Capítulo 9 - Esclarecimentos
Na manhã seguinte, Thetis foi até o quarto de Terpsicore a fim de obter as informações que Julian havia pedido. A loira bate na porta, e logo consegue a permissão para entrar. Ela se senta em uma poltrona à pedido da hóspede.
- Bom dia. Ainda não tivemos oportunidade de conversar corretamente depois de tudo o que aconteceu ontem. Imagino que já saiba que o meu Senhor precisa que você esclareça muitas coisas, e é por isso que estou aqui.
- Bom dia, Thetis-san. Ela se senta na beirada da cama, encarando sua interlocutora - Eu sei que tenho que esclarecer várias coisas, mas antes disso, é importante que saibam sobre a minha identidade…
- Você é Terpsicore, a pessoa que por muito pouco não matou Sirene-sama até ele reverter a situação por um milagre, e agora vem com essa de fazer de tudo para salvá-lo. Quero que me explique exatamente o que está tramando. - diz toda a verdade em tom enérgico, causando espanto na ex-Espírito.
- Eh? Espere um momento, como você sabe disso?
- Eu estava lá no momento em que Sirene-sama despertou sua Escama mitológica. Eu era como um pequeno espírito em forma de sereia. Minha missão é ajudar os Generais em suas batalhas e guiá-los, por isso eu sei que era você. - responde com mais tranquilidade.
- Se já sabe quem eu sou, então porque já não relatou isso ao Deus a quem você serve? - indaga intrigada, mirando diretamente os olhos azuis.
- Porque se eu fizesse isso, o mais certo era que Poseidon-sama te eliminasse assim que soubesse.
- E qual a diferença? Porque imagino que é isso que você vai fazer agora que já sabe quem eu sou, não é?
- Não é bem assim. - vai até a janela, onde passa a ser acariciada pela agradável brisa da manhã - Estou aqui para descobrir suas verdadeiras intenções. - se vira e volta a encarar a jovem - Qual é o seu real interesse no Sorento? Você o ama? - a enfrenta diretamente, e a jovem Deusa arregala os olhos por ter sido pega de surpresa daquela maneira.
- De onde veio isso? Como pergunta uma coisa dessas assim tão de repente? - tenta rebater, a fim de se esquivar da "prensa" da loira.
- Você acha que é "de repente"? - Thetis mira Terpsicore com o rosto extremamente sério - Era eu quem deveria estar dizendo isso. Vocês foram inimigos, lutaram em uma Guerra Santa poucos dias atrás, e como mágica você foi pedir ajuda à governante de Asgard para salvar a vida do cara que a derrotou em batalha. Ninguém em sã consciência faria algo assim se estivesse na sua posição… - se aproxima da mulher de longos cabelos roxos, pegando uma mecha de seu rabo de cavalo - A menos que tivesse se apaixonado durante o seu duelo.
- Por que acha que eu devo dizer o que você quer ouvir?
- Eh? - a sereia a mira de soslaio, pois a resposta evasiva a pegou de surpresa.
- Existem outros sentimentos além do amor, sabia? - olha nos olhos de Thetis, que mantém seu semblante impassível - Não espero que acredite nas minhas palavras, mas eu fiz tudo isso por gratidão. - mente, tentando enganar mais a si mesma do que a sua ouvinte.
- Se não se importar em me contar… - a Marina aponta para os bancos no Jardim do lado de fora da mansão Solo, onde ambas se sentam.
- Não tenho escolha. Então vou contar com detalhes o que aconteceu durante a nossa luta. - inspira bastante ar antes de começar o seu relato - Eu tenho muito a agradecer ao Sorento. Graças a ele, recuperei a esperança e a alegria de acreditar nos humanos novamente. Ele é exatamente o que representa. Um anjo. A música da flauta dele tem um poder único… um poder facilmente comparável ao divino. - seus olhos semisserram enquanto ela fala, e por um momento esboça um sorriso de profunda admiração - Sabe… ele não fez o que qualquer inimigo faria, que é matar sem piedade. Em vez disso, ele purificou a minha alma, e me mandou de volta ao céu, onde eu pudesse viver feliz. Me senti tão plena e realizada, que entendi que eu apenas estava sendo manipulada por Nêmesis para cometer a pior atrocidade da minha vida. Eu não podia permitir que nada de mal acontecesse a ele depois do ato de nobreza que ele teve comigo. Isso é tudo. Você pode acreditar nas minhas palavras ou não. A decisão é sua. Pode dizer a Poseidon o que achar melhor.
