Childhood Dream Of Draco Malfoy

Por Ginsy

[Harry Potter x Draco Malfoy]

Capítulo VI

Problemas podem surgir quando você menos espera. Eles podem estar em qualquer lado, até mesmo ao virar de uma esquina.

— Posso dormir na Grifinória hoje?

Malfoy havia repetido aquela frase pela segunda vez, o que só poderia significar que Harry não estava começando a ficar louco e que realmente Malfoy é que estava perdendo o juízo. Harry pestanejou várias vezes não conseguindo disfarçar o seu estado de absoluto choque e constrangimento. Mas aquele era Malfoy e ele não tinha qualquer vergonha na cara, Harry já deveria saber.

— Dormir?

Aquela havia sido uma pergunta estúpida. Não demorou nem dois segundos para Malfoy revirar os olhos e reforçar esse aspecto.

— É, foi o que eu disse, você ouviu bem, não se faça de sonso.

Harry engoliu a seco. Ele era conhecido por ser forte e destemido, mas não conseguia deixar de se sentir atrapalhado ao ser apanhado desprevenido daquela forma. Não estava sendo capaz de pensar em uma resposta boa e adequada o suficiente para aquela determinada situação. Ele nem havia pensado muito sobre o que ele achava em relação ao assunto, e muito menos conseguia chegar a uma conclusão sensata enquanto aquele rapaz mais baixo permanecia com o olhar fixo na sua pessoa.

— Dormir, na mesma cama?

A pergunta não era muito diferente da anterior.

A leve ponta do lábio fino rosado deu origem a um ligeiro sorriso perverso no rosto ossudo e pálido de Malfoy, que ele tentou esconder com a palma da mão, mas Harry ainda conseguia ler o ar zombeteiro entre os vincos dos da testa daquele idiota.

— Você sempre pode ir dormir para o sofá, Potter.

Harry esbugalhou os olhos em total descrença com o que acabara de ouvir. Malfoy não era apenas alguém com falta de vergonha na cara, ele era também alguém pretensioso e com graves falhas no seu carácter e ainda assim, havia uma certa satisfação extremamente notória em se comportar daquele jeito tão infantil para quem já havia atingido a maioridade.

Palavras formaram-se rapidamente na sua boca.

— Eu? Você pode ir dormir para o sofá, a cama é minha.

— Então isso significa que posso dormir no seu dormitório hoje?

Bem, Harry não havia dito aquilo, porém ele também não se sentia totalmente incomodado com a ideia. Haveria muitas outras que o deixavam de longe mais desconfortável, além que com certeza haveriam outras pessoas que muito provavelmente se sentiriam mais desconfortáveis com a presença de Malfoy na Grifinória do que Harry. Até era bom por um lado, ele conseguia manter Malfoy por perto e vigia-lo sem parecer suspeito.

E não era como se Malfoy o fosse matar durante o seu sono.

As probabilidades eram elevadas porém.

— Eu não disse que sim.

— Você também não disse que não. — Harry viu Malfoy desencostar-se do muro de pedra assim que dois alunos mais novos da Corvinal cruzaram o corredor onde eles estavam conversando, já com ar de quem iria embora antes que o pudessem reconhecer. — Encare isto como uma troca de favores, eu fiz algo simpático por si, e você fará algo simpático por mim.

Harry deixou um longo suspiro escapar entre os seus lábios, ficando evidente que se resignava à situação mas não complemente satisfeito, deixando também um grande sorriso fechado no rosto de Malfoy.

Mais tarde ele teria de arrancar forças do infinito, falar com Ron e Hermione e colocá-los a par da situação.

Com não muita grande surpresa, Harry não falou.

E decidiu que aquele não era o momento certo.

Ron estava jogando às cartas com Neville enquanto Hermione permanecia sentada na sua usual poltrona estudando, contorcendo os lábios e fazendo caretas quando Ron se exaltava um pouco mais durante o jogo, visivelmente incomodada com o barulho. Harry sentia-se feliz por ter os seus amigos ao seu redor, era como um ambiente familiar que o acolhia calorosamente ao mesmo tempo que a lareira crepitava, e ele não queria perder aquilo, então não conseguia deixar de estar meio inquieto embalado numa tormenta ansiedade enquanto esperava o momento em que Malfoy entraria por aquela porta e destruiria tudo com a sua indelicadeza.

Não demorou muito.

Três batidas leves soaram do outro lado do cómodo. Harry puxou o quadro da Dama Gorda e o seu coração batia tão rápido que parecia querer fugir do seu peito ao dar de caras com aquele rosto tão familiar e tão desprezado naquela casa.

— Você chegou cedo.

— Não queria deixar você esperando.

Mordeu o lábio causando uma ferida aberta no local tentando se conter. Foi com alguma reticência e pesar que deixou Malfoy passar para o interior da sala comunal. O maxilar de Ron estava prestes a tombar no colo e Hermione arregalou os olhos como se tivesse visto a coisa mais aterradora à face da terra, e o ponto em comum entre eles dois é que eles estavam olhando para um ponto em específico, mais precisamente alguém, Draco Malfoy.

— Harry! Porque raio você deixou Malfoy entrar? — Ron quase berrou, mostrando sem querer o baralho de cartas que tinha em mãos para contentamento de Neville que estava sentado no chão, de frente para Ron.

— Não me diga que existem mais "negócios de monitores para tratar" que impliquem que você e ele fiquem no quarto trancados. — Hermione soou ríspida e com um certo desdém, que acabou para surpresa de Harry, fazer abrir um leve sorriso de escárnio no rosto de Malfoy.

