Capítulo 9 - Mãos da cura e da morte

Uryuu se aproximou do local onde sentiu a presença do Hollow, e estranhou o fato da criatura simplesmente ter desaparecido, quando ele não sentiu a Reiatsu de nenhum Shinigami por perto. Resolveu caminhar um pouco mais, até que sem querer encontrou Kukkaku e Kabuto novamente. Ichigo chega no mesmo momento, e Kukkaku fecha a cara, achando que está sendo perseguida pelos "pirralhos".

- Que diabos os dois franguinhos estão fazendo aqui? Por acaso estão querendo me seguir? Principalmente você, Ishida. Virou meu fã ou o quê? - questiona um tanto alterada pela bebida. Kabuto se limita a observar em silêncio.

- Não é nada disso! Estamos aqui porque sentimos a presença de um Hollow, mas ele desapareceu. Estamos tentando entender porque… - Ichigo tentava explicar a terceira atingido no estômago com uma cotovelada de Ishida - Tá maluco? Por que me acertou de repente? - reclama, mas logo entende que o moreno se referia à presença de Kabuto, e que ele estava falando sobre um Hollow na frente de um estranho.

- É isso? Vocês não precisam se preocupar. O Kabuto-sensei aqui cortou um Menos Grande ao meio! - diz feliz da vida, dando tapinhas nas costas do platinado, cujo rosto fica azul ao ter sido exposto daquele jeito.

- Então é por isso que você estava com a Shiba-san mais cedo? De qual Divisão você é, Shinigami? - Ishida o confronta diretamente.

- Nada de Shinigami. Ele é um Ninja! - Kukkaku despeja sem filtros, e Yakushi só falta bater a cabeça na mesa de desgosto.

- Kukkaku-san, não devia ter dito nada disso a eles. - reclama contrariado.

- Não? Mas você não me pediu para guardar segredo. - rebate cínica, balançando o indicador em negativa frente ao rosto do médico, que suspira derrotado.

- Isso não importa. Eu vou te levar para casa. Meu pai vai te dar uma tremenda bronca por você chegar nesse estado de novo. - Ichigo tenta ajudar Kukkaku a se levantar, mas leva um tapa na mão como resposta.

- Corta essa, Kurosaki! Eu vou embora na hora que me der na telha, e além disso, o Kabuto-sensei aqui é quem vai me levar! - aponta novamente para ele.

- Sensei?! - os dois rapazes exclamaram em uníssono.

- Como assim? Você agora arrumou um professor particular? - o ruivo comenta confuso.

- Ora, não sejam bestas! Caiam fora e me deixem em paz!

Kabuto observa os rapazes se retirando sem reação, e apenas pensa consigo que agora ele entendia a razão pela qual ela não conseguia arrumar um namorado que a levasse a sério.

- Kabuto-sensei, posso fazer uma pergunta?

- Não tenho escolha. Percebi que sua curiosidade é tão insaciável quanto o seu apetite. - sorri meio sem graça.

- É que quando você me curou, a sua mão brilhou em verde, mas quando cortou aquele bicho feio ao meio ela brilhou em azul. O que isso significa?

- Isso é simples de explicar. Acontece que o Chakra transborda da minha mão de acordo com o jutsu que eu estou utilizando no momento. Por isso a diferença nas cores.

O platinado estende as duas mãos em frente ao seu próprio tronco, e cada uma delas começa a brilhar em uma cor diferente ao mesmo tempo em que seus olhos também mudam de cor, deixando Kukkaku impressionada.

- Chega a ser irônico… pensar que estas mãos são mãos da cura e da morte ao mesmo tempo.

- Incrível! Eu nunca imaginei que Ninjas existissem, e muito menos que pudessem fazer coisas tão impressionantes como isso.

- É por esta razão que preciso da sua total discrição. - coça a cabeça sem jeito - Pode dizer aos outros que sou um médico, mas, por favor, não diga que sou um Ninja.

- Entendido!

Depois da resposta em forma de grito, Kukkaku concorda em finalmente ir para casa. Yakushi ajuda a mulher a caminhar, pois a morena tinha dificuldades para fazê-lo sozinha. Assim que cruzou a porta de entrada da casa dos Kurosaki, ela grita animada:

- Ah, Kabuto-sensei bonitão! Se você fosse pelo menos uns quinze anos mais velho, eu juro que te jogava na parede e te dava uns bons pegas!

O rosto do jovem queima de tanta vergonha, e mais ainda porque bem na frente deles estava Isshin acompanhando de ninguém menos que Ryuuken Ishida.

- Então, Kurosaki, você me chamou aqui para falar de algo importante, ou foi para eu presenciar esse tipo de espetáculo?

