Childhood Dream Of Draco Malfoy
Por Ginsy
[Harry Potter x Draco Malfoy]
Capítulo I
Arrastando-se pelo cómodo, e sem forças para o continuar fazendo, ele acabou tombando de joelhos no chão. O embate das suas costas contra as pernas do sofá fizeram-no morder o lábio inferior, proporcionando uma segunda dor. Passou a lingua sobre o mesmo, reparando que tinha gosto de sangue. Suspirou pesado, sabendo que não tinha muito controle sobre si mesmo naquele momento.
A prova disso foi o facto de ter pego o gargal de uma garrafa que alguém havia abandonado perto do sitio onde ele agora se encontrava sentado com as pernas esticadas e afastadas, num estado completamente lastimável, e virou-a só para perceber que esse alguém já tinha bebido todo o seu conteúdo. Resmungou qualquer coisa inaudível ao olhar para dentro do gargal.
Ao inicio, a ideia das noites de sexta-feira nos dormitórios da Sonserina deixavam-no entusiasmo, todo aquele conceito de muito álcool e sexo apaixonado em cima dos sofás, mas claro que nem todas as suas sextas eram assim tão selvagens e loucas como a fama que delas circulava pelos corredores de Hogwarts, e esta era uma delas.
Fechou os olhos por uns momentos assim que começou sentindo a sua cabeça começar andar à roda.
— Você está vendo aquela garota loira falando com Nott? — A voz esganiçada e irreconhecível anunciaram a chegada de sua melhor amiga, então ele abriu os olhos para o teto, mais pesados que nunca. Pansy Parkinson ajeitou-se ao seu lado no chão, com uma garrafa a metade em mãos. — Dafne Greengrass. — Ela deu-lhe uma leve cotovelada no braço sugestiva. — Quer ficar com você.
Malfoy não respondeu. O seu cérebro não estava capaz de processar nem metade da frase que Pansy havia dito. Voltou a olhar pelo gargal da garrafa que ainda segurava, inconformado com o facto de estar vazia.
— Draco, — Pansy arrancou-lhe abrutamente a garrafa da mão e olhou também pelo gargal, depois esboçando uma careta. — Você me ouviu?
— Como você é chata... — Bufou, inclinando a nuca para trás e coçando os olhos. A verdade é que ele sabia que ela havia dito algo, mas não sabia o quê, porém tinha uma mínima ideia do que seria. — Se não respondi é porque não estou interessado, não acha? — Encarou Pansy e desceu o olhar. — Essa garrafa ai ainda está cheia? Dê cá.
Na verdade, não havia muito o que ele achasse interessante, ultimamente.
Tudo e todo o mundo pareciam meio aborrecidos nos últimos tempos. Não havia um único propósito na sua vida que o fizesse querer levantar da cama.
Tudo começou no momento em que Draco se havia conformado, a contra gosto, que certas coisas simplesmente não estavam destinadas a serem suas. Para uma criança mimada como ele, estava longe da sua compreensão que nem tudo poderia ser do jeito que ele queria, mas já se havia debruçado no passado diversas vezes sobre o assunto e sobre como iria lidar com isso quando o momento chegasse, até não ser tão doloroso quando ele precisasse de seguir em frente, sem ousar olhar para trás.
E esse momento tinha chegado mais rápido do que ele havia pensado.
Ainda assim, ele não podia dizer que tinha desistido. Apenas estava fazendo uma pausa... uma pausa longa e indeterminada. Ele convenceu-se disso de forma a não machucar o seu orgulho.
Por conhecimento geral, os traços e os comportamentos de Malfoy eram fáceis de descrever. Eram típicos dele, por mais imorais e desprezíveis que fossem. A única coisa boa sobre a maneira como Malfoy se comportava era a sensação de segurança que transmitia, assegurada por uma ideia de previsiblidade.
Ninguém ficava supreendido se Malfoy sabotasse as poções dos seus colegas, ninguém ficaria surpreso se Malfoy fosse má lingua, nem se ele acabasse esbarrando propositadamente em algum aluno no amplo corredor e ainda mandasse esse aluno para detenção, porque era um direito seu que ele afirmava vivamente enquanto monitor, e toda a gente sabia disso, mas a sua aura temível era o suficiente para ninguém ousar se pronunciar sobre a injustiça dentro das estruturas de Hogwarts, não era da conta deles, então eles preferiam comer e calar a serem postos na lista negra da Sonserina.
Um inimigo de Malfoy implicava um tratado de guerra contra toda a casa, e aquilo seria a experiência mais próxima do inferno que alguém poderia experienciar.
Hoje em dia, após os rumores acerca do retorno de Voldemort, determinadas coisas haviam mudado, nomeadamente o modo como Malfoy se relacionava com os outros. A sensação era como tirar um objeto do sítio ao qual pertencia, e agora nada mais fazia sentido. Claro que, isso parecia estar sendo mais difícil de digerir para alguns do que para ele mesmo. Além que, havia quem não se conformava de todo com a ideia, ele referia-se a Harry Potter.
Logo aquele maldito intrometido, Draco soltou um longo suspiro e revirou os olhos com a força do pensamento.