Harry deu-lhe uma cotovelada sabendo que Malfoy estava se divertindo muito a instalar o caos. Os olhos cinza brilhavam de forma maniaca como se ele estivesse sentindo uma pontada de prazer com tudo aquilo que estava acontecendo.

— Malfoy irá dormir aqui hoje.

O tom de Harry era firme e a sua postura também, ele sentia que estava enfrentado Voldemort uma vez mais, se bem que Ron e Hermione não era tão macabros. Ele sentia-se confiante, aquilo permitiu que Harry relaxasse e demonstrasse um pouco de controle sobre a situação.

— Como assim? — O livro de Hermione caiu sobre as suas pernas fazendo Neville encolher-se no seu lugar com o breve grito rouco.

— Harry! — Ron levantou-se rapidamente do sofá e correu na sua direção tentando checar se Harry estava doente. Harry agarrou levemente nos braços do amigo e afastou-o uns míseros centímetros com um sorriso amigável no rosto.

Malfoy também sustentava um sorriso mas estava longe de parecer simpático, pelo contrário, ele parecia estar achando um quanto engraçada a confusão instalada e tirando sarro de toda a situação.

— Você! — Ron agarrou no colarinho da camisa do uniforme de Malfoy e puxou-o a seu encontro, fumegando raiva. — O que você fez?

— Ron, largue-o. — Harry pediu devagar.

— Não se preocupe, eu não farei nenhum barulho durante a noite. Você sabe, eu sei uns feitiços silenc-

— Malfoy. — Harry chamou-o à atenção com um ar impassivel e entre um murmúrio e o leve movimento dos lábios de Malfoy conseguiu perceber "lá está o monitor tirano".

— Harry! — Hermione ergueu-se da poltrona deixando escorregar do seu colo o livro. — Eu sei que você quer manter Malfoy por perto mas esta não é a maneira.

Ora, ele não era obcecado daquele jeito por Malfoy.

Mas Malfoy pareceu bastante agradado com a afirmação. Harry queria gritar 'sonserino convencido' e culpar Hermione por aquilo.

— Não fui que lhe pedi. Ele é que me pediu.

— E você aceitou? — Ron parecia escandalizado. — Eu não vou dormir com ele, Harry! — Ele cuspiu.

— Como você é convencido, Weasley. Quem disse que eu dormiria com você? Eu vou dormir com Potter, claro.

— Este não é o seu dormitório. — Hermione disse.

— Claro que não, por essa mesma razão é que estou aqui. — Malfoy explicou. — Por lá eu sou pessoa non grata neste momento, mas se você quiser tanto que eu vá embora, então pode ir lá tentar fazê-los mudar de ideias, eles adoram você, talvez a acolham na sonserina e nunca mais a deixem sair.

— Você também não é bem vindo aqui. — Ron returcou.

— Que mal você me poderia fazer? Ficaria impressionado se você tivesse metade da destreza de Blaise. De qualquer das formas Potter estará aqui para me salvar se você me tentar matar, não é? — Zombou aumentado a raiva de Ron que segurou mais fortemente no colarinho da sua camisa, revelando ligeira parte da clavícula de Malfoy. — E você pode me largar? Está amarrotando a minha roupa toda.

— Você não é monitor lá, Malfoy? Ou você mostrou-se tão idiota ao ponto de virar a sua casa toda contra si? — Hermione disse.

— A minha gente está revoltada. Eu tenho que lhes dar espaço para eles conseguirem compreender a importância da minha presença.

— O tratamento do silêncio. Com certeza você é muito maturo, Malfoy. — Harry disse irónico.

— Funcionou com você. Olhe para nós agora.

— Não compare Harry com o seu bando de gente.

— Veja lá como você fala dos meus sonserinos, Weasley. Eu estou sendo simpático com você desde que entrei por aquela porta.

— Defina-me simpatia. Acredito que você não esteja familiarizado com o conceito.

— Potter, eu não estou falando com você agora.

— Pois, mas eu preciso de falar com você e ensinar algumas boas maneiras. E Ron, largue Malfoy. — Harry pediu novamente e vendo a reticência do amigo, pegou nos pulsos de Ron e afastou-os de Malfoy. Harry cercou o braço de Malfoy e subiu a escadaria que levaria ao dormitório do sétimo ano, abriu a porta e puxou Malfoy para dentro do pequeno quarto.

— Um quanto bruto da sua parte, Potter, se você tivesse pedido gentilmente para eu entrar no seu quarto eu teria entrado. — Disse Malfoy assim que Harry bateu a porta do quarto, massajando o braço e murmurou baixinho "animal".

— Você está achando engraçado?

— O quê? Irritar Weasley e fazer Granger arrancar os próprios cabelos? Não era óbvio? Não me diga que você nunca pensou que esta não seria a reação deles quando você me abriu a porta. — Malfoy respondeu. — Até porque a criatura a que você chama de melhor amigo realmente é muito hostil, você por acaso é idiota?

— Você poderia ter sido um pouco mais... simpático, compreensivo, eu sei lá.

— Eu é que me tenho de comportar? Quem não gosta de ter a sua roupa quase arrancada assim que você entra num dormitório, não é? — Malfoy tentou ajeitar a camisa.

— Ron tem a sua razão, você quando quer é extremamente insuportável.

— Chega de elogiar a minha pessoa, Potter, estou ficando timido.

Harry suspirou pesado e ficou encarando Malfoy.

