, sua aia poderia nos encontrar desse jeito; e como prometi sempre me despedir quando tivesse que me afastar, fui obrigado a te acordar. — Ele dá um beijo nela, acariciando seus cabelos ao segurar a cabeça dela pela nuca. — São só por alguns minutos, mas vou sentir saudades.
— Eu também — ela disse voltando a beijá-lo.
— Em breve poderemos ficar juntos na cama até a hora que bem quisermos, mas até lá vamos dar muitos passeios e aproveitar Tarth, ok? Não sairei dessa ilha sem estar casado com você — Brienne assentiu emocionada.
— É uma promessa? — ela brincou.
— E quando eu faço alguma coisa sem ser por meio de promessas? — ele respondeu no mesmo tom, lhe dando um último beijo e se levantando. — Até daqui a pouco, Bri.
— Até, Jaime.
Brienne ouviu a porta de seu quarto se fechando e voltou a fechar os olhos sorrindo. Dessa vez, podia afirmar com convicção para si mesma, que seu dia, com certeza, seria incrível.
[1: "E exatamente agora
Eu tenho você
Por um momento eu posso dizer que tenho você,
Porque seus lábios não se movem
E algo está acontecendo,
Porque seus olhos me dizem a verdade:
Eu coloquei um feitiço em você.". Tradução Livre.]