Diferentes rumores surgiam todos os dias, e a cada dia que passava, a presença de Malfoy era cada vez mais suspeita. Era o que Hogwarts dizia. Com certeza os rumores haviam começado entre os dormitórios da Grifinória. Aqueles metidos, Draco xingou mentalmente e bebeu um gole da bebida.
E Potter pensava que se escondia tão bem nas sombras dos estreitos dos corredores, mas Draco ainda conseguia ouvir os passos apressados que o tentavam acompanhar assim que virava a cada corredor, propositadamente acelerando o seu passo e com um sorriso fechado no rosto, sentido uma ponta de prazer em ser alguém inconveniente. Aquela era provavelmente a única coisa que tinha retirado de bom com a sua forçada mudança de comportamento, o simples facto dele não agir do modo ao qual Potter se havia acostumado, era o bastante para fazer o idiota dar em louco, se ele soubesse que Potter ficaria obcecado assim consigo por estes motivos, ele teria agido desta forma mais cedo.
Mas Potter era subtil, quase que imperceptível.
Mas Potter estava especialmente atento ao silêncio incomum de Malfoy.
Mas Draco notava nas entrelinhas quando Potter tentava ser simpático quando os babacas dos amigos não estavam por perto, não porque ele tinha um pingo de compaixão pela sua pessoa, mas porque é mais fácil controlar os passos de alguém com quem você se dá.
Quem desconfiaria de um amigo?
Ao começo, era irritante até ao momento em que começou sendo mais aconchegante para o seu ego. Mas Draco não se amaldiçoou por isso, porque ele havia cobiçado aquela atenção por anos.
Era o seu sonho de criança.
Entre as demais coisas que haviam sofrido uma mudança, entre elas também estava Potter.
Potter não era fácil de ignorar, mas ele não estava deixando nada fácil para Draco.
Claro que aquele maldito suposto herói do mundo bruxo sempre encontrava um jeito de o magoar.
Era um sofrimento sem fim.
Draco pensou que seria fácil se não mexesse com ele, se não o provocasse e os detestáveis dos seus amigos. Inocentemente, pensou que Potter pudesse, por momentos, esquecer da sua existência e provocar um distanciamento entre eles, como Potter havia forçado durante os últimos sete anos.
Ele pensou que Potter se sentiria agradecido, mesmo nunca esperando um obrigado da parte do outro, e ao invés disso... isto.
Mas nem tudo tinha mudado como já era expectável, por exemplo, Potter ainda era a personificação da arrogância em pessoa e tratava-o com um certo distanciamento, não era propriamente mal educado, mas todas as suas palavras eram curtas e ponderadas ao mínimo pormenor quando dirigidas especialmente a Malfoy. E Draco... bem, Draco sempre poderia puxar briga com um Lufa-Lufa no corredor sem sentir o mínimo remorso quando se sentisse entediado.
Pansy viu as expressões de Draco transformarem-se em tristeza. Não era muito comum ver o seu melhor amigo melancólico, mas quando ele parecia tão miserável, as razões eram escassas.
— Nossa Draco, com essa carranca você vai acabar por ficar cheio de rugas. — A garota de cabelos curtos negros deu uma breve olhada pela Sala Comunal. — Você precisa de algo para o animar, Draco. E se fosse Astoria? Ela é-
— Pansy, — Ele pousou a mão direita na coxa da garota e olhou para ela com aquelas íris cinzas e impassíveis. — Se eu quiser alguém, eu arranjo alguém. — Fez uma pausa e deu um gole da bebida. — Porque você não tenta arranjar alguém para você e pára de me chatear?
Pansy roubou a garrafa das mãos de Malfoy.
— Você não acha que está bebendo demais hoje? Minha vez.
Pansy virou a garrafa sem hesitar.
— E você não acha que está mais chata que o habitual? — Draco observou Pansy dar mais um golo da garrafa, e com uma careta e sem muito equilibrio ergueu-se do chão, sempre se apoiando nos objetos ao seu redor. — Eu não me vou voluntariar para cuidar de você hoje. — Olhou ao redor da sala comunal. — Onde está Zabini? — Murmurou. — Nott! Nott, você, venha cá!
Pansy agarrou no tornozelo de Malfoy.
— Onde você vai, Draco? — Uma terceira figura chegou perto deles. — Oh, Nott. Faça Draco ficar. — Pediu fazendo beicinho. — Draco está querendo ir embora, Nott, faça algo.
— Você viu Zabini?
Nott deu uma breve olhada pela sala comunal da Sonserina, a sua visão também já um pouco baça devido ao álcool.
— Amigo, eu não estou vendo nada muito nítido. — Analisou Malfoy, que parecia mais embriagado que ele, porém a postura do outro ainda era elegante. — Você vai procurá-lo?
Draco esfregou os olhos com as mãos tentando ficar sóbrio, mas falhando redondamente.
— Eu não ia. — Suspirou alto. — Mas hoje é a vez de Potter fazer a ronda. Eu não posso dar o prazer aquele idiota de levar Zabini para detenção e tirar pontos da Sonserina. — Rápido falou, mas rápido Malfoy se desequilíbrou, mas ainda mais rápido Nott o segurou pelo braço. — Zabini é outro idiota. Eu deveria deixá-lo lá para ser comido por aquele ogre de óculos. Idiota. — Resmungou.