— Você disse que a sua gente estava revoltada com você, o que você fez?

— Por que raio você sempre fala como se a culpa fosse minha? — Malfoy sentou-se na ponta da cama de Harry olhando para ele. — Eu sei que posso ter sido irritante no passado, mas desta vez, eles não têm razão.

— E você não quer falar sobre isso?

— Depende. Você vai-me obrigar a dar-lhe uma explicação ou simplesmente podemos não falar sobre isso agora?

Harry deu de ombros e procurou algo em suas gavetas.

— Se você não quer falar, você não precisa.

Malfoy ficou em silêncio por uns segundos.

— Talvez depois.

Harry esticou a mão entregando algo a Malfoy.

— Se você sabia que ia dormir aqui por que não trouxe uma troca de roupa?

Um mísero sorriso brotou no rosto de Malfoy e o rapaz pegou nas roupas que Harry lhe esticava.

— Você vai sair ou quer que eu me troque na sua frente?

Mal Harry viu Malfoy desabetoar o manto da sonserina ele bateu a porta e desceu a escadaria, preparando-se mentalmente para enfrentar a fúria de Ron e a preocupação desmedida de Hermione e um pobre Neville que resumia-se ao seu silêncio enquanto jogava com Ron.

Os olhos azuis de Ron queimavam contra a sua pessoa, Hermione por outro lado não ousava em tirar os olhos do livro em mãos para olhar para Harry.

— Você desceu sozinho? Eu espero que você tenha atirado Malfoy da janela.

— Ron. — Hermione chamou-o à atenção.

— Você também Mione? — Hermione revirou os olhos. — Malfoy virou vocês dois contra mim, ele com certeza deve estar muito feliz. Neville, você ainda está do meu lado, não é? Você concorda que Malfoy é horrível, não é?

— Er... — Os olhos castanhos de Neville moviam-se entre a face de Ron e de Harry, que se tinha sentado na ponta oposta no sofá onde Ron estava sentado. — Ele pediu para fazer par com ele num dever de casa de herbologia uma vez, eu fiquei me sentindo muito inteligente, e ele me agradeceu no final... E ele nunca me incomodou.

— Isso não faz dele boa pessoa. — Ron começou. — Ele estava se aproveitando de você para passar em herbologia.

— Er- Eu também pedi em troca para ele me ajudar a passar a poções, e ele me ajudou. Isso significaria que eu também me aproveitei dele, não?

Ron revirou os olhos e afundou-se no sofá enquanto olhava para o baralho de cartas em mãos.

— Você não precisa de se explicar, Ron só quer fazer Malfoy parecer uma pessoa má.

— Mas ele é uma pessoa má, Harry.

— Ron, já chega. Malfoy está a menos de dez metros de você, tenha algum tacto. — Hermione disse sussurrando.

— Eu consigo sentir, está me dando calafrios. Neville, eu quero- — Ron pareceu pensativo mas tinha um largo sorriso no rosto. — Todas as suas cartas com o número sete, eu sei que você tem, passe para cá.

— Oh, este jogo não tem piada.

— Você é que não sabe jogar. — Ron respondeu a Neville. — Parece que ganhei, jogamos mais uma vez?

— Peça a Harry.

Os olhos de Ron cairam sobre a sua pessoa e Harry tentou afastar-se mais contra o braço do sofá.

— Nem pense Ron. — Ele rapidamente disse antes de Ron poder dizer algo.

— É o mínimo que você pode fazer, depois de trazer Malfoy para os nossos dormitórios. Só uma vez, será breve, Harry.

— Eu estou cansado.

Ron suspirou pesado.

— É bom que você tenha uma ótima razão para colocar as nossas vidas em perigo e não se dignar a jogar comigo.

— Malfoy não irá matar você. — Harry começou dizendo.

— Ainda assim eu acho que você deveria manter um olho aberto durante a noite, Weasley. — Malfoy sentou-se ao lado de Harry, acabando com todo o espaço pessoal de Harry em prol de deixar uma distância segura de Ron que estava sentado no outro extremo do sofá. — Dê cá o baralho.

— Eu não vou jogar com você. — Ron começou olhando para Malfoy desconfiado de alto a baixo. — Essas roupas são de Harry? — Ron inclinou-se ligeiramente para tentar falar com Harry que estava sentado atrás de Malfoy. — Harry ele claramente está tirando proveito da sua boa vontade, veja-

— O que é que você quer, Weasley? Você está começando a irritar-me como de costume.

— Que você vá embora.

Malfoy deu de ombros e tirou o baralho das mãos de Ron, voltando a reencostar-se contra a figura de Harry.

— Que seja.

Ron arqueou uma sobrancelha suspeitando de Malfoy mas deixando-se levar.

— Você é um grande trapaceiro, por isso, não tente ficar fazendo nenhuma graça. Estou avisando-o.

— Eu não faço batota, eu sou simplesmente bom.

— E muito cheio de si, eu espero que o seu ego não fique destruído depois disto.

— Depois o problema sou eu. — Sussurou para Harry. — Quatro para mim, — Malfoy colocou um baralho de quatro cartas no colo, as pernas cruzadas sobre o sofá de frente para Ron. — Quatro para si.

O braço de Harry começou ficando dormente com o peso de Malfoy, o rapaz estava completamente colado a si como se não houvesse mais espaço no sofá, o que era totalmente incompreensível pois havia um vasto espaço ainda entre Harry e Ron, e então viu-se obrigado a colocar o braço sobre as costas do sofá. Para seu grande infortúnio, Malfoy ajeitou-se mais contra o seu corpo agora que o braço de Harry não estava criando uma barreira entre ambos, e agora mais parecia que Harry tinha convidado Malfoy a acolher-se no seu espaço pessoal.