- Entendi. - se levanta tranquilamente, e a brisa repentina faz seus longos cabelos loiros esvoaçar - Relatarei a Poseidon-sama cada palavra que você disse sem omitir nenhum detalhe. - dá poucos passos de volta à entrada, onde estanca o caminhar - Mais uma coisa… - vira o rosto para encará-la - Muito obrigada por salvar nosso companheiro.
Terpsicore suspira aliviada, acreditando que sua história foi suficientemente convincente. Em parte, era. Mas a bela de cabelos roxos não podia admitir abertamente que a subordinada de Poseidon estava certa. Era amor. Não havia dúvida sobre isso. Mas a Deusa das Artes precisava agir com prudência. Ela deveria ir com calma e se aproximar de Sorento com sabedoria, e quem sabe assim, ela poderia conquistar o coração daquele anjo guiada pela persistência.
...:~X~:...
Pouco tempo depois do café da manhã, Julian foi ver Sorento em seu quarto, porém este ainda se encontrava em profundo sono. Mesmo sendo um Deus, o azulado começou a temer seriamente que seu amigo nunca mais voltasse a ser o que era depois de ter recebido a punição da Deusa da Vingança sobre si.
Até que, na hora do almoço, sem que ninguém esperasse, a cama de Sorento estava vazia. Os três ficaram surpresos, e correram para fora da mansão, que ficava de frente para uma praia. Era um privilégio digno de alguém que ocupava o posto de Imperador dos Mares. Para o espanto de todos, Sorento estava de pé frente ao mar, estático, enquanto suas madeixas lilases dançavam tranquilamente ao sabor da brisa refrescante. O paletó cor de vinho estava aberto, assim como os dois primeiros botões da camisa social, ainda aberto mão da gravata desta vez. A barra da calça estava dobrada até o meio das canelas, onde Sorento tinha liberdade o suficiente para sentir as ondas baterem em seus pés. Ele não sentia absolutamente nada, até que uma mão pousou em seu ombro.
- Sorento? - era Julian a lhe mirar nos olhos - Você está bem?
- Sorento… este é o meu nome… - sibila mais para si mesmo com uma expressão confusa.
- O que está havendo? Não me diga que você… perdeu a memória? - o azulado indaga em tom de apreensão.
- Não… - leva a mão ao rosto bagunçando a própria franja - Não estou com amnésia, mas… parece que muita coisa na minha mente ainda está embaralhada.
- Acho melhor irmos ao hospital para verificar se tem alguma coisa errada com o seu corpo. - Thetis intervém, e Sorento estranha o fato de ver sua companheira de outrora de volta a sua forma humana, mas não contesta.
- Não é necessário. - sorri gentilmente para a sua amiga - Senti o Cosmo de Poseidon-sama curar todos os meus ferimentos, então não há com o que se preocupar.
- Se Sorento-sama está dizendo… - ela responde não muito convencida.
Nesse instante, o General se vira, assumindo uma expressão confusa ao dar de cara com sua inimiga da última Guerra Santa, que apenas se limitou a admirar sua figura sem que ele percebesse. O coração da moça dispara sem que possa controlar. Ela o mira de cima abaixo, detendo seu olhar estrategicamente nos dois botões da camisa que se encontravam desatados, tentando vislumbrar através daquela pequena e despretensiosa abertura toda a beleza que ela poderia encontrar ali, despindo-o com o pensamento e se recriminando imediatamente por isso. Era a primeira vez que sentia semelhante emoção. Ele era um ser único, e a sua presença ali apenas confirmava tudo isso.
- Terpsicore… o que está fazendo aqui?
Continua…