Nott teria soltado uma gargalhada se o tom de Malfoy não fosse tão sério.
— Malfoy, você mal se aguenta em pé. Não quer que eu chame outra pessoa?
— Mais alguém na Sonserina é monitor? Se houver , faça esse favor por mim e mande ele. Pansy você está dormindo?
Ambos olharam para Pansy estendida no chão, com a boca aberta e os olhos fechados, respirando alto.
Draco esfregou novamente os olhos e soltou uma breve lamentação antes de falar novamente:
— Não se preocupe comigo, preocupe-se com ela. — Com um movimento de queixo indicou Pansy a Nott e virou costas, a passos lentos deixando a Sonserina.
Apoiando-se nas paredes de pedras cada vez que as suas pernas ameaçavam desistir, Malfoy foi vagueando pelos corredores de Hogwarts, percebendo que talvez aquela não tenha sido das suas mais lúcidas ideia, talvez até uma atitude totalmente irracional. Com a sua sorte e pelo andar da situação, tanto ele como Zabini acabariam sendo pegos de forma vergonhosa.
O seu padrinho, Severus Snape, iria repreende-lo para o resto da sua vida.
Surgiu uma vontade súbita de vomitar, fazendo-o apoiar uma mão na barriga e outra sobre a boca. O seu estado era totalmente degradante e ele quase poderia jurar que o de Zabini provavelmente não estaria melhor. As suas mãos não o estavam ajudando a suportar o próprio peso e então Malfoy acabou por, inevitavelmente, cair de joelho no chão de mármore.
Aquele maldito havia nascido para o perturbar, só podia, Harry pensou ao subir mais um degrau, frazindo as sobrancelhas à medida que se aproximava de uma sombra que contrastava com a luz emitida pela lua naquela noite invernosa.
— Lumus.
A varinha de Harry acabou por transformar aquele borrão negro numa silhueta, então Harry subiu o último degrau na intenção de se aproximar daquilo que parecia ser uma pessoa.
Mas aquela hora, naquele sítio?
Mesmo no seu silêncio sombrio, Malfoy ainda conseguia ser um pé no saco, e ele teve a prova disso quando os seus olhos recaíram numa figura esguia, debruçada sobre o corrimão de ferro da Torre da Astronomia, sem muito equilíbrio, e a figura inclinava-se cada vez mais. Não demorou nem três segundos para Harry perceber que era Malfoy.
Aquele idiota.
— Malfoy! O que você está fazendo?
Claramente ele se havia entregado à loucura, Malfoy estava louco, foi o único pensamento de Harry antes de, em passos largos, dominado por uma certa aflição cada vez que via Malfoy se debruçar ainda mais, ter envolvido a cintura de Malfoy com ambos os braços e puxado-o para trás.
Delicadeza não era bem o seu forte.
Ele apercebeu-se disso quando em virtude de não ter controlado bem a sua força, Harry tropeçou nos próprios passos e acabou se desequilibrando e tombando no chão, ainda assim, protegendo Malfoy no seu forte aperto que muito provavelmente tinha acabado por esborrachar cada osso do corpo do outro.
Os óculos de Harry acabaram algures no chão. Ele não sabia onde.
Agora mais parecia que Harry tinha acabado de tentar matar Malfoy. E para não muito espanto seu, Malfoy parecia concordar da mesma opinião porque não demorou nem três segundos para Malfoy socar o rosto de Harry com uma brutalidade tanta que fez seu nariz sangrar na hora.
Malfoy ergueu-se rapidamente do chão meio atordoado.
— Merda, Malfoy!
— Merda você Potter! Você quer-me matar de susto? Imbecil! Idiota! Estupido!
Harry tocou levemente no próprio nariz e trouxe os seus dedos para a frente do seu rosto, e entre a visão desfocada ele conseguiu ver que estes estavam pintados de vermelho escarlante.
O sangue começou escorrendo até aos seus lábios, até que sem surpresas começou a sentir o sabor a ferro espalhar-se entre os cantos da sua boca. O gosto familiar fazia-o lembrar de todas as brigas que ele e Malfoy tiveram, onde em todas elas, Harry acabava coberto de sangue. Aquilo não era muito diferente do passado. Ele sabia lidar com aquilo.
Limitou-se a limpar os cantos dos lábios com a palma da mão.
— Eu só o estava tentando ajudar.
— Me matando no processo? Você é idiota? — Harry abriu a boca mas Malfoy foi mais rápido. — Não, não responda, não foi uma pergunta.
— O matando? Eu só estava tentando-
— Ora, não é óbvio?! — Interrompeu sem demora. No meio do borrão que Malfoy era, Harry conseguia perceber que Malfoy fazia muitos gestos com as mãos para se expressar, abrindo diversas vezes os braços em exasperação, como se o seu tom de voz não fosse ríspido o suficiente para mostrar o quão irritado estava. — Esse seu estupido espirito grifinório obcecado por salvar pessoas me dá vontade de vomitar.
— Ou então é quantidade de álcool que você ingeriu. — Malfoy encarou Harry como se ele tivesse morto a sua coruja à dentada. — Você tresanda a álcool.