Quem parecia ter notado também era Hermione.

A distância inexistente entre Harry e Malfoy naquela ponta do sofá tinha acabado a roubar a sua atenção. Era totalmente incompreensível como é aqueles dois que afirmavam vivamente que se odiavam pareciam tão íntimos ao ponto de Harry não ousar fazer movimentos bruscos para não disturbar Malfoy, e Malfoy por sua vez parecia notar a mais pequena movimentação de Harry como se ele sentisse perfeitamente o toque de Harry.

Não havia nada de involuntário e de ingenuidade entre eles. Harry e Malfoy sabiam perfeitamente o que estavam fazendo, e com quem estavam mexendo, e bem na frente dela e de Ron eles tinham o descaramento de se comportarem daquele jeito, sem o mais mínimo remorso.

Algo havia mudado, ela não conseguia entender o por quê.

O que Harry tinha visto em Malfoy para o fazer mudar de ideias?

O que Malfoy tinha visto em Harry para ele retrocer na sua decisão?

Haveria ao menos um motivo forte o suficiente que explicasse aquela súbita aproximação ou era apenas curiosidade mórbida?

Harry estava de olhos fechados, a cabeça encostada no próprio no ombro enquanto esperava tranquilamente por Malfoy derrotar Ron. Harry nunca havia esperado por Ron acabar um jogo para ir para os dormitórios, mas ele estava esperando por Malfoy como se estivesse tomando conta dele. Apesar de ter os olhos fechados, ela sabia que Harry poderia sentir a presença de Malfoy, não só porque eles estavam praticamente grudados um no outro, mas também porque Malfoy escondia as cartas do seu baralho contra o braço de Harry quando era a vez de Ron jogar, usando aquilo como desculpa para ficar tocando sistematicamente em Harry, e quando Ron demorava demasiado tempo na sua vez Malfoy inclinava levemente a sua cabeça e repousava-a contra o braço de Harry como se estivesse descansando, os cabelos platinados faziam cócegas no braço de Harry, ela notou pois quando Malfoy erguia novamente a cabeça Harry apressava-se a coçar o peito do braço, Hermione tinha a certeza que não havia como Harry não notar.

Harry não era estúpido, Hermione pensou.

Aqueles toques excessivos e desnecessários como se aquele rapaz quisesse ser tocado e receber atenção.

Era um quanto óbvio, pensou Hermione.

Ela chegou à conclusão que não havia nenhum motivo de força maior ou um interesse súbito da parte daquele rapaz, Malfoy era apenas muito persistente.

O que possivelmente acabaria a afastar Harry.

— Weasley se você demorar mais cinco segundos eu irei declarar a minha vitória. Um-

— Você pode calar a boca? Eu sei que você tem três cartas de três.

— Dois-

— Eu sei que você tem. Harry ajude-me. Você está bem atrás dele, ajude-me.

— Quem está sendo trapaceiro Weasley? Potter não o irá ajudar a não ser que ele queira vomitar o jantar. — Ele ameaçou olhando de esguelha para Harry sobre o ombro. — Você vai jogar ou não? Trê-

— Eu quero as suas cartas com o número três.

Malfoy soltou uma breve gargalhada e voltou a encostar a sua cabeça contra o braço de Harry, as leves pontas do cabelo fino caindo na frente dos seus olhos cinza brilhantes como uma criança.

— Eu não tenho, mas eu sei que você tem o seis que me falta, passe para cá.

— Ah merda eu sabia! — Ron jogou a carta contra o colo de Malfoy indignado com a sua derrota. — Desforra?

— Para quem não queria jogar comigo você parece bastante contente, mas sabe, o ronco de Potter atrás de mim está me distraindo, acho que teremos de ficar por aqui.

— Ele não está dormindo.

Harry abriu levemente os olhos.

— Ron, Malfoy não irá jogar mais com você. Eu estou cansado.

— Oh se você quer tanto ir dormir comigo você pode dizer de uma vez, Potter.

Harry revirou os olhos e voltou a reencostar a cabeça.

— E amanhã temos aulas. — Hermione acrescentou ao levantar-se da poltrona abraçando o livro de capa dura contra o peito, atraindo a atenção para si. — Ron, vamos?

— Harry também vem, não é amigo?

Harry trocou um leve olhar com Hermione.

— Vocês vão andando, eu e Malfoy já vamos.

— Ele não precisa vir.

— A sua namorada está chamando você, o quão idiota tem de você ser para não subir com ela? Granger eu vou com você, já não existem cavalheiros como antigamente.

Harry agarrou no braço de Malfoy de modo a que Malfoy voltasse a sentar no sofá.

— Você não pode entrar nos dormitórios femininos.

— Também não tinha intenções de entrar, eu só ia acompanhar Granger.

— Eu posso acompanha-la. Hermione não precisa de você para nada.

— Então por que raio você continua ai sentado olhando para mim e para Potter com cara de paisagem? Eu não irei dar Potter de comer aos Comensais, se é isso que o preocupa.

Antes que Ron pudesse dizer algo, Hermione puxou-o pelo braço e obrigou Ron a subir a escadaria consigo, ao longe Harry ainda conseguiu ouvir o breve raspanete de Hermione que soou a um "você é tão imaturo, Ron."