Shiba foca seu olhar atento na figura do distinto homem à sua frente. A voz grave e carregada de frieza ecoa em seus ouvidos, atingindo sua mente como se fosse uma flecha disparada em seu coração. A morena congela admirada com a beleza do platinado. Aqueles olhos azuis indiferentes protegidos pelas lentes finas de seus óculos eram tão sexys. Por um instante, era como se o desejo de Kukkaku de ver Kabuto quinze anos mais velho estivesse se tornando realidade. Seus olhos nunca haviam contemplado um homem tão lindo. Tinha medo de que aquilo fosse apenas uma ilusão causada pelo efeito da bebida.

- Ei, tio Isshin, de onde saiu esse verdadeiro príncipe? - a morena se aproxima do platinado, que desvia discretamente de um possível agarre da ex-nobre - Por que não me contou que tinha um amigo assim tão lindo? Deveria ter me apresentado muito antes.

- Que decepção Kukkaku! Bebendo de novo? - o mais velho lança um olhar de pura revolta sobre a sobrinha enquanto morria de vergonha por Ryuuken ter presenciado tudo aquilo - Não sei quem é você, rapaz, mas se teve a gentileza de trazer essa degenerada para casa, peço que a leve até o quarto lá em cima, se não for abusar da sua generosidade. - se vira para Kabuto, que apenas concorda sem dizer uma só palavra enquanto sobe com ela.

Yakushi acomoda sua amiga sentada na cama, observando o semblante aéreo dela. Uma expressão típica de garota apaixonada.

- Ah, Kabuto-sensei… aquele amigo do tio Isshin é tudo de bom! Eu preciso descobrir o telefone dele.

- Já se apaixonou assim tão rápido? - o jovem pergunta espantado, fazendo o seu se o típico e habitual gesto de ajustar os óculos em seu rosto.

- Eu sei que pode parecer loucura, mas acho que sim! Parece aquele tipo de coincidência da vida. Justo quando eu tinha acabado de dizer que se você fosse quinze anos mais velho, você não me escapava, e quando olhei para aquele homem, foi como se eu estivesse vendo realmente a sua versão mais velha. Foi um sentimento difícil de explicar, mas tenho certeza de que foi muito forte e arrebatador.

- Acho que posso entender o que está querendo dizer. Por outro lado, se Kukkaku-san realmente se interessou por aquele homem, sinto dizer que começou da maneira totalmente errada. - balança a cabeça em negativa, olhando para baixo - Ele deve ter ficado com uma péssima impressão sobre você quando a viu chegar assim. Acho que você terá trabalho para desfazer a péssima visão que ele deve ter tido.

- Caramba… é verdade! Eu faço tudo errado! - dá um cascudo na própria cabeça - Ai, porra! Que dor! Kabuto-sensei, por favor, cure essa minha bebedeira imediatamente. Eu preciso ir atrás daquele bonitão para esclarecer as coisas. - junta as mãos como uma criança manhosa que pede aos pais para ser tirada do castigo.

- Me desculpe, mas não posso fazer isso.

- Eh? Por que não? - reclama fazendo bico.

- Porque Kukkaku-san não é mais criança. Eu pedi várias vezes para que não bebesse tanto, mas você não me ouviu. Precisa assumir as responsabilidades dos seus atos, por mais amargo que esse remédio possa ser.

- Que merda! - soca o colchão por ter sido contrariada - Pior é que você tem razão. Mas pelo menos poderia curar a minha dor de cabeça? Eu prometo que vou controlar minhas viradas de copo a partir de agora se você me curar da ressaca só mais essa vez. - sorri ladina, e Kabuto não consegue recusar o pedido daquela mulher insana, porém muito divertida.

O platinado então pede que ela se deite, e usa seu Ninjutsu Médico sobre a testa de Shiba, que sente uma revigorante sensação de se livrar daquela dor terrível que parecia pressionar seu cérebro. Kabuto usa outra técnica médica que faz Kukkaku adormecer instantaneamente, e em seguida ele se dirige até o topo da escada da casa com a clara intenção de ouvir a conversa dos dois amigos, pois sentiu fortemente que deveria fazer isso.

- Diga, Kurosaki, por que me chamou aqui? E seja breve, pois não tenho muito tempo.

- Gentil como sempre, meu caro amigo… - o moreno suspira entediado - Te chamei aqui para falar do seu filho.

- O que o Uryuu andou aprontando dessa vez? - o platinado arqueia uma sobrancelha, sentindo como se estivesse sendo confrontado por um diretor de escola a fim de reclamar da conduta de seu filho.

- O assunto é sério, Ishida. Sente-se, por favor. - aponta para que ele se sente no sofá de frente para si, onde se servem de uma xícara de café.

- Sem rodeios. Diga logo.

- Ishida-kun foi ferido por um Hollow e corre risco de vida. - despeja de uma vez, e o cometido Ryuuken arregala os olhos.