— É sexta-feira no dormitório da sonserina, você estava à espera do quê?! — Bufou.
— Então por que é que você está aqui, Malfoy?
— O que você tem a ver com isso? — Harry deu de ombros e ouviu Malfoy resmungar algo, quase como se estivesse a um ponto de entrar em louco. — A sonserina estava entediante. Pouco sexo e pouco álcool.
Harry tentou levantar do chão de pedra, se apoiando numa mão enquanto tentava falhadamente encontrar seus óculos de aro redondos.
— Sim, porque isto por aqui deve ser muito mais divertido. — Harry ironizou.
— Eu estava me divertindo... — Malfoy agachou-se à sua frente e voltou a erguer-se. — Até que você chegou. — Ele esticou a mão sob o olhar quieto de Harry e devolveu-lhe o seu par de óculos.
— Se jogando da Torre da Astronomia?
— Estava à espera que o meu principe encantado viesse ao meu encontro e me salvasse, mas entretanto você chegou e estragou toda a narrativa da história. — Antes que Harry conseguisse racionar o que Malfoy estava dizendo, o outro começou sorrindo. Aquele tipico sorriso esnobe e sarcástico de que Harry se lembrava. — Não fique tão sério, Potter. — A subtil ponta do lábio erguida de Malfoy continuva ali estampada na sua face, como se houvesse prazer em ser alguém tão cruel. — Na verdade eu estava tentando vomitar.
— E foi preciso vir até à Torre da Astronomia para isso?
— Eu não me lembro como cheguei aqui. Dê um desconto para uma pessoa bebêda.
— Bebado é pouco para definir o seu estado.
— Cale a boca. Eu estou perfeitamente normal.
— Eu reparei pelo soco que você me deu. Que ótimo.
— Em minha defesa, eu não o soquei por ser você, poderia ter sido qualquer um que me tivesse assustado. Mas claro, pontos extra por ter sido você.
— E por falar em pontos, você sabe quantos pontos serão descontados da sonserina por você estar fora do dormitório após o recolher?
— Nenhum, porque você não irá contar a ninguém.
— Me dê uma boa razão então. Uma só e eu vou embora como se nunca nos tivessemos cruzado.
— Você quase me pregou um susto de morte. Acho que o minimo que você poderia fazer é esquecer do que aconteceu aqui.
— Acho um pouco difícil de esquecer quando tenho literalmente o rosto negro por sua causa.
— Oh Potter, você fica constantemente se metendo em brigas, não é nada a que ninguém não esteja acostumado.
— Isso porque em cada corredor que viro Crabbe está querendo me encher de porrada. — Harry sorriu com ironia. — Porquê?
— Tenho lá culpa que ele não goste de você. — Malfoy cruzou os braços. — Eu percebo, deve ser um pouco difícil para um cara arrogante como você perceber que nem todo o mundo quer beijular os seus pés.
— Vamos ser sinceros. Crabbe não tem um único neurónico funcionavel que o permita pensar por si próprio.
Malfoy deu de ombros e ficou parado no mesmo sitio, de braços cruzados sobre o terrível silêncio do luar e o olhar fixo de Harry, que acabou reparando que Malfoy estava tentanto aquecer as mãos por debaixo dos sovacos. Se Harry não tivesse notado esse pequeno pormenor ele acabaria tirando conclusões erradas e acabaria por pensar que Malfoy estava impaciente.
Mas impaciência não era bem uma característica de Malfoy. Na verdade, combinava melhor com a personalidade de Harry.
Uma personalidade que ele odiava. Ele gostava de ser mais como Malfoy, mas não era frio o suficiente para tratar as pessoas como fantoches no seu jogo sujo, se aproveitando de cada um para a satisfação das próprias necessidades, e por falar em frio...
Despiu a capa da grifinória e ajeitou-a ao redor dos ombros de Malfoy, arrumando-a levemente sobre a figura do outro rapaz para ela não escorregar.
Harry consultou o relógio de pulso. O ponteiro já passava das onze.
— Eu vou ter de ir andando, eu sou um monitor exemplar, ao contrário de você. — Voltou a encarar Malfoy. Não havia uma única emoção estampada naquele rosto ossudo, o que acabava sendo difícil de descrever o que Malfoy estava sentindo ou no que ele estava pensando, se é que ele estivesse pensando em algo. Os olhos cinza não tinham bem um foco preciso, era quase como se Malfoy não tivesse ouvido nada do que Harry acabara de dizer. — Vamos fazer como você disse. Não fique vagueando por ai.
A conversa mais longa que ele e Malfoy tiveram em sete anos acabava ali, com Harry virando costas e descendo as escadas da Torre da Astronomia, deixando aquela figura perplexa para trás.
— Que demonstração grifinória mais patética. — Resmungou chateado, coçando os olhos.
Infelizmente não era um pesadelo.
Não conseguia perceber se tinha sido sortudo ou azarado naquela noite, mas a verdade é que todos na Sonserina estavam dormindo, em cima do sofá, da mesa e até mesmo no chão, o que permitiu que Draco escapasse sorrateiramente entre as garrafas de vidro derrubadas e as poças de vómito na carpete e subisse a escadaria para os dormitórios com a capa de Potter em mãos, o símbolo da grifinória virado para dentro, sem chamar atenções indesejáveis.