Malfoy virou-se de frente para Harry, ainda sentado sobre o sofá com as pernas cruzadas e com a atenção posta totalmente em Harry, fazendo Harry retrair-se levemente no seu lugar, sentia-se um pouco desconfortável com Malfoy encarando-o como um falcão como se estivesse prestes a comê-lo vivo.

— Então, qual a posição que você gosta de ficar na cama?

A sua respiração ficou presa na sua garganta como se o oxigénio fosse demasiado denso para ser respirável.

— Como?

— O quê? Você está olhando assim para mim por quê? O que é que eu disse?

Mas no meio daquelas palavras repetidas e incoerentes, Harry conseguia ver o mísero levantar do canto do lábio de Malfoy tirando sarro da situação.

Harry ameaçou dar-lhe um pontapé e logo Malfoy soltou uma breve gargalhada.

— Você não consegue ser decente, pelo menos uma vez?

— Eu só lhe fiz uma pergunta legitima.

— Você ficará do lado direito, bem perto da janela, se você quiser fugir veja isso como uma oportunidade.

Malfoy deu de ombros, ainda olhando para si como uma criança.

Harry desceu o seu olhar, finalmente olhando bem para Malfoy tocando de leve no tecido da camisola que o outro vestia.

— Essa camisola está gigante em você.

— Ela com certeza ficaria gigante em você também, ninguém neste mundo veste este tamanho. — Malfoy disse também analisando a camisola.

— Talvez não neste, mas no mundo muggle sim. Essa camisola era de meu primo Duddley.

Malfoy esbugalhou os olhos e uma expressão horrizada transformou o seu rosto.

— O muggle? Você só pode estar brincando.

Malfoy ameaçou despir a camisola na sua frente, mas assim que Harry começou vendo a barriga descoberta de Malfoy à medida que ele tirava a camisola, Harry percebeu que Malfoy não vestia nada por baixo. Em sua defesa, a camisola estava como nova e lavada, provavelmente nunca haveria sido usada por Duddley uma única vez, então ele rapidamente pegou na bainha da camisola e puxou-a para baixo contrariando Malfoy que insistia em tirá-la.

— Potter, largue.

— Você não vai tirá-la, eu juro que Duddley nunca lhe tocou.

— Você pode largar a minha roupa?

— A camisola é minha Malfoy.

— A camisola não é sua, não foi o que você acabou de dizer? Largue, deixe-me tirá-la, eu estou começando a ficar com comichão.

— Você não pode tirá-la aqui.

— Claro que posso, você irá ser abençoado, eu prometo que tenho um tronco muito mais esbelto que a sua namoradinha sardenta.

Ele parou momentaneamente.

— Ginny e eu não temos nada.

— Você além de chato é mentiroso?!

Harry puxou com mais força a camisola para baixo.

— Deixe-me pelo menos ir buscar outra camisola-

— Forreta como você é, nada do que você tem é seu.

— Harry, o que você está fazendo com as roupas de Malfoy?

Os dois rapazes pararam abruptamente de se mexer e olhar para a garota na ponta das escadas. Hermione olhava para eles com uma expressão confusa parecendo que já estava ali fazia algum tempo.

— Desculpe, eu estava tentanto corromper a inocência do seu melhor amigo, mas ele não tem qualquer interesse em mim.

— Deixe de ser idiota. — Harry sussurou. — Nós iamos já subir, não era?

O rapaz revirou os olhos em resposta. Malfoy foi o primeiro a levantar do sofá e a passar rente a Hermione, e logo atrás ia Harry que se despediu da melhor amiga com um simples "Boa noite" e entrou nos dormitórios do sétimo ano atrás de Malfoy.

Ron estava deitado com a coberta até ao nariz, fuminando Malfoy que tinha acabado de entrar no dormitório e sentado numa das pontas da cama de Harry, bem na sua frente.

— Você está tentando me matar com a força do olhar? Não irá funcionar.

— Eu vou ficar de olho em você durante a noite. — Ron estreitou os olhos na direção de Malfoy.

— Está com medo que eu moleste o seu amigo é? Eu ficaria com mais medo dele me molestar, não é todos os dias que este idiota coloca alguém tão bonito como eu na sua cama.

— Malfoy eu estou bem aqui.

— Eu reparei, você não pára quieto. Você vai-se deitar ou não? Eu preciso de dormir as minhas oitos horas diárias. Potter, rápido. — Harry não respondeu e Malfoy deveria ter interpretado aquilo como uma afronta pois ele decidiu ficar ainda mais irritante. — Você vem ou não? Potter, potter, potter-

— Mimado. — Ron murmurou com desdém e revirou-se nos lençóis.

— Você vai demorar quanto tempo? Está batendo uma? O que raio você está fazendo no banheiro tanto tempo? Potter, potter-

Malfoy continuou com a sua birra incomodando todos aqueles que se encontravam naquele cómodo.

— Harry por favor, deite-se. — Thomas pediu notoriamente irritado e fechado as cortinas.

Harry saiu do banheiro limpando os cantos da boca e secando as leves pingas de àgua que escorriam pelo seu queixo. As cortinas estavam todas parcialmente fechadas, excepto a sua. Malfoy estava sentado contra a cabeceira da cama com as pernas arqueadas, balouçando os pés evidenciando que estava entediado. Quando ele viu Harry aproximar-se os seus olhos tinham um brilho incomum e assim que Harry se aproximou o suficiente, Malfoy puxou-o pelo braço para Harry se sentar sobre o colchão mais rapidamente, acabando a puxar demasiado a manga de camisola de Harry e deixando decoberto a sua clavícula.