- Mas o que está dizendo? Como fala um absurdo desse assim de uma vez? - reclama, tentando disfarçar o choque.

- Quem te entende? - dá de ombros confuso - Você acabou de dizer para eu não fazer rodeios e depois reclama por eu dizer tudo de uma vez? Entre em um acordo, amigo.

- Sabe que odeio suas gracinhas, Kurosaki. Explique agora mesmo a real situação do Uryuu. - ordena sem paciência.

- A verdade é que o Kisuke veio me procurar há uns dias atrás para me falar que o seu filho procurou por ele relatando o que aconteceu e que nem mesmo os poderes de cura de Inoue-chan foram capazes de anular o ferimento causado pelo Hollow. Ele vêm mantendo isso em segredo de todo mundo, inclusive da própria Inoue-chan. Ele pediu ao Kisuke que não contasse a ninguém, mas Urahara achou que seria injusto que você, como pai, não soubesse o que está acontecendo de tão grave, por isso ele pediu que eu falasse com você. - tenta explicar da maneira mais resumida possível.

- Mas se é assim, vocês, Shinigamis, não deveriam ter a solução para esse tipo de problema? Por que alguém com tamanha inteligência como Kisuke Urahara não estaria apto a encontrar a cura? - rebate nervoso, ao quase derrubar a xícara ao colocá-la sobre a mesa.

- Não é tão simples assim, Ishida. Você sabe que para diagnosticarmos esse tipo de coisa, precisaríamos ter o material genético da criatura que o atacou, e além disso, também seria necessária toda uma estrutura laboratorial para fazer uma análise clínica deste material, recursos que o Kisuke, como um Shinigami exilado e fora de serviço, atualmente não possui. - comenta nada otimista.

- O que sugere que façamos então? Vamos esperar o meu filho morrer?

- A alternativa mais lógica seria que o Ishida-kun fosse imediatamente para a Soul Society para ser avaliado pelo pessoal da Divisão 12, mas não sei se ele, ou mesmo você, aceitaria isso.

- Eu não posso impedir. Como se trata da vida dele, a prioridade total deve ser a sua completa salvação. - inspira derrotado, retirando os óculos para massagear as têmporas - o que mais me preocupa são os poderes daquela menina não terem sido efetivos, pois pelo que eu sei, não é um simples poder de cura, e sim uma força capaz de rejeitar eventos. Parece ser mais grave do que pensamos.

- É, irmão… foi isso que mais preocupou o Ishida-kun também. É algo totalmente estranho, mas temos que tratá-lo o mais rápido possível antes que o pior aconteça.

- Certo. Por favor me mantenha informado sobre tudo. Não posso dizer a ele que sei a verdade, pois, com certeza, ele irá fazer um tremendo escândalo, como sempre.

- Pode deixar. Kisuke tentará convencer o rebelde a aceitar ir para a Soul Society.

- Agora, mudando de assunto, o que achou da minha sobrinha? Ela é uma gata, concorda? - dá uma risada de canto, e Ishida apenas o mira sério.

- Está falando daquela moça que chegou aqui bêbada?

- Aham!

- Eu não vou ser hipócrita aqui e dizer que ninguém deveria beber, porque eu também bebo. Eu apenas detesto mulheres que perdem a noção da realidade ao se entregarem a uma garrafa de bebida, e saem por aí fazendo esse tipo de espetáculo vergonhoso. - diz sem nenhuma emoção, e Isshin sorri com a postura sempre tão rígida de seu amigo.

- Ora, não seja tão radical, Ishida. Afinal, você acabou de dizer que também bebe.

- Como também acabei de dizer que não bebo a ponto de ficar no estado em que a sua "linda" sobrinha chegou aqui. - faz aspas com os dedos, a fim de ironizar.

- Tá bem, tá bem! - balança as mãos em sinal de rendição - Ficamos combinados então. Espero que fique tudo bem com o Ishida-kun.

O platinado deixa a casa de seu amigo, e Kabuto, que ocultou sua presença utilizando suas habilidades de espionagem, havia escutado tudo do alto da escada, volta ao quarto onde Kukkaku dormia, dando uma boa olhada em sua amiga, prevendo que ela não iria gostar nada de saber que Ryuuken teve uma péssima impressão a seu respeito. Focando sua mente no que era mais importante, Yakushi retira do bolso de dentro de seu paletó o pequeno frasco com a amostra que colheu do Hollow que derrotou mais cedo. O Ninja Médico encara o objeto pensativo, e conclui que, por alguma razão, deveria fazer algo a respeito.

- Preciso ir para casa e analisar este material imediatamente.

Enquanto isso, Tsunade fazia uma repentina visita à Kisuke…

Continua…