Abriu a porta dos dormitórios do sétimo ano e para sua enorme felicidade, apenas duas das sete camas estavam ocupadas, cobridas pela cortina de seda que oferecia aos alunos uma falsa sensação de privacidade. Ele acabou jogando o manto de Harry na cama. Num espaço partilhado era difícil fazer algo sem suscitar perguntas inusitadas, mas hoje parecia ser diferente, ninguém reclamou por Draco ter aberto a porta, por ter chegado tarde, nem foram feitas perguntas relacionadas com isso.
Aquela sensação era estranha, quase beirava a solidão.
Após um longo duche, ele jogou-se na cama de barriga para cima, encarando o teto e lembrou-se do sossego que a sua casa costumava ser, com um certo remorso e tristeza.
A última vez que a visitou, as rosas do jardim estavam mortas e aquele provavelmente seria também o destino da sua familia.
Então, por mais repugnante que fosse, no fundo do seu peito havia um profundo desejo que Harry Potter fosse, de facto, o herói da história e o salvasse da desgraça que lhe estava destinada.
Draco acreditava que era mais fácil viver num mundo onde Potter fosse bajulado por ser o bruxo mais poderoso, mesmo que isso o colocasse em segundo lugar, do que viver num mundo onde Voldemort mataria qualquer um que fosse uma possível ameaça ao seu poder... o que não seria muito diferente de agora.
Draco soltou um suspiro longo, rodou a cabeça de cabelos prateados e ficou encarando com cara de bobo o manto preto da Grifinória de Potter.
Então, Potter.
Draco esfregou os olhos, amaldiçoando-se.
Mexer com Potter era complicado, e ainda mais perigoso era. Quando o viu pela primeira vez ele soube que Potter seria o alvo perfeito, desconhecia por completo o mundo bruxo, inocente e ingénuo, então Draco pensou que seria alguém fácil de tirar vantagem, de se aproveitar e usá-lo a seu favor, inevitavelmente Draco sorriu por ter sido tão crédulo.
Mas ele meio que achava excitante a maneira como as coisas acabaram se desenrolando.
Pegou na capa de Harry e amassou-a furioso, tirando forças do fundo dos infernos e descarregando toda a sua raiva acumulada, que aos poucos deixava o corpo de Draco mais leve à medida que ele soltava gritos roucos abafados pelo manto.
Até se lamentar o deixava esgotado, e por isso Draco ficou imóvel na cama de lençóis brancos, deixando o manto de Potter por cima do seu corpo ofegante e fechou os olhos, a tranquilidade atingido-o como uma fresca brisa num dia solarento. Oh, ele nunca havia reparado que Potter cheirava tão bem. Um ponto positivo sobre aquele maldito, pensou.
Agarrou na capa, chegou-a para mais perto do seu rosto e inalou o cheiro do outro, que rapidamente se entranhou nas suas narinas, e ele não parecia enojado. Não era um cheiro doce, geralmente os perfumes adocicados transmitem sensibilidade, o que dava a entender que o seu dono era alguém de presença forte e convicta, alguém másculo e que não se intimava facilmente. Tinha a essência de Potter, ele admitiu a si mesmo, navegando e se afogando naquele cheiro tão característico de Potter, e por segundos Draco quis repensar no seu comportamento, no que estava fazendo naquele momento e o porquê de se sentir daquela forma, atraído pelo cheiro, atraído pelas características da pessoa... pela pessoa em si.
Por Merlin, o seu corpo começou reagindo aos pensamentos preversos. Aquilo era errado, era irracional, e ainda assim tinha o atrevimento de esfregar a ponta do manto sobre as veias do seu pescoço cor de porcelana, parecia que estava tentando extrair o máximo que podia do perfume de Potter e transferi-lo para si mesmo, e Draco não parou um único momento para se debruçar sobre a sua atitude patética e parar de se movimentar.
É inevitável, ele repetiu mentalmente, eu não estou cometendo nenhum crime, ele acrescentou, com o intuito de não sentir uma mísera pinga de culpa por aquilo, por fechar os olhos e imaginar que aquela aspereza do manto era o toque grosseiro de Potter, conhecido pela sua bruta arrogância e imprudência. Oh, mas Draco também estava sendo imprudente naquele momento e aquilo não era típico seu, mas ele adorava o sentimento descarado, a sensação imaginária de Harry por cima do seu corpo, percorrendo os ossos salientes da sua clavícula com os seus dedos e descendo delicadamente pelo seu peito magro, com a ajuda de Draco que, numa pressa meio impaciente e ofegante, abria cada botão da camisa, um quanto desajeitado.
A aspereza roçava o peito de Malfoy, deixado alguns arranhões como evidência do prazer, e não se conseguindo segurar mais, Malfoy deixou espacar a própria mão para dentro de suas calças, não mostrando qualquer vergonha em tocar-se enquanto inspirava o perfume que pairava agora sobre o seu corpo. O seu corpo começou tremendo levemente com o toque. Trouxe a capa novamente para junto do seu rosto e entre abriu os lábios conforme aumentava a velocidade com que se tocava. Os lábios estavam tão rosados quanto as próprias bochechas, mesmo que a sua respiração fosse seca, fazendo com que os gemidos de Malfoy saissem roucos e graves.