— Você estava tentando escapar pela janela do banheiro? O que você estava fazendo?

— Por que?

— Você demorou uma eternidade. — Malfoy disse e largou o braço de Harry.

Ele arqueou uma sombracelha, logo uma expressão engraçada surgindo na sua face.

— Não me diga que está com medo de Ron.

— Repita isso e eu farei você comer o seu próprio pé.

— Aterrador. — Harry fechou as cortinas e deitou-se ao lado de Malfoy, aconchegando-se no estreito do colchão para grande desagrado de Malfoy que olhou para ele com uma carranca.

— Eu estava brincando, porque raio você está tão longe?

— Eu estou bem aqui.

— Espero que você caia da cama. — Malfoy deu-lhe um leve pontapé e virou-lhe costas arrastando todo o lençol para o seu lado.

Harry revirou os olhos quase que inevitavelmente.

— Eu irei é morrer de frio se você continuar puxando as cobertas para o seu lado. — Harry tentou puxar o lençol para o seu lado mas Malfoy puxou também para o seu, contrariando-o.

Malfoy olhou para ele ligeiramente sobre o ombro com os olhos estreitos na sua direção.

— Você é que escolheu dormir ai. — E virou o rosto novamente.

— Se você não ficar roubando as cobertas para você ambos conseguimos estar tapados.

— Problema seu, chegue-se mais para aqui.

— A cama é minha, os lençóis são meus, Malfoy. Você que se chegue para aqui.

— E dai? Eu também estou dormindo aqui. — O outro tentou imitá-lo cuspindo sarcasmo.

— Malfoy.

Malfoy olhou novamente para si sobre o ombro com uma cara antipática.

— Você está me ameaçando?

Aquilo era demais e ele estava cansado. Harry virou-se de costas para Malfoy e encolheu-se, tentando focar-se em qualquer outra coisa que não fosse o frio que atingia os seus pés e entranhava-se entre as suas calças. Iria-se focar-se em outra coisa mais calorosa, talvez nos seus sentimentos e naquilo que estava sentindo naquele momento, a raiva e o ódio incessante que sentia em relação a Malfoy, o mesmo rapaz que estava deitado bem ao seu lado, aquilo era o suficiente para deixá-lo irritado ao ponto de nem um balde de àgua fria ser o suficiente para acalmar aquela chama fervorosa que o consumia vivo.

Ele realmente queria odia-lo, mas o seu plano viu-se frustado ao sentir algo macio tapar o seu corpo. Harry olhou sobre o ombro ainda a tempo de ver Malfoy a virar-se novamente e agarrou nos lençóis que agora tapavam-no.

Era em momentos como aquele que ele compreendia que odiar Malfoy já não era uma emoção com a qual ele estivesse muito familiarizado ultimamente e que era apenas uma perda de tempo, porque de alguma forma, Malfoy tinha algumas atitudes que demonstravam que ele não era assim tão má pessoa como todos faziam querer. Harry sorriu tímido, sentindo uma ponta de felicidade por Malfoy não o poder ver naquele momento, ele sentia-se bem, já fazia algum tempo que ele não se sentia assim, daquela forma.

Tranquilo. Aquela era uma boa palavra.

Aquilo que o mantinha acordado durante a noite, que lhe causava uma grande onda de ansiedade estava agora no seu campo de visão. Harry virou-se dando de caras com as costas de Malfoy, os cabelos platinados não enganavam.

Aquele rapaz até era suportável.

Harry poderia suportar aquilo.

E ele queria saber mais.

— Você já está dormindo? — Harry sussurou.

— Estou, deixe-me em paz.

Malfoy também era uma pessoa bastante contraditória. Malfoy virou-se de frente para Harry e ajeitou novamente os fios de cabelo sobre a almofada.

— Você quer uma sessão de terapia de madrugada? Pode falar, sou todo ouvidos. Problemas amorosos?

— Você não estava dormindo?

— Alguém me acordou.

Harry mordeu o lábio discretamente.

— Você ainda não quer falar sobre o razão pela qual você está aqui?

— Você me chamou para falar sobre a minha vida? Vou-me virar novamente.

Harry agarrou no braço de Malfoy de forma a impedi-lo.

— Bastava você dizer que não queria falar sobre isso ainda.

— Ah tabem. — Malfoy disse olhando para Harry. — Eu não quero falar.

— Certo. — Harry largou o braço do outro um quanto reticente.

— Então e você aceitou porque? O Potter idiota que eu conheço nunca me teria aberto a porta. Você gosta de mim? — Harry engasgou-se na própria saliva e começou tossindo. Malfoy deu-lhe leves palmadinhas no braço tentando atenuar a situação. — Um simples 'não' bastava.

— Eu tenho de responder às suas perguntas mas você não pode responder às minhas?

— Eu posso responder às suas, mas você disse que se eu não quisesse falar que eu não precisava, então eu apenas decidi não falar. — Malfoy explicou. — Mas se você me obrigar a dizer eu direi, não quero que você entre em paranoia a tentar descobrir o que eu ando escondendo.

— Você pode decidir-se?

— Você quer que eu lhe diga ou não, Potter? Diga-me o que você quer, deixe de se armar em bonzinho.

— Eu quero que você diga o que aconteceu na sonserina, está bom assim? Eu quero que você me diga então eu posso tentar entender o porquê de você se estar comportando assim, caso contrário eu irei tirar conclusões erradas sobre você, entende?