O seu corpo deu um leve espasmo acompanhando o rápido descer e subir da mão quente.
O rosto de Potter ocupou a sua mente, a imagem retirada dos finais dos jogos de Quidditch entre a Grifinória e a Sonserina, onde Potter tinha os cabelos negros caidos sobre as sombracelhas escuras e sobre as íris verdes claras, grudados à testa por causa do suor, completamente desajeitado, parecendo um total selvagem, ainda que muito atraente. Ele só nunca imaginou que usaria aquela memória para estes propósitos.
Mas ele não conseguia esconder a excitação que aquilo causava nele.
Lambeu a ponta dos dedos da sua mão, e voltou a tocar-se agora com a mão umida, figindo que era lubrificante.
Merda, aquilo soube bem, mas saberia melhor se fosse Potter a tocá-lo... E com a força do pensamento, o cenário imaginário pareceu tão real que quase fez Malfoy se vir.
Foi com o seu próprio gemido rouco que Malfoy caiu em si.
— Que merda eu estou fazendo... — Sussurrou derrotado.
Numa expressão de choque, ele parou abrutamente, inclinou a nuca para o teto, os olhos esbugalhados e a respiração arfante, o seu coração falhava diversos compassos. Draco sempre se rendia quando o assunto em causa era Potter. Mordeu a bochecha numa forma de se repreender por ser tão idiota. Ele sabia que nunca mais olharia para Potter da mesma forma no final dos jogos de Quidditch... ou em qualquer outra situação.
Aquilo era tão patético. E mais patético era por não ser a primeira vez que aquilo acontecia.
E Potter nunca olharia para ele daquela forma.
As suas bochechas queimaram ainda mais intensamente com o pensamento intruso, e para piorar, ouviu as dobradiças da porta do dormitório ranger, anuciando a chegada de uma segunda pessoa.
Merda. Se houvesse um buraco para se esconder, ele com certeza se enfiaria lá.
— Draco? Você está acordado?
Aquele idiota.
Sem pensar muito, Malfoy abriu a cortina e encarou furioso o rosto do seu melhor amigo, Blaise Zabini, que abriu os olhos como se estivesse encarando a coisa mais aterradora à face da terra.
— Você! Por onde você andou seu imbecil?
— Estive no dormitório das garotas do sétimo ano. — Piscou-lhe o olho e analisou Malfoy no silêncio que se instalou. — E você? O que se passou com você?
— "Você" o quê? Por que raio está olhando para mim desse jeito?
— Acalma-se, Draco, só perguntei porque você, — Analisou Malfoy outra vez, só para não dizer o que ia dizer em vão. — Você parece que acabou de sair de um puteiro.
Zabini não conseguiu evitar soltar um breve riso.
— Quê? — Quase berrou.
Zabini analisou Malfoy de baixo a cima e começou gargalhando, penteando os cabelos loiros bagunçados do melhor amigo com uma mão leve.
— Você estava se tocando, Draco?
— Me deixe em paz. — Deu-lhe um tapa na mão.
Malfoy fechou as cortinas e virou-lhe costas, mas Zabini abriu novamente a cortina e sentou-se na beira do colchão, provocando Malfoy.
— Você estava se masturbando? — Riu. — Não responda, com certeza você estava.
— Cai fora.
— Em quem você estava pensando? Draco. — Zabini inclinou-se para ver o peito descoberto do amigo. — Ou você esteve com alguém? — Zabini abriu mais a camisa de Malfoy para ver mais claramente o peito arranhado. — Você com certeza esteve com alguém.
— Saia daqui, intrometido. — Malfoy deu-lhe uma cotovelada. — Meta-se na sua vida.
— Com certeza você esteve com alguém. — Malfoy não lhe respondeu. — Você não precisa dizer nada, eu sei que você desapareceu por duas horas da Sonserina. — Silêncio. — Certo, eu vou acabar descobrindo quem é, de qualquer jeito.
Malfoy virou o rosto para olhar Zabini com uma carranca.
— Fui à sua procura, seu grande idiota, então pode começar tirando essa ideia absurda da sua cabeça.
— E dai? O que impede você de-
— Blaise. — Ele cortou. — Vá embora, caso contrário vou-lhe lançar todas as maldições que forem surgindo na minha cabeça.
— Sou seu melhor amigo, Draco. — Começou com beicinho. — Com quem você esteve? Me conte ou então vou contar a Pansy.
Malfoy revirou os olhos.
— Cale-se e vá tomar banho, você cheira a transa. Levante o seu traseiro dos meus lençóis agora. —Malfoy empurrou Zabini para fora do colchão com um pé e fechou as cortinas na sua cara com um feitiço.
— Para que fique sabendo, Draco, eu acho que esse é o seu cheiro e não o meu. — Balbuciou engraçado.
Metido. Puxou os lençóis até ao nariz e abraçou a capa da Grifinória enquanto controlava a respiração, decidindo que segunda ele a entregaria a Potter.
Às vezes ele gostaria ser mais corajoso como Potter, confessou em pensamentos, enquanto olhava, a uma distância segura, para o bastardo e acabou por suspirar.
Os minutos se arrastavam e ainda estava preso na segunda aula do dia, Astrologia.
Através da janela da sala de aula ele viu a figura robusta de Hagrid que guiava a turma da Grifinória e da Lufa-Lufa para junto do Lago Negro. Ele reparou que Hagrid fazia diversos movimentos com as mãos enquanto tentava explicar algo, sem muito sucesso. As meninas da Lufa-Lufa estavam fofocando constantemente, sussurando coisas nos ouvidos umas das outras e sorrindo timidas mas não muito discretamente, ao mesmo tempo que comiam Potter com os olhos. Também poderia ser para Weasly que, para não muito espanto, estava grudado em Potter como uma chiquelete que não desgruda da sola do seu sapato, mas Malfoy duvidava um bocado que Weasly fosse tão sortudo ao ponto de Granger não ser a única que quisesse ficar com ele.
Ele observava Potter há anos, isso era um facto, e inevitavelmente acabou por também observar Weasly e testemunhar o amadurecimento de ambos, mas a única coisa que conseguia lembrar de Weasly era a sua inconveniência e o seu constante hábito de se meter na vida alheia, nomeadamente meter o bedelho nos seus negócios e de Potter. O ódio que Weasly sentia por si foi o bastante para fazer Potter o odiar também, e sentindo-se atacado, ele não teve outra escolha a não ser odiá-los de igual forma. Mas houve sempre um sentimento de inconformidade por aquilo que ele e Potter poderiam ter sido se Weasly não tivesse cruzado o caminho de Potter primeiro...
Ele ainda tinha crescido com a esperança de que o rumo terrível que as coisas haviam tomado poderiam mudar, mas essa sua esperança parecia ter sido mastigada e pisada quando Voldemort retornou no Torneio Tribuxo e seu querido pai, Lucius Malfoy, também lá estava, marcando presença bem na frente de Potter.
Foi aquele o momento em que Malfoy havia percebido que nem Merlin os poderia ajudar mais.
O sentimento de desconformidade para com o destino era inevitável, não conseguia sentir nada além de mágoa, e atualmente Malfoy tentava aconchegar-se naquilo que era a sua vida atualmente, que apesar de não ser muito boa, sempre era melhor que ter-se tornado amigo de Potter para depois ter de o trair pelas costas. Então ele não estava propriamente chateado por ter deixado esse sonho de criança morrer. Apenas triste.
Afinal, era de conhecimento geral que quando a guerra explodisse, Malfoy seria o primeiro a trocar de lado.
Ter a capacidade de conseguir olhar para Potter era como uma confirmação que esse dia ainda não tinha chegado e que Malfoy ainda não precisava abandonar Hogwarts e fugir.
Agora que reparava, as coisas pareciam minimamente mais calmas quando Potter estava por perto. Olhar para ele meio que o acalmava, até certo ponto.
Isto porque a irmã do pobretão sentou ao lado de Potter na relva e começou acariciando o rosto dele numa parte nitidamente mais roxa, muito perto do nariz que Malfoy havia esmurrado duas noites anteriores.
Repugnante. Revirou os olhos e voltou a sua atenção para a aula.
Harry, no seu lugar, estava tentando prestar atenção aquilo que Hagrid estava, não com muita facilidade, explicar, mas algo tão simples tinha-se tornado em algo extremamente difícil de fazer porque estava se sentindo observado. Aquela sensação estava deixando Harty irrequieto no seu lugar.
Ele pensou que fosse por causa de Ginny e olhou para ela. A garota sempre se mostrava muito preocupada quando algo acontecia com ele, então logicamente pensou que fosse Ginny, mas para sua surpresa, foi quando, por cima do ombro dela, uns olhos cinza penetrantes cruzaram com os seus.
Ele quase se havia esquecido da existência de Malfoy.
O outro, no topo da Torre da Astronomia, ao sentir o olhar de Harry recair sobre si mordeu a bochecha e revirou o olhos, o queixo apoiado na palma de mão numa postura meio aborrecida, e olhou para o lado.
Evitá-lo não adiantaria de nada.
Anos a cruzar-se com o bastardo em tudo o que era sítio, e quando precisava dele, o idiota parecia ter desaparecido.
Na verdade, ele já havia esbarrado em Potter várias vezes nos últimos dois dias, mas nenhum desses momentos pareciam oportunos o suficiente. Aquilo era um pouco incomum. Desde que se lembrava, nunca teve o menor problema em incomodar Potter, aliás, era como se fosse uma necessidade à sua sobrevivência, algo essencial ao alivio do seu próprio stress, e agora nem encará-lo diretamente conseguia.
Para onde quer que Potter fosse, Weasly e Granger também iam. Eles não largavam do pé do idiota por um segundo, como se a qualquer momento Voldemort pudesse pegar em Potter e levá-lo consigo. Aquele trio maravilha nunca tinha despertado tanto ódio como agora em Malfoy.
Nem mesmo durante as aulas, ou durante as refeições eles desgrudavam de Potter. Aquela situação toda estava começando a deixar Malfoy impaciente, que acabou por não conseguir mais aguentar a tamanha frustação que sentia e agora ali estava.