— Se você pensa que eu estou aqui tentando espiar você é muito idiota e estúpido da sua parte e eu não irei mais falar com você o resto da semana.

— Você vai amuar então?

— Por outras palavras, sim.

— E depois Zabini irá me encher de porrada porque deixei você chateado.

Malfoy suspirou pesado e deitou-se de costas no colchão, a face virada para cima.

— Ele não irá, não se preocupe.

— Pela expressão no rosto a razão pela qual você está aqui está relacionada com Zabini.

— Em parte. — Ele disse. — Não existem muitas pessoas que tenham coragem de me contrariar.

— E você está assim por algo que Zabini tenha feito?

— Não foi Blaise, mas eu sei que ele está contra mim nisto também, então tanto faz. Eu e a sonserina temos opiniões diferentes relativamente a um determinado assunto, é apenas isso.

— 'Apenas isso' mas foi o suficiente para expulsarem você da Sonserina.

Malfoy deu-lhe um pontapé por debaixo dos lençóis.

— Eles não me expulsaram da sonserina idiota, eu é que decidi que hoje não era um bom dia para passar lá a noite.

— Foi Theodore Nott? — Malfoy olhou para ele com uma expressão de surpresa. — Eu vi vocês conversando debaixo das bancadas.

O rapaz sorriu levemente.

— Se você quiser chamar isso de conversa.

Os olhos de Harry esbugalharam-se.

— Vocês estavam ficando...? Deixado das-

Malfoy deu-lhe um segundo pontapé.

— Não seja idiota, Potter, o que você acha que eu sou? Existem sítios mais decentes e menos plebeus para isso. Nós estávamos discutindo, seu grande imbecil.

— Sobre?

Malfoy tentou desviar os seus fios de cabelo dos olhos.

— Você. — Disse. — Você dá-me grandes dores de cabeça.

— O que eu fiz?

— Você nasceu. A sua presença, a sua pessoa, está dando imensos problemas por lá.

— E você decidiu que correr para a fonte do problema seria uma boa opção.

— Eu só queria irritá-los um pouco e de caminho, irritar Weasley e Granger.

— Com certeza você conseguiu, não se preocupe, não conheço ninguém tão inconveniente como você, com certeza o seu plano de fazer a sonserina odiá-lo deve estar resultando.

— Eles nunca me odiariam, pelo menos Pansy nunca me odiaria. — Malfoy desabafou. — No máximo, ela ficará triste.

— Por você estar aqui?

— Meio que isso, sim. Ficará triste? Ou com pena? Não sei, a minha vida deve ser bastante desastrosa para ela me encarar e sentir-se assim.

Harry percebeu que ele estava falando sozinho. Um grave sinal de esquizofrenia. Malfoy estava louco, ele já sabia.

— Resumindo, você discutiu com Nott sobre mim porque vocês têm opiniões diferentes relativamente a algo que me diz respeito e toda a sonserina está do lado dele então você fugiu a sete pés para a grifinória, é isso?

— Ei, que narrativa de merda foi essa? Desse jeito você dá a entender que eu sou um covarde.

— Bem, eu lembro-me que no primeiro ano-

— Potter, já ninguém se lembra disso, passe à frente. A vida é muito curta para você ficar preso no passado.

— Só não entendo que aspecto é que poderia existir sobre mim para meter você e a sonserina frente a frente.

— Ora, agora você já está querendo saber demais. Descubra você mesmo se está tão curioso. Vamos dormir ou você quer compartilhar algum dos seus traumas de infância comigo agora?

— Não há nada que você não saiba já, como você pode calcular, eu tenho uma grande falta de privacidade.

— Você refere-se ao facto do seu nome estar na capa dos jornais todas as semanas ou ao facto de seus amigos controlarem tudo o que você faz?

— Ron e Hermione estão apenas preocupados comigo.

— Eles deveriam era estar preocupados comigo. É você que me fica perseguindo para todo o lado. Você não me deixa respirar.

— E no entanto é você que está na minha cama.

— Bem, dito assim até soa mal. — Malfoy voltou a virar-se de frente para Harry. — Mas eu realmente não queria voltar para a Sonserina hoje. Seria isto ou o pub em Hogsmeade.

— E estranhamente você escolheu dormir na grifinória ao invés de um copo de whiskey.

— Eu teria escolhido os dois ao mesmo tempo se tivesse oportunidade, mas nunca vi você beber e está demasiado frio lá fora para alguém que tem apenas o uniforme vestido.

— Você não voltou à sonserina depois de falar com Nott?

— Não.

— Então você ficou onde?

— Andando por ai.

Harry suspirou e ficou olhando para Malfoy.

— Você tem frio? Eu posso ir buscar mais uma coberta para você. Espere ai-

— Ah, agora você está sendo simpático. — Disse Malfoy em falso ultraje. — Não quero a sua simpatia para nada. — Malfoy esticou o braço e apalpou o braço de Harry agarrando-o. — Fique ai, não se mexa.

— Por que?

— Porque você está perto e está frio.

Harry tentou ajeitar melhor a coberta sobre o corpo de Malfoy, arranjando assim também uma desculpa para se aproximar mais do outro rapaz sentindo-se culpado e voltou a aconchegar-se no seu lugar. Mesmo de olhos fechados, sabia que Malfoy continuava com o rosto virado para si. O que tinha denunciado Malfoy? O leve hálito que chocou contra a sua bochecha enquanto o outro respirava, e foi quando Harry percebeu o quão próximo de si Malfoy estava, ou melhor, o quanto ele próprio se havia aproximado de Malfoy de forma inocente.