No final, acabou a colocar-se na toca do lobo.
De braços cruzados sobre o peito enquanto a pequena brisa arrastava ligeiramente os seus fios de cabelo para a frente dos seus olhos, a figura de Malfoy não passava despercebida entre a meia dúzia de outros espectadores entre a plateia, nem dos próprios jogadores do time.
O máximo que ele fez foi tentar não cruzar o seu olhar com nenhum deles para não arranjar confusão. Ele não tinha ido parar ali para isso e muito menos queria estar ali.
Mas uma pessoa, em especial, não parava de olhar para si.
Não importava quantas vezes Malfoy revira-se os olhos ou bufasse em irritação, tentando mostrar que estava claramente desconfortável, a mensagem parecia claramente não ter sido recebida, porque ela continuava com os olhos fixos em si, como se o pudesse matar.
E Potter, aquele imbecil, nem conseguia chamar à atenção dos seus jogadores, nomeadamente daqueles que começaram notando a presença de Malfoy nas arquibancadas. Que time de merda.
Malfoy, enquanto capitão, já tinha arremessado uma bola contra a cara daqueles idiotas sem o menor arrependimento. O cenário na sua cabeça fê-lo arquear a ponta do lábio fino, que rapidamente se desvaneceu assim que ela, virada de frente para si, esfumava raiva.
— Tsc. — Bufou entre dentes descontente e desviou o olhar rapidamente.
Malfoy ficou encarando o vazio com os braços cruzados sobre o peito durante um longo tempo. O manto de Potter mantinha as suas pernas aquecidas durante aquela tarde fria, assim como a ansiedade que o envolvia. Analisou o campo na sua extensão, e lá estava Potter, parecendo tão minúsculo e inofensivo aquela distância, mas ele também podia ser assustador se quisesse, e a prova disso foi ele ter dado um tapa na cabeça de Weasly quando este não defendeu a bola porque estava demasiado distraído olhando para Granger no outro estreito das bancadas ao qual Malfoy estava sentado.
Aquela presença forte cativante gritava ousadia. Era difícil encarar Potter e vê-lo como aquele pequeno órfão miserável como toda a gente o pintava. Aos seus olhos essa versão de Potter não existia, apenas era uma outra versão que não passava de um retrato mal pintado na cabeça das pessoas por verem uma criatura tão infortunada neste mundo, um ser tão fraco e frágil pelo qual todos sentiam pena.
Talvez fosse ele que estivesse errado, mas para si, Potter era e sempre seria aquele rapaz inabalável que se lembrava dos jogos de Quidditch. Mais que ninguém, ele se esforçava, como se houvesse uma necessidade incessante de provar que não tinha acabado como capitão da Grifinória apenas porque eles não podiam fazer o pequeno órfão sentir-se mal. A camisola colada ao seu tronco após os jogos da Grifinória esboçava o suor do árduo trabalho que Potter tinha em manter o seu mérito.
Talvez ele não gostasse de apenas ser conhecido como o "Harry-Potter-o-menino-que-sobreviveu", mas era dificil escapar do que era inevitável.
Malfoy fechou os olhos e sentiu o vento soprar contra o seu rosto. Aquela sensação de leveza acabou não durando muito pois sem que se apercebesse, alguém tinha-se sentado ao seu lado. Ele só reparou quando palavras lhe foram dirigidas friamente:
— O que você está fazendo aqui?
Malfoy virou a cabeça, o desgosto esboçado claramente na sua face ossuda. Os braços continuavam cruzados, como se ele não estivesse minimamente interessado no que aquela pessoa tinha para lhe dizer.
— Isto é um lugar público... — Ele analisou-a de alto a baixo, parecendo superior. — Ou não?
— Você está espiando o time?
Malfoy manteve-se em silêncio.
Ele reparou nos olhos daquela garota descerem da sua face para o manto preto que Draco mantinha no seu colo, aquecendo as suas pernas, mas dobrado de forma graciosa. Intrometida, ele pensou.
Aquilo não podia ser bom.
— Ah, parece que fui apanhado, — Draco disse rápido dando de ombros, com alguma pressa e deboche, ergueu-se do seu banco e sacudiu as calças do uniforme. — Vou andando.
A garota cercou o seu pulso, que Draco soltou num chocalho, como se o toque dela fosse nojento.
— Por que você está segurando um manto da grifinória?
Draco mordeu o lábio inferior perante a cara daquela garota que esperava ansiosamente uma resposta. Malfoy olhou de esguelha para o manto, percebendo que não havia qualquer forma de identificação, apenas o brasão.
Ele não deixava de estar um pouco nervoso, então levemente mordeu o lábio inferior até sangrar e voltou a cruzar o seu olhar doente com os olhos daquela garota.
A ponta do lábio fino ergueu-se sarcasticamente com a leve força do pensamento. Ele realmente odiava a grifinória, mas mais que isso, ele odiava aquela escumalha que virou Potter contra si mesmo antes dele ter uma oportunidade com aquele rapaz.
Malfoy esticou-lhe o manto, que a garota reticente aceitou.
— Um dos seus colegas esqueceu-se dele comigo. Estava na esperança de o entregar, mas que tal descobrir você mesma quem é, Granger?