Harry sentiu as pontas frias dos dedos finos de Malfoy a deslizarem pela sua pele, mais precisamente no local da sua testa, e recairam sem muitas surpresas sobre a cicatriz dele. O toque era suave, mesmo que fosse o toque de Malfoy, e aquilo não o incomodava, então deixou-o estar.

Já muito poucas coisas em Malfoy incomodavam Harry. Ás vezes ainda ficava pensativo sobre certas coisas menos boas que Malfoy lhe dizia e fazia, mas Malfoy sempre o havia tratado daquela forma, então Harry não conseguia ficar triste por causa disso.

Mas Harry ficava feliz pelas coisas boas que Malfoy tentava dizer entrelinhas.

...Feliz?!

Os dedos delicados traçaram uma rota desde as suas sombracelhas até ao seu nariz. O toque era agradável. Quase que beirava ao toque meigo de Hermione, mas ainda assim, havia uma pequena distinção entre os dois, porém Harry não conseguia explicar qual. A vida nunca lhe tinha permitido ter experiências suficientes para conseguir diferenciar toques quando os sentia.

Ele tentou descrevê-los mentalmente para encontrar uma resposta. Lembrava-se do toque de Hermione, que sempre o havia reconfortado nas horas mais difíceis e chorosas, mas o seu toque não era tão suave, não era tão observador como o de Malfoy. Apesar do toque de Hermione ser meigo, ele era forte, de modo a que ficasse marcado na sua pele, dando uma sensação de proteção eterna e intensa. Enquanto que o de Malfoy parecia que, se uma brisa os atingisse naquele momento, ela levaria o toque consigo.

Harry estava mais habituado a tudo o que poderia magoá-lo ou causar dor, e bem... ele não estava reclamando, mas ele estava habituado à personalidade marcante de Malfoy, porém não havia nada de áspero no toque. Entre o extremo de entregar-se ao toque delicado de Malfoy e de necessitar de algo mais bruto e rude vindo dele, estava Harry.

Estava começando a ficar meio zonzo, entre pensamentos, tentando perceber o que ele realmente queria e o porquê de nunca se contentar complementamente com o que os outros lhe tinham para oferecer.

— Para onde é que você está olhando?

O hálito quente que chocou contra os seus lábios, após aquele murmuro de Malfoy era tudo o que Harry precisava para parar de criar questões para as quais não tinha uma resposta plausivel.

Ele subiu o olhar dos lábios rosados para os olhos cinza. Quando é que ele tinha aberto os olhos?

— O que você disse? Eu não estava ouvindo.

Por algum motivo, Malfoy ergueu a ponta do lábio num sinal de sorriso fraco, e tirou a mão que estava repousada na cova entre o pescoço e o ombro de Harry.

Aquela mão estava ali há quanto tempo? Harry tinha perdido completamente a noção do tempo... e da realidade.

— Boa noite, Potter. — Disse Malfoy antes de se virar.

Vê-lo pelas costas era tudo o que Harry havia ansiado toda a sua adolescência, era um desejo incessante que permanecia vigorosamente na sua cabeça, a idealização do momento que nunca teria de dar de caras com aquela pessoa novamente deixava-o excitado, mas o querer de facto que isso acontecesse não passava de uma vontade que escorria entre os finos dedos das suas mãos cada vez que não conseguia colocar os seus olhos verdes naquela figura.

E afinal, Harry acabava a perceber que ele queria Malfoy por perto.

Porém, não por um bom motivo. Os sentimentos que nutria por Malfoy, Harry também não os conseguia explicar ou descrever, mas ele tinha a capacidade de perceber que apesar da grande consideração que ele sentia relativamente a Malfoy como um colega astuto, não apagavam a desconfiança e a suspeita que ele sentia quando se cruzava com Malfoy, todas as vezes ele acabava tendo uma confirmação do quão inteligente Malfoy era, acabando esse facto a demonstrar-se com uma facilidade absurda, tanto que beirava ao assustador.

Contra a sua própria vontade, continuava Harry acolhido por um certo ceticismo de que Malfoy era, como sempre havia afirmado, um Comensal da Morte.

Não havia a mais mínima probabilidade de que Malfoy desconhecia totalmente a situação atual e que a sua família não estaria envolvida. E quanto mais Harry o observava e convivia com Malfoy, mais ele acabava notando os traços medíocres e mal intencionados vindos da parte Malfoy, e eventualmente aquilo deixava Harry numa situação complicada.

E o pior é que Malfoy tinha uma certa autoridade dentro das estruturas de Hogwarts como monitor, o que era extremamente perigoso. Mas Harry confiava em Dumbledore.

Mas ele via-se sempre sendo guiado pelas palavras de Ron independentemente do assunto em questão. "Dumbledore é sábio mas ele também é velho, e irá chegar o momento que ele irá morrer" aquilo fez Harry querer enfiar-se dentro das cobertas da sua cama e encolher-se enquanto se abraçava pois não havia mais ninguém se sujeitando a isso, mas acabou a repensar e acabou achando aquela uma atitude completamente imatura da sua parte, ele nāo tinha mais onze anos, e não podia simplesmente esconder-se debaixo das suas cobertas quando sentia que os seus pensamentos intrusos o estava consumindo vivo, então ele decidiu ir dar uma volta pelos campos de Hogwarts, não sabendo que aquele passeio abriram uma nova porta de inseguranças.